• Nenhum resultado encontrado

A saúde é uma área de crescente interesse no Brasil e no mundo, principalmente em função da crise do setor na maior parte dos países, o que certamente ─ apesar de não somente ─ envolve aspectos gerenciais. A área é marcada por muitos problemas de qualidade, eficiência, acesso e equidade, fato que também ocorre em outros países. Atores atuantes no setor o consideram de elevada complexidade de gestão e importantes particularidades (PEDROSO, 2010).

Ligada à saúde existe a AS. E a AS como prática tem relacionamento com o estudo em AS, assim como a administração tem relação com a ciência administrativa, em uma conexão dita de dupla hermenêutica, com duas vias (NICOLAI; SEIDL, 2010). Levcovitz et al (2003) comentam também sobre esta relação na área de AS. Ou como citam Paim e Teixeira (2006), fazendo referência à área de Política, Planejamento e Gestão (PPG) em Saúde, existe uma dupla dimensão: saber e práticas. Mesmos termos usados por Campos (2000), se referindo às disciplinas em geral. Segundo Paim e Teixeira (2006):

[...] a seleção de temas, a delimitação de problemas, a escolha por determinadas abordagens teórico-metodológicas e a própria forma de divulgação dos resultados, revelam uma complexa trama de relações entre o meio acadêmico e as instituições de serviços. (PAIM; TEIXEIRA, 2006, p. 77)

Grosso modo (como interessa, enquanto ponto de partida, a este trabalho), a pesquisa acadêmica em AS estuda aspectos ligados à confluência entre administração, saúde e organizações de saúde. Pesquisadores oriundos de faculdades de Saúde Pública e de faculdades de Administração de Empresa desenvolvem publicações e estudos na área. Teses e dissertações são defendidas, por exemplo, na FSP-USP (que tem uma linha de pesquisa em “Política e Gestão em Saúde”) (FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, 2011), na FM da USP, na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e na ENSP dentro deste escopo.

A Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO), instituição fundada em 1979, possui uma comissão de “Política, Planejamento e Gestão em Saúde”. Essa comissão, em parceria com o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizou o I Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão em Saúde em agosto de 2010 (ABRASCO, 2010). Ao lado disso, muitas pesquisas sobre a área são realizadas em contexto de empresas privadas, pois muitas organizações de saúde são também autênticos empreendimentos capitalistas, buscando e, muitas vezes, alcançando retornos de investimento comparáveis a de outras empresas da economia (VELOSO; MALIK, 2010).

A prática de AS tem sido discutida há muito tempo no Brasil, desde, por exemplo os trabalhos pioneiros de Cecília Donnângelo e Ricardo Bruno Mendes-Gonçalves, que produziram reflexões e análises sobre a gestão com uma visão social

(DONNÂNGELO3, 1976 apud PAIM, 2003; MENDES-GONÇALVES4, 1994 apud PAIM, 2003).

Levcovitz et al (2003) realizaram coleta de dados envolvendo a área denominada PPG em Saúde. Eles analisaram dissertações, teses, livros, artigos em periódicos nacionais e internacionais, congressos e conferências. Elaboraram uma classificação da evolução ao longo do tempo da produção científica nesta área, dividida em cinco fases. Eles perceberam uma relação entre a produção científica e o que ocorria em relação com os eventos históricos e políticos.

Posteriormente, Paim e Teixeira (2006) realizaram um balanço do estado da arte da área de PPG em Saúde entre os anos de 1974 e 2005. Eles recuperaram informações sobre a produção registrada na base de dados bibliográficos Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

(

LILACS). Buscaram também relacionar os estudos e investigações da área aos desdobramentos da conjuntura política no período, principalmente com o processo de Reforma Sanitária, a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) e a reorientação das práticas de saúde.

Paim e Teixeira (2006) concluíram a partir do seu levantamento que a produção na área de PPG em Saúde é mais voltada para a intervenção do que propriamente à investigação. Para Paim (2002), pelo fato dos estudos na área “beirarem a imediatez da prática, esses objetos tendem a ser atravessados por ideologias diversas”.

Uma das características da AS, e que interfere na pesquisa, é que ela apresenta uma nítida separação entre os setores privado e público. São apontados também como obstáculos para o desenvolvimento de pesquisa na área, a dificuldade de acesso aos hospitais privados, a nítida separação entre a área assistencial e a da

3 DONNÂNGELO, M. C. F. Saúde e sociedade. São Paulo: Duas Cidades, 1976.

4 MENDES-GONÇALVES, R. B. Tecnologia e organização das práticas de saúde:

características tecnológicas do processo de trabalho da rede estadual de centros de saúde de São Paulo. São Paulo - Rio de Janeiro: Hucitec-Abrasco, 1994.

gestão e as diferentes perspectivas de diferentes atores do setor de Saúde (MISOCZKY et al, 2009).

Uma análise da classificação da QUALI/CAPES em 2012 mostra, na categoria de Administração e que tem relação com o AS, os seguintes periódicos de nível A15, no Brasil: a Revista de Saúde Pública e os Cadernos de Saúde Pública. Internacionalmente tem-se: Pan American Journal of Public Health, Advances in Health Sciences Education e The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene (CAPES, 2012). E como se percebe, portanto, são periódicos ligados à área de Saúde Coletiva/Saúde Pública.

Como pesquisa preliminar também foi realizado um levantamento na Revista RAE entre os anos de 1961 (ano de criação) e 2009, o qual revelou um total de 45 artigos que têm em seu resumo ou título as palavras “Saúde” ou “Hospital”. Destes, são artigos de natureza empírica 20 (a maioria estudos de casos) e teóricos, 25 deles. Na RAE Eletrônica, entre 2002 (ano de criação) e 2009, tem-se um total de 12 artigos. Nove são empíricos e 3 são teóricos. Na edição de Out/Dez-2009 da RAE ocorreu o Fórum Administração e Saúde onde foram publicados cinco artigos (quatro empíricos e um ensaio), além do editorial.

Existem alguns núcleos formados especificamente para o estudo da área de AS. A FGV, por exemplo, tem dentro de sua pós-graduação stricto sensu, a linha de pesquisa que já foi chamada de “Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde”, e hoje é denominada “Administração e Planejamento em Saúde” (um eixo temático, na verdade, dentro da Linha Gestão Socioambiental e da Saúde) (FGV-EAESP, 2012). A própria FGV tem um centro de estudos, o Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde (GVsaúde), que é a “referência para todas as atividades relacionadas à gestão em saúde” (GVSAUDE, 2012).

O GVsaúde é responsável pelo que denomina “conteúdos técnicos” de cursos de especialização na área, além de fazer pesquisa, publicação e cursos de gestão. Tem também cursos de educação continuada em Auditoria de Serviços e de Sistemas de

5 Estrato mais elevado da classificação da QUALI/CAPES, que corresponde a um Fator de

Saúde, cursos parcialmente à distância para médicos (GVmed) e odontólogos (GVodonto) e in company de AS. O núcleo realiza fóruns de debates de assuntos técnicos e um congresso bianual com publicação de artigos específicos da área de AS, conhecido como Congresso Internacional de Qualidade em Serviços e Sistemas de Saúde (QualiHosp). São destaques de Pesquisa da FGV, na área, temas como: Inovações em Modelos Institucionais/Parcerias Público-Privadas na Saúde, Políticas de Saúde, Gestão Pública em Saúde, Regulação na Saúde, Gestão de Hospitais Privados, Gestão de Planos de Saúde e Auditoria, Avaliação, Qualidade e Segurança e Recursos Humanos em Saúde, entre outros (FGV-EAESP, 2012; GVSAUDE, 2012).

Além disso, uma pesquisa no site do CNPq permite a identificação de alguns grupos que realizam pesquisa que estão, direta ou indiretamente, relacionadas a AS. Entre eles, destacam-se: o Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (NESCON) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (NESCON, 2012), o Centro de Estudos Augusto Leopoldo Ayrosa Galvão (CEALAG) da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) (CEALAG, 2012) e Centro de Estudos em Economia da Saúde (CEPS) da UNIFESP (CESP, 2012).

6 HIPÓTESES

Documentos relacionados