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A Proteção do Consumidor Idoso: Inovações do PL 283/ 2012

Verifica-se, como se viu, a necessidade da implantação de medidas que forneçam a segurança e o amparo necessários aos consumidores, especialmente os idosos, que estão em situação de superendividamento, lhes retirando a dignidade vez que lhes falta o mínimo existencial para sobrevivência.

Neste sentido, desde 2012 está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados nº 3515/2015, originalmente Projeto de Lei do Senado de nº 283/2012, o qual tem por objetivo alterar o Código de Defesa do Consumidor e o Estatuto do Idoso, buscando aperfeiçoa-los no que tange a prevenção e o tratamento do superendividamento. Atualmente está em andamento e aguarda a criação de comissão temporária, a fim de que o projeto seja examinado pelas Comissões de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.

As alterações propostas nos artigos criados e modificados pelo PL 283/2012, refere-se à alteração e inserção de texto nos artigos 1º, 4º, 5º, 6º, 37 e 51. Também será inserido um novo capítulo no CDC, no caso o Capítulo VI-A, com a inserção dos artigos 54-A, 54-B, 54-C, 54-D, 54-E, 54-F e 54-G. Adiante, no capítulo V, com os Arts. 104-A, 104-B E 104-C. Tais alterações serão implementadas no Código de Defesa do Consumidor. Já no Estatuto do idoso, os Artigos 2º e 3º também sofrerão alteração.

O inciso VII do Art. 5º do CDC que sofrerá alteração, trata da instituição de núcleos de conciliação e mediação para resolver conflitos oriundos do superendividamento. Este item é de extrema relevância, pois significa a criação de um novo tipo de tratamento a ser implantado, que auxiliará muitas vezes na resolução integral de forma pacífica nos casos de consumidores superendividados.

Art. 5º . [...]

VI - instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e judicial do superendividamento e de proteção do consumidor pessoa natural;

VII - instituição de núcleos de conciliação e mediação de conflitos oriundos de superendividamento.

Passando a vigorar as alterações feitas no Código de Defesa do Consumidor, haverá importante alteração no capítulo que trata do capitulo III, que trata dos direitos básicos do consumidor, uma vez que serão acrescentados os incisos XI e XII, os quais passarão a garantir da concessão do crédito de forma responsável o

tratamento do superendividamento e a preservação do mínimo existencial. O artigo disporá:

Art. 6º São garantias básicas do Consumidor: [...]

XI - a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção e tratamento de situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por meio da revisão e repactuação da dívida, entre outras medidas;

XII - a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação de dívidas e na concessão de crédito; (BRASIL, 2015).

Outro importante Artigo que sofrerá alteração será o art. 51 do CDC, que sendo remodelado, terá extrema influência sobre os contratos de crédito facilitados que contém cláusulas abusivas prejudiciais ao consumidor.

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

[...]

XVII - condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos órgãos do Poder Judiciário;

XVIII - imponham ou tenham como efeito a renúncia à impenhorabilidade de bem de família do consumidor ou do fiador;

[...]

XIX - estabeleçam prazos de carência em caso de impontualidade das prestações mensais ou impeçam o restabelecimento integral dos direitos do consumidor e de seus meios de pagamento a partir da purgação da mora ou do acordo com os credores;

XX - considerem o simples silêncio do consumidor como aceitação de valores cobrados, em especial em contratos bancários, financeiros, securitários, de cartão de crédito ou de crédito em geral, ou como aceitação de informações prestadas em extratos, de modificação de índice ou de alteração contratual; (BRASIL, 2015).

Tanto quanto os outros dispostos neste Projeto de Lei, o Art.54-A, ainda sob um aspecto geral, trata sobre a prevenção e o tratamento do superendividamento:

Art. 54-A. Este Capítulo tem a finalidade de prevenir o superendividamento da pessoa natural e de dispor sobre o crédito responsável e sobre a educação financeira do consumidor.

§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor, pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da regulamentação.

§ 2º As dívidas de que trata o § 1º englobam quaisquer compromissos financeiros assumidos, inclusive operações de crédito, compras a prazo e serviços de prestação continuada. (BRASIL, 2015).

Uma das principais alterações, que se aprovadas, causarão imenso impacto na legislação brasileira, é a que foi remetida ao Estatuto do Idoso, Lei 10.741/ 2003, que acrescenta a seguinte disposição no seu Art. 96 e parágrafo 3º:

Art. 96. [...]

§ 3º Não constitui crime a negativa de crédito motivada por superendividamento do idoso. (NR).

Este artigo representa que, se feita à tentativa por todas as formas administrativas de proteger o consumidor que está tendo seus direitos violados, e estas não forem procedentes, ainda terá uma proteção prevista no âmbito da justiça que configura uma excludente de ilicitude.

Como não há nenhuma lei específica ainda, que prevê a proteção do consumidor idoso superendividado, se este projeto de lei passar a vigorar, significará um grande avanço e uma garantia fundamental aliada aos Órgãos de Defesa do Consumidor, que com certeza poderão dar muito mais suporte no tratamento e principalmente na prevenção de novos casos.

Apesar das inovações propostas pelas alterações citadas anteriormente às legislações, outro fator importante é a conscientização, tanto dos consumidores, como das empresas fornecedoras de serviços, visando sempre observar os dispositivos legais e agir de boa-fé.

Por fim, atendendo as previsões constitucionais aplicáveis à proteção do idoso, é possível também inserir na sociedade, o papel do estado, que de forma atuante, poderá estar investindo em políticas públicas, que ajudarão a melhorar os conceitos e tratamentos direcionados ao consumidor idoso (SCHMITT, 2017).

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