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Diagrama 11 Output de EVAL

2.4.1.4 A proposta de Lee & Oliveira (2006a; 2006b)

Esta abordagem trata das questões que se interpõem numa análise lingüística ao se discutirem a percepção e a produção e, por isso, é uma abordagem fundamental para as análises que pretendemos desenvolver. Conforme Lee & Oliveira (2006), “a variação lingüística tem sido, reconhecidamente, um incômodo para a esmagadora maioria das teorias lingüísticas”. Por isso, eles apresentam o percurso percorrido pela lingüística desde os modelos neogramáticos até as abordagens variacionistas da TO, incluindo-se aquelas por nós apresentadas, antes de proporem um modelo de abordagem.

Para não nos alongarmos excessivamente, busquemos ir diretamente ao ponto em que a proposta de Lee & Oliveira (2006a; 2006b) é essencial para esta análise, ou seja, responder uma pergunta que, com certeza, irá se interpor durante o andamento das discussões: “se os falantes de uma língua X não falam do mesmo modo, como é que eles se entendem?” Esse é a questão que se estabelece quando se faz uma análise de variação dialetal. Para os autores, algumas das formas estabelecidas para se responder a essa pergunta são as seguintes:

Uma maneira de se fazer isso é estabelecer uma relação biunívoca entre conteúdo e expressão, ou seja, é dizer que a expressão só pode ser na forma x (e as formas y, z e w são consideradas aberrações, desvios, erros, ou qualquer outra coisa). É basicamente isso que fazem os gramáticos prescritivistas/normativistas, que estabelecem uma única forma para a expressão. Esta é uma visão muito curiosa, pois não qualifica ninguém como falante de uma língua (já que ninguém fala o tempo todo na forma prescrita). Talvez seja uma solução interessante para as línguas mortas, mas não tem nada a ver com as línguas vivas. Outra ‘solução’ seria a de dizer que é sempre possível estabelecer uma relação biunívoca entre conteúdo e expressão para os vários dialetos de uma língua. Essa solução, embora menos ruim que a anterior, também não se qualifica, pela inexistência pura e simples de dialetos homogêneos. Na verdade, ela só desloca a ‘solução’ de um sistema superordenado (a língua) para um (ou mais) sistema(s) subordinado(s) (os dialetos). Uma terceira ‘solução’ (na verdade, a mais utilizada pela lingüística moderna) consiste em se lidar com sistemas abstratos (langue/competence) e se deixar de lado os dados reais (parole/performance). (LEE & OLIVEIRA, 2006a: p.14)

Dada a insuficiência dos sistemas supracitados, Lee & Oliveira (2006) apresentam uma proposta que visa resolver esse problema adaptando o mecanismo oferecido pela TO. Tal proposta discute a abordagem baseada na percepção e na produção, podendo, dessa forma contemplar devidamente a variação. Para eles, a variação seria determinada na percepção, que teria a função de “avaliar os contrastes máximos e identificar/categorizar os processos fonológicos”:

No caso da variação lingüística, os falantes selecionam individualmente uma, dentre as formas fornecidas pela variação, como forma subjacente; e esta seleção depende de itens lexicais específicos. Isso significa que cada indivíduo pode ter um input diferente para palavras em variação, conforme a Difusão Lexical27. Sendo este o caso, esse modelo abre um caminho para se lidar com a variação sonora pela atribuição à comunidade e, por conseqüência, à percepção individual. Ao mesmo tempo, o modelo impede a variação individual pela autorização individual da seleção do input de diferentes palavras e pela restrição de FIDELIDADE mais altamente ranqueada na produção individual. (LEE & OLIVEIRA, 2006a: p. 6)

A partir dessas observações, os autores apresentam exemplos que se relacionam aos dados com os quais estaremos trabalhando nos capítulos 3 e 4 desta dissertação. A partir da falta de contraste fonêmico nas posições átonas entre e, o ~ i, u ~ E, ç, os autores buscam

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A Difusão Lexical, conforme Lee & Oliveira (2006), “prevê que, nos casos de uma mudança lingüística, e da variação que a precede, o léxico seja atingido progressivamente”. Assim, os sons migram de uma classe Y para uma classe X, porém não de uma forma abrupta, uma vez que a mudança pode ocorrer para um falante, mas não para outro.

embasar a sua proposta. Conforme suas colocações, nessas posições, as vogais a, i, u no input sempre são mapeadas no output, o que demonstra que em relação a elas, a fidelidade sempre é o fator determinante. Assim, as restrições IDENT[+HIGH], IDENT[+LOW] e IDENT[αBACK] nunca são dominadas. Além dessas, a restrição IDENTSTR[HEIGHT, ATR], empregada na proposta de Lee & Oliveira (2003), que determina a preservação do contraste fonêmico na sílaba tônica, também deve ser mantida na posição mais alta do ordenamento.

Para explicar adequadamente as suas proposições, Lee & Oliveira (2006) utilizam o item lexical ‘moderno’, que apresenta a possibilidade de ocorrência das três situações o ~ u ~ ç na sílaba pretônica. Assim, teríamos m[o]derno, m[u]derno e m[ç]derno figurando como alternâncias no PB. Antes, porém, de aplicar a proposta aos candidatos a output, convém apresentar alguns elementos que a embasam.

No modelo de tableau utilizado pelos autores, identificamos semelhanças, tanto com a proposta de Anttila & Cho (1998), quanto com a proposta de Coetzee (2005). O ponto de corte, estabelecido por este como um elemento que garante a inviolabilidade das restrições à sua esquerda, ou melhor, que estabelece que os candidatos que violarem restrições à esquerda dele serão excluídos da listagem de outputs possíveis, permanece com essa função. A diferença em relação ao modelo de Coetzee (2005) é a adoção, para a gramática de percepção, que é onde se observa a variação, de um ranqueamento desprovido de dominação, parecido com a proposta de tableaux múltiplos de Anttila & Cho (1998) do lado direito do ‘ponto de corte’. Senão, vejamos:

Tableau 22 – Gramática de Percepção28

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Observe que, na gramática de percepção, todos os três candidatos foram contemplados como ótimos. Isso se deve à ausência de ordenamento estrito entre as restrições que se encontram à direita do ponto de corte.

Já na gramática de produção, há ordenamento estrito, mas só em relação à dominação das restrições de fidelidade sobre as restrições de marcação.Os inputs, contudo, variam. Uma vez que o falante seleciona uma das formas variantes da gramática de percepção como input e ordena as restrições de fidelidade acima das restrições de marcação, o output será sempre igual ao input. Vejamos:

Tableau 2329 – Gramática de Produção 1

Tableau 24 – Gramática de Produção 2

Tableau 25 – Gramática de Produção 3

Conforme a proposta desses autores, a gramática de produção só admite um output ótimo, aquele que satisfaz as restrições de fidelidade ranqueadas acima das restrições

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de marcação. Já a gramática de percepção admite todos aqueles que violam as restrições à direita do ‘ponto de corte’, haja vista a ausência de dominação estrita nessa fase.

Esse modelo nos parece bem adequado e flexível para lidar com os fenômenos ligados à variação.

No próximo capítulo, serão discutidos os dados que compõe o corpus deste trabalho. No capítulo 4, buscaremos analisar os dialetos das regiões Sul e Norte de Minas a partir das três últimas propostas discutidas aqui, além, é claro, do modelo clássico da teoria.