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A promoção do raciocínio ao longo do estágio

Capítulo II – A educação básica como promotora do desenvolvimento do raciocínio

10. A promoção do raciocínio ao longo do estágio

Neste tópico pretende-se dar uma panorâmica geral sobre algumas atividades/estratégias que ocorreram ou foram implementadas durante o estágio e que apelaram ao desenvolvimento do raciocínio. Não se irá fazer uma enunciação exaustiva das mesmas, mas apenas apresentar alguns exemplos, os que nos parecem ilustrar a natureza do trabalho realizado neste domínio.

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Assim, durante a prática educativa, proporcionava-se, sempre que possível e se achava pertinente, momentos de correção conjunta das tarefas e exercícios propostos, onde, através da comunicação, os alunos explicitavam as suas ideias e os procedimentos adotados. Durante estes momentos tentava-se procurar, junto dos alunos, razões explicativas para determinadas respostas e/ou processos de resolução. As questões do tipo “Como é que chegaste a esta resposta?”, “Que operações fizeste?”, “Porquê?” levavam a que os alunos tivessem oportunidade de partilhar estratégias, de justificar os seus processos de resolução, os resultados a que chegavam e/ou os seus raciocínios. Efetivamente, “esta actividade, de carácter metacognitivo — falar do que se pensou e fez — é, por ventura, uma das mais importantes para melhorar o raciocínio” (Moreira, 2008: 13).

De igual forma, ao longo do estágio, tanto na componente do pré-escolar como do 1.º ciclo, foram propostos vários jogos referentes a diversas áreas de conteúdo e, num deles, as crianças desempenharam o papel das próprias peças do jogo. Tanto os jogos idealizados e propostos pela estagiária como os existentes na sala eram aliados do desenvolvimento do raciocínio, pois davam oportunidade de as crianças pensarem nas várias opções e alternativas do jogo e, a partir daí, escolherem a melhor forma de efetuar a sua jogada. De facto, o jogo contribui para o desenvolvimento cognitivo das crianças, na medida em que é necessário pensar antes de cada jogada ou antes de dar alguma resposta. É muito interessante ver e tentar perceber como é que as crianças se comportam perante um jogo, quais as opções que tomam e, a partir daí, tentar inferir sobre possíveis formas de pensamento que estiveram na sua base. Tal situação torna-se viável porque, na perspetiva de Macedo, Petty e Passos (2005: 7), uma criança, “ao jogar, (…) dá muitas informações e comunica, através da ação, sua forma de pensar”.

Por vezes, ao longo do jogo, a criança confronta-se com alguns problemas para os quais tem que arranjar uma resposta ajustada. Particularizando uma situação, ocorrida no pré- escolar, aquando da exploração de um jogo de encaixe existente na sala, deparamo-nos com uma criança que tentava encaixar a última peça do jogo. Porém, verificou que a mesma não encaixava, tal como ela esperava que acontecesse. Então, mudou a posição da peça, ou seja, rodou para cima, para baixo e para o lado e o resultado foi sempre o mesmo: a peça não encaixava. Na sequência desta estratégia de tentativa e erro, decidiu virá-la ao contrário e finalmente conseguiu o resultado pretendido. Tal como refere Hohmann e Weikart para uma situação análoga:

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As experiências nas quais as crianças produzem um efeito que podem ou não ter antecipado são cruciais para o desenvolvimento das suas capacidades de pensamento e raciocínio. Quando as crianças se confrontam com problemas da vida real – resultados inesperados ou barreiras para atingir as suas intenções – o processo de reconciliar o inesperado com aquilo que já sabem sobre o mundo estimula a aprendizagem e o desenvolvimento. (Hohmann e

Weikart, 1997: 24).

A própria canção também pode ser um meio propulsor do desenvolvimento do raciocínio. Certamente que cantar uma canção, por si só, não aparenta ser uma atividade onde se evidencia alguma forma de pensar da criança, dado que ela a reproduz de forma quase mecânica. Mas, se levarmos a criança a perceber e a inteirar-se do significado daquilo que está a cantar, aí sim podemos desenvolver o seu raciocínio e foi isto que tentamos fazer, por exemplo através da canção “Eu sou a menina semente” (pré-escolar) e a canção do Aparelho Respiratório (1.º ciclo).

De facto, o Ministério da Educação, através das Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (1997: 64) menciona que “trabalhar as letras das canções relaciona o domínio da expressão musical com o da linguagem, que passa por compreender o sentido do que se diz”. E, como vimos anteriormente, raciocinar passa por utilizar a razão para compreender. Deste modo, nos exemplos apresentados, trabalha-se, de certa forma, o raciocínio da criança, na medida em que a própria letra da canção apela à compreensão do processo de transformação de uma simples sementinha numa árvore, salientando algumas das condições necessárias para um bom desenvolvimento. No caso do segundo exemplo mencionado, apela-se à compreensão das ações que ocorrem no nosso organismo aquando da respiração, evidenciando o percurso efetuado pelo ar e as trocas gasosas que acontecem.

Ainda no que se refere ao aparelho respiratório, outro exemplo dá-nos conta do desenvolvimento do raciocínio, designadamente a exploração do “modelo” do aparelho respiratório. Tal como afirma Giordan (2007: 144) “os modelos são uma outra forma de ajudar a pensar”. Através deste, as crianças puderam compreender e visualizar os movimentos do diafragma e o aumento ou diminuição do volume dos pulmões aquando da inspiração e da expiração. É curioso mencionar que a manipulação do modelo, mais propriamente quando o ar entrava e/ou saía através das palhinhas de plástico, produzia um som semelhante ao da nossa respiração, ao ponto de um aluno (aluno R) dizer, com algum espanto, “Ah faz o barulho como se tivéssemos a respirar!”.

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Através da exploração da nossa própria linguagem também podemos promover o desenvolvimento do raciocínio. “A linguagem é também um sistema simbólico organizado que tem a sua lógica. A descoberta de padrões que lhe estão subjacentes é um meio de reflectir sobre a linguagem e também de desenvolver o raciocínio lógico.” (Ministério da Educação, 1997: 78). Reportando a uma situação do estágio, podemos exemplificar o que aqui ficou exposto, na medida em que o grupo do pré-escolar teve oportunidade de encontrar padrões nas palavras, através da descoberta de palavras que rimavam umas com as outras e de palavras, cujo início era idêntico ao de uma palavra previamente dada.

Por outro lado, quando levamos os alunos a refletir e a pronunciarem-se sobre um determinado tema, podemos despoletar o seu pensar. Arends (1995: 424) afirma que “a discussão de um tópico ajuda os alunos a consolidar as estruturas cognitivas existentes e ajuda-os a aumentar a capacidade de pensar” e foi o que se tentou fazer, por exemplo, aquando da discussão, ocorrida no 1.º ciclo, sobre a poluição e as suas consequências para a saúde. Os alunos evidenciaram a importância do ar puro para a nossa saúde e das árvores que nos dão o oxigénio, referindo que não as devíamos cortar, como podemos denotar a partir do seguinte testemunho “As árvores dão-nos oxigénio por isso não podemos cortar as árvores” (aluno S).

A educação em ciências também é forma de promover o desenvolvimento do raciocínio, tal como é evidenciado por Martins (2009: 13): “a educação em ciências favorece o desenvolvimento da capacidade de pensar cientificamente”. Um dos exemplos, ocorrido no estágio, que nos dá conta disto foi a experiência realizada para se perceber o porquê da existência do dia e da noite. Para tal, utilizou-se uma lanterna (em representação do Sol) e um globo terrestre, para que as crianças pudessem verificar que enquanto uma parte do globo fica iluminada, a outra parte fica às escuras.

11.Análise de atividades que promoveram o desenvolvimento do raciocínio no pré-