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A Proposta de Unificação Elaborada pelo Grupo de Trabalho da Câmara de

CAPÍTULO V. A CONSTRUÇÃO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

5.2 A Proposta de Unificação Elaborada pelo Grupo de Trabalho da Câmara de

De acordo com Miriam Belchior (2003b e 2003c:1-2), a proposta foi construída por meio dos trabalhos e discussões realizadas em reuniões setoriais promovidas pelo GT junto aos ministérios que detinham programas de transferência de renda37. O objetivo das reuniões setoriais era apresentar o diagnóstico sobre as políticas sociais que haviam sido discutidas na CPS em abril e manter um diálogo mais direto com os gestores, discutindo o processo de unificação de cada um dos programas de forma mais específica. (2003d).

Para Miriam Belchior, as reuniões setoriais foram frutíferas, pois resultaram em vários avanços e produtos considerados fundamentais para sedimentar a elaboração da proposta final de unificação. Dentre estes avanços e produtos destacam-se:

(i) a elaboração de uma proposta preliminar, por parte do MPAS, na qual já constavam alguns elementos essenciais para a construção da proposta final, tais como: as características gerais do programa unificado, os benefícios, as condicionalidades associadas, os procedimentos para o monitoramento do cumprimento das condicionalidades e a forma de gestão;

(ii) a construção pelo GT de um conjunto de 10 cenários diferentes de composição de benefícios e de seus valores de transferência, que após apresentação aos secretários-executivos dos ministérios diretamente envolvidos resultou na elaboração de outra proposta contendo cinco

37 Bolsa Escola no Ministério da Educação; Bolsa Alimentação no Ministério da Saúde; Vale Gás no Ministério de Minas e Energia; Cartão Alimentação no Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome; Agente Jovem e PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) no Ministério da Assistência e Promoção Social; e Bolsa Renda no Ministério da Integração Nacional.

cenários que seria apresentada na próxima reunião da CPS que seria realizada em 12 de junho.

(Brasil, 2003d:1)

O quadro a seguir apresenta a primeira proposta do novo programa construída a partir das discussões nas reuniões setoriais. (Brasil, 2003d: 4).

Quadro 4 – Detalhamento da Proposta Básica Apresentada em abril de 2003

Especificações Proposta

Programas a serem

unificados

Bolsa Família (MEC) • Cartão Alimentação (MESA) • Bolsa Alimentação (MS • Vale-Gás (MME)

• Agente Jovem e PET – (MPAS)

Objetivos

• Combater à fome e promover a segurança alimentar e nutricional; • Combater à pobreza e outras formas de privação das famílias;

• Promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial, saúde, educação e assistência social; e

• Criar possibilidade de emancipação sustentada dos grupos familiares e de

desenvolvimento local dos territórios, por meio de transferência de renda monetária para famílias em situação de pobreza e de pobreza extrema.

Definição de Contrapartidas

Estabelecimento de condicionalidades, como um instrumento para incentivar o desenvolvimento das capacidades individuais das famílias apoiadas, a fim de criar condições de emancipação sustentada

Gestão Compartilhada com Estados e Municípios e com a participação da comunidade no acompanhamento de suas ações e na seleção dos beneficiários

BenefícioFinanceiro Estabelecimento de um valor de repasse financeiro limite (teto) por família e o benefício financeiro seria constituído de dois tipos de transferência:

Transferência básica – um valor fixo para famílias com renda per capita abaixo da

linha de extrema pobreza (R$ 50,00).

Transferência variável – incentivos seletivos para famílias com crianças e adolescentes

(0 a 17 anos) com renda per capita abaixo da linha de pobreza (R$ 100,00).

Sistemática do pagamento do benefício

Realização de pagamentos mensais, pago por intermédio de um cartão bancário com um número de identificação único. (cartão garantiria a realização de quatro movimentações mensais de saques, pagamentos e extratos. As famílias deveriam movimentar os recursos ao menos uma vez a cada três meses);

O responsável pelo recebimento dos benefícios familiares seria, preferencialmente, a mulher;

Previsão de formas de assegurar a continuidade do pagamento em caso de mudanças da família para outros municípios e em caso de falecimento do responsável pelo recebimento.

Abrangência do programa

e critérios para

implantação

Abrangência Nacional

Definição de critérios para a implantação gradativa nos municípios em função de restrição orçamentária

Estabelecimento pelo governo federal de atendimento por município. Em casos específicos, (pactuação com entes federados, ou quando atendimento ocorrer em áreas prioritárias) poderá haver a cobertura total da população alvo. .

Forma de cadastramento dos beneficiários

A seleção dos beneficiários seria realizada por agentes locais de acordo com os critérios estabelecidos pelo Governo Federal.

O acompanhamento e a validação da seleção de beneficiários seriam feita por um comitê gestor local

Critérios para a suspensão e de desligamento das famílias beneficiadas

Não cumprimento das condicionalidades, com sanções gradativas.

Não cumprimento da Contrapartida da família, pela aplicação do princípio de solidariedade setorial ou, na visão do Ministério da Educação, pela aplicação do princípio de solidariedade total no caso de descumprimento das condicionalidades da educação. . Neste caso deveria haver uma correspondência entre o número de vezes de

não cumprimento das condicionalidades e respectivas sanções.

Realização de advertências antes de proceder à suspensão dos benefícios, sendo que sua aplicação deveria ocorrer entre as verificações do cumprimento das condicionalidades. Exclusão definitiva do programa se a família deixasse de cumprir uma das condicionalidades por três vezes e/ou se fraudasse as informações fornecidas.

Controle das

Condicionalidades

Responsabilidade dos Ministérios Setoriais (MEC, MESA, MAPS e MS) que realizariam auditorias, por amostragem, das informações de entrada e de cumprimento das condicionalidades

Fonte: Brasil, 2003d:1.

Como pode ser observada nas informações expostas no Quadro 4, a proposta básica apresentada já era extremamente detalhada, especificando até mesmo a forma de gestão e os critérios para o desligamento das famílias beneficiadas. O elevado detalhamento da proposta demonstra que, de fato, o acerto da estratégia de realização de reuniões setoriais que, ao que tudo indica, teria facilitado o diálogo, o encontro de consensos e a obtenção de informações para elaboração desta proposta preliminar.

Na Figura apresentada a seguir, encontram-se detalhadas as condicionalidades e as recomendações trazidas no âmbito da proposta preliminar. Observa-se que as condicionalidades foram divididas e especificadas de acordo com a vulnerabilidade do grupo populacional. Dessa forma, foram pensadas condicionalidades na área da saúde para gestantes, nutrizes e crianças de zero a seis anos e para os outros grupos – crianças na faixa de sete a 14 anos, adolescentes de 15 a 17 anos jovens e adultos com mais de 18 anos – foram definidas condicionalidades nas áreas de educação e segurança alimentar. Aqui também é importante ressaltar, que tal detalhamento não teria sido possível sem a participação e o contato direto com as áreas setoriais.

Figura 2 - Detalhamento das Condicionalidades

Grupo populacional Ação Critério

Programa de atenção pré-natal Seis

Vacinação Em dia

Nutrizes Atendimento pós-natal Um

< 1 ano - 7 (por ano) 1 a 2 anos - 2 (por ano) 2 a 6 anos - 1 (por ano)

Calendário vacinal Em dia

** Acompanhamento em saúde Forte recomendação

** Calendário vacinal Forte recomendação

Frequência à escola mínimo de 90%

Proibido trabalhar ----

** Acompanhamento em saúde Forte recomendação

Frequência à escola mínimo de 90%

** Acompanhamento em saúde Forte recomendação

Alfabetização Dependendo da oferta.

Participação em atividades de educação alimentar Dependendo da oferta. Crianças de 7 a 14 anos

Adolescentes de 15 a 17 anos

Condicionalidades e Recomendações

Gestantes

Crianças de 0 a 6 anos Acompanhamento em saúde

Maiores de 18 anos

A condicionalidade de orientação alimentar e nutricional se refere a toda família e não apenas a maiores de 18 anos

Fonte: (Brasil, 2003d: 4).

Como a conjuntura era de incerteza quanto à disponibilidade orçamentária para definir a dimensão do novo programa, a proposta preliminar apresentou cinco cenários para sua implementação, sendo que cada um deles contemplava uma composição de valores e de benefícios diferentes. (Brasil, 2003d: 5).

Observa-se que, nos cenários apresentados, o valor da transferência fixa quase não sofre alteração, sendo sempre de R$ 50,00, exceto no quarto cenário, mais otimista, que se propõe um repasse de R$ 75,00. Na verdade, as alterações nos cenários referem-se, majoritariamente, à transferência variável, que na maior parte das propostas era de R$ 15,00 para beneficiar, no máximo 03 pessoas por família de zero a 14 anos. O cenário 2 propôs uma transferência variável da ordem de R$ 25,00, enquanto o cenário 3 inovava ao propor um repasse variável de R$ 50,00 para adolescentes de 15 a 17 anos.

Quadro 5 – Cenários apresentados na proposta preliminar (abril/2003)

1) Transferência fixa de R$ 50,00 e transferência variável para crianças e adolescentes de 0 14 anos no valor de R$ 15 até no máximo de 3 por família;

2) Transferência fixa de R$ 50,00 e transferência variável para crianças e adolescentes de 0 14 anos no valor de R$ 25 até no máximo de 3 por família;

3) Transferência fixa de R$ 50,00 e transferência variável para crianças e adolescentes de 0 14 anos no valor de R$ 15 reais até no máximo de 3 por família e transferência variável de R$ 50,00 para jovens de 15 17 anos;

4) Transferência fixa de R$ 75,00 e transferência variável para crianças e adolescentes de 0 14 anos no valor de R$ 15 até no máximo de 3 por família; e

5) Como cenário complementar, considerando uma Linha de pobreza maior (R$ 150,00 per

capita) Transferência fixa de R$ 50,00 e transferência variável para crianças e adolescentes

de zero 14 anos no valor de R$ 15 até no máximo de 3 por família; Fonte: (Brasil, 2003d: 5).

Por fim, esta proposta sugeria a criação de um Grupo de Trabalho (GT) específico e formalizado com participantes dos ministérios envolvidos diretamente (MAPS, MESA, MME, MEC e MS), Casa Civil, Ministério do Planejamento, Ministério da Fazenda, IPEA, CEF e Assessoria Especial do Presidente (AESP) para avançar no desenho do novo programa. Os participantes deste GT deveriam ter dedicação parcial exclusiva à tarefa, garantindo o envolvimento efetivo dos órgãos e rapidez no desenvolvimento das atividades estabelecidas.

5.3. Proposta de Integração de Programas Elaborada pelo Ministério Extraordinário de