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A presença das câmaras municipais na Internet

No documento A GEOGRAFIA E O DIREITO (páginas 70-74)

4. O EXERCÍCIO DO DIREITO EM PORTUGAL

4.3. N OVAS OPORTUNIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

4.3.1. A presença das câmaras municipais na Internet

O tribunal administrativo tem como principais competências o julgamento das acções e recursos contenciosos que tenham por objecto dirimir os litígios emergentes das relações jurídicas administrativas - nº. 3 do art. 212º da CRP (Assembleia da República, 1997), designadamente os referentes à promoção, prevenção, cessação e reparação de violações a valores e bens constitucionalmente protegidos, em matéria de saúde pública, ambiente, urbanismo, ordenamento do território, qualidade de vida, património cultural e bens do Estado, quando cometidas (essas violações) por entidades públicas, nos termos do disposto na alínea l) do nº. 1 do art. 4º do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais12.

Ora, estas competências conferem especial importância à consulta on-line e/ou à possibilidade de Donwload da informação e cartografia dos planos de ordenamento.

Num estudo levado a cabo pelo GAVEA – Observatório do Mercado das Tecnologias e Sistemas de Informação e pelo DSI – Departamento de Sistemas de Informação da Universidade do Minho, de Maio de 1999 a Fevereiro de 2000, foram identificados 153 concelhos cujas Câmaras Municipais tinham web site, correspondendo a 50%, sendo que as restantes 152 ainda não tinham aderido à Internet.

O estudo envolveu todas as 305 Câmaras Municipais do país, com a excepção das três constituídas nessa data, Vizela, Trofa e Odivelas (Amaral et al., 2000).

Num levantamento mais recente efectuado em dois momentos (Fevereiro/Março de 2002 e Fevereiro/Março de 2003), realizado por Jorge Ferreira, foram inventariados 254 municípios do total dos 278 concelhos existentes em Portugal Continental, ou seja, 91,3%, com presença na Internet (Ferreira, 2004).

Finalmente, um relatório sobre o ponto da situação dos Municípios Portugueses face à informação geográfica de âmbito municipal e a forma como ela é gerida e divulgada na

Web, no âmbito do projecto de investigação “Bases para um Esquema Director de

Ordenamento do Território à Escala do Continente” (BEOT), 90% dos municípios de entre os 278 municípios de Portugal Continental, apresentavam site na web, representando os restantes 10%, um total de 27 municípios que ainda não apresentavam informação municipal disponibilizada através de site na web (BEOT, 2005).

Destes valores retiram-se duas conclusões principais: por um lado verifica-se que nem todos os sites são mantidos e utilizados, e em outros pode mesmo ter ocorrido a sua descontinuidade (dos 254 organismos municipais detectados como presentes por Jorge Ferreira, 37 (14.6%) estavam indisponíveis nos dois momentos de análise realizados) e por outro lado, a evolução do número de presenças de câmaras municipais com site é bastante satisfatório.

4.3.1.1. Informação geográfica municipal on-line

Apesar dos resultados demonstrarem uma forte presença das Câmaras Municipais na

Internet, isso não assegura, necessariamente, a qualidade, diversidade e utilidade dos seus

conteúdos.

Do estudo sobre a gestão e divulgação da informação geográfica municipal, face ao tipo de informação geográfica disponibilizada (georreferenciada, mapeada, descritiva ou sem informação web) verificou-se que a categoria com maior representatividade era a “mapeada”

com 72%. Os 17% da categoria “descritiva” correspondiam aos sites que tinham unicamente informação descritiva, sendo que todos os sites das Câmaras Municipais possuíam este tipo de informação. A categoria “georreferenciada” apresentava somente 11% do universo de análise, sendo que as aplicações constantes dos sites municipais com este tipo de informação, tinham por base um SIG (BEOT, 2005).

Porém, relativamente à disponibilidade de Instrumentos de Gestão Territorial, que são o tipo de informação mais pertinente para este trabalho, o estudo anterior encontrou um total de 109 entradas de informação relativa a instrumentos de ordenamento do território e planeamento, pertencentes apenas a 41 concelhos. A maioria das ocorrências (61%) diziam respeito a informações relativas a cartas e plantas isoladas, pertencentes aos Planos Directores Municipais. No entanto, a sua consulta era estática - em apenas 10% de ocorrências (Planos Directores Municipais digitais) era possível ao utilizador interagir.

A possibilidade de consulta aos Planos Directores Municipas (cartas, plantas e texto) encontrava-se limitada apenas a 5% das 109 entradas de informação relativas à classe “planeamento” (BEOT, 2005)

A conclusões idênticas tinha chegado Ferreira, para quem os resultados do levantamento da “Cartografia on-line” e de “Análise espacial” ficaram muito aquém das expectativas, tanto no que diz respeito ao número de municípios que as disponibilizavam, como na quantidade e qualidade da informação (Ferreira, 2004).

No levantamento efectuado, pelo mesmo autor, no que respeita a variáveis de ‘Cartografia

on-line’, contabilizaram-se 47 páginas de Municípios com informação cartográfica

disponível. Desse número apenas 11 se poderiam considerar como disponibilizadoras de cartografia digital pertinente; 4 correspondiam a aplicações de Desktop Mapping – permitindo a visualização de cartografia e análise espacial simples e 7, a aplicações de Web-Sig – ferramentas que, além de maiores capacidades de visualização, permitem um nível mais complexo de análise espacial. As restantes 36 páginas disponibilizavam cartografia digital apenas de formato raster, de baixa resolução. Normalmente mapas, com informação relacionada com os limites administrativos das unidades territoriais, roteiros turísticos e/ou gastronómicos e outros dados, sem possibilidade de análise espacial (Ferreira, 2004).

Quanto às capacidades das ferramentas informáticas para “imprimir” e gravar” a cartografia disponibilizada e criada, as possibilidades mostraram-se muito limitadas, com um número de 17 e 4 ocorrências, respectivamente, para a impressão e a gravação.

Relativamente às possibilidades de “Análise espacial” observou-se que a disponibilização de ferramentas de cartografia digital que possibilitam a realização de análise espacial é quase incipiente. Sendo no entanto importante referir que muitos dos municípios que não

disponibilizam este tipo de informação, têm em funcionamento sistemas de informação geográfica para seu uso interno.

Entre os softwares que permitiam efectuar alguma análise espacial, estavam disponíveis apenas quatro ferramentas generalistas: buffering, cálculo de percursos óptimos, cálculo de distâncias e cálculo de áreas (distribuídas por 10 municípios) (Ferreira, 2004).

4.3.1.2. Perspectivas futuras

Do exposto poder-se-á concluir que os serviços de informação geográfica disponibilizados pelo município pela Internet são ainda reduzidos.

Porém, actualmente, as preocupações com o ordenamento do território a nível nacional e concelhio encontram-se cada vez mais generalizadas a grupos variados de pessoas activas que reivindicam um processo de planeamento mais transparente e esclarecedor, razão pela qual essas preocupações não poderão continuar à margem da web.

Por outro lado, a evolução dos recursos humanos com formação na área da cartografia digital é bem visível, encontrando-se actualmente um número já considerável de técnicos, espalhados pelos municípios de todo o país.

Também a elevada procura de informação em suporte digital é reconhecida por todos e é essencial para a disseminação de conteúdos georreferenciados, imprescindíveis no desenvolvimento de novas plataformas tecnológicas como a 3ª geração móvel ou o desenvolvimento de projectos de cidades digitais (Ferreira, 2004).

De igual modo, a necessidade de administrar os municípios de forma integrada e a preocupação com a qualidade de vida urbana têm levado as autarquias a se interessarem cada vez mais pelo uso de SIG, como instrumentos de gestão, análise e disponibilização, em tempo real, da informação relevante para o apoio à decisão (Severino, 2006).

Conjuntamente, a evolução das ferramentas de SIG e, nomeadamente, os interfaces com tecnologia Web-Sig, permitem já uma considerável redução dos custos da organização e disponibilização da informação cartográfica, sendo certo que os fundos postos à disposição das Câmaras Municipais para a realização de investimentos no âmbito da sociedade da informação têm sido fundamentais para o desenvolvimento desta área ao nível da gestão dos municípios.

Finalmente, atendendo ao facto de a consulta via web ser um meio cada vez mais utilizado para a obtenção de informações e conhecimento é previsível que o número de municípios

com informação geográfica georrefrerenciada disponível na web, venha a atingir uma percentagem consideravelmente superior ao cenário actual.

No documento A GEOGRAFIA E O DIREITO (páginas 70-74)

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