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A produção do conhecimento científico na Saúde Baseada em Evidências

2 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO, AS PESQUISAS BIBLIOGRÁFICAS E AS ESTRATÉGIAS DE BUSCA

2.1 A produção do conhecimento científico na Saúde Baseada em Evidências

Considera-se conhecimento científico como uma das formas de se construir saberes e fazeres no cenário técnico-científico. Schmidt (2012, p. 50-51) define o ‘saber’ como “significados derivados da ciência e da disciplina em seus processos de construção de conhecimento que resultam na formação de teorias científicas” e o 'fazer’ o “exercício prático de uma atividade que quando pensada e organizada pode desenvolver instrumentos técnicos, de maneira a facilitar, melhorar e aperfeiçoar sua realização”. Com base nessas reflexões, podemos considerar os saberes como generalizações e os fazeres como aplicações os quais devem ser úteis à sociedade. Marconi e Lakatos (2003) dividem os conhecimentos em popular, filosófico, religioso e científico para o qual a autora atribui as seguintes características:

O conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrências ou fatos, isto é, com toda forma de existência que se manifesta de algum modo (TRUJILLO, 19743, p. 14 citado por MARCONI e LAKATOS, 2003, p. 80).

Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade, conhecidas através de experiências, e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias (teorias) e não conhecimentos dispersos e desconexos. Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-se um conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo da teoria existente (MARCONI e LAKATOS, 2003, p. 80).

Ao analisar as propostas de Marconi e Lakatos (2003), verifica-se que a produção do conhecimento científico tem como uma das suas principais características a comprovação que, por sua vez, demanda planejamento e sistematização de ações, os quais são preconizados por metodologias e métodos de pesquisa.

González de Gómez (2000) define metodologia da pesquisa como o “início e orientação de um movimento de pensamento cujo esforço e intenção direciona-se à produção de um novo conhecimento, num horizonte de possibilidades sociais e historicamente definidas”. A autora caracteriza o planejamento e a sistematização presentes no fazer científico ao observar que:

os métodos quantitativos, qualitativos, comparativos, assim como as técnicas de coleta e análise da informação, definem a direção e modalidade das ações de pesquisa de modo secundário, estando já ancorados num domínio epistemológico e político que acolhe e legitima as condições de produção do objeto da pesquisa. Uma metodologia de pesquisa teria, para nós, e como primeira tarefa, a tematização dessas condições de produção do objeto de conhecimento (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2000).

A Saúde Baseada em Evidências4 (SBE) é uma das formas de se produzir

conhecimento na Saúde. Nos Descritores em Ciências da Saúde encontramos o descritor Medicina Baseada em Evidências com a seguinte definição:

3 TRUJILLO FERRARI, A. Metodologia da ciência. 3ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.

4 Observa-se que na literatura aparecem os termos Saúde Baseada em Evidências e Medicina

Baseada em Evidências, muitas vezes utilizados como sinônimos, como podemos ver nas definições do Centro Cochrane Brasil e de Atallah apresentadas acima. Neste trabalho, optou-se por usar o termo Saúde Baseada em Evidências por acreditarmos que os resultados desta pesquisa poderão ser generalizados em várias áreas da Saúde, como a Medicina, a Enfermagem, a Fisioterapia, etc. Também ressalta-se que o termo Medicina Baseada em Evidências aparecerá quando o mesmo fizer parte de citações.

Abordagem da prática médica que tem o objetivo de melhorar e avaliar o cuidado com o paciente. Necessita de integração crítica das melhores evidências em pesquisa com os valores dos pacientes para tomar decisão sobre cuidado médico. Este método é usado para auxiliar os médicos a fazer diagnósticos apropriados, construir a melhor bateria de testes, escolher o melhor tratamento e metodologia para a prevenção de doença, bem como desenvolver orientações para grupos grandes de pacientes com a mesma doença (BIBLIOTECA REGIONAL DE MEDICINA, 2013).

Segundo o Universidade Federal de São Paulo (2013), a SBE tem por objetivo oferecer a melhor informação disponível para a tomada de decisão por meio da Epidemiologia Clínica, da Estatística, da Metodologia Científica e da Informática. A definição apresentada no site do Centro Cochrane Brasil ressalta que a prática da Medicina Baseada em Evidências (MBE) busca promover a integração da experiência clínica às melhores evidências disponíveis, considerando a segurança nas intervenções e a ética na totalidade das ações. Destaca, ainda, que a MBE é a arte de avaliar e reduzir a incerteza na tomada de decisão em Saúde, funcionalidade essa que também podemos conferir no texto de Atallah que afirma que a “MBE é uma ciência e um movimento que visa reduzir a incerteza nas tomadas de decisão para reduzir as probabilidades de errarmos e causarmos mais mal do que bem ao paciente” (2004, p.27).

Massad e Rocha também relacionam a Medicina Baseada em Evidências à redução de incerteza ao ressaltar que a MBE:

fundamenta-se na tentativa de contornarmos nossa ignorância através de uma síntese das evidências apresentadas nas bases de dados locais mas, principalmente, na literatura internacional e em especial na grande base de dados universal do conhecimento médico, disponibilizada pela Internet (MASSAD e ROCHA, 2003, p. 23).

Os autores também destacam o enaltecimento das informações documentadas segundo os critérios da MBE em detrimento da experiência clínica individual e da autoridade e considera que esse fenômeno chega:

ao limite de considerar as evidências estatísticas sobre certas conclusões de ensaios clínicos mais importantes que a análise fisiopatológica dos casos em questão, mesmo quando os resultados de ambas as análises são contraditórios ou incompatíveis (MASSAD e ROCHA, 2003, p.23).

Neste contexto, a evidência caracteriza-se por tipos de estudos realizados por meio de determinados métodos de acordo com a pergunta que se deseja responder. As evidências são organizadas em níveis e graus de recomendação, conforme podemos observar no trabalho de Atallah et. al (2001) e na pirâmide apresentada pela Dra Edina Mariko Koga da Silva5

Quadro 1 - Níveis de evidência e graus de recomendação

Níveis de Evidência

I Revisão Sistemática com metanálise lI. Megatrial[(> 1000)] pacientes

III. Ensaio Clínico Randomizado [« 1000)] pacientes IV. Coorte (não randomizado)

V. Estudo caso-controle

VI. Série de casos (sem grupo controle) VII. Opinião de Especialista

Graus de Recomendação

A. Evidências suficientemente fortes para haver consenso B. Evidências não definitivas

C. Evidências suficientemente fortes para contra indicar a conduta.

Fonte: Atallah et. al, (2001)

5 Saúde da Criança Baseada em Evidências. Aula apresentada pela Dra Edina Mariko Koga da Silva,

Figura 1 - Níveis de evidência

Como podemos observar, a revisão sistemática apresenta o nível mais alto de evidência. A revisão sistemática é um “método de investigação científica com planejamento e reunião de estudos originais, sintetizando os resultados de múltiplas investigações primárias através de estratégias que limitam viéses6 e erros aleatórios”

(Universidade Federal de Santa Catarina, 2010, p. 27).

Segundo Silva (2010) a revisão sistemática caracteriza-se por ser um processo estruturado que envolve várias etapas: uma questão bem formulada, ampla procura

6 “Viés é qualquer erro na coleta, análise, interpretação, publicação ou revisão de dados que leva a

resultados distantes do “verdadeiro”. Erro aletário é a proporção da variação de uma medida, geralmente devido à chance”(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2010, p. 27).

de dados, processo de seleção e resumo sem viés, avaliação crítica dos dados, síntese dos dados.

Nos níveis de evidência e graus de recomendação apresentados por Atallah et al., (2001) destaca-se a Metanálise7 que caracteriza-se por ser:

Técnica de análise estatística que permite combinar e sintetizar os resultados de vários estudos, abordando uma mesma doença ou condição de saúde, os quais foram selecionados por meio de revisão sistemática. Os estudos de meta-análise têm como unidade de análise os trabalhos selecionados na revisão sistemática e seu objetivo principal é a identificação de padrões comuns e diferenças entre os achados desses estudos (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2010, p. 27).

Com vimos, a produção do conhecimento científico na Saúde Baseada em Evidências é feita com base em estudos originais. Para se ter acesso a esses estudos é necessária a realização de pesquisas bibliográficas em bases de dados especializadas por meio de estratégias de busca denominadas sensibilizadas.