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Paulo Freire, em suas obras, propõe uma pedagogia libertadora; pedagogia porque coloca a educação como processo possível de ser partilhado com o mundo e com os homens e, libertadora, porque implica na consciência crítica em todo o processo de conhecimento. “Na medida em que os homens criticizam libertam-se na construção e transformação de si mesmos e do mundo.” (HEIDEMANN, 2006, p. 72)

A constante preocupação com a situação de opressão dos homens levou o educador a pensar em uma pedagogia que promovesse o fortalecimento do homem para que conseguisse enfrentar o medo da liberdade. Segundo ele:

Os oprimidos, que introjetam a “sombra” dos opressores e seguem suas pautas, temem a liberdade, na medida em que esta, implicando na expulsão desta sombra, exigiria deles que “preenchessem” o “vazio” deixado pela expulsão com outro “conteúdo” – o de sua autonomia. O de sua responsabilidade, sem o que não seriam livres. A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige uma permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Não é também a liberdade um ponto ideal, fora dos homens, ao qual inclusive eles se alienam. Não é idéia que se faça mito. É condição indispensável ao movimento de busca em que estão inscritos os homens como seres inconclusos. (FREIRE, 2008, p. 37).

Freire entende que a vida humana está além da opressão presente na sociedade. Propõe um comprometimento com a ética de emancipação e libertação dos homens e da sociedade, indo ao encontro com o conceito atual de promoção à saúde por fazer com que a população reflita sobre suas condições de vida e assim possa promover mudanças significativas para sua saúde.

Entendemos que o pensamento crítico leva ao empoderamento emancipando os indivíduos, neste sentido, Freire (2002, p. 24) afirma que o educador deve estar “constantemente advertido” para primar pelo respeito na relação com seus alunos, respeito igual ao que deve ter por si mesmo. Com o diálogo verdadeiro e através da convivência com a diferença, os indivíduos aprendem e o crescem.

Vários são os conceitos trabalhados por Freire em suas obras. Encontramos de forma mais intensa os conceitos de homem, diálogo, cultura, conscientização, transformação, práxis, opressor-oprimido, educação bancária, educação libertadora, emancipação e círculo de cultura (FREIRE, 1987; 2006; 2008).

A filosofia de educação de Freire destaca a conscientização e o diálogo como elementos fundamentais para que haja a emancipação dos indivíduos. Ressalta que para haver diálogo é necessário amor, humildade, fé, esperança e confiança. Segundo (FREIRE, 2008)

O diálogo é o encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo, o “pronunciam”, isto é, o transformam, e transformando-o, o humanizam para a humanização de todos. (FREIRE, 1987, p. 43).

Para Cestari (1999), na teoria freireana, o diálogo é compreendido como a essência da pedagogia libertadora, sendo uma situação gnosiológica e se definindo como a essência do conhecimento.

Freire (1985) descreve educação como comunicação, como diálogo sem a transferência do saber, mas com busca mútua de significar os significados.

De acordo com o pensamento de Freire (1997), a educação pode ser bancária ou problematizadora. Na bancária o educador é o sujeito e os educandos meros objetos. Os educandos, receptáculos vazios, carentes de saber; o educador o ser pensante, que disciplina e informa. Já na problematizadora, ambos são seres históricos, educador e educando aprendem juntos, numa relação "dialógico-dialética".

sobre a realidade, partindo das situações vivenciadas e retornando a elas com um pensar crítico. Através da reflexão crítica se constrói o conhecimento e a cultura (FREIRE, 2005).

A tendência, então, do educador-educando como dos educandos-educadores é estabelecerem uma forma autêntica de pensar e atuar. Pensar-se a si mesmos e ao mundo, simultaneamente, sem dicotomizar este pensar da ação. (FREIRE, 2008, p. 82)

Nesta concepção, o conhecimento não advém de um ato de transferência que o educador faz ao educando, mas sim, através da criação de “possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1987, p. 47).

Ancorada em outra concepção de homem e de mundo, supera-se a relação vertical, estabelecendo-se a relação dialógica. O diálogo supõe troca, os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. E "[...] o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa." (FREIRE, 2008, p. 79)

Como resultado desse processo, advém um conhecimento que é crítico, porque é obtido de forma autenticamente reflexiva e implica no ato permanente de desvelar a realidade, posicionando-se nela. O saber construído dessa forma percebe a necessidade de transformar o mundo, porque assim os homens se descobrem como seres históricos.

Ao falar de alfabetização o educador coloca que “a alfabetização não pode se fazer de cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doação ou uma exposição mas de dentro para fora pelo próprio analfabeto, somente ajustado pelo educador.” (FREIRE, 1987, p. 72). Por isso procurou um método que servisse também como instrumento do educando. Um método para a alfabetização de adultos, que envolvesse o universo de quem estava para se alfabetizar.

Pensávamos numa alfabetização que fosse ao mesmo tempo um ato de criação, capaz de gerar outros atos criadores; uma alfabetização na qual o homem, que não é passivo nem objeto, desenvolvesse a atividade e a vivacidade da invenção e da reinvenção, características dos estados de procura. (FREIRE, 2006, p. 47).

Nesta tentativa de alfabetização desenvolveu os círculos de cultura, onde os participantes têm encontros e reencontros com o mundo em que vivem, que é comum a todos, sendo o diálogo aquele que promove e leva à crítica. No círculo não há professor e não se ensina, o aprendizado é recíproco, o coordenador aprende com os outros participantes e estes com ele e com todo o grupo (FREIRE, 2008).

A realização de círculos de cultura propostos por Paulo Freire em seu método é um meio viável de promoção à saúde através da problematização e do desvelamento dos temas. Nele, os participantes se dispõem geometricamente em círculo, tendo a possibilidade de olhar um para o outro. O mediador exercita com o grupo o diálogo de questões envolvendo o trabalho, a cidadania, a cultura, a ética, a saúde entre outras. Sua concepção de círculo de cultura é a de espaço democrático, construído com os participantes, onde ao mesmo tempo que os saberes são construídos, a emancipação dos indivíduos é estimulada.

Ao comentar da vocação do homem em ser sujeito, Freire (1987) atrela o seu desenvolvimento à reflexão sobre as condições de espaço e tempo em que está inserido.

A reflexão sobre a sua situação existencial está diretamente relacionada com o emergir da consciência onde o homem deixa de ser mero expectador e compromete-se com a sua realidade.

Ressalta a importância do educador humano e solidário agir em prol da libertação dos homens, afirma que “os homens são pessoas e enquanto pessoas devem ser livres” (FREIRE, 2006, p. 69).