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A procura de informação

No documento A Tomada de Decisão do Primeiro Voto (páginas 89-92)

Capítulo II – Análise Empírica

5. Análise de dados e discussão dos resultados

5.4. A procura de informação

Se as campanhas e a comunicação social estão excluídas como fontes de informação para a tomada de decisão do voto, conclui-se que o eleitorado jovem tem de recorrer às suas próprias ferramentas para se informar. Ora, isto toma tempo e esforço, requisitos de que nem todos se prontificam a dispender. “Falta de tempo”, “exames e trabalhos” são as justificações mais ouvidas para o pouco tempo que os jovens confessam dedicar à procura de informação por meios alternativos. Admitem que a proximidade familiar ou social com agentes políticos os estimula mais, e que nos outros casos não perdem grande tempo. Por outro lado, voltam a ouvir-se críticas à conceção dos discursos políticos e a mensagens que “desiludem” os eleitores que, depois de tanto esforço para chegar até elas, “não as percebem”.

Claro que, como se previa, quando questionados sobre se o destino do seu voto nas próximas eleições (que se realizariam dali a dois dias) já estava decidido, a resposta foi um sonoro e unânime “não”. Então, se se sentem afastados da política, não se identificam com os discursos e desconfiam das campanhas e da comunicação social, mas também não procuram saber mais por outros meios para exercerem o direito do qual mostram tanto orgulho, como decidem em quem votar? Por esta altura se torna óbvio, no desenrolar do discurso, que os jovens não contam tudo o que pensam – corroborando, de resto, a ideia de Milan (2005) de que os jovens não tendem a expressar as suas opiniões diretamente aos políticos ou à sociedade em encontros públicos.

Quando questionados sobre a visualização dos tempos de antena diários, todos os entrevistados disseram que não viam, mas sobre a qualidade dos vídeos todos tinham opiniões diversas e consolidadas. A verdade, como se veio a constatar, é que todos viam os tempos de antena e até apresentavam reações diferentes às mensagens e, sobretudo, à forma como eram transmitidas; se de um lado se ouvia a incredulidade – “até nós

fazíamos uma coisinha melhor”, “são uma seca e nada informativos” –, do outro

ouviam-se elogios – “mas passa a mensagem”. Outra constatação curiosa foi que o candidato com o tempo de antena mais controverso foi o elemento “top of mind” de todos os jovens presentes na sala, merecedor de largos comentários e opiniões.

Os elementos polémicos ou controversos são, aliás, os que mais chamam a atenção do eleitorado jovem, tendo sido por várias vezes referidos na entrevista vídeos satíricos sobre os candidatos que circulavam numa famosa rede social da Internet. Será, provavelmente, este o tipo de mensagem que os jovens pedem aos políticos, num tom

mais informal e menos intimidante – como aliás não é novidade, se relembrarmos os apelos do eleitorado jovem para a construção de mensagens políticas mais divertidas e descontraídas, difundidas em espaços youth-friendly (Potter, 2002), como será o caso da Internet e das famosas redes sociais – sítios onde os jovens admitem que “os candidatos

chamam mais a atenção”, principalmente porque “são eles que vêm ter connosco [eleitorado]”. Ora, mensagens descontraídas e dinâmicas que procuram o eleitorado

sem exigir grande esforço de pesquisa levam a uma palavra-chave: Internet.

5.4.1. As novas Tecnologias da Informação e a relação com os atores políticos Ficam, de resto, dissipadas as dúvidas quando a concordância geral é conseguida por um jovem que admite que a sua geração “gosta de coisas mais atrativas, como o

Facebook ou o Youtube”, acrescentando que, a dois dias das eleições, o que mais

tinham gostado tinha sido um vídeo anticampanha a circular na rede, porque “marcou

mais do que qualquer tempo de antena”. Todavia, não tomemos o eleitorado estreante

como uma massa manipulável pela rede – se a televisão e os jornais perdem terreno na preferência dos jovens para o mundo virtual, também o grau de confiança destes sofre grandes alterações, sendo “muito mais reduzido” quando aplicado aos conteúdos disponibilizados online.

Os jovens não só têm uma perspetiva menos tradicional em relação às mensagens políticas e aos seus meios de difusão, como também apelam a uma reestruturação das relações entre os políticos e o eleitorado. De uma forma geral, os jovens valorizam-se enquanto eleitores, encaram o voto como um poder que é seu e que é do interesse dos políticos conquistar, não o contrário. Para eles, é impensável ter de partir de si a iniciativa de procurar a informação, veem-se como consumidores que deviam ser passivos em vez de ativos. Afinal, “se as pessoas querem o nosso voto, são elas que têm

que nos procurar, não somos nós que temos de ir procurar em quem queremos votar”.

Esta explicação justifica, de certa forma, a dicotomia entre a exigência em relação às mensagens políticas e ao seu conteúdo e a ausência de procura ativa de informação – talvez fruto da sociedade que os fez crescer rodeados de tecnologias e resultados imediatos que lhes vêm parar às mãos, os jovens não se acham na obrigação de procurar saber sobre os candidatos, mas antes transferem para estes a obrigação de se darem a conhecer – porque o voto é visto como um “favor” que o eleitor faz ao candidato, não como um pedido de governação. E, neste caso, a comunicação social tem um papel que,

na opinião destes jovens, não está a ser cumprido: enquanto difusora de informação, a comunicação social devia ser o veículo que leva os candidatos até aos eleitores, na perspetiva de consumo eleitoral passivo; no entanto, admitem que na televisão “só se

mostra a festa” e se esquece o conteúdo verdadeiramente relevante, destruindo a

confiança que os jovens nela podiam depositar.

Talvez por isso a ida a comícios não seja uma realidade muito distante para estes jovens, que aproveitam estes eventos para colmatar as falhas dos media. Vão, contrariados, aos comícios – porque acham que não deviam ter de ir –, buscar a informação que devia ir até eles. Se, por um lado, este comportamento nos faz refletir sobre a perspetiva passiva com que os jovens encaram a atividade eleitoral, por outro lado fica óbvio o seu interesse em participar na vida política do país, pois perante a falta de informação tomam a iniciativa de ir procurá-la.

Numa tentativa de se compreender melhor esta aparente falta de vontade para a pesquisa de informação política, as tecnologias voltam a estar no centro da discussão. Sendo a Internet, simultaneamente, a melhor e a pior fonte de informação disponível, em virtude de dar acesso a informações variadas e independentes, mas em tal quantidade que “afogam” o eleitor num excesso de informação que impossibilita qualquer decisão ponderada, a verdade é que os jovens nem se atrevem a mergulhar nesse mundo virtual. Sabem que na Internet “há de tudo” e que é “impossível ler tudo” o que lá encontram, por isso optam muito frequentemente por filtrar a pesquisa e procurar apenas informações sobre os candidatos com quem já têm relações de simpatia. Da mesma forma respondem quando confrontados com as críticas ao desconhecimento das propostas dos candidatos – de facto não seria possível transcrever um manifesto eleitoral de centenas de páginas em poucos minutos de televisão, mas estando ele disponível na Internet, lê-lo-iam na íntegra? Não, porque os jovens querem é “saber

que, se quiserem, têm fácil acesso” aos documentos, e não aceder-lhes de facto.

Procuram uma sensação de segurança e transparência que, curiosamente, não precisam de comprovar empiricamente. “Daí a informação dever chegar até nós”, defendem, explicando que quando tal acontece é motivado por todos os candidatos – cada um promove as suas ideias –, fornecendo ao eleitor um conjunto de dados mais variado e completo do que a sua pesquisa enviesada.

Se, neste caso, é elogiável a tomada de consciência da sua própria parcialidade, é ao mesmo tempo preocupante a forma como os jovens se entregam nas mãos dos agentes políticos, pedindo-lhes que se promovam para poupar tempo e esforço a um eleitorado

pouco disposto a abandonar uma certa preguiça: não se espera que os políticos promovam os seus próprios defeitos, e aqueles que põem a descoberto os defeitos da concorrência são alvo de duras críticas dos eleitores mais jovens, que não gostam de

“campanhas de falar do outro”...

Conclui-se então que, neste ponto, a juventude ainda não tem muito bem definido o esquema ideal de procura de informação. Quer recebê-la sem a procurar, mas exige independência e uma honestidade quase inocente da parte dos agentes políticos, como se estes não atuassem com os olhos postos num único objetivo – vencer a concorrência e agraciar os eleitores para ganhar eleições. O mesmo não se pode dizer sobre a consciência destes eleitores sobre os fatores que os influenciam quando é chegada a hora de votar.

No documento A Tomada de Decisão do Primeiro Voto (páginas 89-92)

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