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A pesca na Lagoa de Carapebus após a criação do PARNA Jurubatiba

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2. A pesca na Lagoa de Carapebus após a criação do PARNA Jurubatiba

Desde a criação do PARNA Jurubatiba, existia uma demanda por parte dos pescadores para continuarem a exercer a pesca dentro dos limites do Parque, pesca esta que já era realizada há décadas por diversos pescadores (artesanais ou não). Entretanto a lei que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) estabeleceu que a categoria de Parque Nacional enquanto UC do grupo de Proteção Integral destinar-se-ia apenas à manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais. Desta forma, todo ato de pesca foi proibido pelo IBAMA até que fosse elaborado o Plano de Manejo da Unidade. Entretanto, devido à demora na elaboração deste documento técnico (o PARNA Jurubatiba foi criado em 29 de abril de 1998 e o Plano de Manejo foi publicado no Diário Oficial da União no dia 04 de agosto de 2008), dezenas de pescadores artesanais foram fadados à ilegalidade, enquanto outros abandonaram definitivamente a pesca praticada durante várias gerações. É importante entender que, apesar do IBAMA ter realmente proibido a pesca na área de Parque, a atividade pesqueira não foi completamente interrompida, pois a fiscalização na UC foi, e ainda é, incipiente.

Durante a aplicação das entrevistas aos pescadores, foi questionado sobre os locais onde a pesca é praticada, sendo dadas três alternativas: apenas fora da UC, dentro e fora da UC e apenas dentro da UC. O resultado observado no Gráfico 1 mostra que 70% dos entrevistados pescam dentro e fora da Unidade, 20% exclusivamente fora e 10% apenas dentro da área do PARNA Jurubatiba.

70%

20%

10% Pescam dentro e

fora dos limites da

UC

Pescam

exclusivamente

fora da UC

Pescam apenas

dentro da UC

Gráfico 1 – Locais utilizados para a pesca na Lagoa de Carapebus.

A análise do gráfico permite concluir que 80% dos pescadores entrevistados admitem descumprir a legislação em vigor e utilizar a área interna da UC para a pesca. Mesmo assim tal proibição acarretou um clima de insegurança aos pescadores que ainda arriscavam e arriscam pescar naquele local. Eles pescam, mas se dizem discriminados e vistos como criminosos em seu trabalho diário, sendo obrigados a se esconder durante as raras ações fiscalizatórias. Tal situação além de não ser o objetivo da criação do PARNA Jurubatiba, pois não auxilia no desenvolvimento das comunidades, ainda traz consigo uma falha na proteção da unidade, pois os pescadores que poderiam avisar ao gestor da Unidade acerca de incêndios, caça e outras ameaças que presenciam em sua atividade diária não o fazem, com medo de serem autuados.

Apesar da lei do SNUC realmente indicar que as Unidades de Conservação (UC’s) do grupo de Proteção Integral não poderiam possuir formas de extrativismo, esta mesma lei estabeleceu que (BRASIL, 2000):

“...As Populações Tradicionais porventura existentes numa UC na época de sua criação devem receber a justa indenização e serem reassentadas e enquanto isto não for possível, devem ser estabelecidas normas e ações específicas destinadas a compatibilizar a presença das Populações Tradicionais residentes com os objetivos da Unidade, sem prejuízo dos modos de vida, das fontes de subsistência e dos locais de moradia destas populações, assegurando-se sua participação na elaboração das referidas normas e ações...” (BRASIL, 2000).

O Termo de Compromisso previsto, com o objetivo de regular a prática de pesca dentro da UC não foi implantado até a presente data, fato este que causou à UC recém-criada um problema maior que da própria pesca de subsistência historicamente exercida. A Fig. 3 a seguir mostra pescadores artesanais praticando a pesca no interior da área do PARNA Jurubatiba.

FIGURA 3 – Pescadores artesanais praticando a pesca na Lagoa de Carapebus, na parte interna do PARNA Jurubatiba.

O Plano de Manejo do PARNA Jurubatiba, publicado recentemente, em seu quarto encarte ratifica o disposto na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, no tocante à proibição da pesca nas lagoas da Unidade. Entretanto abre uma exceção para a pesca na Lagoa de Carapebus (BRASIL, 2008):

“...Está proibida a pesca em todas as lagoas do Parque, exceto na Lagoa de Carapebus, por parte dos pescadores tradicionais locais, enquanto não entre em vigor o TAC a ser implantado pelo ICMBio e a Promotoria Pública (BRASIL, 2008).

Em outro trecho do mesmo encarte, ao tratar das normas gerais da Unidade, o plano estabelece que compete ao gestor do PARNA Jurubatiba (BRASIL, 2008):

“...Fazer gestão junto à DIPI (hoje transformada em DIREP, Diretoria de Unidades de Conservação de Proteção Integral) e ao Ministério Público Federal para o estabelecimento de um TAC, Termo de Ajuste de Conduta, para os pescadores da Lagoa de Carapebus. Norma(s) específica(s) - O TAC deverá prever prazo para o encerramento das atividades de Pesca dentro do Parque. Este TAC deverá levar em consideração os projetos a serem desenvolvidos para o ordenamento pesqueiro da Lagoa de Carapebus e os Programas de Recuperação e Monitoramento do PN..”. (BRASIL, 2008) Apesar do Plano de Manejo citar a Promotoria Pública e o Ministério Público Federal como proponentes do Termo de Ajustamento de Conduta, por se tratar de uma UC Federal, há um consenso de que a competência para a proposição do TAC seria mesmo do Ministério Público Federal.

Considera-se ainda que houve uma falha na definição do instrumento, pois tanto o IBAMA quanto o ICMBio entendem que nestes casos o ideal seria a assinatura do Termo de Compromisso estabelecido no Sistema Nacional de Unidades de Conservação, mediado pelo Ministério Público Federal. Cabe ressaltar que o TAC se presta à ajustamentos após o cometimento de um crime, e que a pesca artesanal dos pescadores tradicionais não pode ser vista como tal, tendo em vista que está prevista a regularização da mesma.