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A Propriocepção na Prevenção de Lesões no Futebol

4.9. Fisioterapia Preventiva no Futebol

4.9.1. A Propriocepção na Prevenção de Lesões no Futebol

Durante a prática do futebol é necessário à realização de mudanças variadas de movimentos; normalmente essas mudanças inesperadas ocorrem a cada seis segundos (COHEN et al., 1997).

As informações sobre o grau de modificação mecânica das estruturas articulares captadas pelos mecanorreceptores são enviadas ao SNC, sendo processadas, auxiliando na detecção do movimento e no conhecimento da posição da articulação no espaço (FOSS; KETEYIAN, 2000).

A propriocepção é formada por informações e mecanismos que contribuem para a estabilidade articular e para diversas sensações conscientes (FOSS; KETEYIAN, 2000). Os proprioceptores são estruturas base dessa capacidade e desempenham um papel determinante para o atleta efetuar de forma segura, eficiente e tecnicamente ajustada os diferentes gestos desportivos (BRITO; SOARES; REBELO, 2009).

A propriocepção está relacionada com a consciência postural, onde informações dadas ao sistema nervoso através de vias aferentes que indicam o grau de tensão muscular, grau de alongamento muscular e posição do corpo são captadas por mecanorreceptores presentes nas articulações (MARTIMBIANCO et al., 2008).

Segundo Souza e colaboradores (2006), em condições normais, o equilíbrio postural se faz pela integração de impulsos sensoriais visuais, vestibulares e proprioceptivos nos centros superiores do SNC, ativando, o sinergismo muscular apropriado para a execução da atividade desejada. Os proprioceptores articulares demonstraram papel importante na percepção de posição articular, no aumento da atividade motora, e na evolução clínica de indivíduos com instabilidade funcional.

Através da propriocepção o indivíduo consegue manter a estabilidade articular durante movimentos dinâmicos, logo ela proporciona o controle de movimento desejado e estabilidade articular (ARDILA; VILLEGAS 2007).

A função proprioceptiva é fundamental para um bom desempenho desportivo, porque melhora o nível de execução dos movimentos e as habilidades motoras. Indivíduos com déficits nestas características tendem a possuir menor rendimento desportivo (PORTELA, 2010).

Exercícios de condicionamento neuromuscular e treinamento proprioceptivo podem ser utilizados como meio para a prevenção de lesões desportivas (BALDAÇO et al., 2010). Existe evidência de que o treino reduz a incidência significativa de algumas lesões (DOMINGUES, 2008).

O risco de se desenvolver lesões existe em todas as práticas desportivas (DOMINGUES, 2008). Em modalidades com aquisições técnicas elevadas como o futebol, o desafio sistemático dos atletas, passa por dominar as suas próprias ações. Logo a função proprioceptiva é fundamental no desempenho desportivo, porque proporciona ao atleta a evolução para níveis de execução mais elaborados e suportar a emergência de novas habilidades motoras, sendo que a quebra dessa função representa diminuição do rendimento desportivo (PORTELA, 2010).

A capacidade proprioceptiva do indivíduo pode ser alterada negativamente em situações de lesões ou de fadiga muscular, causando maior risco para desenvolvimento de alterações posturais, quedas e no surgimento de novas lesões por instabilidade articular (ANJOS, 2011).

Pesquisas relacionando a fadiga ao desequilíbrio em jogadores de futebol ainda são escassas, porém pode-se afirmar que a fadiga imposta durante uma partida de futebol afeta o equilíbrio estático em jogadores de futebol (GOMES et al., 2013).

Isto porque a fadiga é capaz de diminuir a capacidade de propriocepção a partir de esforços extenuantes, levando a diminuição de percepção da posição articular (RIBEIRO; OLIVEIRA, 2008). Logo, esse procedimento pode ser um possível mecanismo para as alterações do equilíbrio em situações de fadiga em atletas de futebol (GOMES et al., 2013).

Barroso e Thiele (2011), também afirmam que a propriocepção humana pode ser deteriorada pela fadiga e acrescentam dizendo que teoricamente isso se torna uma das causas para a diminuição das respostas motoras.

Ribeiro e colaboradores (2008) concordam com os autores anteriores e ainda resaltam que devido ao fato da fadiga muscular alterar negativamente a propriocepção e o controle

postural há consequentemente um aumento na possibilidade de ocorrência de lesões. Nos esportes, a propriocepção pode ser alterada por um período agudo de exercício, de maneira que mudanças transitórias no controle neuromuscular podem, posteriormente, exacerbar o risco de lesão.

De acordo com Silvestre e Lima (2008), o comprometimento do sistema proprioceptivo leva a um déficit na estabilização articular neuromuscular, que pode contribuir para a ocorrência de lesões como distensão excessiva das cápsulas e ligamentos articulares e, consequentemente, para a desestabilização postural. Em futebolistas, o déficit proprioceptivo é observado principalmente nas lesões articulares de tornozelo, causados por mecanismos comuns como a entorse ou por contusões em traumas diretos por outro adversário.

Estudos também revelam que a existência de déficits na propriocepção podem ocorrer devido, principalmente, a lesões cápsula-ligamentares e musculoesqueléticas decorrentes de traumas, entorses e fraturas (BONFIM; PACCOLA, 2000), provavelmente resultam em alterações do “input” neural oriundos dos mecanorreceptores localizados nos ligamentos, articulações, tendões e músculos, capaz de influenciar o controle da postura, tônus muscular e programas de ação motora (RIBEIRO; OLIVEIRA, 2008).

Esses déficits nos mecanismos proprioceptivos estão associados a um declínio do desempenho funcional, predispondo o atleta ao desenvolvimento de lesões ou a recorrência da mesma (BALDAÇO et al., 2010).

Carvalho e colaboradores (2009) concordam com os autores anteriores e também dizem que déficits proprioceptivos predispõem ao desenvolvimento de distúrbios musculoesqueléticos por alterar o controle dos movimentos e impor estresse anormal nos tecidos relacionados.

Souza e colaboradores (2010), também concordam com os outros autores e afirmam que há existência de alguma perturbação do sistema proprioceptivo se torna um fator importante para a ocorrência de instabilidade articular e perda de desempenho funcional, principalmente em atletas. Porém, ainda existem lacunas na literatura com relação aos métodos de avaliação da propriocepção, assim como as medidas de intervenção fisioterapêutica e a sua aplicação preventiva mais eficiente.

Alguns tipos de lesões que ocorrem durante o desporto podem ter sua incidência reduzida através de exercícios apropriados como, por exemplo, os exercícios de condicionamento proprioceptivos (SOUZA et al., 2010).

Programas de treinamento proprioceptivo têm sido bastante utilizados no meio esportivo tanto na prevenção, como na reabilitação das lesões (BALDAÇO et al, 2010). Há

uma concordância entre as afirmações dos autores anteriores e a de Antes e colaboradores (2009), porém o presente autor acrescenta dizendo que devido ao fato de proporcionar uma maior estabilidade dinâmica (caracterizada pela capacidade de retomar uma posição após uma alteração), os programas de exercícios proprioceptivos são indicados tanto para a manutenção do equilíbrio quanto para a prevenção de lesões.

O uso do treino proprioceptivo demonstra eficiência na prevenção de lesões em diferentes estudos, por proporcionar maior proteção articular e muscular dos membros inferiores. A prevenção se mostra eficiente em reduzir o número de lesões por temporada ou reduzir o tempo de afastamento dos atletas (MONTENEGRO, 2012). Grandes clubes europeus há muito tempo utilizam no seu treinamento algumas medidas com objetivo de prevenir futuras lesões (PASSOS, 2007).

Uma pessoa que possui boas respostas proprioceptivas tem a maior capacidade dos segmentos corporais em perceber por si próprio sua posição (ângulo) no espaço e a velocidade de modificação de seu esquema motor, logo a incidência de lesões em uma população bem treinada provavelmente será menor (MOTA et al., 2010).

Esta explanação tem sido confirmada na literatura por meio da ideia de que o risco de lesão no esporte está associado a parâmetros de propriocepção, controle neuromuscular, flexibilidade, habilidades, força e equilíbrio. Assim, estratégias de prevenção são primariamente recomendadas e aplicadas para modificar estes fatores de risco (MOTA et al., 2010).

Galeazzi (2010) afirma que o treino proprioceptivo proporciona maior estabilidade articular durante os movimentos desportivos, podendo reduzir a incidência de lesões, melhorar os gestos desportivos. Com isso ele pode melhorar a eficiência técnica e a economia do movimento.

Montenegro (2012) em sua revisão de literatura observou que uso do treinamento proprioceptivo é eficiente em diferentes estudos para a prevenção de lesões, por trazer maior proteção articular e muscular dos MMII. Mesmo que não se possa impedir que a lesão ocorra devido aos diferentes mecanismos que geram lesões, a prevenção se torna eficiente em reduzir o número de lesões por temporada ou reduzir o tempo de afastamento do atleta.

Lopes (2008), diz que o treino proprioceptivo pode ser utilizado na prevenção do surgimento de lesões além de ser eficiente na prevenção de recorrência das mesmas. Todavia ele resalta a importância durante a prevenção de recorrências, porque esse treino tem mostrado bons resultados, por estar direcionado para uma estruturação da zona lesionada, fortalecendo novamente os músculos e ligamentos, consequentemente fortalecendo a

proprioceptividade das estruturas danificadas, permitindo ao SNC uma resposta mais rápida frente aos vários estímulos.

Não existe na literatura divergências com relação à importância do treino proprioceptivo no esporte. Há evidência de que o treino seja eficiente na prevenção de lesões como a entorse de tornozelo. Logo, o treino proprioceptivo é indispensável na abordagem terapêutica, principalmente na prevenção de lesões que causem instabilidades (RESENDE; SOUZA, 2012).

O treino proprioceptivo tem demonstrado eficiência na prevenção de lesões de ligamento cruzado anterior em futebolistas. Esse treinamento deve procurar enfatizar sempre a adoção da técnica ajustada na execução das habilidades (BRITO; SOARES; REBELO, 2009).

Há um consenso entre os autores em relação à importância do treinamento proprioceptivo na prevenção de lesões em MMII (SOUZA et al., 2010). Resende e Souza (2012) concordam com os autores anteriores e resaltam que apesar de haver consenso sobre a importância do treinamento proprioceptivo na abordagem preventiva e conservadora de lesões desportivas, mais estudos devem ser realizados para se encontrar qual treino proprioceptivo é mais eficaz.

No Brasil a maior parte dos treinos proprioceptivos é realizada para recuperar a musculatura lesionada. Poucos profissionais utilizam o treino como forma de prevenção. Existem poucos estudos revelando a importância do treino proprioceptivo na prevenção de lesões em atletas, porém os estudos existentes revelam que os resultados são cada vez mais relevantes, pois demonstram uma significativa diminuição de lesões em MMII na população estudada. Deve-se resaltar a importância do treino ser direcionado a modalidades específicas para que os resultados se mostrem mais eficientes (SILVA, 2011).

Programas de treino baseados em equilíbrio e propriocepção devem ser incorporados em equipes de futebol, objetivando que os atletas possuam melhor resposta articular frente os exercícios dinâmicos realizados durante uma prática desportiva, prevenido assim o desenvolvimento de lesões desportivas e as suas complicações (COSTA, 2011).

Infelizmente muitos atletas profissionais e principalmente de categorias amadores não possuem conhecimento acerca dos benefícios que o treino proprioceptivo proporciona. Isto pode sugerir uma falta de atenção e interesse sobre a importância da utilização destes tipos de exercícios na prevenção e no tratamento de lesões por parte dos atletas e da equipe de profissionais que fazem parte desses clubes no contexto esportivo do futebol (VIEIRA; SIQUEIRA; SILVA, 2009).

Souza e colaboradores (2010) ao final do seu estudo ressaltam a existência de diversos métodos clínicos para o treinamento proprioceptivo, como um ponto positivo no processo de prevenção devido a grande variedade de gestos atléticos.

O treino proprioceptivo tem vindo a assumir um papel decisivo como fator integrante dos programas de prevenção de lesões no futebol (BRITO; SOARES; REBELO, 2009).

O sistema proprioceptivo pode condicionar-se através de exercícios específicos para responder com maior eficácia de forma a melhorar a força, a coordenação motora, o equilíbrio e tempo de reação a determinadas situações (CONDUTA, 2012).

Estes exercícios baseiam-se em situações nas quais a variabilidade e a instabilidade são dois fatores constantes, pelo que se sugere que decorram em superfícies móveis, com diferentes graus de dureza, com apoio unipodal e ainda com e sem referências visuais (BRITO; SOARES; REBELO; 2009).

Segundo Passos (2007), esse tipo de treino tem como base a ativação de grupos musculares, tendões, ligamentos e cápsulas articulares, tendo especial preponderância em um programa de aquecimento antes de um jogo ou treino, visando à estabilização das estruturas envolvidas e o melhoramento do controle postural.

Para Costa (2011), um treino de equilíbrio proprioceptivo baseia-se na ativação adequada de grupos musculares, tendões, ligamentos e cápsulas articulares. O uso de placas oscilatórias durante este treino tem a capacidade de reduzir o número de lesões nos membros inferiores.

Antes e colaboradores (2009) dizem que esse treino é capaz de proporcionar uma maior estabilidade dinâmica, que é caracterizada pela capacidade de retomar a uma posição após uma alteração. Esse programa de exercícios é indicado tanto para a manutenção do equilíbrio quanto para a prevenção de lesões.

Plentz (2008) afirma que o treino proprioceptivo aplicado por um curto período de tempo, com pouca frequência semanal é eficiente para diminuição da incidência de lesões musculoesqueléticas em MMII, quando se utiliza um protocolo de exercícios buscando o aprimoramento do nível proprioceptivo dos atletas, submetendo-os a desequilíbrios oferecidos por instrumentos que sejam instáveis.

Brito, Soares e Rebelo (2009), destacam que o treino proprioceptivo é um treino prático, rápido e que não necessita da utilização de equipamentos de alto custo se tornando um fator importante em programas de prevenção de lesões no futebol. Eles ainda sugerem que esse treino deve ser composto por três sessões de treino por semana, com duração de 15 a 30 minutos por sessão.

Antes de cada sessão de treino, propõe-se a realização de um aquecimento dinâmico, que incorpore movimentos específicos da modalidade, realizados em baixa intensidade para melhor preparar o organismo para as exigências do treino.

Mota e colaboradores (2010) realizaram um estudo mostrando que o treino proprioceptivo é eficaz na prevenção de lesões em MMII durante uma temporada competitiva. Eles ainda destacam que intervenções pequenas e de baixo custo, podem aumentar e melhorar a participação dos atletas durante uma temporada.

Cumps, Verhagen e Romain (2007), em seu estudo observaram que a implementação de um programa de treinamento proprioceptivo resulta em efeitos benefícios na prevenção de entorses de tornozelo em atletas. Eles relatam que a complexidade dos exercícios deve evoluir ao longo das semanas, iniciando o treinamento com exercícios mais simples e com maior facilidade para serem executados, normalmente sem a utilização de equipamentos e terminando o protocolo utilizando exercícios melhor elaborados e com maior grau de dificuldade na sua realização.

Atividades simples de propriocepção podem prevenir importantes lesões em jogadores, sem que haja necessidade de muita frequência semanal e tempos mínimos de sessões que não interferem na rotina de treinamentos dos atletas, nem na programação da comissão técnica (MOTA et al., 2010).

Baldaço e colaboradores (2010) concordam com afirmação de que os exercícios proprioceptivos devem possuir diferentes graus de dificuldade, evoluindo para a etapa posterior apenas quando os exercícios anteriores se tornarem de fácil execução. Para o autor esse treinamento é um método efetivo para melhorar o equilíbrio e a estabilidade postural e também na prevenção de lesões corporais dos praticantes. Estes exercícios podem ser realizados de diferentes formas utilizando vários tipos de equipamento ou até mesmo sem a necessidade de nenhum recurso externo, na posição unipodal ou bipodal e ainda com e sem a referência visual.

Galeazzi (2010) também concorda que o treino proprioceptivo deve ser progressivo evoluindo de exercícios mais simples, para exercícios de alta complexidade e que existem vários métodos de se realizá-los. O autor ainda afirma que um protocolo de exercício aplicado por um período de 10 semanas é eficiente para a melhora da coordenação neuromuscular e da estabilidade articular em atletas.

Botelhos e Bonfim (2012), ao final do seu estudo também chegaram à conclusão de que o treino proprioceptivo deve possuir evolução gradativa no grau de dificuldade dos exercícios. Eles acrescentam dizendo o treinamento sensório-motor é eficaz para a melhora do

controle postural do indivíduo e que esses exercícios podem possuir o acréscimo de informações adicionais como, por exemplo, a tira subpatelar, maximizando estes efeitos benéficos.

O treinamento proprioceptivo realizado de maneira controlada e progressiva gera adaptações sensório-motoras adequadas para estimular a capacidade e confiança do atleta. Os mecanismos de propriocepção envolvem tanto vias conscientes como vias inconscientes. Desta maneira, os exercícios prescritos devem conter tanto estímulos conscientes, para estimular a cognição, assim como alterações repentinas e inesperadas na posição articular, para iniciar a atividade reflexa da musculatura. Os exercícios prescritos devem envolver equilíbrio em superfícies instáveis, enquanto o indivíduo realiza atividades funcionais (LEPORACE; METSAVAHT; SPOSITO, 2009).

Portela (2010) ressalta que vários estudos afirmam a importância do treino proprioceptivo realizado em superfícies instáveis, porém existem controvérsias com relação à direção e volume de treinamento, quais os aparelhos de instabilidade usados, quais testes devem ser realizados antes e após a aplicação do protocolo de treinamento e características específicas das amostras. Porém há um consenso na literatura com relação à eficiência dos exercícios realizados em diferentes superfícies instáveis para o equilíbrio, estabilidade e oscilação postural.

O autor também concorda com a afirmação de que o protocolo de treinamento deve conter diversos exercícios que devem variar em relação ao grau de dificuldade no decore do treinamento.

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