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4 A PRODUÇÃO CAMPONESA EM LAGOA SECA E SUA

4.3 A produção familiar atual do município de Lagoa Seca

A história do campesinato em Lagoa Seca é fruto da luta pela permanência no campo, frente às dinâmicas do capitalismo. A lei da oferta de da procura, submete o pequeno produtor a mudar as características da plantação, ou seja, adaptar-se para conseguir a sobrevivência. Quando há a retração da demanda por um produto no campo ele procura cultivar outro, mas sem deixar a sua campesinidade.

A limitada oferta de terras e a divisão progressiva por herança levou o município a ter como característica marcante uma estrutura fundiária desconcentrada, predominando os estabelecimentos com área entre 1 a 20 hectares destinados a desenvolver a policultura. Associando-se o minifúndio e a policultura, temos uma produção diversificada, como: produção de frutas (laranja e banana, ver figuras 4 e 5), feijão (ver figura 6) e verduras

(chuchu, coentro e alface, principalmente, ver figuras 7 e 8), e também a criação de pequenos rebanhos (ver figura 9).

Algumas áreas se destacam no cultivo de frutas e outras no cultivo de hortaliças. Nascimento Neto elucida que:

Segundo dados do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca e da AS- PTA, o município apresenta seis diferentes regiões com atividades produtivas específicas: Região dos Roçados (mandioca, feijão e batatinha), Região das Verduras (alface, coentro, tomate, pimentão, repolho, cebolinha e alguns verdureiros plantam flores), Região do Encontro dos Rios (criação de pequenos rebanhos), Região das Frutas (banana, tangerina e laranja cravo), Região das Ladeiras (manga, jaca, banana, maracujá, caju, laranja, macaxeira e feijão) e a Região do Agreste (a maioria das terras é de fazendas de gados e alguns poucos agricultores plantam mandioca, milho e feijão). (NASCIMENTO NETO,

2009, p. 19)

Conforme descreve o autor, as atividades agrícolas localizam-se em lugares específicos do município, isso se deve aos lugares terem diferentes contextos e serem favoráveis a alguns tipos de produtos e outros não, é o caso da Região das Ladeiras onde não se planta muitas hortaliças e da Região do Agreste, onde se desenvolve muito mais a pecuária, nas proximidades do município de Massaranduba. Esta distribuição projeta-se em um mosaico de culturas, na diversidade de formas de relação de trabalho, e de formas de resistência e permanência na terra.

Figura 04: Produção de laranja - Sítio Oití - Lagoa Seca.

Figura 05: Produção de banana - Sítio Mineiro - Lagoa Seca.

Fonte: Pesquisa de Campo.

Figura 06: Produção de feijão - Sítio Campinote - Lagoa Seca.

Figura 07: Aspectos da produção de alface e coentro - Sítio Alvinho - Lagoa Seca

Fonte: Pesquisa de Campo.

Figura 08: Latadas de chuchu - Sítio Rosa Branca - Lagoa Seca

Figura 09: Pequena criação de gado - Sítio Jucá do Cumbe - Lagoa Seca.

Fonte: Pesquisa de Campo.

Figura 10: Produção Agrícola por Região em Lagoa Seca.

A figura 10 está baseada na divisão feita pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca, fruto de um trabalho conjunto com pequenos agricultores e a AS-PTA. Ele destaca as regiões do município associado às atividades econômicas. Esta divisão foi aproveitada pela Coopacne para a construção do plano diretor do município e consta no seu anexo cartográfico.

A produção familiar no município de Lagoa Seca é muito diversificada tanto no que se refere às pequenas propriedades que produzem uma grande quantidade de produtos, e inclusive também aquelas que produzem variedades da mesma cultura. Produzem também lavouras cujos ciclos são mais longos e outras de ciclos mais curtos, usam lavouras que são permanentes e também as lavouras temporárias. Para que se aproveite a rotatividade da terra, cuja disponibilidade é pequena.

A produção de banana e laranja merece destaque na Região das Frutas, onde se localizam principalmente os sítios: Mineiro, Cumbe, Jucá, Boa Vista e Amaragi. Entretanto, a sazonalidade reflexa dos períodos de entressafra da planta submetem alguns produtores a plantarem roçados ou verduras nesses períodos. Esses são intercalados de forma a dar o retorno que é conveniente à unidade familiar.

Além disso, tem como característica as profundas raízes familiares, sendo bastante comum que os filhos plantem nas mesmas terras que seus pais plantaram. É comum que envolvam toda ou parte da família na produção. Um dos problemas é que por herança estes espaços de plantio foram divididos em minifúndios cada vez menores, na razão inversa do tamanho das famílias. A unidade familiar muito pequena por vezes se torna um problema para a sua própria manutenção. Assim condicionado, há pouco produto nestes espaços.

A maioria das propriedades usa técnicas muito rudimentares de cultivo, degradando o solo e atingindo o meio ambiente. Para Nascimento Neto (2009, p. 19) “As propriedades agrícolas do município são minifúndios, bastante explorados, adotando-se apenas, em casos, de rotação de cultura, ficando o pousio, por sua vez descartado”. Devido às pequenas extensões das propriedades, os solos são submetidos a uma grande pressão, e dessa forma têm que ser corrigidos por adubos e fertilizantes químicos.

Na maioria das propriedades, as técnicas de plantio foi passada de forma hereditária e resiste até hoje junto com a resistência do próprio camponês. Baseada nas tradições e nos conhecimentos antigos. Evidentemente que também por falta de recursos para manter a tecnologia tão presente em outras áreas do país e que elevam a produtividade da terra.

Outro problema que se poderia citar é uma dependência demasiada das condições climáticas a que se submetem os plantios. Essa realidade que pode ser observada nas Figuras

11 e 12 é um dos principais problemas que permeiam a agricultura familiar municipal, e condicionam o comércio local, provocando muitas perdas e danos. Muitos agricultores são repelidos da atividade por trabalhar em demasiado para conseguir o sustento da unidade familiar. Na região a maioria dos camponeses não tem recursos suficientes para superar estas dificuldades impostas pelo clima e pelas condições econômicas.

Condições que associadas à exploração baseada no preço do produto dificultam as condições dos pequenos agricultores, que desta forma poderão optar em se integrar a novas formas de atividades, ou ter que depender do Estado através de políticas públicas de cunho assistencial.

Na produção familiar do espaço em questão, o camponês é reconhecido como agricultor familiar em virtude da difusão das políticas públicas que o reconheceram como tal. Essas têm no Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município um suporte na sua efetivação local. No entanto, a burocracia referente ao crédito agrícola e, as vezes, a própria resistência do camponês a assistência técnica bloqueiam o alcance do poder público.

Figura 11: Plantação alagada devido às fortes chuvas de junho de 2011 em Lagoa Seca.

Figura 12: Reservatório seco devido ao período de estiagem de 2014.

Fonte: Pesquisa de Campo.

Figura 13: Agricultores familiares preparando o solo para cultivo.

Figura 14: Irrigação Manual - Sítio Alvinho - Lagoa Seca

Fonte: SOUZA, Jamerson Raniere Monteiro de. Pesquisa de Campo.

Alguns problemas podem ser detectados na organização das unidades familiares rurais. Dentre eles podem ser lembrados: a) falta de disponibilidade de solos; b) utilização de práticas que resultam em agravos ao solo, por exemplo, a preparação do solo muitas vezes é acompanhada de coivara, e feita em áreas de encostas; c) o plantio é feito manualmente e as sementes normalmente são compradas e armazenadas muitas vezes em ambientes impróprios (ver Figura 13). A ação de organização não governamental, a exemplo da AS-PTA, tem ajudado a reverter alguns desses problemas com a difusão da prática agroecológica, o uso das sementes da paixão, e o uso do manejo agrosilvopastoril8.

A irrigação também é feita manualmente por mangueiras e, em alguns casos, por microaspersão auxiliada por motores de pequeno porte no caso das ladeiras. Em algumas são utilizados os adubos químicos e agrotóxicos. (Ver figura acima).

Os processos de limpeza das ervas daninhas também é feito de forma manual com auxílio de enxadas. A colheita é feita de forma tradicional sem seleção específica, apenas nas épocas de “boia” são escolhidos os melhores produtos por pressão do atravessador.

Como se pode observar, a agricultura de Lagoa Seca tem características muito tradicionais. A comercialização pode ser citada como um dos fatores que causa o problema,

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Sistema complexo que integrar lavoura, espécies florestais e pastagens e outros espaços para os animais, considerando os aspectos paisagísticos e energéticos.

pois os fundos para manter a produção, que são retirados da atividade, são extremamente inconstantes, e o atravessador submete o produtor a condições de plantio pouco produtivas. Existem ainda muitas técnicas antigas neste tipo de produção, que é limitada principalmente pelo pouco ganho do produtor, que raramente eleva o nível de produtividade da terra e não tem condições de competir com um mercado tecnológico e competitivo como o atual.

Apesar de todos os problemas apresentados na produção, o município se destaca pela quantidade de alimentos produzida. Certamente, dentro do Agreste policultor, como um dos que mais contribuem para a efetiva produção de alimentos no estado da Paraíba.