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1.2 A criminalidade juvenil no Brasil

1.2.2 A prática do ato infracional: alguns dados ilustrativos

Conforme apresentado no item anterior, o adolescente e o jovem são indivíduos vivendo sempre uma condição de vida, de trabalho, de classe, de linguagem, de cultura, etc. A adolescência é uma condição transitória que oscila entre dois extremos: de um lado a autonomia superior o que dá a percepção de ser capaz de resolver os problemas individuais e de enfrentar os desafios sociais. Por outro lado, manifesta a angústia de não poder levar adiante todas essas ambições, por diversos motivos, pelos limites impostos pela família quanto pela sociedade. (SOUSA, 1999), uma vez que o hiato entre direitos civis, sociais e econômicos permanece acentuado. O aprofundamento das desigualdades sociais persiste sendo um dos grandes desafios à preservação e respeito dos direitos humanos para a grande maioria da população (ADORNO, 2002).

Diante disso, os atos infracionais praticados pelos adolescentes transformam-se em verdadeiras estratégias, na tentativa de conquistar o que lhes é negado. Ou seja, muitos adolescentes e jovens irão reagir criativamente perante essa realidade que tenta inclui-lo marginalmente, precariamente ou perversamente, em tramas que são próprias da sociedade capitalista (MARQUES, 2005). As opiniões sobre o cometimento de ato infracional são diversas, em entrevista realizada por Segalin (2008, p.152, grifo nosso) com um promotor de justiça, a fala do mesmo interpreta o ato infracional como uma atitude contestadora do adolescente:

[...] às vezes pode ter uma excelente família, não utilizar qualquer tipo de entorpecente, viver muito bem numa comunidade totalmente harmoniosa, respeitosa, e mesmo assim não impede totalmente o adolescente de praticar o ato infracional. Por quê? É inerente do ser humano, são normais nessa fase da adolescência ele questionar, e fazer alguma coisa errada. Assim como cresce um pelo pubiano nesta fase da vida, o adolescente é conduzido muitas vezes inconscientemente a fazer alguma coisa, a transgredir alguma norma. É normal, todos os adolescentes fazerem alguma coisa errada, que poderia ser tipificado como um ato infracional. Todos. Sem exceção. Não teve nenhum adolescente que nunca ofendeu uma terceira pessoa, que nunca se envolveu numa briga, que nunca cometeu um pequeno furto, que nunca dirigiu sem habilitação, subtraindo o carro do pai. Não existe, Por quê? É uma questão física, é uma questão psicológica. Então, vai acontecer. Alguns fatores podem influenciar, mas mesmo que esses fatores não estejam presentes. Mesmo assim, podem acontecer atos infracionais em razão desta circunstância.

Esta compreensão corrobora com a perspectiva de Santos (2002, p.122) o comportamento do adolescente quando se envolve com o ato infracional é um fenômeno social normal (com exceção da grave violência pessoal, patrimonial e sexual), que desaparece com o amadurecimento do adolescente. “[...] infrações de bagatela e de conflito do adolescente seriam expressão de comportamento experimental e transitório dentro de um mundo múltiplo e complexo [...]”.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD de

2007 a população absoluta do Brasil corresponde, aproximadamente, a 190 milhões de pessoas. A população de crianças de 0 a 11 anos de idade representa 21% desse total, em número absolutos, em média, corresponde a 38.653.503 nessa faixa etária. Com relação aos adolescentes entre 12 e 18 anos de idade soma, em média, 24.461.666, enquanto as pessoas com mais de 18 anos totalizam aproximadamente 121.273.451. No gráfico abaixo se observa melhor essa distribuição da população brasileira.

Gráfico 3: População de crianças até 11 anos e adolescentes de 12 a 18 anos em relação ao total no Brasil – 2005

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística / Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2005. (ILHA, 2009).

A partir da PNAD de 2005/2006 do número total de adolescentes no Brasil (24.461.666), 0,1425% representa a população de adolescentes em conflito com a lei. Tal porcentagem, em números absolutos, significa 34.870 adolescentes autores de atos infracionais cumprindo algum tipo de medida socioeducativa em todo o Brasil.

Gráfico 4: Comparação entre população total de adolescentes entre 12 e 18 anos, e aqueles em conflito com a lei

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2005 -2006. (ILHA, 2009). A definição de adolescente autor de ato infracional, designa o que muitos juristas, profissionais e a população em geral chamam de “adolescente infrator” ou “menor infrator”, contudo é importante se aperceber que o adolescente que comete ato infracional não é o mesmo que adolescente infrator, pois isto implica que a ação de um momento o rotularia para o resto da vida, conforme teoria do etiquetamento18 (VERONESE, 2006). Além disso, essa dinâmica aponta para o fortalecimento das representações sociais difundidas pelos meios de comunicação, por vezes, difundindo estigmas e estereótipos relacionados aos adolescentes pobres19. Passetti (1987) descreve uma fábula que retrata o seguinte: um cartaz, colado na parede de um ônibus, dividido em duas partes do lado direito ficava um menino arrumado, vestindo camisa branca, gravata borboleta, revelando ser um menino estudioso e de “boa família”. No lado esquerdo havia um menino com um revólver na mão, calça larga, considerado um “vagabundo”. Antecipando as discussões da terceira seção o cartaz apresenta claramente que somos classificados e estereotipados pela sociedade.

18A Teoria do Etiquetamento será abordada na terceira seção deste trabalho. 19 Assunto mais bem explanado nas seções subsequêntes deste trabalho.

Santos (2002, p. 119) aprofunda a discussão sobre o conceito de adolescente e menor infrator indica que a qualidade do sujeito como traço ou característica pessoal diferencia adolescentes desviantes de adolescentes comuns. Segundo estudo deste mesmo autor, a infração não é função de adolescente infrator, mas comportamento normal do adolescente, principalmente, no caso da juventude brasileira, que vive em condições adversas em que, muitas vezes, o comportamento antissocial normal pode ser necessário. A qualidade de infrator não constitui propriedade intrínseca de adolescentes específicos, mas rótulo atribuído pelo sistema de controle social a determinados adolescentes (como veremos mais adiante). A posição social desfavorecida do adolescente que pratica uma infração é decisiva para sua criminalização. A seleção desigual de adolescentes no processo de criminalização pode ser explicada pela ação psíquica de estereótipos e preconceitos atribuídos. A “prisionalização” do adolescente rotulado como infrator produz reincidência e, no curso do tempo, carreiras criminosas20.

Quando o adolescente comete um crime ou contravenção penal, definido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente como ato infracional (art. 103), a autoridade competente poderá aplicar algumas medidas, chamadas medidas socioeducativas21 (art. 112) lembrando que tais medidas podem ser aplicadas cumulativamente com as medidas protetivas (art.113). Portanto, os adolescentes são responsabilizados estatuariamente22, visto que são considerados inimputáveis, ou seja, seu comportamento não diz respeito ao Direito Penal, mas ao Estatuto da Criança e do Adolescente. O maior objetivo das medidas socioeducativas é educar, responsabilizar, ao contrário do Direito Penal que objetiva punir, fazer o acusado “pagar” em forma de pena os atos cometidos (VERONESE, 2001).

Além das normas legais - Constituição Federal Brasileira e do Estatuto da Criança e do Adolescente - a política socioeducativa deve se ater às orientações do Sistema Nacional Socioeducativo – SINASE23. Objetiva o desenvolvimento de uma

20 Essas questões serão mais bem discutidas na segunda e terceira seção deste trabalho.

21 As medidas empregadas pelas autoridades quando verificada a prática do ato infracional são

descritas no Estatuto em seu art.112: I – Advertência; II – Obrigação de reparar o dano; III – Prestação de serviço à Comunidade; IV – Liberdade Assistida; V – Inserção em regime de semiliberdade; VI – Internação em estabelecimento educacional; VII- Qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

22Lembrando que de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente a criança (0 à 12 anos de

idade incompletos – art. 2º) também pode cometer ato infracional, entretanto a criança apenas pode receber as Medidas de Proteção (art. 101).

23O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE constitui-se um guia para a

ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos. Defende ainda, a ideia dos alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, principalmente em bases éticas e pedagógicas (SINASE, 2006). Segalin (2008, p.69) esclarece que:

O objetivo do Sinase é o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos Direitos Humanos, propondo o alinhamento conceitual, estratégico e operacional do atendimento socioeducativo, estruturado em bases éticas e pedagógicas, transformando a problemática realidade atual em oportunidade de mudança para o adolescente. Destinado a reordenar o atendimento ao adolescente em conflito com a lei, o Sinase estabelece um conjunto de princípios, regras e critérios, de natureza jurídica, política, pedagógica, financeira e administrativa, que envolve desde o processo de apuração do ato infracional até a execução da medida socioeducativa, integrando uma ação proativa dos três níveis de governo, bem como a articulação das políticas, planos e programas para o atendimento às necessidades do adolescente autor de ato infracional.

A política socioeducativa, deve ainda, acatar os princípios da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança – art. 40, as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Infância e da Juventude (Regras de Beijing – Regra 7), as Regras mínimas das Nações Unidas para a Proteção de Jovens Privados de Liberdade (Regra 2) (VOLPI, 1997).

De acordo com o levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao adolescente em conflito com a lei realizado em 2009 pela Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNPDCA) produziu informações quantitativas atualizadas sobre a execução da internação provisória e das medidas socioeducativas de internação e semiliberdade existentes no país. O levantamento de 2009 coletou informações sobre o número de adolescentes do sexo

masculino e feminino, selecionados24, em cumprimento das medidas

socioeducativas de internação e semiliberdade, bem como dos adolescentes em situação de internação provisória.

pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos – SEDH, por meio da Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente – SPDCA, em conjunto com o CONANDA e com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF.

24 Na terceira seção, com o auxílio da criminologia crítica, problematizamos que as estatisticas

criminais apresentados pelos órgãos públicos como sendo o mapa verdadeiro da criminalidade, são, nada mais, dados sobre os sujeitos pré-selecionados pela sociedade para receberem o rótulo de criminoso.

Tabela 1: Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei

*Santa Catarina considerou como "Outras Situações" adolescentes em permanência em "Clínicas Socioterapêuticas" Fonte: Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente. (SNPDCA, 2009).

A tabela 01 demonstra que em 2009, no Brasil, o número total de adolescentes incluídos nas medidas de internação, semiliberdade e na condição de internação provisória perfaz um quantitativo de 16.940 adolescentes, sendo 11.901

na internação, seguidos de 3.471 na internação provisória e de 1.568 em cumprimento de semiliberdade, de ambos os sexos.

A fim de sintetizar algumas das informações mais relevantes da tabela 01 apresenta-se a tabela 02, contendo apenas os valores totais de cada medida socioeducativa (MSE) privativa de liberdade, tornando-se visível que a MSE de internação é a mais aplicada pelos juizados dos estados brasileiros.

Tabela 2: Síntese de alguns dados sobre as Medidas privativas de liberdade

ESTADO INTERNAÇÃO MASC. E FEM. INT. PROVISÓRIA MASC. E FEM. SEMILIBERDADE MASC. E FEM. TOTAL Sudeste 6.160 1.469 813 8.442 Nordeste 2.427 882 326 3.635 Centro Oeste 866 343 92 1.301 Sul 1.712 544 219 2.475 Norte 736 233 118 1.087 TOTAL 11.901 3.471 1.568 16.940

Fonte: MORAES, Josiane (2010).

A internação constitui a mais severa das medidas designadas no Estatuto. O artigo 121 do Estatuto prevê que a medida privativa de liberdade, cumprida em Centro Educacional, deve estar sujeita aos princípios de brevidade (enquanto limite cronológico) de excepcionalidade (enquanto limite lógico no processo decisório acerca de sua aplicação) bem como, respeitar a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento (enquanto limite ontológico). Santos (2002, p. 126) faz uma contribuição muito pertinente com relação tempo máximo da medida socioeducativa de internação:

[...] para quem acha que três anos de internação não é muito, convém lembrar a diferente dimensão subjetiva do tempo para crianças/adolescentes em relação a adultos/idosos, que transforma o limite de três anos em algo próximo da eternidade [...]. (grifos do autor)

Portanto, mesmo que a medida socioeducativa de internação não seja pré- definida pelo juiz, a mesma pode se estender até, no máximo, três anos, tempo demasiado para um adolescente em condição de pessoa em desenvolvimento.

Segundo Oliveira (1996, p. 233) o estabelecimento fechado, de regime totalitário, aprisionaliza a mentalidade de todos os seus ocupantes: adolescentes, monitores, equipe técnica gerência, mantendo-os sob constante tensão e desconfiança. Santos (2002) considera que a sanção privativa de liberdade para o adolescente tem eficácia invertida, produzindo estigmatização, prisionalização e maior criminalidade, e estão em contradição com o conhecimento científico e com o princípio constitucional de dignidade da pessoa humana. O adolescente é rotulado como “delinquente” e deve incorporar as regras institucionais, ou seja, passa a carregar um estigma, que segundo Goffman (1988, p.11) significa:

Marca ou impressão, desde os gregos emprega-se como indicativo de uma degenerescência: os estigmas do mal, da loucura, da doença. Na antiguidade clássica, através do estigma, procurava-se tornar visível qualquer coisa de extraordinário, mau, sobre o status de quem o apresentasse. O estigma “avisava” a existência de um escravo, de um criminoso, de uma pessoa contato deveria ser evitado.

Inclusive uma das regras imposta por algumas instituições causa marcas profundas no adolescente, por exemplo, a forma de tratamento utilizada pelos (as) adolescentes25. Os adolescentes se dirigem aos profissionais da instituição utilizando o pronome de tratamento seu e dona antes dos nomes próprios de cada profissional. Esta forma de tratamento é explicitada pelo adolescente desde a apreensão pela polícia, algo construído historicamente transformado em uma relação de subserviência, de relação de poder entre o interno e os monitores, gerência ou equipe técnica.26 Esta regra subjetiva incorporada pelos Centros

25Informação observada a partir de Estágio curricular obrigatório em Serviço Social realizado em

2008 e 2009 pela acadêmica Josiane Moraes. O local de realização do estágio foi o Centro de Internação Feminino (Florianópolis) - instituição de caráter público, vinculada à Secretaria de Segurança Pública e Defesa do Cidadão de Santa Catarina, tem por objetivo atender adolescentes meninas autoras de atos infracionais graves para cumprimento de medida socioeducativa de internação (art. 112, inciso VI - ECA).

26 Durante o estágio pude observar que as monitoras da instituição exigem das adolescentes que usem esse pronome de tratamento, do contrário ganharão medida disciplinar. As medidas disciplinares discriminadas no Regimento Interno da do Centro de Internação Feminino eram aplicadas conforme a gravidade da indisciplina. As medidas são: Advertência verbal; Reparação do dano; e Permanência no quarto.

Educacionais27 é internalizada fortemente pelos adolescentes, que ao sair da instituição continuarão a utilizá-las de forma a marcar sua passagem pelo Centro Educacional como “adolescente infrator”.

Retomando Goffman (1987) explica que a disposição básica da sociedade moderna é que o indivíduo tende a dormir, brincar e trabalhar em diferentes lugares, com diferentes coparticipantes, sob as diferentes autoridades, sem um plano racional geral. Já, nas instituições totais ocorre uma ruptura dessas três esferas. Ou seja, todos os aspectos da vida passam a ser realizados no mesmo local e sob uma única autoridade. Todos serão tratados da mesma forma, as atividades diárias serão rigorosamente estabelecidas e controladas por um sistema de regras imposto de cima para baixo. O autor centra-se, essencialmente, no caráter de fechamento destas instituições, criando-se, dessa forma, uma barreira entre interior e exterior. Na passagem de uma vida no exterior para uma vida de confinamento espacial e social, o indivíduo passa por processos de modificação, ou seja, inicia-se um processo de mortificação do eu inicial do sujeito, pelas concessões de adaptação às novas regras institucionais. O indivíduo é jogado entre a sua personalidade real e a personalidade que para si se produz, não só pela equipe dirigente como por toda a sociedade.

Exatamente neste mundo descrito por Goffman, que os 16.940 adolescentes selecionados para cumprirem medidas socioeducativas restritivas ou privativa de liberdade estão submetidos, cujo contato com o mundo existente fora dos muros da instituição é restrito ou então vedado. Junto a essas características Gadelha (1998, p. 30-31) acrescenta dizendo que as atuações de profissionais vinculados a instituições totais revelam por via indireta e por linhas gerais, uma prática caracterizada pela concepção assistencialista, disciplinadora, heterônoma e burocrática (onde a reflexão e a ação encontram-se amiúde dissociadas), reprodutora das relações de dominação e mantenedora da ordem instituída. Uma prática que oprime e é crivada pela opressão dos dispositivos de poder que operam numa instituição total.

Gráfico 5: Evolução das internações no sistema socioeducativo no Brasi

27 Em visita (2008.1) ao Centro Educacional São Lucas localizado em Barreiros - São José / SC.

Fonte: Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente. (SNPDCA, 2009).

É possível observar no gráfico 5 que a taxa de crescimento de internações de 2008 para 2009 foi de 0,43%. De acordo com a análise da SNPDCA houve uma constante redução na taxa de crescimento do número de internações, a partir de 2004. De 2006 a 2007 a redução foi de 7,18%, de 2007 a 2008 a redução foi de 2,01% e conforme já apresentado de 2008 a 2009 a redução foi de 0,43%. Nesse sentido, a análise da taxa de crescimento no triênio 1996-1999 indicou um percentual 102,09%, enquanto que no último triênio (2007 a 2009) a taxa de crescimento foi de 2,44%.

De fato, ocorreram reduções quando comparados um ano ao outro, entretanto ao observar o gráfico, de maneira geral, a primeira conclusão é o aumento das internações no sistema socioeducativo brasileiro. Considerando que recursos humanos e financeiros destinados aos centros educacionais são escassos e somados à ausência de propostas pedagógicas e estratégias de ação, até mesmo um singelo aumento apresentará grandes impactos ao sistema socioeducativo. As medidas privativas de liberdade igualam-se a prisão com todo seu sistema de ilegalidades e de aprendizagem das regras como culto à violência e cinismo (SANTOS, 2002; PASSETTI, 1995). “Ressocializar”, “reeducar”, “recuperar” são objetivos aparentes, os quais encobrem com sua negação os verdadeiros objetivos da sociedade incorporados pela instituição, ou seja, manter sob o controle essa parcela da população “delinquente” (BATISTA, 2003 p. 125).

Tabela 3: Comparativo das medidas socioeducativas privativas de liberdade entre os anos de 2007, 2008 e 2009

Fonte: Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente. (SNPDCA, 2009).

A tabela 03 permite observar o comparativo entre os anos de 2007, 2008 e 2009, acerca do quantitativo de adolescentes em cada uma das situações de privação de liberdade: internação, internação provisória e semiliberdade. Nos últimos três anos, tem se observado que as medidas socioeducativas restritivas e

privativas de liberdade foram aplicadas com maior frequência. Além de observar quantitativamente se faz necessário observar qualitativamente a aplicação das medidas, pois um sistema socioeducativo ineficiente significa a continuidade do jovem em ações violentas e a consequente perda de suas vidas em decorrência também da estigmatização provocada pela passagem no sistema socioeducativo.

Gráfico 6: Comparativo entre o sexo masculino e feminino cumprindo medida socioeducativa em meio fechado

Fonte: Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente. (SNPDCA, 2009).

O gráfico 6 aponta a enorme prevalência de adolescentes do sexo masculino (96%) em situação de privação de liberdade comparada com o sexo feminino (4%), ou seja, no Brasil, o mundo das internações é predominantemente masculino28.

Conforme o artigo 123 parágrafo único do Estatuto, durante o período de internação em Centro Educacional, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas. Em conformidade com o artigo 94, inciso XI, a instituição privativa de liberdade tem o dever de propiciar atividades de lazer, culturais e esportivas aos internos (as). Além do Estatuto, o Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo – SINASE (CONANDA, 2006 p. 23) vêm reafirmar a importância

da característica socioeducativa da medida. Por outro lado, Santos (2002, p. 126) elucida que a internação produz efeitos danosos, tais como:

28 Sem querer concluir ou generalizar, apenas mencionar que no decorrer dos atendimentos

individuais realizados às adolescentes no Centro de Internação Feminino – Florianópolis, durante o estágio curricular em Serviço Social, foi possível observar que grande parte das adolescentes se envolvem no ato infracional porque estavam acompanhando o namorado, também envolvido com atos infracionais.

O isolamento produz nervosismo, insônia, consciência de culpa e sentimentos de impotência, que se manifestam na agressividade de jovens envolvidos numa atmosfera de angústia e ódio; o primado da segurança reduz contatos com a sociedade e transforma o trabalho interno em experiência despersonalizante, sem relação com a realidade externa; intenções pedagógicas ou terapêuticas naufragam pela simultaneidade das exigências da privação de liberdade e pelas próprias condições da comunidade dos internos, baseada nos princípios da força e da superioridade, onde predomina o jogo clandestino, o mercado negro, as intrigas e as lutas por poder, vantagens e privilégios [...].

Finalmente, após a explanação acerca do contexto político, social e econômico brasileiro a fim de perceber sobre qual sociedade contemporânea os adolescentes autores de ato infracional são partícipes, assim como, das aproximações do conceito das categorias adolescência e juventude e uma sucinta