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PERMANENTE EM SAÚDE: UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO

1.1 A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde

Sabe-se que o desempenho adequado dos gestores do SUS está fortemente ligado à sua formação para/no trabalho e dita a qualidade e a velocidade das mudanças institucionais. No entanto, os resultados do processo de formação são influenciados e delimitados por condições políticas, ideológicas e contingenciais, e as ações de educação em saúde devem compor um projeto mais amplo, estratégico e sustentável de transformação organizacional.

Para Davini (2009, p.43), os enfoques educativos transformaram-se profundamente nos últimos anos, acompanhados, por um lado, da reflexão crítica das tendências clássicas e, por outro, da incorporação dos aportes da sociologia das organizações, da análise

institucional e da perspectiva da educação de adultos, particularmente em situações de trabalho.

Diante da responsabilidade constitucional do SUS de ordenar a formação profissional para a área de saúde, em 2003 o Conselho Nacional de Saúde (CNS) lança a Resolução Nº 335, aprovando a “Política de Educação e Desenvolvimento para o SUS: caminhos para a Educação Permanente em Saúde” e a estratégia de “Polos de Educação Permanente em Saúde” como instâncias regionais e interinstitucionais de gestão da Educação Permanente.

Esta política tem como objetivo atender aos requisitos citados na NOB/RH – SUS (2005), propondo-se conquistar relações orgânicas entre as estruturas de gestão da saúde (práticas gerenciais e organização da rede), as instituições de ensino (práticas de formação, produção de conhecimento e prestação de serviço), os órgãos de controle social (conselhos de saúde, movimentos sociais e de educação popular) e os serviços de atenção (profissionais e suas práticas) (CECCIM; FEUERWERKER, 2004, p.54). Almeja a ruptura com a lógica da compra de produtos e pagamento por procedimentos educacionais, o compromisso dos gestores com a formação e dos formadores com o sistema de saúde.

Em 2006, no Pacto pela Saúde, em seu eixo referente à Gestão do SUS, são apresentadas as diretrizes para o trabalho da gestão da educação na saúde, nas quais a segunda e sétima recomendações afirmam:

Considerar a educação permanente parte essencial de uma política de formação e desenvolvimento dos trabalhadores para a qualificação do SUS e que comporta a adoção de diferentes metodologias e técnicas de ensino-aprendizagem inovadoras, dentre outras coisas (BRASIL, 2006, p. 65).

Considerar que a proposição de ações para a formação e o desenvolvimento dos profissionais de saúde para atender às necessidades do SUS deve ser produto de cooperação técnica, articulação e diálogo entre os gestores das três esferas de governo; as instituições de ensino; os serviços e controle social, e podem contemplar ações no campo da formação e do trabalho (BRASIL, 2006, p. 66). Em agosto de 2007, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria Nº 1996, dispõe sobre as novas diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), adequando-se às diretrizes operacionais do Pacto pela Saúde.

O conceito de Educação Permanente em Saúde pode ser entendido como a organização das pessoas que vivenciam uma mesma realidade, ocupando diferentes

posições sociais, para a análise dos problemas que afetam diretamente o acesso e a qualidade da assistência ofertada no SUS. Tem a finalidade de problematizar, priorizar e construir coletivamente soluções de enfrentamento que impactem na mudança de práticas das instituições. Para isso:

[...] propõe-se que os processos de capacitação dos trabalhadores da saúde tomem como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações, da gestão setorial e do controle social em saúde, tenham como objetivos a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho e sejam estruturados a partir da problematização do processo de trabalho (BRASIL, 2007, 13).

Para Ceccim e Feuerwerker (2004), é por meio da articulação do quadrilátero constituído pelos gestores, trabalhadores, usuários e instituições de ensino que se dá a formação de recursos humanos para a área da saúde.

Nessa perspectiva, a Educação Permanente no serviço se converte em uma ferramenta dinamizadora da transformação institucional, facilitando a compreensão, a valoração e a apropriação do modelo de atenção proposto pelos novos programas, priorizando a busca de alternativas contextualizadas e integradas para a atenção da população (DAVINI, 2009, p.56).

Para a autora:

a avaliação é outra dimensão que deverá ser desenvolvida de forma sistemática para que se alcancem todos estes fins. A avaliação do processo tem como função primordial a busca de aperfeiçoamento e a melhoria das ações, apoiando as decisões durante o processo e reorientando as iniciativas. A avaliação de resultados tem importância na análise dos sucessos alcançados e dos limites, tem alto valor no terreno político e, por sua vez, facilita a construção de apoios e o desenvolvimento de políticas de recursos humanos (p. 57).

A associação de políticas pouco efetivas, voltadas ao desenvolvimento dos profissionais do SUS, com a tradição do modelo educativo, que visa a atualizações técnicas, corrobora com a afirmação de Davini (2009, p. 41):

na maioria dos casos, a capacitação consiste na transmissão de conhecimentos dentro da lógica do “modelo escolar”, com o intuito de atualizar novos enfoques, novas informações ou tecnologias na implantação de uma nova política, como nos casos de descentralização ou priorização da Atenção Primária.

De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica, a Educação Permanente deve:

[...] embasar-se num processo pedagógico que contemple desde a aquisição/atualização de conhecimentos e habilidades até o aprendizado que parte dos problemas e desafios apresentados no processo de trabalho, envolvendo práticas que possam ser definidas por múltiplos fatores (conhecimento, valores, relações de poder, planejamento e organização do trabalho, etc) e que considerem elementos que façam sentido para os atores envolvidos (aprendizado significativo).

A Política Nacional de Educação Permanente propõe o engajamento dos trabalhadores de saúde nas reflexões acerca de seu papel social desempenhado nas instituições, a problematização da realidade vivida e o estímulo à autonomia dos sujeitos construtores de novas práticas e cenários nos quais estão inseridos.

Nesta modalidade educacional, o intercâmbio de experiências entre equipes multiprofissionais, gestores, alunos e o controle social é reconhecido como ferramenta potente de transformação do SUS. Os múltiplos saberes envolvidos nas discussões dos problemas do cotidiano da saúde contribuem para a elaboração de processos de trabalhos culturalmente mais aceitos e de acordo com as especificidades de cada local.

O exercício permanente dos pressupostos da PNEPS voltados às equipes e, em especial, aos coordenadores das Unidades Básicas, de maneira sustentável e como parte de um projeto de transformação social, pode favorecer a implementação da Política Nacional de Atenção Básica. Consequentemente, pode oportunizar a reformulação de valores individuais e coletivos na reorganização do trabalho, tão necessários para o avanço da saúde como direito de todos.