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1. Licença de saída jurisdicional – L.s.j 54

1.2. A ponderação 56

Regra geral, e pelo que observei nos c.t.’s, a concessão de uma l.s.j. está “vedada” àquele que tem averbada uma punição recente121, mas tal prende-se com o receio de que o recluso em liberdade não se comporte “de modo socialmente responsável”122

. O juiz - e o c.t. através dos seus votos - procedem a um paralelismo entre o comportamento do recluso no e.p., que configura o seu meio social, e o que será expectável em sociedade, concluindo que, se aquele não é capaz de um comportamento socialmente responsável num meio – amplamente - controlado, tal                                                                                                                

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ROCHA, João Luís Moraes, op.cit., Vol. I, 2005, p. 96.  

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Estas regras são transversais a todos os e.p.’s por influência do Regulamento Geral. Assim, garante- se a uniformidade e igualdade na aplicação da regulamentação penitenciária no conjunto do sistema prisional, mas também a mais fácil apreensão do direito aplicável pelos destinatários, porque se sistematiza num só documento matérias que se encontravam dispersas por numerosos regulamentos, circulares e despachos.

118 “A não concessão de licenças de saída não pode, em caso algum, ser utilizada como medida

disciplinar”, a lei expressamente o declara no n.º3 do art.77º do CEPMPL.

119 Nomeadamente, o facto de ser prematuro face à extensão da pena, à natureza e gravidade da

atividade criminosa, ou por ser prematuro face ao tempo já cumprido e a cumprir.

120 Por exemplo a incompatibilidade da saída com considerações de ordem e paz, que a contrario sensu

retiramos do art.78º, n.º1, al. b), do CEPMPL, ou ainda a falta de apoio no exterior.

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Recordamos um debate que se gerou num c.t. do E.P. da Carregueira. O recluso em causa já vinha beneficiando de l.s.j.’s, encontrando-se em apreciação a sua continuidade, ou seja, não se tratava de uma primeira concessão em que se valorizam primordialmente parâmetros como o “receio de insucesso”, se é ou não “prematuro face ao tempo já cumprido e a cumprir” ou se é “compatível com a defesa da ordem e da paz”. A questão que se colocou foi se deveria existir uma diferenciação entre a gravidade das punições que pudesse, ainda que perante uma punição recente, permitir que se concedesse a l.s.j.. A lei procede a um tipo de graduação das medidas disciplinares, mas tal prende-se com a avaliação do maior ou menor grau de gravidade do ato praticado, não para efeitos de apreciação das concessões de l.s.j.’s. Vejamos o que a lei nos diz no n.º 3, art.105º do CEPMPL, “a escolha e a determinação da duração da medida disciplinar são feitas em função da natureza da infracção, da gravidade da conduta e das suas consequências”, entre outras variáveis. Por uma questão de coerência e igualdade de tratamento entre todos os reclusos concluiu-se que tal graduação não deveria importar para efeitos da concessão, “uma punição, é sempre uma punição” quer se trate de uma repreensão escrita – menos grave- ou de internamento em cela disciplinar – mais grave. A regra culmina numa consideração uniforme de veto à l.s.j. perante o averbamento recente de medida disciplinar.

§ IV. Medidas de flexibilização da pena de prisão

não ocorrerá em liberdade, em que se encontra despido de vigilância e controlo direto. Havendo um fundado receio de insucesso, opta-se pela não concessão da l.s.j..

Encontramo-nos num âmbito em que o raciocínio é muito diferente do de um tribunal de condenação. Nestas apreciações o juiz de execução não se guia pelo princípio in dubio pro reo, mas por um juízo reforçado de prognose favorável. Tal leva-me a considerar que, perante a concessão de uma l.s.j., o juiz e o recluso se encontrem numa relação de dependente corresponsabilidade. O primeiro123

porque tem que proceder ao tal juízo e para tal recorre a todas as ferramentas que o c.t. lhe fornece, nomeadamente pareceres e conhecimentos facultados, ponderando a evolução da execução da pena ou medida privativa da liberdade; as necessidades de proteção da vítima; o ambiente social ou familiar em que o recluso se vai integrar; as circunstâncias do caso e os antecedentes conhecidos da vida do recluso124

. O recluso porque se compromete com a sociedade e a justiça, através do juiz do TEP, a respeitar as normas e regras de conduta que nos vinculam enquanto cidadãos, não cometendo crimes durante aquele período e cumprindo as imposições a que se subordina a licença lhe foi concedida125. As imposições são, desde logo e entre outras:

a) Residir, durante o período de licença jurisdicional, na morada que indicou126

no seu requerimento127 ;

b) Regressar ao Estabelecimento Prisional dentro do prazo determinado; c) Manter conduta social adequada, com observância dos padrões normativos

vigentes, nomeadamente sem incorrer na prática de quaisquer crimes; d) Não frequentar zonas ou locais conotados com atividades delituosas, nem

acompanhar pessoas relacionadas com tais atividades;

e) Não consumir estupefacientes e não ingerir bebidas alcoólicas em excesso;

                                                                                                               

123 “O juiz não concede recompensas, nem outorga benesses, antes declara o direito, concedendo ou

negando uma pretensão jurídica. A recompensa é uma concessão graciosa e discricionária, incompatível com a função jurisdicional.” - ROCHA, João Luís Moraes, op. cit., Vol. II, 2005, p. 180.  

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Art. 78º, n.º2, als. a) a e) do CEPMPL.

125 Arts.78º n.º1 e 191º, n.º1 do CEPMPL.

126 Esta imposição de indicação da morada é muito relevante, porque constitui uma forma de controlo

do meio em que o recluso se insere, transmitindo às autoridades a sua localização. Para que a l.s.j. seja concedida é necessário que a equipa territorialmente competente da reinserção tenha já averiguado da aceitabilidade do meio, assim como das pessoas que com que aquele conviverão durante aquele período, tomando nota de tudo o que possa contribuir, ou não, para uma licença sem incidentes.

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Arts. 1º e 2º do CEPMPL. Esta concessão depende de pedido do recluso que o faz através de requerimento próprio dirigido ao juiz do TEP territorialmente competente, expondo os motivos pelos quais esta lhe deve ser concedida. Maioritariamente os motivos invocados foram a necessidade de “passar tempo com a família”, assim como a “preparação da liberdade”.

 

f) Não sair, durante o tempo da concessão, da área do concelho onde se situa a morada indicada, salvo se for por motivos ponderosos e justificados128. Para o juiz não se trata de preencher um papel “com uma cruzinha aqui e outra ali” - como muitos erroneamente pensam - mas de obter um conhecimento aprofundado daquilo que o recluso “é”, foi e possivelmente será quando liberto; de perceber tudo o que o rodeia; de averiguar se o recluso não está a trabalhar no e.p. por falta de vontade ou por não existirem ocupações laborais suficientes face à população reclusa. Trata-se de “fundadamente” perceber, no meio da incerteza que é o comportamento humano, se aquele recluso voltará no término da sua licença; se não sucumbirá aos seus comportamentos aditivos (álcool, drogas, jogo); se não procurará a sua vítima num “ajuste de contas” (violência doméstica, maus tratos, violações, etc.). Trata-se de “saber”, mesmo não tendo certezas ante a imensidão de variáveis, quais as probabilidades de sucesso do recluso na saída jurisdicional. O que no final de contas será sempre algo de semelhante a um salto para o desconhecido, ainda que alicerçado em conhecimentos de causa.