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2.2 Estratégias e Procedimentos

2.2.3 A proposta da Oficina

O trabalho com oficinas se fundamenta a partir da mobilização de informação e reflexão, significados afetivos e vivências relacionadas ao tema trabalhado. O termo oficina remete-se, de forma geral, a situações diversas, podendo designar cada encontro em um trabalho de grupo. De forma mais específica, Afonso assim o define:

A “Oficina” é um trabalho estruturado com grupos, independentemente do número de encontros, sendo focalizado em torno de uma questão central que o grupo se propõe a elaborar, em um contexto social. A elaboração que se busca na Oficina não se restringe a uma reflexão racional mas envolve os sujeitos de maneira integral, formas de pensar, sentir e agir (AFONSO, 2010, p.9).

Esta proposta tem o intuito de colocar os professores em contato com elementos constitutivos de suas subjetividades, sua formação como pessoa e como profissional, a partir da leitura de conto, da exibição de um filme curto e músicas que evoquem lembranças, situações significativas, saberes, vivências na sua trajetória de formação e trabalho docente que mesclam experiências, tanto pessoais como profissionais a serem compartilhadas no grupo de discussão.

73 É uma proposta inspirada também na compreensão expressa e assumida por Candau (1999), a partir de Cubelles, sobre o entendimento e a potencialidade imbricados no espaço-tempo, chamado de Oficina:

Refiro-me à oficina como tempo-espaço para a vivência, a reflexão, a conceitualização: como síntese do pensar, sentir e atuar. Como “o” lugar para a participação, o aprendizado e a sistematização dos conhecimentos. [...] Agrada-me a expressão que explica a oficina como o lugar de manufatura e de “mentefatura”. Na oficina, através do jogo recíproco dos participantes nas tarefas, confluem o pensamento e a ação. Em síntese, a oficina se converte no lugar do vínculo, da participação, da comunicação e, finalmente, da produção de objetos, acontecimentos e conhecimentos. (GONZALES CUBELLES 1987: p.3, apud CANDAU, 1999, p.8)

Neste processo, visou-se evocar a trajetória constitutiva do professor como sujeito formador e em formação, uma trajetória mediada por saberes e experiências, suscitando reflexões sobre o trabalho pedagógico que vivenciou e o trabalho pedagógico do qual é autor.

Para Afonso (2010), a oficina constitui-se a partir de um planejamento básico, flexível, que pretende ser desenvolvido ao longo de um número combinado de encontros para os quais os participantes serão convidados. Apresenta ainda, como característica, a circulação livre da palavra no grupo.

Afonso assinala que o profissional que deseja desenvolver “oficinas” não pode prescindir de outros estudos em teoria de grupo, considerando, contudo, que “a aplicação do trabalho de grupo a uma problemática ao mesmo tempo individual e social, com estilo de intervenção ativa, caracteriza uma das intervenções possíveis” (2010, p.10).

A autora pontua de forma valiosa que este profissional ou o coordenador da oficina – a pesquisadora, no caso – se prepara para a ação antecipando temas e estratégias “como forma de se qualificar para a condução da Oficina. Entretanto, precisa estar ciente e preparado para acompanhar o grupo em seu processo, o que pode, e provavelmente vai, significar mudanças no planejamento oficial” (p. 37).

Para o caso deste estudo, tendo em vista seus objetivos, a oficina como estratégia metodológica apresentou-se como alternativa interessante, pela possibilidade das articulações já enumeradas no que se refere à discussão sobre os saberes mobilizados pelos professores no trabalho pedagógico, o sentido atribuído

74 pelo professor à articulação entre sua prática, sua formação e a relação com o saber. Afonso destaca que, na oficina, encontra-se um sujeito em relação:

Em relação dialética, um sujeito descentrado, composto de um sujeito da experiência, a partir das interações vividas, e um sujeito da comunicação, que recebe e atribui significado a estas interações. [...] os significados são construídos em interação, processada em níveis consciente e inconsciente, e que os sentidos produzidos não se restringem à subjetividade dos indivíduos, mas são recursivamente reenviados ao contexto social que os transcende. (AFONSO, 2010, p.54)

Outro objetivo que se pode enumerar com relação ao desenvolvimento da oficina foi o de sensibilizar os professores, evocando elementos tanto objetivos quanto subjetivos de sua trajetória, de sua formação e atuação, lembranças, impressões, sentimentos, imagens, saberes técnicos e experienciais, com vistas a facilitar a produção da narrativa escrita de sua formação, que foi solicitada ao final da oficina.

Conhecendo as condições de sua constituição, e procurando atuar sobre elas, o sujeito participa de sua própria história. Esse é o ponto de partida do trabalho com Oficinas: a análise feita pelos participantes faz parte de sua história e, nesta, pode ser incorporada como (auto) construção e autonomia. (AFONSO, 2010, p.51)

Para esta estratégia da pesquisa, contou-se com a adesão de dez professores; quatro da Educação Infantil, cinco do Ensino Fundamental e a vice- diretora da escola, relembrando que três professores têm formação de nível superior e sete, especialização na área educacional. Este grupo dá aulas à tarde (das 13h às 18h) e coordena – realiza atividades de planejamento - de manhã (das 8h às 11h), período no qual foi realizada a oficina.

A diretora da escola não pode estar presente na oficina devido às demandas internas da escola e também externas. Os três coordenadores pedagógicos da escola aderiram à greve, juntamente com mais quatro professores deste turno, além do orientador educacional.

A proposta da Oficina foi intitulada como “Saberes e Práticas” e constituiu-se em um encontro com aproximadamente 2h 30min de duração. Convém ressaltar o entendimento da Oficina como um processo aberto e em construção que foi negociado em abordagem coletiva, a partir de roteiro principal e tema planejado, conforme conta no Apêndice D, porém flexível às emergências da dinâmica no grupo.

75 A situação de greve da categoria, com suas evidentes implicações na dinâmica interna da escola, com as visitas e pressões do sindicato desmobilizou de certa forma professores que tinham aderido ao convite de participação na oficina. Entre os 11 que foram convidados e aceitaram participar da proposta, 10 professores estiveram presentes participando da oficina.

A oficina teve o áudio registrado durante a realização, estando todos os participantes cientes do procedimento e do processo com os esclarecimentos de caráter ético, feito aos participantes, através do termo de consentimento livre esclarecido, discutido e preenchido em momento anterior.

O registro em áudio foi realizado com três instrumentos, gravador de áudio, aplicativo de smartphone e gravador de som do notebook, a fim de assegurar a documentação e o registro do processo, que foi posteriormente transcrito pela pesquisadora, e o material consta do Anexo F deste trabalho.