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Recursos naturais de uso comum e classificação das formas de apropriação

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.6. Recursos naturais de uso comum e classificação das formas de apropriação

Os recursos naturais de uso comum são aqueles que apresentam as seguintes características: (i) a exclusão ou o controle do acesso de usuários potenciais é problemático; e (ii) cada usuário é capaz de subtrair daquilo que pertence também a todos os demais usuários. São exemplos de recursos naturais de uso comum, doravante denominados de “recursos de uso comum”: peixes, animais selvagens, florestas, águas subterrâneas e águas em cursos d’água utilizados para irrigação. Estão também incluídos como recursos de uso comum os Parques e os espaços públicos (VIEIRA et.al., 2005).

Em artigo publicado em 1968, sob o título “The tragedy of the commons” o pesquisador Garrett Hardin defendeu a hipótese de que a liberdade no uso de recursos de uso comum provocaria a ruína de todos. Para tentar explicar sua hipótese, utilizou-se de uma parábola em que relatava a super-exploração de áreas de pastagens num hipotético sistema de recursos de uso comum na Inglaterra medieval. Cada pastor procurando ganhos individuais, deseja aumentar o tamanho de seu rebanho. Os recursos de uso comum, porém são limitados, e, cedo ou tarde, o número total de reses iria exceder a capacidade suporte do pasto. Entretanto, os pastores individualmente continuariam adicionando animais à pastagem, pois seu ganho pessoal ao adicionar mais um animal superaria sua perda individual, a qual era dividida pelo grupo de pastores. Seguindo este raciocínio a super-exploração seria inevitável e todos perderiam. Tal hipótese é conhecida como “a tragédia dos comuns”, pois os personagens sabem que o desastre está para acontecer, mas seriam incapazes de fazer algo para evitá-lo. Entretanto a partir do artigo de Hardim, outros pesquisadores, tais como Feeny (Feeny et al.,1990, apud VIEIRA, 2005) realizaram diversos exames minuciosos e concluíram que a hipótese da “tragédia dos comuns” não se mostrava aplicável em todos os casos, ficando evidente que existem casos de utilização de tal tipo de recursos comuns que se mostram sustentáveis (VIEIRA et. al., 2005).

Os recursos de uso comum podem ser geridos sob um dos quatro regimes básicos de apropriação (OSTRON,1990; Bromley 1992 e Feeny et al.,1990, apud VIEIRA, 2005):

• O livre acesso – significa a ausência de direitos de propriedade bem definidos, o acesso é livre e aberto a todos. Dentre os quatro tipos de regimes apresentados este é o

único que tem se mostrado inviável, e considerado incompatível com a sustentabilidade;

• A propriedade privada – refere-se à situação na qual um indivíduo ou corporação tem o direito de excluir outros e de regulamentar o uso dos recursos. Apesar de experiências bem sucedidas, devemos atentar para o fato de que os direitos de apropriação privada não fornecem um mecanismo suficientemente preciso para resolver o problema da exclusão de usuários potenciais;

• A propriedade estatal – neste tipo de regime os direitos sobre os recursos de uso comum constituem uma prerrogativa exclusiva do governo, que controla o acesso e regulamenta o uso. Este tipo de regime desempenha uma função essencial em situações nas quais o bem comum está envolvido, e quando não se pode confiar em outros regimes de apropriação para oferecer suficiente proteção ao recurso em questão. O exemplo clássico é o caso da conservação de bacias hidrográficas que fornecem água potável aos municípios. Uma preocupação que devemos ter é que não basta declarar um recurso como sendo de propriedade do estado, se faltam os meios necessários para fazer cumprir a legislação. Um problema geralmente citado no caso deste regime é o da proliferação de regulamentos, o que pode levar, não ao uso sustentável dos recursos, mas ao descumprimento generalizado das regras. Recentemente usuários dos recurso de uso comum têm procurado e obtido o poder formal para participar dos processos decisórios, caracterizando aquilo que tem sido denominado como co-gestão, ou gestão compartilhada;

• Propriedade Comunal ou Comunitária – significa que o recurso é controlado por uma comunidade definida de usuários, que pode excluir outros usuários e regulamentar a utilização do recurso. De todos os possíveis regimes de apropriação, a propriedade comunal oferece o mais diversificado conjunto de regulamentos e, historicamente, os casos mais antigos. Entretanto, uma série de condições deve ser satisfeita antes de entregar a gestão de um recurso comum ao regime de apropriação comunal.

Ressalta-se ainda que esses quatro regimes citados, são regimes ideais. Na prática, os recursos tendem a ser controlados mediante combinações desses regimes e existem variações em cada combinação. (VIEIRA et al., 2005).

2.7 Termos de ajustamento de conduta e Termos de Compromisso relacionados à pesca em Unidades de Conservação de Proteção Integral

O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi introduzido no direito brasileiro em 1990, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990). No mesmo ano, o Código de Defesa do Consumidor alterou a Lei de Ação Civil Pública acrescentando que os órgãos públicos legitimados, entre eles o Ministério Público, poderiam assinar com os interessados Termo de Ajustamento de Conduta às exigências legais, conferindo ao TAC eficácia de título executivo extrajudicial. Este termo é um instrumento legal mediante o qual, o responsável pelo dano assume o dever de adequar a sua conduta às exigências legais, dentro de prazo pré-definido e acordado entre as partes, sob pena de sanções fixadas no próprio termo, confirmando o acordo celebrado entre as partes envolvidas no conflito. A resolução de conflitos ambientais sem a interferência do Poder Judiciário se desenvolve em menor tempo e custo dos processos, além de resultar em comprometimento e conscientização (DE MIO, 2005). Porém, na maioria das vezes os conflitos ambientais requerem técnicas de resolução nem sempre disponíveis no Poder Judiciário (DE MIO et. al., 2004).

Considerando que a pesca no interior de Parques Nacionais é uma atividade conflitante com os objetivos e regulamentos desse tipo de Unidade de Conservação, e ainda que a sua proibição pode acarretar danos às populações que dela dependem para sua subsistência, o Plano de Manejo do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, propôs a celebração de um Termo de Ajustamento de conduta entre o IBAMA e os Pescadores locais, no qual estão previstos os direitos e deveres das partes. Entretanto segundo informações obtidas da atual chefe da Unidade, o termo não foi implantado até o momento.

Por outro lado, de acordo com o previsto na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e mais recentemente o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) autorizaram a pesca em Unidades de Conservação através de Termos de Compromissos , relativos à pesca na Reserva Biológica Lago do Piratuba/AP e no Parque Nacional do Cabo Orange. O Termo de Compromisso celebrado na reserva biológica Lago do Piratuba diferencia-se daquele assinado no Parque Nacional do Cabo Orange por não ter sido assistido pelo Ministério Público Federal.

2.8 Legislação pertinente