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CAPÍTULO 2 – A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLARIDADE EM CICLOS:

2.5 A pesquisa sobre a organização da escolaridade em ciclos no Brasil

Segundo Mainardes (2006, 2009b), as pesquisas sobre a organização da escolaridade em ciclos vêm sendo desenvolvidas desde o final da década de 1980, quando o Ciclo Básico

foi implantado em diversos estados. Dessa forma, há um significativo número de pesquisas e publicações que têm sido revisadas e sintetizadas por diferentes pesquisadores (BARRETTO; SOUSA, 2004; GOMES, C., 2004; MAINARDES, 2006, 2008, 2009b; MAINARDES; GOMES, 2008; SOUSA et al., 2003; SOUSA; BARRETTO, 2004). Ainda conforme Mainardes (2009b), nas décadas de 1980 e 1990, a pesquisa sobre a política de ciclos enfatizou aspectos relacionados à formulação, implementação e avaliação de programas de organização da escolaridade em ciclos, bem como discussões teóricas relacionadas a esse tema. A partir de 2000, houve um crescimento significativo das pesquisas, principalmente de teses e dissertações, enfocando uma variedade de temas relacionados aos ciclos: avaliação da aprendizagem, ciclos e questões curriculares, processos de ensino e aprendizagem no contexto de escolas organizadas em ciclos, etc.

A partir do levantamento das teses e dissertações realizado nas seguintes bases de dados: banco de teses da CAPES41, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações do Ibict42, Biblioteca Digital do Portal Domínio Público43, em websites dos PPGEs, das Bibliotecas Digitais de Teses e Dissertações de instituições de Ensino Superior, localizamos 209 trabalhos sobre a organização da escolaridade em ciclos, defendidas no período de 2000 a 2010. Desse total, 27 são teses e 182 são dissertações44.

Como mostra o quadro 1 (Apêndice A), essas pesquisas foram apresentadas em 54 Programas de Pós-Graduação em Educação e em outros 15 programas: Ciências do Movimento Humano; Letras; Letras: Linguística e Teoria Literária; Educação, Ciências e Matemáticas; Economia; Interdisciplinar Linguística Aplicada; Ciências Sociais; Psicologia; Educação nas Ciências; Educação Tecnológica; Administração; Semiótica, Tecnologias de Informação e Educação; Ciências e Práticas Educativas; Educação Física; Educação, Administração e Comunicação. Isso revela uma dispersão do assunto em diversos PPGEs e em outras áreas, o que possibilita a abordagem dessa temática sob diferentes aspectos e perspectivas teórico-metodológicas.

Na tabela 2 podemos verificar o número de defesas por ano, indicando uma tendência de crescimento no número de teses e dissertações que tratam da política de ciclos, sendo que o ano 2006 concentra o maior número (30 defesas).

       41 <http://www.capes.gov.br> 42 <http://bdtd.ibict.br> 43 <http://www.dominiopublico.gov.br>  44

O levantamento das teses e dissertações sobre ciclos, bem como sobre progressão continuada, foi organizado e disponibilizado no site do grupo de pesquisa, do qual a autora participa: <http://www.uepg.br/gppepe>.

Tabela 2 – Número de defesas de teses e dissertações sobre a organização da escolaridade em ciclos no Brasil (2000 a 2010), por ano

Ano Teses Dissertações Total de trabalhos

Total 27 182 209 2000 1 8 9 2001 - 10 10 2002 - 29 29 2003 5 20 25 2004 3 12 15 2005 - 25 25 2006 5 25 30 2007 5 20 25 2008 5 19 24 2009 3 12 15 2010 - 2 2

Além disso, foram localizadas 19 teses e 70 dissertações sobre o regime de progressão continuada, que abordam sobre as redes estaduais e municipais de São Paulo e Rio Grande do Sul, defendidas no período de 2000 a 2010, as quais não foram incluídas nessa análise. Apesar de constituir-se em uma modalidade de ciclos, destacamos que há diferenças entre o regime de progressão continuada, que mantém a estrutura seriada, e as diferentes propostas de ciclos existentes, que buscam romper com essa estrutura.

A partir dos resumos, as teses e dissertações sobre a organização da escolaridade em ciclos foram classificadas nas seguintes categorias, como mostra o Quadro 245:

Categoria (Qt.)

Processos de ensino-aprendizagem na escola em ciclos (escola e sala de aula) 35

Implementação de políticas de ciclos 34

Avaliação da aprendizagem dos alunos 32

Opinião de professores, alunos e pais 24

Ciclos e questões curriculares 21

Organização do trabalho pedagógico na escola em ciclos 10

Concepção e formulação de política de ciclos 9

A política de ciclos e seus fundamentos (psicológicos, filosóficos, históricos, sociológicos) 9

Ciclos e formação continuada de professores 9

Impacto no processo de aprendizagem e análise do desempenho de alunos – ciclos 8

Ciclos: impacto sobre o trabalho docente 6

Ciclos e gestão 4

Ciclos e relação família-escola 2

Ciclos e seriação 2

Ciclos e educação inclusiva 2

Ciclos e formação inicial de professores 1

Política de ciclos – análise comparada 1

Total 209 Quadro 2 – Categorização de teses e dissertações sobre a organização da escolaridade em ciclos no

Brasil (2000 a 2010)

       45

Alguns trabalhos poderiam ser incluídos em mais de uma categoria, sua classificação no quadro 2 é decorrente da predominância de uma das categorias.

As pesquisas localizadas enfocam uma variedade de temas relacionados aos ciclos e oferecem contribuições para a compreensão da política de ciclos, como: a) o conceito de ciclos está em construção pelas múltiplas experiências de organização da escola que procuram romper com a escola seriada; b) as formulações e os modos de implementação da política de ciclos variam nas diferentes redes de ensino; c) há a necessidade de que sejam propiciadas condições de trabalho e de infraestrutura para apoiar e viabilizar as transformações requeridas pela escola em ciclos; d) é importante o envolvimento dos profissionais da educação no processo de discussão, formulação, implementação e avaliação dos ciclos; e) há um afastamento entre a proposta oficial e a implementação dos ciclos na prática.

Segundo Mainardes (2009a), apesar do número de pesquisas e publicações, há aspectos referentes à organização da escolaridade em ciclos que poderiam ser melhor aprofundados, tais como:

[...] o aprofundamento dos fundamentos dos ciclos; o mapeamento das diferentes concepções e modalidades de ciclos existentes no país; análises mais aprofundadas sobre a aprendizagem e desempenho dos alunos nos ciclos; análise do impacto dos ciclos na melhoria dos padrões de equidade, justiça social e coesão social. (MAINARDES, 2009a, p. 95).

Também verificamos que 148 trabalhos envolveram a análise das experiências de ciclos em escolas de 37 redes municipais, sendo as redes municipais de Porto Alegre-RS, Belo Horizonte-MG, Belém-PA, Goiânia-GO e São Paulo-SP as mais pesquisadas respectivamente. Outras 37 pesquisas abrangeram escolas de 9 redes estaduais de ensino, sendo as redes estaduais de Minas Gerais, Mato Grosso e Ceará as mais pesquisadas (ver Quadro 3 no Apêndice B).

É interessante assinalar que a análise dessas produções pode oferecer indícios importantes para se compreender os diferentes aspectos da política de ciclos, bem como contribuir para a implementação e/ou a reestruturação de políticas de ciclos implementadas. Sendo assim, no Capítulo 3 apresentamos uma análise mais aprofundada dos trabalhos que tratam explicitamente da modalidade enfocada nesse estudo: os Ciclos de Aprendizagem. Importante destacar que essa modalidade é a que concentra o menor número de pesquisas e a que possui uma escassa discussão no campo acadêmico. No Capítulo 3 também abordamos sobre os aspectos relacionados às características e fundamentos dos Ciclos de Aprendizagem, bem como a emergência e desenvolvimento dessa modalidade no cenário internacional e brasileiro.