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Construindo alguns olhares para o território, problematizando as práticas: a busca pelo sentido no trabalho

DESENVOLVIMENTO URBANO

CAPÍTULO 5: CONSULTANDO OS MANUSCRITOS

5.3 Construindo alguns olhares para o território, problematizando as práticas: a busca pelo sentido no trabalho

Na reunião de 23 de fevereiro de 2011, estavam presentes os doze participantes dos CGs Leste e Centro Sul e, após a leitura da Ata, começamos a discutir os problemas do dia a dia e a buscar a solução dentro e fora do grupo. A coordenadora CIX relatou a:

[...] situação de acúmulo de pacientes logo pela manhã, casos que não são urgentes como verificação da pressão arterial e glicemia de controle. Uma ex- coordenadora e outras presentes sugerem pactuar com os pacientes que estes procedimentos serão feitos preferencialmente após as 9 horas. [A primeira apoiadora] destaca a importância de discutir o assunto no conselho local e deixar claro para a equipe que todos devem estar atentos às exceções (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 23/02/2011).

A coordenadora CIX ainda apontou as dificuldades impostas pelo SAAE (Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto) para o fornecimento de água à Unidade e a falta de retaguarda da SMS para a resolução de problemas crônicos, como a compra de materiais hidráulicos específicos e realização de serviços de obras. Esta queixa foi unânime entre os coordenadores. A coordenadora CVIII referiu:

[...] ter esse mesmo tipo de problema, inclusive tendo que apelar para familiares para as resoluções de pequenos problemas (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 23/02/2011).

Nestes pequenos trechos, constatamos como este espaço de conversa oportunizava a troca de experiências que, por sua vez, poderia dar agilidade aos serviços, simplesmente revendo as relações e rotinas existentes entre trabalhadores e usuários. Ao mesmo tempo, servia como espaço para desabafos e queixas de situações angustiantes provocadas pela

convivência diária com problemas estruturais da PMS, que prejudicam o andamento dos serviços.

Retomada a pauta da reunião, foram iniciadas as discussões sobre o Fórum de Atenção Básica e a Conferência Municipal de Saúde. A realização de um fórum entre as UBSs era um desejo antigo de alguns técnicos da SMS. A intenção era oportunizar a troca de experiência entre os serviços, divulgar os conhecimentos produzidos pelas equipes e promover a interação entre trabalhadores que raramente se encontravam. Outra proposta deste evento era a aproximação das equipes da assistência das instituições de ensino da área da saúde.

Em meados de 2010, a chefia da Divisão da Atenção Básica (DAB), um dos cargos subordinados à direção da DAAES, solicitou aos coordenadores das UBSs que preenchessem um instrumento de avaliação denominado Quali-AB. A forma como os resultados foram divulgados, orientados e apresentados para os coordenadores deixou muito a desejar. Alguns relatos desta época afirmavam a ‘desimportância’ dada a mais essa tarefa ‘jogada’ pela SMS, principalmente pela falta de informações. Em alguns casos, o preenchimento foi delegado para auxiliares administrativos ou outro técnico mais disponível, sem preparo específico para o uso do instrumento. Nesta reunião de Colegiado, a diretora de área (D3) esteve presente no encontro e esclareceu a finalidade deste instrumento autoavaliativo e lamentou o insucesso obtido na primeira tentativa de aplicação. Após as discussões,

[...] Foi reafirmado pelo grupo que esta seria então uma oportunidade de “dar sentido” ao instrumento através da reaplicação do mesmo. Os coordenadores se propuseram a reaplicá-lo, analisá-lo e criar estratégias para enfrentar os nós críticos apontados. A partir disso, seria possível cada coordenador selecionar juntamente com sua equipe uma ação exitosa desenvolvida na sua UBS para ser apresentado no Fórum de Atenção Básica através da confecção de um banner. Outros instrumentos também poderiam ser utilizados para a seleção da ação escolhida como “Um olhar para a UBS”, indicadores de saúde ou ações que a equipe reconheça como relevante para os serviços (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 23/02/2011).

Neste dia, foi tomada uma decisão que marca estes Colegiados até os dias de hoje. Em função da realização da VI Conferência Municipal de Saúde, que propunha a inclusão de etapas preparatórias denominadas pré-conferências, após a discussão da participação social no SUS, as apoiadoras e os coordenadores julgaram que apenas um encontro

preparatório não seria suficiente para o debate de tantos assuntos. Principalmente por julgarmos necessária uma revisão17 na forma como vinha ocorrendo a participação popular no município. Esse repensar das práticas do controle social caberia a todos os segmentos que participavam dos Conselhos Locais de Saúde: ao gestor (o próprio coordenador), aos trabalhadores e aos usuários. Então, uma ex-coordenadora propõe a realização de mais encontros que precederiam as pré-conferências já agendadas. No entanto, era sabido que não haveria tempo hábil para realizá-las em 10 UBSs. A ex-coordenadora apresenta a proposta:

[...] reunir todos os conselhos de saúde do colegiado para a realização dessa etapa. Foi apontado que um encontro apenas antes da pré-conferência não seria suficiente [...] (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 23/02/2011).

Em função da grande quantidade de atividades a serem administradas pelos coordenadores e pelo NT, foi montado um quadro com as datas e as ações para auxiliar a administração do tempo de todos. Estava na agenda desse grupo: elencar atividades exitosas para o Encontro da Mortalidade Infantil e para o Fórum de Atenção Básica, localizar e convidar os conselheiros de saúde para o primeiro encontro geral dos Conselhos Locais, além de dar conta de todos os desdobramentos administrativos que cada uma destas ações requeriam das coordenações locais e apoiadoras. Foi agendada uma reunião para 10 de março de 2011, somente para a discussão das atividades relativas ao enfrentamento da mortalidade infantil.

Neste encontro estavam presentes dez membros dos CGs Leste e Centro Sul. Foi muito proveitoso, no qual todos expuseram suas experiências, colocaram as facilidades e dificuldades que encontraram para viabilizá-las. Foi um momento de avaliação dos processos de trabalho que tinham se incorporado ou se perdido na rotina dos serviços a partir das Oficinas de Mortalidade Infantil e encontro das Equipes Gestoras.

Uma ex-coordenadora referiu que:

[...] a equipe não implantou nenhuma atividade inédita. Diz que houve melhora no controle de infecção urinária, que houve a tentativa de fazer um trabalho de grupo multiprofissional, mas que não compareceu nenhuma gestante. A rotina

17 O Conselho Local de Saúde é desacreditado em muitas UBSs. Dentre outros problemas, notam-se relações

desgastadas entre conselheiros usuários e trabalhadores, clientelismos, horários de reuniões que não favorecem a participação de usuários que tenham trabalho formal, gestores pressionados por questões políticas e pouca potência na atuação dos Conselhos Locais.

que foi implementada em seu serviço, neste momento, que embora soubesse que outras UBSS já faziam isso, foi o acordo definitivo em deixar uma vaga por dia na agenda de odontologia por dentista para as gestantes e que é agendada, preferencialmente, junto com consulta do ginecologista (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 10/03/2011).

A coordenadora CIV relatou que:

Outra ação diferenciada da UBS e que foi aprimorada nas últimas duas Oficinas de Mortalidade Infantil é o controle de gestantes com hipertensão arterial. Existe um funcionário designado para o monitoramento dos valores pressóricos [valores da pressão arterial] e busca ativa das gestantes que não compareceram para o controle. É também oferecido um cartão-controle para a gestante. Esta ação indica a possibilidade da gestante continuar o pré-natal na UBS ou necessidade de encaminhamento para a Policlínica [ambulatório especializado em pré-natal de alto risco] (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 10/03/2011).

A coordenadora CIV referiu que uma ação de destaque foi:

o aumento da oferta de trabalhos de grupos sobre planejamento familiar para métodos não definitivos. É oferecido toda sexta-feira e anteriormente, apenas uma vez por mês. Diz também que a equipe está mais flexível e ágil para encaminhar os interessados para o grupo. Como dificuldade, aponta o número de participantes neste grupo ainda. Apesar de fazerem cartazes e os profissionais também incentivarem os pacientes a participarem do trabalho do grupo, é preciso melhorar na divulgação da atividade (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 10/03/2011).

Outra coordenadora fez referência à implantação de uma planilha utilizada para monitoramento de todas as etapas de um pré-natal realizado em uma Unidade de Saúde tradicional. Contou que:

Outra ação de destaque é a possibilidade de todos os profissionais estarem a par do andamento dos pré-natais através da disponibilização em rede da planilha de controle das gestantes. Qualquer interessado pode acessá-la e esclarecer suas dúvidas. Esta planilha foi adaptada da ideia da UBS 6 (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 10/03/2011).

Neste dia, outra decisão foi tomada coletivamente. Haviam sido disponibilizados, pela equipe organizadora do Encontro de EGs da Mortalidade Infantil, vinte minutos de apresentação para cada Colegiado de Gestão. As cinco experiências selecionadas deveriam ser apresentadas em um tempo médio de cinco minutos. Sem menosprezar nenhuma ação indicada para a exposição, diante do primor do trabalho das equipes da ESF1, os coordenadores e apoiadoras optaram pela apresentação do projeto Futura Mamãe, que atendia as gestantes desde o início da gestação até o acompanhamento do desenvolvimento

do bebê. Eram organizados encontros mensais com as mães e os pais que se disponibilizavam a participar, buscando oferecer ações que contemplassem as necessidades sociais das famílias atendidas.

O grupo decide que ao invés de gastarmos os 20 minutos com uma apresentação por colegiado, elegeríamos apenas uma e os outros dez minutos apresentaríamos as principais ações de todas as UBSs dos Colegiados 5 e 6 (atualmente denominado Leste e Centro Sul) (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 10/03/2011).

Neste momento, os demais NTs enfrentavam dificuldades em sustentar as reuniões de seus respectivos Colegiados de Gestão e, inclusive, de ter clareza dos propósitos destes encontros. Alguns técnicos foram abandonando a proposta e outros se reorganizando para dar apoio temporário a estes grupos de coordenadores. Juntamente com a segunda apoiadora, relato que fomos convidadas a apoiar os outros Colegiados que estavam com dificuldades:

[...] colocam que apoiaram os Colegiados 1, 2, 3 e 4 [nesta época, ainda identificávamos os colegiados através de números, o que corresponde atualmente aos Colegiados Noroeste, Sudoeste, Norte e Centro Norte] nesse processo de gestão compartilhada entre Colegiados e NTs. Para isso, gostariam que os coordenadores apontassem os pontos positivos e negativos de trabalharmos nesse formato (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 10/03/2011).

A devolutiva dos presentes quanto aos pontos positivos foi a seguinte:

Outra visão sobre gestão em saúde; continuidade dos assuntos possibilitando saber o início e o fim dos assuntos; ressaltaram a importância da confecção e leitura da ata; troca de experiência; proximidade com a SMS; as reuniões fluem melhor por estarmos em um número menor; melhor as dez Unidades juntas que fazer em apenas 5 serviços; fortalecimento dos coordenadores; continuidade das ações sem perder o foco; fonte de resolução de alguns problemas das UBSs; sintonia com o NT; reuniões esclarecedoras; privilégio ter um espaço para discutir, manter o foco e sair da impossibilidade (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 10/03/2011).

Quanto aos pontos negativos, duas ex-coordenadoras debateram mais intensamente:

o distanciamento dos demais coordenadores, perdendo a visão da cidade. Uma delas lamenta a perda do espaço do Fórum dos Coordenadores. Outra coordenadora refere que o fórum não atendia seus objetivos e precisava uma revisão de propósitos (Ata dos Colegiados Leste e Centro Sul, 10/03/2011). O Fórum de Coordenadores foi o espaço de conversa fomentado pelo entrevistado D1, no qual os coordenadores reuniam-se para discutir os temas que julgavam pertinentes,

sem a presença de técnicos da SMS, e que na gestão do entrevistado D2 acabou sendo suspenso. Outro encontro coletivo que deixou de existir foi uma reunião mensal de enfermeiros idealizada com o propósito de realizar atualizações técnicas para o grupo. Os resultados destes encontros eram muito questionados pela SMS e por diversos enfermeiros.

5.4 O desafio da integração intersetorial, do enfrentamento da Dengue e da