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10.1 A prescrição penal nos crimes ambientais

A prescrição é perda do direito de punir do Estado pela inobservância dos prazos legais.

O entendimento é firmando no sentido que na seara cível a reparação dos danos ambientais é imprescritível, o que não ocorre na questão penal, onde os prazos prescricionais são fixados pelo Código Penal Brasileiro, regra do artigo 109.

Cesare Beccaria61 discorrendo sobre a duração do processo e de sua prescrição manifesta que:

“Quando se constata o delito e as provas são exatas, é de justiça que se conceda ao acusado o tempo e os meios para se justificar, se isso lhe for possível; é necessário, contudo, que tal tempo seja bem curto para não atrasar muito o castigo que deve acompanhar de perto o delito, se se desejar que o mesmo seja um útil freio contra os criminosos.”

“Cabe tão-somente às leis determinar o espaço de tempo que se deve utilizar para a investigação das provas do crime, e o que se deve propiciar ao réu para que se defenda.”

61 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas, tradução de Guimarães Torrieri,

A prescrição penal nos crimes ambientais, em especial na grande maioria das condutas tipificadas pela lei de crimes ambientais prescreve com 2, 4, 8 ou 12 anos, portanto, como quase todos os tipos trazem penas de até 2 anos, ocorre a prescrição penal antes da prescrição ou decadência do ato administrativo, que conforme visto acima, ocorrerá com cinco anos, e a prescrição penal será em 2 ou em 4 anos. Somente três crimes ambientais têm pena máxima superior a 4 anos, o que significa que dificilmente serão necessários os 12 anos para prescrição, isso se for aplicada pena máxima.

A regra utilizada para prescrição penal em crimes ambientais é a mesma utilizada nos crimes comuns, tipificado no Código Penal Brasileiro.

O artigo 109 do CPB62 estabelece o sistema para contagem do prazo prescricional.

62 Art. 109 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o

disposto nos §§ 1º e 2º do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze;

III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;

IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;

V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;

VI - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano.

Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os

Poderá ocorrer então à situação do ato administrativo ser invalidado e os efeitos retroagirem, mas ocorrendo a prescrição penal em nada ser penalizado o beneficiário do ato administrativo invalidado.

Como exemplo podemos citar o crime previsto no artigo 29 da lei 9605/98, que estabelece pena de 6 meses a 1 ano, no entanto, em caso de condenação em pena mínima, ou seja em 6 meses, e transitada em julgada para a acusação, aplica-se a regra do artigo 110 §1° e 2°, a prescrição ocorrerá em 2 anos, assim, mesmo invalidado o ato administrativo que concedeu licença para prática de caça após dois anos de sua edição o crime estará prescrito.

Ocorrendo a prescrição da pretensão punitiva nenhum efeito poderá prevalecer e é como se o crime não tivesse ocorrido.

Ressalte-se que a prescrição tem início no momento da prática do ato criminoso, logo, não havendo interrupção, a invalidade do ato não é causa de interrupção da prescrição, sendo a primeira interrupção o recebimento da denúncia.

Se da data do fato até o recebimento da denúncia tiver transcorrido no mínimo dois anos, a prescrição da pretensão punitiva

quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - A prescrição, de que trata o parágrafo anterior, pode ter por termo inicial data anterior à do recebimento da denúncia ou da queixa. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

provavelmente ocorrerá na grande maioria dos crimes lançados na lei 9605/98.

Em regra a prescrição penal atingirá todos os crimes, com as exceções estabelecidas pela Constituição Federal do Brasil de 198863, tratando como imprescritíveis os crimes de racismo e crimes referentes aos grupos armados contra a ordem constitucional e ações de terrorismo.

Ninguém poderá ser perseguido indefinidamente e carregar o peso de um crime cometido que em tese caiu no esquecimento da sociedade. A prescrição vem libertar o celerado da perseguição ad

aeternum do Estado.

Não se deve aumentar o rol dos crimes insuscetíveis de prescrição, pois, a pena deve ser imposta o mais próximo possível do crime, assim, atingindo sua finalidade.

A pena imposta ao criminoso a destempo na grande maioria das vezes não atingirá a finalidade da pena, ao contrário, poderá causar o sentimento de injustiça.

63Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

Como já mencionado e citado por Cesare Beccaria a pena deverá ser pública e pronta, o que significa o mais breve possível.

Quantas vezes o condenado cumpre uma pena de um crime cometido há décadas, fato que caiu no esquecimento da sociedade, e quando o infrator é levado ao cárcere não se lembrará sequer dos detalhes do crime.

Pode até parecer contraditório tomar outra posição aqui, tendo acima expressado favoravelmente a prescrição, ao dizer que o indivíduo não poderá ser perseguido ad aeternum, no entanto, é hora de rever as questões de crimes ambientais e a pena prevista para cada crime, em se tratando de crime ambiental, que por muitas vezes tem requisitos diferenciados na aplicação da pena, talvez fosse mais uma oportunidade de se pensar, repensar e refletir sobre uma possível diferenciação na prescrição de tais crimes, ou mesmo de não ocorrer prescrição enquanto permanecer algum efeito do crime, ou não voltar ao status a quo. Isso ficará a cargo do legislador com a própria evolução do Direito Penal Ambiental.