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LEVANTANDO AS PAREDES: METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 A PESQUISA QUALITATIVA E O ESTUDO DE CASO

A curiosidade e a inquietação acerca das coisas do mundo podem ser consideradas o “estopim” para o início de uma investigação. Objetivando superar os desafios ao seu redor, desde os primórdios da história, o ser humano tenta compreender os fenômenos da natureza, visando melhores condições de vida. Nas ciências humanas e sociais, a pesquisa qualitativa, devido aos seus aspectos interpretativistas, naturalísticos, entre outros, tem sido utilizada como um método que busca compreender como os indivíduos constroem e interpretam as suas relações com o mundo.

Uma definição genérica para a pesquisa qualitativa é proposta por Denzin e Lincoln (2006). Para os autores,

a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativistas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista, interpretativa, para o mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem. (DENZIN; LINCOLN, op.cit., p. 17)

Ludke e André (1986, p.11-13), citando Bogdan e Biklen (1982), apresentam cinco características da pesquisa qualitativa: 1) o ambiente natural é a fonte direta dos dados e o pesquisador o principal instrumento para coleta dos mesmos; 2) os dados coletados são predominantemente descritivos; 3) a preocupação é maior com o processo do que com o produto; 4) o sentido dado às coisas e à vida pelas pessoas recebe atenção especial do pesquisador; 5) a análise dos dados tende a ser indutiva.

Chizzotti (2006, p. 28) considera que o termo qualitativo designa pesquisas que, “usando, ou não, quantificações”, objetivam interpretar os fatos a partir do sentido que os indivíduos dão ao que “falam e fazem”. Além disso, o autor considera que a pesquisa qualitativa remete a “uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível”.

Na área da educação, torna-se cada vez mais evidente o interesse de pesquisadores pelo uso das metodologias qualitativas. Diante dessa perspectiva, Bortoni-Ricardo (2008, p. 46) explica que o professor pesquisador, com intuito de melhorar a sua prática, busca produzir conhecimento sobre os seus problemas profissionais, deixando de ser apenas um leitor de investigações feitas por outros pesquisadores. A autora (op.cit., 48) destaca que uma das vantagens do trabalho do professor pesquisador é o surgimento de uma “teoria prática”, em outras palavras, o conhecimento produzido pode influenciar a atuação do professor, favorecendo o processo ação-reflexão-ação, representado na figura 3.1.

FIGURA 3.1 – Relação entre a reflexão e a ação do professor pesquisador

A partir dos pressupostos apresentados sobre a pesquisa qualitativa e da observação da figura 3.1, verifica-se que o professor pesquisador deve ser compreendido como parte do contexto social que pesquisa. Ao agir nesse contexto, ele precisa refletir sobre si mesmo e sobre suas ações. Assim como Ludke & André (1986) e Bortoni-Ricardo (2008), defende-se que a pesquisa pode integrar as atividades de um profissional da educação, enriquecendo o cotidiano escolar e as práticas realizadas nesse ambiente. Porém, cabe registrar que nem todo professor precisa ser pesquisador no sentido estrito do termo (ALMEIDA FILHO, 2007, p.51). Na verdade, o que é necessário a um professor é o conhecimento do que é pesquisa e leituras acerca do que está sendo discutido na área científica ligada à prática docente43.

Por aproximar-se das características mencionadas acima, este trabalho, configura-se como uma pesquisa qualitativa, já que se ocupa da investigação acerca das necessidades e dos interesses em relação à aprendizagem de espanhol de alunos de um Curso Técnico em Edificações Integrado.

O estudo de caso é um dos tipos de pesquisa qualitativa que vem ganhando aceitação na área educacional. Em uma análise feita por Menezes, Silva e Gomes (2009) sobre os métodos de pesquisa e os instrumentos de coleta de dados, o estudo de caso foi identificado como o método mais utilizado nas pesquisas em LA.

Yin (2005, p. 32) define o estudo de caso como uma investigação voltada para um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão definidos de maneira clara.

Johnson (1992, p.75) caracteriza o estudo de caso como uma única unidade de análise, ou seja, trata-se somente do estudo de um caso, como por exemplo a investigação sobre um professor, sobre uma sala de aula, sobre uma escola, entre outros.

43 Almeida Filho (op.cit., 52), afirma existir dois caminhos possíveis para o profissional que anseia

aproximar-se do mundo investigativo da LA. O primeiro deles é a formação do professor pesquisador na pós-graduação stricto sensu, cujos objetivos são a formação de novos pesquisadores e o surgimento de propostas transformadoras para serem executadas junto aos profissionais que trabalham com o ensino de línguas. O segundo percurso é a pós-graduação lato sensu, cujo objetivo é melhorar a prática do professor na sala de aula. Em ambos trajetos, o contato com o texto científico e com práticas de pesquisa estão presentes, podendo contribuir para a formação de professores pesquisadores.

A escolha do estudo de caso como suporte metodológico desta pesquisa deve-se à especificidade do contexto de pesquisa, um campus de IF, e de seus participantes, alunos de um Curso Técnico em Edificações Integrado e professores da área técnica (construção civil).

Faltis (1997, p. 145) destaca que o estudo de caso pode auxiliar os professores, subsidiando suas práticas com informações que lhes permitem a formulação de pressuposições e perspectivas sobre o trabalho em sala de aula. Além disso, o autor (loc. cit.) salienta que as modalidades de estudo de caso mais utilizadas são a interpretativista e a intervencionista. Os estudos de caso de cunho interpretativista visam realizar descrições analíticas com intuito de discutir e avaliar questões ligadas ao processo de ensino – aprendizagem. Já os estudos de caso de cunho intervencionista objetivam descobrir se uma determinada ação causou algum efeito ao caso observado.

Sendo assim, compreende-se que o estudo de caso proposto nesta pesquisa apresenta características das duas modalidades trazidas por Faltis (op. cit.), podendo ser caracterizada como interpretativista, uma vez que se dedica à identificação e à análise das necessidades e dos interesses em relação à aprendizagem de espanhol dos alunos participantes, e como intervencionista, pois busca, por meio do curso de extensão ofertado pela professora-pesquisadora, atender às expectativas colocadas por esses estudantes.

A seguir, aborda-se o contexto da pesquisa.