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C2 3 2 C3

Essa sobreposição é que pode determinar a variação, onde os dois ranqueamentos distintos, que podem ser produzidos nessas condições, determinam diferentes vencedores dentre aqueles candidatos fornecidos por GEN, a partir de um único input.

Embora se estabeleça como uma das melhores abordagens relacionadas à variação lingüística, a proposta de Boersma & Hayes (1999) não será aplicada a essa discussão por demandar um número maior de dados que aquele de que dispomos.

O corpus aqui utilizado será analisado sob três perspectivas. Primeiramente, o enfoque estará relacionado à TO clássica, já devidamente apresentada no primeiro capítulo desta. Posteriormente, serão elaboradas análises dentro das propostas variacionistas de Anttila & Cho (1998), de Coetzee (2005), a serem adequadamente explicitadas nas próximas seções.

Espera-se, assim, além de observar as possibilidades de discussão da questão da variação, expor as virtudes e dificuldades de cada uma delas, a exemplo do que já foi feito com aquelas propostas já descartadas nesta seção.

2.4.1.2 A proposta de Anttila & Cho (1998)

Anttila (1997) foi o primeiro a propor um modelo que enfocasse a variação sob as bases da TO. No artigo ‘Deriving Variation from Grammar’, caracterizado por ele como “uma tentativa de reconciliar a variação com a fonologia gerativa”, é lançada a primeira tentativa de aplicação de sua proposta. Após esse primeiro trabalho, já no ano seguinte, o artigo ‘Variation and Change in Optimality Theory’, escrito conjuntamente com Cho, apresenta uma discussão acerca de um fenômeno de variação e, ora, passamos a explicitá-la.

Em Anttila & Cho (1998), verificou-se a necessidade de se postular uma teoria que seja capaz de conectar fenômenos invariáveis e vaiáveis. Propõe-se, por isso, a partir da

TO, a utilização de ranqueamentos parciais para dar conta da variação, o que vem a resultar em múltiplos tableaux. Segundo os autores, são quatro as propriedades que determinam a gramática teórica da TO. Essas propriedades relacionam-se diretamente àquelas listadas na seção 1.2.3. São essas propriedades:

a) Irreflexibilidade: nenhuma restrição pode ser ranqueada abaixo ou acima de si própria.

b) Assimetria: se a restrição x é ranqueada acima da restrição y, ela não pode ser ranqueada abaixo de y;

c) Transitividade: se x é ranqueada acima de y e y é ranqueada acima de z, então x é ranqueada acima de z.

d) Conectividade: toda restrição é ranqueada com relação a todas as outras restrições.

De acordo com a proposta do ordenamento parcial, as gramáticas das línguas não estariam conectadas, abolindo, dessa maneira, a propriedade (d). Isso permitiria acomodar de maneira confortável a variação existente entre os dialetos em estudo.

Seriam conseqüências teóricas da hipótese de ordenamento parcial:

Primeiro, o conjunto de gramáticas possíveis inclui tanto sistemas invariáveis quanto variáveis. (...) Segundo, a teoria do ordenamento parcial acomoda tanto os julgamentos categoriais, quanto as preferências, sem abolir a distinção entre gramaticalidade e agramaticalidade. (ANTILLA & CHO, 1998: p. 39)

Para construir-se um tableau a partir de um ordenamento parcial, deve-se primeiro estabelecer um ranqueamento total. Iriam sendo removidas uma a uma, então, as hierarquias, até ser possível contemplar devidamente a variação.

A partir das observações feitas pelos autores a partir de três restrições, *CODA, ONSET e FAITH, procuraremos demonstrar de que maneira essas restrições podem interagir de maneira a dar conta de fenômenos de variação.

Nas análises de Anttila & Cho (1998), verificou-se, a partir do fenômeno de variação do r-∅ no inglês, que as restrições supracitadas constituíam-se como essenciais para explicá-lo. Resumindo as observações16 acerca do fenômeno, detectou-se o seguinte:

a) apagamento de ‘r’ antes de consoante (Home<r>17 left.);

b) inserção de ‘r’ entre vogais heterossilábicas adjacentes (Wanda[r] arrived.);

c) sem apagamento antes de vogal (Homer arrived.); d) sem inserção antes de consoante (Wanda left.).

De acordo com Anttila & Cho (1998, p. 33) “a generalização intuitiva é a de que /r/ é favorecido antes de vogais, mas desfavorecido antes de consoantes”.

Verificou-se a existência de três sistemas invariantes, A, B e C, relacionados às variáveis acima descritas.

Tabela 6 – Sistemas invariantes

(a) (b) (c) (d)

A Wanda left Homer left Wanda arrived Homer arrived

B Wanda left Home<r> left Wanda arrived Homer arrived

C Wanda left Home<r> left Wanda[r] arrived Homer arrived

16

Os exemplos apresentados nesta seção, bem como os tableaux, foram extraídos de ANTTILA & CHO (1998).

17

Onde há apagamento de ‘r’ antes de consoante, verifica-se que a restrição *CODA (sílabas não devem ter coda), está ativa. Em casos de inserção de ‘r’ entre vogais heterossilábicas adjacentes, a restrição que age é ONSET (sílabas devem ter onset). E, finalmente, quando nada ocorre, observa-se que FAITH (não apague, não insira) interfere.

No dialeto A, FAITH apresenta-se como a restrição mais importante. No dialeto B, *CODA parece ser a restrição mais alta. Já no dialeto C, FAITH fica submetido a *CODA e ONSET. A diferença entre os três sistemas está na posição relativa ocupada por FAITH, uma vez que é certo que *CODA sempre domina ONSET. Senão, vejamos:

Tableau 14 – Dialeto A

Dialeto A FAITH *CODA ONSET (a) Wanda left

Wanda[r] left *! * (b) Homer left * Homer<r> left *! (c) Wanda arrived * Wanda[r] arrived *! (d) Homer arrived Homer<r> arrived *! * Tableau 15 – Dialeto B

Dialeto B *CODA FAITH ONSET (a) Wanda left

Wanda[r] left *! * (b) Homer left *! Homer<r> left * (c) Wanda arrived * Wanda[r] arrived *! (d) Homer arrived Homer<r> arrived *! * Tableau 16 – Dialeto C

Dialeto C *CODA ONSET FAITH (a) Wanda left

Wanda[r] left *! * (b) Homer left *! Homer<r> left * (c) Wanda arrived *! Wanda[r] arrived * (d) Homer arrived Homer<r> arrived *! *

Realmente, através dos três tableaux, é possível verificar que *CODA sempre domina ONSET. Essa é uma generalização que é possível fazer: *CODA >> ONSET. A partir dessa generalização, constrói-se um sistema capaz de explicitar as relações existentes e conter as três gramáticas. A árvore (8) representa essa possibilidade.

Nessa árvore, existem três níveis. O nível superior é a raiz, os nós constituem nível intermediário, e o terceiro nível é constituído por folhas. As três folhas da árvore referem-se aos sistemas invariantes, ou seja, aos dialetos A, B e C. Os nós constituem as gramáticas em variação, alimentando os dialetos. Já a raiz constitui-se como membro essencial tanto dos nós, quanto das folhas. Isso pode ser observado em cada um dos tableaux apresentados nesta seção.