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A Prática Educativa Supervisionada de Ciências Naturais no 2.º CEB

No documento 20 20 20 (páginas 81-86)

Ação Educativa

4.3.2. A Prática Educativa Supervisionada de Ciências Naturais no 2.º CEB

Observação

Face aos dados provenientes da observação, note-se que a turma revelava elevado espírito de curiosidade e motivação, ainda que por momentos breves, nas aulas que fossem mais desafiantes. Deste modo, as aulas maioritariamente teóricas eram constantemente interrompidas pelos alunos que interferiam no decorrer normal da aula através de comportamentos inesperados e desadequados.

Note-se que a turma não demonstrava hábitos de realização de trabalho experimental. Em consonância com o que foi referido, os alunos revelavam-se pouco cumpridores das regras de trabalho, desrespeitando e perturbando frequentemente o trabalho dos colegas e intervindo com conversas ou comportamentos inoportunos, demonstrando uma agitação permanente, exigindo do professor elevado esforço de estabelecer um ambiente sereno de ensino-aprendizagem.

A par do que foi referido, nas aulas assumidas pelo professor cooperante verificou-se um elevado recurso ao manual escolar. Ainda que fosse notório o interesse em conceber práticas inovadores, sustentadas pelo paradigma socioconstrutivista, deduz-se que o comportamento da turma aliado à preocupação em cumprir com o programa da disciplina inviabilizaram essas práticas.

Estas características refletiram-se nas classificações dos estudantes sendo que, no final do 1.º período, uma elevada percentagem de estudantes apresentou classificações negativas.

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Planificação

Perante o que foi referido e de acordo com os conteúdos selecionados (expostos no quadro 8), optou-se por insistir na realização de atividades de índole prática e, inclusive, experimental, a fim de atenuar as dificuldades da turma em saber-estar dentro da sala de aula. A par do que foi referido procurou-se com baprocurou-se nos critérios de educação em ciência apreprocurou-sentados por Millar e Osborne (2000, citados por Pereira, 2002, p. 34):

elevar o sentido do maravilhoso, promover o entusiasmo e o interesse na ciência;

desenvolver a curiosidade dos jovens e das crianças acerca do mundo natural que os rodeia e aumentar a sua capacidade para investigar e ajudar os jovens a adquirir uma compreensão geral e alargada das ideias importantes e das explicações da ciência.

1.ª

regência 2.ªregência 3.ª regência (supervisionada) Data/duração 08.12.2016

(45 min.)

07.01.201

(45min.) 26.02.2016(45min.) Conteúdo(s) O ar e a qualidade do ar interior Revestimento das aves

Campo concetual

Ar; ar puro; qualidade do ar interior; temperatura; oxigénio;

humidade relativa; concentração de dióxido de carbono; planificação de trabalho experimental; ensino CTS e literacia científica.

Diversidade de seres vivos; seres vivos vertebrados; revestimento dos seres vivos vertebrados:

funções e tipos; penas:

características, funções e tipos;

elaboração e utilização de uma chave dicotómica; ensino CTS e literacia Científica.

Quadro 8: Conteúdos das regências na área de Ciências Naturais no 2.º CEB

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Ação Educativa

As aulas de regência ocorreram, respetivamente, nos dias 7 de janeiro e 26 de fevereiro. Optou-se por refletir em torno da aula de regência supervisionada (consultar Anexo 6), na medida em que esta intervenção é reflexo de uma abordagem que vai para além dos conteúdos que constam no currículo, moldada, essencialmente, pelas necessidades dos estudantes, privilegiando o trabalho prático.

No sentido de promover a motivação dos estudantes para a temática abordada e para a realização das tarefas propostas, estas foram apresentadas através da projeção de uma banda desenhada no quadro interativo que expunha a seguinte situação: uma criança explica à outra que, nesse dia, uma vez que pintaram as paredes do seu quarto, não vai poder dormir nele. A outra criança questiona o porquê de não poder dormir no seu quarto, visto que a parede já se encontra seca. Esta situação é reflexo de uma abordagem Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) que deve proporcionar aos alunos “uma leitura do mundo”, partindo de uma questão-problema inserida na comunidade que “origina um processo de obtenção de um conhecimento novo que a resolva” (Pereira, 2002, p. 43).

Após a apresentação da questão-problema (“Porque não devemos permanecer muito tempo num local que foi pintado de “fresco?”), estabeleceu-se um diálogo cujo objetivo passou por promover a discussão e o espírito crítico em torno das conceções dos alunos, inclusive em torno do significado de

“qualidade do ar interior”, assim como estimular a capacidade de realizar e partilhar as inferências em relação às questões apresentadas. Segundo Almeida (2005), estas atividades constituem alguns dos requisitos fundamentais para os alunos vivenciarem os processos científicos e, desta forma, adquirirem uma maior perceção acerca do modo como se constrói o conhecimento científico.

Para consolidar a tarefa acima descrita, elaborou-se, em grande grupo, contando com a participação ativa dos estudantes, um brainstorming dos fatores que influenciam, de algum modo, a qualidade do ar interior. O preenchimento deste esquema teve por base a participação dos estudantes. No entanto, de modo a complementar os conhecimentos prévios dos alunos, procedeu-se à visualização e discussão de um vídeo com imagens relativas às

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diferentes situações que contribuem para a menor qualidade do ar interior, determinante no preenchimento do esquema.

Note-se a importância do registo que, em consonância com Pereira (2002, p.

103), “permite rever o que se fez, o que se pensou (...), evitando que [o aluno encare] que o que aprendeu anteriormente não tem nada a ver com o que se aprendeu subsequentemente”.

Como os fatores que influenciam a qualidade do ar interior estão relacionados com situações do quotidiano dos estudantes, notou-se uma grande participação e envolvência dos mesmos. Deste modo, ao longo desta tarefa, foi notória a frequência com que os estudantes davam exemplos de situações vividas por eles para ilustrarem as situações representadas na banda desenhada ou no vídeo:

Prof.: E o teu pai, quando pinta não usa uma máscara?

Estudante A: Não, ele não usa máscara nenhuma.

Prof.: E vocês acham benéfico para a saúde?

Estudante A: Não, porque ele respira o cheiro da tinta, e é tóxico. A minha mãe quando usa produtos para limpar, como liberta cheiro, deixa a janela aberta.

Estudante B: O fumo dos cigarros. O meu pai fuma dentro de casa.

Estudante C: O fumo das lareiras e o fumo do tabaco.

Note-se, que este momento exigiu, por parte da professora, a capacidade de gerir as participações dos estudantes. Apesar do grau de interesse e de vontade em participar ter sido elevado, as características da turma exigem uma constante rememoração das regras da sala de aula aos estudantes e uma capacidade de gerir as participações, permitindo que todos os estudantes participem de forma pertinente, sem permitir a dispersão do assunto. Além disso, devido à variedade de situações apresentadas para ilustrar os fatores que influenciam a qualidade do ar interior e apontadas pelos estudantes, esta tarefa revela a necessidade da preparação anterior à aula, pela professora, no que diz respeito ao conhecimento teórico adjacente ao conteúdo da aula. Essa preparação foi decisiva para o modo como a professora conseguiu responder às participações dos estudantes.

Após a reflexão sobre o conceito de qualidade do ar interior e os fatores que a condicionam, seguiu-se um conjunto de atividades de caráter prático que

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pretendiam dar resposta à questão: “Como é a qualidade do ar no interior da nossa escola?”. No entanto, ainda num momento prévio à realização do procedimento prático em si, procedeu-se à leitura, análise e preenchimento de alguns parâmetros que constavam na carta de planificação semiaberta entregue aos estudantes: “O que vamos medir?”; “Em que espaços vamos medir?”;

“Material” e “Como vamos medir?”. Coube ainda a cada grupo de trabalho, antes de se dirigir ao local para efetuar as medições, estabelecer as tarefas para cada um dos elementos que compunha o respetivo grupo, de forma a assegurar e facilitar a autonomia e a organização aquando das medições.

Após o preenchimento dos parâmetros da carta de planificação (confrontar com Anexo 6.1), acima mencionados, cada grupo, num local da escola previamente definido procedeu à realização das medições dos parâmetros da qualidade do ar, estabelecidos na carta, registou os resultados obtidos e elaborou a caracterização do espaço em que foi realizada a medição. Atente-se na importância destas ações, sendo que segundo Pereira (2002, pp. 48 e 111):

“medir (...) além de tornar as observações mais precisas, permite de modo mais rigoroso fazer comparações e estabelecer relações quantitativas” e “a descrição e o registo das observações e dos dados é necessária”.

Constituiu um momento, segundo Bruner (1999, citado por Pereira, 2002), de aprendizagem ativa, uma das fases de crescimento intelectual fundamental na medida em que promoveu um envolvimento ativo com o meio físico, exigindo da turma o “trabalho interativo comunicativo e colaborativo essencial ao desenvolvimento do aluno como pessoa e como ser social” (Afonso, 2008, p. 19).

Este momento foi assumido pelo par pedagógico, assim como a orientação dos alunos em torno do preenchimento dos parâmetros relativos à “análise dos valores obtidos” e às “conclusões”. Saliente-se a dificuldade por parte dos alunos em responder a estas questões, sendo que foi necessária a orientação constante, por parte da professora estagiária, relativamente a cada grupo de trabalho. Esta situação advém da falta de familiaridade dos estudantes para com este tipo de atividades.

Posteriormente, foram apresentados e analisados os resultados que cada grupo obteve após as medições realizadas assim como a caracterização do espaço em questão e as conclusões a que chegou, um momento de partilha e discussão, de grande envolvimento por parte dos estudantes. Apresentadas as conclusões e elaborada a resposta à questão-problema, foi visualizada e

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analisada uma breve reportagem que ilustra algumas das consequências da fraca qualidade do ar interior, em determinadas regiões, alvo de discussão e consolidação de conhecimentos.

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