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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.4. Administração de Políticas Públicas

2.4.3. A Política de C&T no Brasil

A gestão das ações de Ciência e Tecnologia no Brasil por meio de políticas públicas estruturadas têm origem na década de 1950, com a criação na estrutura do Governo de organismos de fomento à pesquisa, dentre as quais destacam-se: a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Considerado um dos principais mecanismos de incentivo ao desenvolvimento científico e tecnológico governamental, o FNDCT possui grande poder

de indução de atividades de inovação, essenciais para o aumento da competitividade do setor empresarial.

A partir da década de 1970, a política de C&T tem a sua relevância estratégica na gestão pública federal reforçada com a instituição do Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (SNDCT), o qual estimulava maior integração entre as atividades científicas e tecnológicas, e com a implantação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT), que direcionou os esforços de inovação em áreas consideradas prioritárias para o desenvolvimento nacional, segundo a plataforma de Governo estabelecida (TEIXEIRA; RAPPEL, 1991).

Em 1985, o SNDCT, foi consolidado no Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Com a sua criação, a inovação tecnológica passa a ser agenda permanente do Governo, colocando-a no mesmo patamar que outras políticas públicas, como Educação e Saúde (MCTI, 2012). É formalmente estabelecida uma Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, implementada por meio dos Programas de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCTs), formulados também com o propósito de obtenção de empréstimos externos para o setor, destinados ao FNDCT (VELOSO FILHO; NOGUEIRA, 2006).

Compreendendo a relevância de trabalhar a inovação de forma específica nos diversos setores da economia, são instituídos os Fundos Setoriais de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. No caso do setor de energia elétrica, as suas concessionárias contribuem com transferências mensais, podendo utilizar-se desses recursos para realizar seus projetos de P&D (BASTOS, 2003).

Fundados com o objetivo de estabelecer um padrão de financiamento a longo prazo para o desenvolvimento de setores estratégicos para o país, os Fundos Setoriais de Desenvolvimento Tecnológico também atuam no estímulo à interação de empresas com universidades e institutos de pesquisa, especialmente pela instituição do Fundo Verde- Amarelo (FVA), voltado à interação universidade-empresa. Suas receitas são originadas a partir de contribuições de empresas que exploram diretamente recursos naturais pertencentes à União, parcelas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de alguns setores da economia, de contribuições sobre uso ou aquisição de conhecimentos tecnológicos e da transferência de tecnologia do exterior (FINEP, 2012).

Uma das diretrizes da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação está a descentralização da atividade inovativa nas diversas regiões administrativas do Brasil. Os

Fundos Setoriais atuam nessa perspectiva na medida em que garantem investimentos mínimos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Dagnino (2003) ressalta a institucionalização de marcos três regulatórios para estimular o inter-relacionamento das empresas e das instituições de pesquisa e induzir a inovação em empresas nacionais: a Lei de Informática, a Lei da Inovação e a Lei do Bem. Instituída pela Lei nº 8.248/1991, a Lei de Informática prevê a concessão de incentivos fiscais para empresas que investirem, pelo menos, 5% do seu faturamento em P&D. Para tanto, elas devem estabelecer convênios com as universidades ou centros de pesquisa (BRASIL, 1991).

A Lei da Inovação, regulamentada pelo Decreto 5.563, de 11/10/2005, tem como objetivo principal estimular a integração de esforços entre universidades, instituições de pesquisa e empresas de base tecnológica. Ela favorece a contratação de pesquisadores pelas empresas, normatiza a transferência e licenciamento de tecnologia das universidades e institutos de pesquisa para o ambiente produtivo e regula o desenvolvimento de pesquisas aplicadas e incrementos tecnológicos (BRASIL, 2004; MOREIRA et al, 2007).

A Lei da Inovação foi estratégia para a consolidação da Política de C&T no Brasil na medida em que possibilitou o compartilhamento de seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais, instalações e profissionais das instituições de pesquisa com micro e pequenas empresas de base tecnológica, além de entidades privadas sem fins lucrativos voltadas ao desenvolvimento de atividades de pesquisa (GOMES, 2012). O autor ressaltou, ainda, que a criação de bolsas de estímulo à inovação e a normatização da remuneração adicional, não acumulável, ao servidor público envolvido em atividades de pesquisa foram fundamentais para a valorização do pesquisador. Além disso, outros desdobramentos dessa estratégia foram a participação nas receitas obtidas pela instituição de origem com o uso da propriedade intelectual e a normatização da licença não-remunerada para servidores que desejarem constituir empresa de base tecnológica, mantendo o vínculo com a instituição de origem, durante o período da licença (SILVA, 2010).

A Lei do Bem (nº 11.196, de 21/11/2005), prevê a concessão de incentivos fiscais a empresas que desenvolverem inovações tecnológicas e de subvenções, quando da contratação de pesquisadores, mestres ou doutores, para realizar atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica (BRASIL, 2005). Uma vez que a Lei entende como inovação tecnológica um “novo produto ou processo de fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que implique melhorias

incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado” (BRASIL, 2005), pode-se concluir que despesas com modernização, aquisição de novos equipamentos industriais ou a aquisição direta de novas tecnologias não se beneficiam dos incentivos previstos na Lei do Bem.

A ação conjunta dos diversos mecanismos e instituições de fomento à pesquisa apresentados neste capítulo mostram a estratégia do governo brasileiro em prol da modernização tecnológica, incentivando não apenas a P&D nas indústrias e universidades individualmente, mas principalmente, sua atuação conjunta (SEGATTO, 1996).