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A política do movimento camponês indígena no contexto de conciliação

3.1 – Estrutura de posse da terra e diferenças regionais

A Bolívia é um país que está dividido geograficamente em uma região de baixa altitude, que faz fronteira com o Brasil e o Paraguai e uma região andina, que possui altitudes médias e altas ou regiões de vales e altiplano. A região andina ou ocidente contém os departamentos de La Paz, Cochabamba, Ouro, Potosí e Chuquisaca, ainda que parte de cada um deles esteja em território de baixa altitude. A região amazônica ou oriental contém os departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija, onde se concentra a maior parte das reservas de petróleo e gás e das terras mais adequadas à agricultura pelo clima e fertilidade do solo. A região ocidental, ao contrário desta última, possui um clima seco e árido, com solo irregular e pedregoso.

Além das características naturais que distinguem ambas as regiões, existem aspectos históricos importantes para entender a agricultura em cada uma delas. A Reforma Agrária de 1953 não atingiu parte do oriente boliviano, como Santa Cruz, que se desenvolveu e foi colonizado sobretudo posteriormente à Revolução de 1952. Sendo assim, predomina no oriente da Bolívia a grande propriedade de terra sob controle de empresas internacionais, algumas delas brasileiras. No ocidente, ao contrário, predomina o minifúndio. O parcelamento da terra nos anos 50 se desenvolveu de modo que o crescimento das famílias fracionou ainda mais o que antes foi um território comunitário, chegando ao tipo de propriedades denominadas surcofúndio (que se estende em apenas um sulco de terra). O resultado é que parte das famílias camponesas da região andina não consegue se sustentar com sua produção, alguns membros são obrigados a ir para as cidades em busca de emprego, levando a uma tendência de empobrecimento da maior parte e reconcentração fundiária sob a fração mais rica do campesinato.

Como descrevem Saavedra e Ramirez (2013), no caso da produção de quínua no altiplano, a pequena propriedade está ligada à produção de subsistência, enquanto a média e grande propriedade são aquelas que abastecem o mercado interno e externo, principalmente. Isso leva à diferenciação

entre os produtores de uma mesma região e ao assalariamento dos camponeses pobres, como demonstram os autores. A relação com o mercado se aprofundou entre as comunidades camponesas ao longo da segunda metade do século XX, se intensificando no período neoliberal e levando à dependência maior da comercialização dos produtos. Um dos resultados deste processo é o abandono de práticas de solidariedade coletivas herdadas da comunidade indígena ancestral.

O discurso plurinacional do governo mascara esse desenvolvimento capitalista e o processo de individualização e mercantilização do solo e da vida no campo. A chamada “recondução comunitária da reforma agrária” não tem feito senão regularizar a situação de comunidades que não tinham reconhecimento. Por outro lado, a ação do mercado segue fazendo com que as relações comunitárias sejam cada vez mais insignificantes e continuem gradualmente desaparecendo em favor de relações individualistas. Os dados sobre os Territórios Comunitários de Origem, por exemplo, exaltam o aspecto coletivo das comunidades mas dificultam a análise específica da proporção que representa cada tipo de propriedade, uma vez que estes contêm propriedades privada e coletiva da terra. Apesar disso, o gráfico abaixo contribui para compreender a estrutura e concentração da terra no país.

A partir dos dados acerca da regularização e titulação de terras nas duas últimas décadas podemos compreender quais os setores beneficiados e a proporção de terras que cada fração tem obtido no que foi chamado oficialmente de “revolução agrária”.

A maior parte dos beneficiados é de pequenos proprietários (95%), que obtiveram seus títulos sobre apenas 3,3% da área regularizada no período do primeiro governo Morales. A área média que estes pequenos proprietários controlam é 7 hectares por pessoa. Enquanto isso, 0,7% dos beneficiários (empresas e propriedade mediana) recebeu títulos de 2,4% das terras regularizadas no mesmo período, sendo que os empresários controlam uma área média de 1786 e os medianos 365 hectares por pessoa. A maior parte da área regularizada é destinada a TCO (35%), beneficiando apenas a 0,1% do total de pessoas atingidas. De qualquer modo, estas áreas geralmente estão localizadas em regiões de floresta (no ocidente bolivianos, região amazônica) ou nas montanhas (região andina, pouco propícia à atividade agrícola). O resultado deste tipo de reforma agrária não muda a condição desfavorável para a atividade agrícola de camponeses pobres diante da concorrência com produtores dotados de terras férteis, maquinaria moderna e créditos.

Além disso, os TCO’s não contam apenas com terras comunitárias. No interior destes territórios surgiram pequenas e médias propriedades e a aprovação da nova Constituição garantiu o respeito ao direito de propriedade. Esse tema foi um dos pontos polêmicos na aprovação da nova Constituição, que exigiu um acordo para obtenção dos 2/3 necessários para aprovação do texto. Deste modo, os pequenos e médios proprietários de TCO’s terão vantagens para se desenvolver neste território, não havendo nenhuma garantia de ampliação das relações comunitárias como contrapartida.

A distribuição destas regularizações entre os departamentos nos oferece dados sobre a concentração de terras em cada um deles. 47% dos beneficiários estão em Cochabamba. Estes, somados aos beneficiados dos departamentos de Chuquisaca, Tarija e Santa Cruz, totalizam 92,5% das pessoas atingidas pela titulação de terras no primeiro governo Morales. Segundo documento do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INRA), Cochabamba, Tarija, ocidente de Chuquisaca, altiplano de La Paz e região oriental de Potosí possuem alta densidade predial, ou seja, pequenas parcelas de terra.

Infelizmente estes dados não permitem dar exatidão à proporção de pequenas, médias e grandes propriedades distribuídas por departamento. Aqueles departamentos que tiveram grandes áreas tituladas e poucos beneficiários não podem ser classificados rapidamente como regiões de grandes propriedades, uma vez que a maior discrepância é resultado de Terras Comunitárias de Origem (TCO's). O que podemos afirmar, seguindo indicações de grande parte da bibliografia é que o norte de Potosí e algumas regiões de difícil acesso na região andina concentram grande parte da pobreza da região ocidental boliviana, muitas vezes são comunidades cuja relação com o mercado é bastante precária, inclusive, e onde o movimento de ayllus possui mais influência desde sua criação.

Nos departamentos de Potosí, Oruro e sul de La Paz está concentrada a produção de quínua que, como já mencionamos, cresceu rapidamente nos últimos anos e se tornou um importante produto de exportação. Como mostra o estudo de Ormachea e Ramirez (2013), o comércio deste produto tem como sustentação as médias e grandes propriedades que utilizam de trabalho assalariado, apesar de a quínua ser um produto considerado tradicional, que anteriormente foi produzido para autoconsumo pelas famílias camponesas. Como vimos nos gráficos acima, os camponeses deixaram de produzir outros produtos para se dedicar à quínua, que teve uma elevação de seu preço e possibilita melhores rendimentos. Nestas condições, o produtor deverá competir com outros, sendo que o objetivo da sua produção é a comercialização. A relação deste campesinato com o mercado tem se tornado cada vez mais intensa, aumentando sua dependência e o risco de falência.

Em Cochabamba, onde está localizada a região do Chapare, se concentra boa parte da produção de folha de coca. É desta localidade que emergiu a liderança de Evo Morales, do sindicalismo cocaleiro, que se caracteriza por uma produção altamente mercantilizada pela rentabilidade desse cultivo que está associado à produção de cocaína. Além do Chapare, os Yungas no departamento de La Paz também produzem o produto. Ambas são regiões intermediárias entre as terras baixas e os Andes, de clima favorável à produção agrícola de frutas e outros alimentos.

declínio das relações comunitárias das comunidades indígenas e das práticas coletivistas como o

ayni78. A sobrevivência destas comunidades e de relações pré-capitalistas está relacionada com a incapacidade e/ou desinteresse dos capitalistas em ampliar o investimento e transformar as relações de produção no campo, bem como pela especificidade do ritmo destas transformações no campo (Shanin, 2005; Kautsky, 1986). Além disso, outras regiões são mais interessantes para o investimento de grandes empresas, como a região de Santa Cruz, devido à fertilidade do solo, ao clima favorável e à proximidade com grandes mercados como o brasileiro.

A partir desta avaliação podemos afirmar que existe nos Andes boliviano uma combinação de diversas formas de produção, característica particular do desenvolvimento do modo de produção capitalista na região. Cabe lembrar que esta particularidade é determinada pela condição periférica do campo em relação à cidade, somada à inserção extremamente periférica da Bolívia na economia mundial. Esta condição impõe um ritmo demasiado lento ao desenvolvimento capitalista agrário, o que possibilita a sobrevivência das comunidades indígenas na região. Ainda assim, essas comunidades estão inseridas em sua grande maioria nas relações capitalistas, comercializam seus produtos e combinam formas de propriedade privada e coletiva da terra. Existem algumas comunidades mais isoladas em que a propriedade privada está pouco desenvolvida. Seria importante uma pesquisa que esclarecesse quais comunidades ainda não estão subordinadas ao modo capitalista de produção, se existirem, ou em que medida e forma as relações comunitárias resistem ao avanço das relações capitalistas79.

Como buscamos demonstrar na reconstituição histórica do movimento camponês no século XX, tais comunidades são uma realidade excepcional no agro boliviano. Ainda assim, estão combinadas – e não isoladas – das unidades produtivas camponesas e capitalistas. Do mesmo modo, a pequena propriedade camponesa – que muitas vezes entra nos dados oficiais como comunidade

78 Trabalho coletivo na comunidade, uma espécie de mutirão.

79 Esta seria uma investigação de interesse para os grupos indianistas e kataristas. Temos a impressão que pouco se

aprofundou neste tema apesar das muitas defesas da tese da sobrevivência das relações comunitárias indígenas. Em geral esta afirmação é feita de modo genérico e não fundamentado.

camponesa-indígenas – está subordinada à grande produção, se é que tem acesso ao desenvolvimento industrial moderno (celulares, computadores, televisões, eletrodomésticos em geral). O resultado desta combinação é uma mudança do objetivo final da produção, cada vez menos voltada para satisfação das necessidades da unidade familiar e cada vez mais destinada à troca e obtenção de dinheiro para a compra de uma série de produtos que jamais poderão produzir ou que são produzidos com menos trabalho por outras unidades produtivas. É o fenômeno da especialização a que os camponeses também estão submetidos. Isso fica muito claro em alguns casos, como o das regiões produtoras de quínua.

Podemos observar no gráfico acima que a população rural nos Andes cresceu abaixo da média nacional, sendo que o departamento de Chuquisaca teve o menor crescimento, registrando 5% entre 2001 e 2012. Apesar de pouco crescimento populacional, este mesmo departamento apresenta um crescimento elevando da produção agrícola, ao lado do departamento de Cochabamba, ambos pouco abaixo da média nacional, por volta dos 60%, no mesmo período. Estes departamentos são os

únicos da região que apresentam um aumento da produção superior ao crescimento da área de terra cultivada, o que indica um aumento na produtividade média da terra. Os demais departamentos indicam uma queda na produtividade, uma vez que o crescimento da superfície de terra cultivada acompanha um crescimento da produção em proporção inferior, com destaque para o departamento de Oruro que teve elevado crescimento da produção mas ainda mais elevado aumento da superfície de terra cultivada, apresentando em 2012 mais do que o dobro da área de 2001. Em La Paz também se observa um fenômeno interessante, onde a superfície de terra teve um crescimento baixo e a produção teve queda com relação aos valores de 2001.

Entre os departamentos andinos, Chuquisaca foi o último em que a população rural ultrapassou a urbana, os demais já possuem predominância urbana, restando apenas Potosí como departamento onde a população urbana ainda é minoritária. Paradoxalmente, apesar do baixo crescimento da população e da superfície de terra cultivada, Chuquisaca apresenta um impressionante aumento da produção agrícola. A maior parte dos produtos deste departamento apresenta um crescimento da produção superior ao aumento da superfície dos cultivos, com destaque para alguns produtos em que esta dicotomia salta à vista.

Este departamento representa uma pequena parcela da produção andina apenas. Entretanto é interessante observar que existe uma expansão da produção, especialmente de milho em grão, trigo e cebola, os produtos mais relevantes do gráfico acima. A batata, que é o segundo produto mais importante em termos absolutos, apresenta o crescimento da produção bastante próximo do crescimento da superfície de cultivos. Provavelmente, isso se explica pelo caráter tradicional deste cultivo e, portanto, pelo pouco grau de desenvolvimento tecnológico da agricultura neste setor. Segundo os dados do INE, o milho em grão teve acréscimo da área de cultivo em 3,8% entre 2009 e 2011. No mesmo período a produção do cereal cresceu 78,3%. Isso significa um investimento na produção que resultou num aumento impressionante da produtividade deste cultivo. Seria importante investigar que unidades produtivas são responsáveis por este setor, se são capitalistas

stricto sensu ou camponeses médios e ricos.

No departamento de La Paz, o cenário é completamente diferente. Este departamento, que possui larga tradição e uma importância significativa para a agricultura andina, apresenta uma queda na produção absoluta, apesar de um crescimento populacional no campo quase idêntico à média nacional e uma pequena elevação da área de terras cultivadas. Isso indica a decadência da produção camponesa no departamento que é o mais importante economicamente e a sede do governo nacional. Ao lado de Cochabamba, este é o departamento com maior área cultivada e que mais produz em termos absolutos.

Com exceção de alguns produtos, a produtividade dos cultivos tem diminuído neste departamento. Podemos observar que os cultivos de arroz com casca, laranja e cevada, os três mais relevantes do departamento em termos de produção absoluta (dados de 2012-2013, INE), apresentam um aumento de produtividade. Dentre os cultivos mencionados, a laranja, que é o terceiro mais relevante em produção (toneladas métricas), está localizada na região de vales chamada yungas. Nesta localidade, o clima quente, elevada umidade, e a baixa altitude oferecem condições propícias para cultivos de frutas. Este produto tem assumido liderança nesta região, sendo que entre as frutas – que em geral apresentam elevação da área de cultivo mas não um aumento de produtividade.

Os dados do departamento de Cochabamba apresentam um problema, uma vez que não representam um setor-chave que é a produção de coca. Entretanto, entre os dados disponíveis analisamos um aumento geral na produtividade dos cultivos, especialmente de banana, trigo e cebola.

O caso da banana é o mais emblemático, sendo que este cultivo representa 4,6% da superfície de terras cultivadas em Cochabamba e 18% da produção em termos absolutos, ficando atrás apenas da batata que representa 30% da produção do departamento. Contudo, como os outros departamentos, o cultivo de batata apresenta produtividade constante ou decrescente no período. Como já dissemos acima, este produto representa ainda a produção tradicional, base da produção indígena e da alimentação andina.

Oruro é o departamento com maior crescimento da superfície de cultivos pelo desempenho da quínua na economia agrícola nacional. O elevado preço deste produto levou a um crescimento impressionante dos cultivos. Contudo, a produção não acompanhou o mesmo ritmo.

Como foi dito acima, este departamento se especializou amplamente na produção de quínua. Hoje, este produto representa 57% da superfície de terra cultivada em Oruro. A combinação de produções modernizadas nas propriedades de camponeses médios e/ou ricos com técnicas atrasadas e sob responsabilidade de camponeses pobres não pode ser revelada com precisão a partir destes dados. O estudo de Saavedra e Ramirez (2013) defende que esta região está marcada pela diferenciação entre camponeses pobres e ricos.

Finalmente Potosí, o último departamento andino no recorte desta pesquisa, representa também a importância da produção de quínua na região e expressa o crescimento deste cultivo. Seria extremamente relevante uma pesquisa que mostrasse a relação das comunidades tradicionais, aquelas mais isoladas economicamente, onde a produção ainda assume (ou assumia) o caráter de valor de uso, predominantemente, com os cultivos de quínua sob controle de camponeses médios e ricos. Este é o departamento em que a população rural predomina sobre a urbana, ao mesmo tempo em que representa a menor área cultivada entre os departamentos andinos.

A geografia montanhosa desta região andina e a existência de um deserto de sal em parte do seu território dificulta os cultivos e contribui para que esta seja uma das regiões mais pobres do país. Ainda assim, podemos identificar a especialização dos cultivos de quínua em Potosí. Esta contradição pode levar a uma combinação específica entre comunidades, camponeses pobres e pequena-burguesia. A combinação de diversas formas de propriedade pode resultar no favorecimento de uma parcela pequeno-burguesa, mesmo que não haja assalariamento, ou seja, assumindo formas próprias de um desenvolvimento econômico atrasado e recente, sob um governo pequeno-burguês.

3.2 – A política segundo os militantes e dirigentes camponeses

Nas entrevistas realizadas em finais de 2013 foi possível identificar alguns elementos que possibilitam interpretar os horizontes estratégicos dos movimentos CSUTCB e CONAMAQ, a forma como entendem a relação do campesinato com os partidos e com o Estado, as possibilidades de aliança com outras classes, os conceitos que orientam suas concepções políticas e que tipos de interesses podem ser identificados em cada contexto que os movimentos se posicionam.

Encontramos um desafio no que toca à análise dos movimentos pela dificuldade de investigar os processos de diferenciação entre as camadas pobres e ricas em determinadas localidades e relacioná-las com os respectivos movimentos. Esse trabalho exigiria identificar as comunidades e regiões onde cada um dos movimentos é mais influente e relacionar seu posicionamento com as frações de classe imediatamente ligadas à influência de uma ou outra política. Tal procedimento exigiria um tempo e esforço que não foram possíveis nesta pesquisa, é certamente uma tarefa que permitiria obter resultados importantes para a investigação do campesinato boliviano. No início do capítulo buscamos oferecer alguns elementos para pensar as mudanças recentes na agricultura de cada departamento, contudo, esses dados ainda são insuficientes para se compreender o campesinato devido à precariedade de nexos entre as mudanças e as frações do campesinato e os movimentos.

Tendo feito estas considerações, apresentaremos aqui os dados que foram levantados através de entrevistas com dirigentes e militantes de cada uma das organizações. Nelas identificamos elementos que nos permitem tecer uma reflexão sobre o sentido da política e os interesses que os movimentos representam. A análise da política dos movimentos inclui aqui a interpretação das concepções estratégicas, dos conceitos e identidades que os movimentos manipulam, bem como dos objetivos, reivindicações e horizontes que estabelecem na sua ação. Ou seja, o discurso e a prática dos dirigentes e militantes nos remetem à forma como concebem sua base social e os objetivos que

estabelecem para representá-la. Tais objetivos expressam aquilo que os movimentos consideram adequado aos interesses de sua base social, o que implica uma utopia ou perspectiva de futuro desejável.

A análise dos movimentos oferece uma base na qual podemos identificar as questões postas pelos debates teóricos, políticos e estratégicos que foram expostos no primeiro capítulo. Interpretamos os movimentos segundo: suas demandas e avaliações quanto às mudanças executadas durante o governo Morales, envolvendo questões ambientais e visões de futuro e desenvolvimento; a relação com outras classes, partidos políticos e Estado; e identidades que remetem a determinadas estratégias, associadas ao socialismo ou a outras perspectivas políticas, como o indianismo, mais ou menos críticos ao capitalismo e à burguesia. Passemos às entrevistas e à política camponesa boliviana segundo os dirigentes da CSTUCB e CONAMAQ.

a) O sindicato camponês

Segundo Dalia Machicado80, representante da província de Camacho (La Paz) pelo movimento, o governo Morales melhorou as condições de vida da população rural através da ampliação de serviços básicos como luz e água, que antes não chegavam a muitas comunidades. A dirigente afirma também que houve melhoras na educação, mudança que também é citada por um

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