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ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

3.2 Compatibilidade e interoperabilidade

Uma das dificuldades na realização da pesquisa bibliográfica com objetivos de recuperação da informação para produção do conhecimento científico é o mapeamento e a seleção de termos e conceitos adequados para elaboração das estratégias de busca, pois enfrenta-se variação dos termos (morfológicas, semânticas, sintáticas e tipográficas) que interferem na significação e as distintas formas de busca e recuperação dos termos, que podem ser feita via consulta a cada Sistema de Organização do Conhecimento-SOC individual ou a bases de dados especializadas que reúnem vários SOC permitindo buscas integradas, que exigem formas de busca diferentes.

39 a) the terms are synonyms; b) the terms are quase-synonyms; c) the term is regarded as

unnecessarily specific and it is represented by another term with broader scope; d) the tem is regarded as unnecessarily specific an it is represented by a combination of two or more therms (known as “compound equivalence) (INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION, 2011a, p. 45).

Outro problema, como observam Martinez Tamayo, et al. (2011) é que, embora exista a possibilidade de um sistema incorporar a função de busca expandida ou distribuída, a qual permite a consulta a várias bases de dados e sites simultaneamente com os mesmos termos, geralmente as formas de recuperação limitam-se ao uso da linguagem natural o que “gera a perda de informação pelo uso de sinônimos, homônimos ou termos polissêmicos em domínios diferentes ou em diferentes idiomas” (MARTINEZ TAMAYO, et al., 2011, p. 16).

Nesse sentido, uma das formas de aumentar o desempenho nos processos de busca e recuperação de informações é o desenvolvimento e implementação de interoperabilidade e mapeamento entre SOC para que se possa ampliar e fundamentar a amostra de termos a serem utilizados em estratégias de busca e metodologias de trabalhos científicos, por meio do uso simultâneo de SOC já existentes.

Muitos esforços já foram e são feitos nesse escopo. Ao recorrer à literatura observa-se que quando se fala de troca de informações entre SRI envolvendo o uso de SOC surgem os termos conversibilidade, compatibilidade, interoperabilidade, além de mapeamento entre sistemas de organização do conhecimento e mapeamento entre vocabulários controlados40; e que os termos compatibilidade e

interoperabilidade são muitas vezes tratados como sinônimos, como veremos a seguir na seleção de algumas definições.

Silva (2008) aponta que os estudos e experimentos acerca do intercâmbio de assuntos em bases de dados surgiram na década de 1960 quando se discutiu os conceitos de convertibilidade e compatibilidade e suas respectivas aplicações no

âmbito da cooperação entre centros de informação. Em 1965, Newman41, p.7 citado

por Silva (2008, p. 42) definiu compatibilidade como: “a capacidade de um sistema

40 A norma 25964-2:2011 Information and documentation: thesauri and interoperability with other

vocabularies usa interoperabilidade com vocabulários ou mapeamento entre vocabulários. Nessa pesquisa usamos Interoperabilidade ou mapeamento entre SOC pois o termo Sistemas de Organização do Conhecimento é consolidado na literatura, assim como pelo fato de vocabulários ou vocabulários controlados corresponderem a um tipo de sistema de organização do conhecimento. Usamos os termos vocabulário ou vocabulário controlado quando os mesmos foram usados pelos autores consultados.

41 NEWMAN, S.M. Information systems compatibility. Washington [D.C.]: Spartan Books; London

de informação aceitar dados da indexação e resumo de outro sistema sobre qualquer assunto que seja comum a ambos”.

Campos faz distinções entre os conceitos de Compatibilidade na Ciência da Computação e Ciência da Informação. A autora destaca que Compatibilidade na Ciência da Computação “refere-se à capacidade dos computadores de vários tipos de utilizar programas escritos para outros sem conversão para outras linguagens de máquina” (CAMPOS, 2005).

No que se refere ao conceito de Compatibilidade na Ciência da Informação, Glushkvoc, Skorokhod’ko, Strongnii 42 (1978) citados por Campos (2005) definem

compatibilidade como “medida de similaridade entre duas linguagens, onde se introduz o conceito de graus de compatibilidade e estabelecem a distinção entre compatibilidade em plano semântico e no plano linguístico”.

Batista43 (1986), igualmente citada por Campos (2005), aponta os objetivos dos

estudos de compatibilidade, os quais “visam, principalmente, a criação de instrumentos de conversão e/ou desenvolvimento de linguagens compatíveis, que viabilizem o acesso a múltiplas bases de dados que operem em bases cooperativas”.

Nesse sentido, o relatório UNISIST da Unesco de 1971 definiu os conceitos de compatibilização e conversão os quais foram apresentados por Dahlberg no início da década de 80.

O relatório define ‘compatibilidade’ como a qualidade dos sistemas cujos produtos podem ser usados de maneira intercambiável, apesar das diferenças na notação, estrutura, suporte físico, etc., sem nenhuma conversão especial automatizada e ‘conversão, como o processo de transformar registros de informação, baseado na transcrição de códigos, estruturas de dados, etc., fazendo com que os mesmos sejam intercambiáveis entre dois ou mais serviços ou sistemas que utilizam diferentes convenções e mídias (DAHLBERG44, 1981, p.86 citada por

SILVA, 2008).

42 GLUSHKOV, V.M.; SKOROKHOD’KO, E.F.; STRONGNII, A.A. Evaluation of the degree of

compatibility of information retrieval languages of document retrieval systems. Autom. Doc. & Math. Ling., v. 12, n.1, p. 18-26, 1978.

43 BATISTA, G.H.R. Compatibilidade e convertibilidade entre linguagens de indexação: um

estudo de caso. Rio de Janeiro: UFRJ/ECO/IBTC, 1986. (Dissertação de Mestrado).

44 DAHLBERG , I. Toward establishment of compatibility between indexing languages. International Classification, v. 8, n. 2, p. 86-91, 1981.

Campos (2005) destaca dois métodos para compatibilização e conversão de linguagens: o método de Neville de 1970 e o de Dahlberg de 1981. “O método de Neville baseia-se no princípio que se devem compatibilizar os conceitos (os conteúdos conceituais dos descritores, que estão expressos pelas definições) e não os descritores (as etiquetas linguísticas)” (NEVILLE45, 1970 citado por Campos,

2005).

O método proposto por Dahlberg baseia-se na construção de uma matriz de compatibilidade conceitual, através de seu método analítico-sintético. A matriz de compatibilidade conceitual é um mapeamento da potencialidade semântica das linguagens estudadas, fornecendo os resultados da análise de compatibilidade entre linguagens sob os pontos de vistas semântico e estrutural (DAHLBERG46, 1981 citada por CAMPOS, 2005).

Zeng e Chan (2004) relatam experiências de compatibilidade entre sistemas como o uso de vocabulários mistos nos Online Public Access Catalogs (OPACs) devido ao fato dos registros em Machine-Readable Cataloging (MARC) terem sido indexados separadamente com a Lista de Cabeçalhos de Assuntos da Library of Congress ou com o Medical Subject Heading da National Library Medicine (NLM). As autoras observam que, nesse momento, o foco da compatibilidade era permitir a pesquisa cruzada em banco de dados dentro de um determinado serviço, como um OPAC ou um banco de dados online.

Em 2006, Zeng e Chan, apresentam uma definição de interoperabilidade proposta por Taylor que define interoperabilidade como “a compatibilidade entre dois ou mais sistemas de forma que eles possam trocar informações e dados sem

qualquer manipulação” (TAYLOR, 200447, p. 369 citado por ZENG e CHAN, 2006a).

As principais normas de construção, desenvolvimento e uso de SOC definem interoperabilidade como a habilidade de dois ou mais sistemas ou componentes trocarem e usarem as informações trocadas sem esforço especial por parte de qualquer um dos sistemas (ASSOCIATION FOR LIBRARY COLLECTIONS..., 2000; NATIONAL INFORMATION STANDARDS ORGANIZATION, 2005; BSI Group, 2007;

45 NEVILLE, H.H. Feasibility study of a scheme for reconciling thesauri covering a commom subject. J. Doc., n.26, v.4, p.313-36, Dec. 1970.

46 DAHLBERG , I. Toward establishment of compatibility between indexing languages. International Classification, v. 8, n. 2, p. 86-91, 1981.

INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION, 2011a). Martinez Tamayo et al. (2011) analisam os objetivos da interoperabilidade entre SOC:

(...) a interoperabilidade entre os Sistemas de Organização do Conhecimento-SOC procura harmonizar as relações conceituais e terminológicas que podem ser estabelecidas entre eles. É fazer com que os SOC possam trocar informações, independentemente do contexto em que foram criados mantendo a eficiência, juntamente com outros SOC, na recuperação de informação. Esta troca de dados entre SOC pode ser estabelecida incluindo relações com os outros SOC, representando dados em padrões e usando sistemas que implementam protocolos comuns (MARTÍNEZ TAMAYO et al., 2011, p. 17, tradução nossa48).

A norma ISO 25964-2:2011, destaca como objetivo da interoperabilidade na recuperação da informação a possibilidade de utilizar uma expressão formulada em um SOC convertido a uma expressão correspondente em um ou mais SOC, assim como ressalta o estabelecimento de equivalências para o sucesso da interoperabilidade:

Durante a recuperação da informação, o objetivo principal da interoperabilidade entre vocabulários é o de permitir que uma expressão formulada usando um vocabulário possa ser convertida para uma expressão correspondente em um ou mais vocabulários. (...) interoperabilidade é a possibilidade de se estabelecer mapeamentos inter-conceitos, particularmente as equivalências (INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION, 2011b, p. 18, tradução nossa49).

Ao analisarmos as definições acima, pode-se inferir que a interoperabilidade ocorre entre SRI que subjazem às bases de dados e/ou SOC, o que exige a

utilização de padrões, formatos e modelos nas perspectivas

tecnológicas/informáticas e semânticas. Isto posto, vejamos na próxima seção estes padrões e formatos no contexto da Web Semântica.

48(…) la interoperabilidad entre SOC busca armonizar las relaciones conceptuales y terminológicas

que pudieran establecerse entre ellos. Es lograr que estos SOC puedan intercambiar información, independientemente del contexto en el que han sido creados y mantener al mismo tiempo la eficiencia, junto a otros SOC, en la recuperación de la información. Este intercambio de datos entre SOC se puede establecer incluyendo relaciones con otros SOC, representando sus datos bajo estándares y utilizando sistemas que implementen protocolos en común (MARTÍNEZ TAMAYO, et al., 2011, p. 17).

49 “During information retrieval, the principal aim of interoperability between vocabularies is to enable a

expression formulated using one vocabulary to be converted to (or supllemented by) a corresponding expression in one or more other vocabularies. (...), interoperability is enabled by establishing inter- concept mappings, particularly equivalence” (INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION, 2011b, p. 18).

3.3 Iniciativas para interoperabilidade entre Sistemas de Organização do