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3. METODOLOGIA

3.1 A professora, a Amostra e os Contextos de Ensino e de Pesquisa

A professora da turma lecionava pela primeira vez em uma escola pública. Na época em que a pesquisa foi realizada ela tinha 25 anos e era recém-formada no curso de Química Licenciatura, ofertado pela Universidade Federal de Ouro Preto.

Durante a sua formação, ela participou durante 2 anos como bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), onde elaborou, com auxílio de outros bolsistas, planejamentos de aulas envolvendo atividades fundamentadas em modelagem, natureza da ciência e argumentação. A professora também cursou a disciplina eletiva “Elaboração de Unidades Didáticas para a Educação Básica”, no seu último período da graduação. Nessa disciplina ela elaborou uma sequência didática sobre o tema equilíbrio químico.

Para elaboração dessa sequência, a professora da turma e os demais integrantes do seu grupo realizaram estudos relacionados à cinética e à termodinâmica, na busca por uma melhor compreensão do tema sob auxílio dos professores da área de físico-química da referida universidade. Além disso, os integrantes do grupo realizaram buscas na literatura da área de Educação em Ciências, com o objetivo de conhecer as principais concepções alternativas dos estudantes sobre o equilíbrio químico.

Desde o início, professora mostrou-se disponível e aberta para desenvolver a sequência didática em sua sala de aula e, em diferentes momentos da pesquisa, manifestou seu interesse em compreender e se inteirar das discussões na área de educação, pensando na continuidade da sua formação como professora da educação básica.

Baseadas nas experiências da professora durante a sua formação acadêmico- profissional, consideramos que ela desenvolveu conhecimentos sobre o tema equilíbrio químico e sobre as concepções dos estudantes que influenciaram a sua compreensão sobre as atividades da sequência didática proposta e o desenvolvimento das mesmas.

Antes do início da pesquisa, a professora se reuniu com a pesquisadora, autora da sequência didática, e com a orientadora da mesma, para que elas pudessem apresentar, discutir e esclarecer os objetivos de cada uma das atividades. Durante essa reunião, a pesquisadora e sua orientadora, auxiliaram a professora da turma na compreensão sobre os diferentes tipos de comparações, contempladas na atividade introdutória da sequência didática, dada a pouca experiência da professora com esses recursos. Elas também

discutiram os aspectos relacionados ao equilíbrio químico, auxiliando a professora da turma a perceber quais conceitos seriam fundamentais de serem discutidos com os estudantes.

Durante esta reunião, a professora descreveu as características gerais das turmas, nas quais a sequência seria desenvolvida e as atividades que ela já havia desenvolvido com os estudantes até aquele momento e suas opiniões com relação à participação dos estudantes no desenvolvimento da sequência didática. Essa discussão foi importante para as pesquisadoras, uma vez que estas não haviam tido contato com os estudantes das turmas em um momento anterior ao desenvolvimento da sequência didática. Isso permitiu-nos a caracterização de alguns dos aspectos do contexto de ensino e dos estudantes.

Ao longo da realização da pesquisa, a professora desenvolveu e discutiu todas as atividades com os estudantes, respeitando o tempo que eles demandavam na elaboração dos significados. Neste sentido, ela foi flexível com relação à quantidade de aulas utilizadas para a realização da pesquisa, as quais superaram o número de aulas previsto para o desenvolvimento da sequência (inicialmente, foram previstas 6 aulas, mas necessárias 10). Isto porque as atividades foram dialógicas e interativas demandando mais tempo que o previsto, uma vez que foram necessários muitos momentos de esclarecimentos dada a pouca familiaridade dos estudantes com a modelagem analógica.

Normalmente, as aulas da professora eram expositivas e interativas - mas pouco dialógicas no sentido atribuído por Mortimer e Scott (2002) -, com algumas atividades experimentais. Nas aulas expositivas, a professora tinha o hábito de questionar os estudantes, buscando auxiliá-los no entendimento de algum conhecimento específico ou mesmo para checar o acompanhamento da narrativa pelos mesmos.

Na reunião com as pesquisadoras a professora declarou que nas aulas experimentais, em sua maioria demonstrativas, ela percebia uma maior interação dos estudantes e que, por isso, passou a incentivá-los a expressar suas ideias e opiniões, na tentativa de contribuir para o desenvolvimento de ambientes mais dialógicos do que o das aulas expositivas. Apesar disso, os estudantes desse contexto escolar, não estavam habituados a participar de atividades de natureza predominantemente dialógica.

A professora lecionava a disciplina de Química em duas turmas do segundo ano do ensino médio regular, da escola onde a pesquisa foi realizada. Uma dessas turmas

continha 20 (vinte) estudantes e a outra 12 (doze). A sequência didática foi desenvolvida em ambas as turmas.

O perfil de ambas as turmas, de acordo com a professora, era bastante heterogêneo com relação à expressão e comunicação de ideias. Poucos estudantes tinham mais desenvoltura e iniciativa ao falar em público e expressar as suas ideias espontaneamente, enquanto a maioria deles era mais inibida ao realizar essas mesmas ações.

A boa relação que a professora da turma mantinha com os estudantes de ambas as turmas contribuiu para que eles participassem ativamente no desenvolvimento das atividades e fomentou as interações discursivas. Os estudantes foram receptivos e motivados durante todo o processo.

Em um período anterior ao desenvolvimento da sequência, a professora havia realizado experimentos demonstrativos relacionados aos fatores que influenciam a cinética química, como: a temperatura, a superfície de contato e a concentração de reagentes e produtos. Além da cinética química, ligações e reações químicas, que também eram conhecimentos pré-requisitos para compreensão do tema equilíbrio químico, também foram tratados durante as aulas de Química, seguindo o padrão de uma maioria de aulas expositivas e interativas e de alguns poucos experimentos demonstrativos.

O desenvolvimento da sequência didática proposta ocorreu ao longo de 10 (dez) de aulas de 50 (cinquenta) minutos cada, com duração de dois meses de aula. Durante esse período, a professora contou com o auxílio de duas pesquisadoras: uma delas idealizadora da sequência didática e a outra, autora deste trabalho. Ambas auxiliaram a professora quando a mesma tinha alguma dúvida sobre as atividades e aos estudantes, quando estes solicitavam.

Após a realização da segunda atividade da sequência didática, observamos que dois grupos de estudantes, da turma de 20 (vinte), se destacaram. Isto porque, ambos os grupos foram participativos e demostraram interesse em discutir com a professora e seus colegas suas ideias e dúvidas ao longo da atividade.

Selecionamos um desses grupos, o qual era composto de cinco integrantes, por observar que estes e a professora tiveram vários momentos de interação desde o início do desenvolvimento das atividades, os quais julgamos de suma importância diante do nosso

objetivo de investigar a mediação dos questionamentos da professora no desenvolvimento dos modelos, analogias e significados pelos estudantes.

Os estudantes selecionados eram de camadas populares da cidade de Mariana. Alguns trabalhavam e outros faziam curso técnico profissionalizante no período da tarde, além de frequentar as aulas de Química com certa regularidade no período da manhã. Eles tinham idades entre 15 e 17 anos, eram comunicativos e um pouco dispersos, o que às vezes demandava a ação da professora de chamar atenção dos mesmos para que conseguissem concentrar nas atividades. Eram estudantes criativos, gostavam de compartilhar suas ideias com os demais estudantes da sala, com a professora e as pesquisadoras.

Em observância aos princípios de ética na pesquisa, os nomes dos estudantes do grupo analisado foram substituídos pelos seguintes pseudônimos: Saulo, Ronaldo, Carlos, Túlio e Gabriel.

Além do fator interacional já mencionado, todos os integrantes do grupo pesquisado se mostraram interessados e foram participantes ativos ao longo de todas as atividades da sequência. Dois deles, Carlos e Saulo, tinham uma participação mais intensa que os demais, tanto nas discussões com os pares quanto com a professora.

Durante o desenvolvimento da sequência didática, quando algum dos integrantes desse grupo não comparecia à aula, os demais eram capazes de dar continuidade às atividades, devido aos registros realizados nas aulas anteriores e às retomadas feitas pela professora. Além disso, os próprios colegas do estudante faltoso procuravam situá-lo e explicar-lhe o que havia sido discutido anteriormente.