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A partir dos anos 80, os Estudos Sociais permanecem nas séries iniciais do primeiro grau (1ª a 4ª), e a História e a Geografia foram sendo implementadas, gradativamente, da 5ª a 8ª séries nas escolas da rede pública de Minas Gerais. Até esse período, tanto a formação dos professores quanto a prática da disciplina, eram exercidas dentro de uma concepção positivista, entendida aqui como orientação teórica da História que desprezava seu processo de transformação, cujos programas privilegiavam uma metodologia voltada para a reprodução de conhecimentos, memorização e fragmentação de fatos isolados do contexto social.

Esse modelo de ensino de História vai se tornando inviável a medida em que a estrutura autoritária da política brasileira entra em sua fase de "abertura". A partir daí, vai perdendo sentido e se tornando desinteressante, uma vez que coloca o aluno em uma posição de exclusão no interior do processo de ensino e aprendizagem, gerando muito 135 Dados coletados na Secretaria Municipal de Educação Prefeitura do Município de Uberlândia, março

desinteresse pelas aulas. Confirmando essas afirmações, citamos como exemplo a opinião de Ana Lagoa em um levantamento feito entre professores de História, a nível nacional, publicado na revista: "Nova Escola", revelando os resultados da aplicação dessa metodologia:

Enquanto a carreira de professor de História foi perdendo o charme e a remuneração decente, o ensino ficou estagnado na História positivista, idealista, factual – aquela das datas, nomes e heróis -, que servia bem à clientela de classe média dos anos 50, mas que faz dormir crianças dos anos 80/90 de qualquer classe social.

...Para a maioria dos estudantes, estudar História é maçante. Obrigados quase sempre a uma tarefa de memorização, eles não conseguem ver utilidade naquele amontoado de datas e nomes. Na sala, tudo isso se traduz naquela aula que todo mundo conhece. Alunos em silêncio copiando o que o professor põe no quadro ou lendo trechos de um livro sonolento136.

Fazer uma avaliação sobre o ensino de História, praticado nas escolas da rede pública de Uberlândia requer, além de uma reflexão sobre o conceito de História proposto pelo programa/87 e a prática de sua metodologia adotada nesse período pela Secretaria Estadual de Educação.

Várias produções científicas têm apresentado as mais diversas críticas sobre o programa, diagnosticando as falhas sobre as formas de sua elaboração, as contradições teóricas e metodológicas de se conteúdo, bem como a precária estrutura física e política para sua sustentação. No entanto, faltam elementos para uma avaliação de sua aceitação ou recusa, a nível estadual, junto à maioria dos professores da rede pública de Minas Gerais, uma vez que o programa político elaborado e colocado em prática junto à sociedade pelo

de 1996.

partido da situação, PMDB, tinha como uma de suas principais metas a reformulação do sistema estadual de educação, através da participação da sociedade.

Em 1982 Tancredo Neves elegeu-se governador de Minas Gerais pelo PMDB, com propostas de mudanças radicais em seu governo. Na pasta da educação montou, propositadamente, um secretariado com embasamento político-ideológico de tendência marxista, para se opor às forças conservadores que exerciam pressão sobre a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais (SEE/MG), dando início às reformulações que se sucederam.

Neste contexto, apesar de Tancredo Neves ter deixado o governo de Minas Gerais para se candidatar à presidência da República, as intencionalidades contidas na elaboração dos projetos da SEE/MG chegaram a se concretizar, através do Congresso Mineiro de Educação, com a participação da população na busca de soluções para os problemas da educação em Minas Gerais. Contudo seus objetivos não foram atingidos; o que se viu finalmente, foi um fracasso, sobretudo em relação ao programa de História.

Seguindo as tendências do momento histórico, o novo programa de História de Minas Gerais/87, visto no capítulo anterior, fora elaborado para eliminar os métodos positivistas e promover um novo conceito de História, colocando alunos e professores como sujeitos do processo de ensino e aprendizagem. Embora essa metodologia tenha avançado em direção a uma compreensão crítica da realidade, algumas produções e debates para avaliação dos seus resultados têm revelado, a nível local, que ainda hoje continua encontrando resistências por parte de um grande número de professores nas escolas da rede pública estadual de Uberlândia.

Conforme colocações de TURINI,

Porém, [é} leviano e questionável afirmar que 'tudo continuou como antes' na prática do ensino de História a partir dos anos 80. É inesgotável a ampliação do espaço para debate e a reflexão...

No bojo desse movimento de 'reavaliação' do ensino de História, alguns princípios teórico-metodológicos foram defendidos e difundidos como marcos de ruptura com a Historiografia oficial predominantemente nos anos 70. A análise de alguns desses princípios é importante para situar e avaliar pontos de oposição e de possível contato entre as concepções positivistas e marxistas da História, tal como colocadas no ensino de História do 1° grau, em Minas Gerais, nas últimas décadas137.

Diante dessa realidade ha que se levar em conta os aspectos negativos que vem contribuindo para a ineficiência desse ensino. Primeiramente, devemos considerar que a mudança de um programa não significa uma mudança instantânea de métodos. Isto porque, constituindo-se em mudanças profunda, em um momento histórico de transição, não seria possível uma aceitação imediata por professores e instituições de ensino, uma vez que a maioria das escolas foi estruturada para manter as ideologias de poder e dominação.

Por outro lado, a grande maioria dos professores de História que atuava nas escolas de Uberlândia, no início da implantação do programa novo, além de estar condicionada pelas influências do regime político anterior, tinha sua formação em licenciatura curta, na área de Estudos Sociais, o que já se tornava um agravante no processo de assimilação da nova metodologia, uma vez que essa formação estava totalmente desarticulada das pretensões do programa recém-implantado.

137 TURINI, Leide Divina Alvarenga. A avaliação no Contexto da Ação Pedagógica do Professor de História. P.35.

Somando-se a isso, podem-se considerar também as péssimas condições de trabalho, bem como uma política salarial desestimulante, onde não foram oferecidas aos docentes as condições necessárias para o aperfeiçoamento e atualização, condizentes com as propostas do programa. Esses fatores têm aparecido como fundamentais nas discussões e debates sobre a ineficiência de sua prática sendo, portanto, motivo de resistência ao programa.

Outro problema que aflorou no desenvolvimento do processo de consolidação da nova proposta curricular, tendo grande repercussão na efetivação do programa de História nas escolas públicas locais, foi a política adotada pelo sucessor de Hélio Garcia ao governo de Minas Gerais, sr. Newton Cardoso que, na intenção de implantar a política de municipalização do ensino, em nome da "racionalização e moralização" de sua administração, assinou o decreto (MG) n° 27.452, de 16 de outubro de 1987, com o seguinte teor:

...criou o Programa Estadual de Municipalização do Ensino, que previa a realização de acordos entre o governo estadual e as prefeituras, visando transferir verbas e responsabilidades para os municípios – processo este coordenado não pela Secretaria de Assuntos Municipais138.

Mais grave ainda, foi a aprovação da resolução 6.518, de 17 de fevereiro de 1989139, que determinou a realização de cortes drásticos nos investimentos educacionais, despedindo-se a grande maioria dos professores contratados. No lugar destes, foram chamados a assumir as aulas de História aqueles professores que possuíam cargos efetivos mas que estavam afastados durante muito tempo da sala de aula.

138 CUNHA, Luiz A. Educação, Estado e Democracia no Brasil. P. 187. Além dessa citação, existem dois artigos publicados na revista Cadernos de História n° 1 que tratam desse assunto: FRANCO, Aléxia Padua. "É possível ensinar na escola que temos?" p. 55-62 e RAMOS, Maria de Fátima Almeida. Integração Universidade/Escola de 1° Grau: Uma experiência" p. 63-70.

Proibiu-se a oferta de vagas para novos alunos, a construção de novas salas de aulas, tais como: secretários, auxiliares, serventes, bibliotecários etc., e os que se mantiveram nos cargos tiveram que assumir, pelas próprias necessidades das escolas, diversas funções e ainda tiveram seus salários reduzidos140

Nessas condições, o funcionamento das escolas públicas tornou-se insustentável na medida em que se agravavam os antigos problemas de falta de material, política de aperfeiçoamento docente, manutenção física dos estabelecimentos de ensino, além de vários problemas novos que surgiram em decorrência dessa política. Conseqüentemente, o ensino de História, em sua nova abordagem, e a efetivação de sua prática tornou-se um paradoxo em relação a suas pretensões.

Esses acontecimentos revelaram os resultados da política educacional implantada em Minas Gerais, abrindo precedentes para questionarmos sobre suas falhas. Algumas produções, tem apontado a falta de participação de professores e alunos no processo de implantação das referidas mudanças, bem como a falta de uma política de capacitação do pessoal docente para exercer o novo referencial teórico metodológico do programa.

Conforme VILLALTA,

A realidade do ensino de História [do programa ce Minas Gerais/87] nas escolas de primeiro e segundo graus é, no geral, bastante dramática. Ela é resultado de um processo perverso em que se vêem interagindo a deterioração da formação dos docentes e das condições de exercício do magistério...é possível concluir que, se o processo de sua elaboração comportou uma discussão que aparentemente envolveu todo professorado mineiro, a este por seu turno, não foi oferecida a oportunidade de ampliar seus conhecimentos sobre a História e se ensino...Esse descompromisso com o magistério e a educação vitimou a educação tanto no malfadado governo Newton Cardoso como na gestão atual, de Hélio Garcia, cuja

timidez neste aspecto, apesar de todo o marketing desenvolvido, salta aos olhos141.