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2. DO DIREITO À INFORMAÇÃO À PRODUÇÃO DE NOTÍCIAS

2.2 A Publicidade, o jornalismo e a formação da Opinião Pública

Um Estado Democrático é demarcado pela publicização da coisa pública, enquanto atribuição obrigatória das instâncias de poder, a qual pode demandar maior ou menor visibilidade dos assuntos de interesse geral. Em virtude da publicidade de governo abranger diferente modalidades de comunicação, buscou-se observar as categorias de informação pública e dos seus níveis de visibilidade de acordo com a escala numérica, definida por Silva (2012) como a Espiral de Visibilidade Republicana, sendo ela identificado abaixo:

0) Sigilo de informação;

1) Publicidade Legal: os atos do governo são divulgados nos diários oficiais, considera-se o grau mínimo de publicidade do poder público;

2) Publicidade de Utilidade Pública: são os dados e arquivos do Estado que podem ser consultados ou requeridos pelos cidadãos;

3) Publicidade Institucional: é a publicação das informações oficias nos sítios eletrônicos, mas especificamente os e-gov, além de existir processos interativos com o cidadão; 4) Publicidade Mercadológica: informação de natureza jornalística produzida pelas

agências de notícias estatais, que nem sempre possuem visibilidade na mídia comercial; 5) Patrocínios: refere-se aos serviços de radiodifusão de conteúdos educativos e culturais,

que também não são contemplados na mídia tradicional;

17 Expressão de Alan Wolfe, em The Limits of Legitimacy. Political Contradictions of Contemporary Capitalism, The Free Press, New York, 1977. (BOBBIO, 1986).

6) Promoções: o Estado é anunciante e contrata serviços publicitários para garantir a difusão massiva das informações em três circunstâncias: prestação de contas com o dinheiro público, cultuar valores do povo e da pátria e mobilizar a população sobre os problemas sociais como as campanhas públicas.

Do nível mais básico da publicidade à ampla divulgação das informações pelos veículos de comunicação, Silva (2012) considera que na democracia brasileira um dos pressupostos da publicidade não é dar visibilidade apenas a coisa pública em si, mas difundir informações acerca das atividades relativas a gestão pública. “Evidentemente, a publicidade republicana não se limita à publicidade dos negócios do Estado, mas, sobretudo, ao fermento que mais dinamiza a vida democrática-republicana, o debate” (SILVA, 2012, p.183). Todavia, o Estado não é uma entidade de polêmica, porém executor de ações. Deste modo, atribui-se à sociedade à competência de estabelecer canais de comunicação com livre circulação de ideias para discutir, propor e encaminhar às instituições públicas soluções dos problemas políticos.

A democracia contemplaria, consequentemente (sic), uma dupla situação permanente de publicidade: de um lado, o Estado, com a sua legalidade e o inerente princípio da

publicidade legal. De outro, a Sociedade, com a sua legitimidade para o

questionamento permanente da validade das proposições e para a institucionalização de mecanismos discursivos, ou seja, os espaços públicos que propiciam o dinamismo de uma esfera pública política (SILVA, 2012, p.183, grifo do autor).

Contudo, um dos problemas da escala Espiral de Visibilidade Republicana é a ausência de informações do poder público, em contraposição à disposição do Estado em promover informações massivas pelos meios de comunicação. Nesta acepção, cabe observar que os níveis de publicidade por escala permitem dimensionar a proatividade do governo em divulgar o que é de interesse público. Mas, se há apenas visibilidade do que interessa para o Estado, como conceber a face oculta do poder? De acordo com Silva (2012), o Estado para se legitimar com o cidadão necessita publicitar para se fortalecer nos momentos de crise, mas nem por isto a opacidade deixa de existir, pois é um dos pressupostos inerente as estratégias de poder, que tendem a dar visibilidade ao que mais convém.

Ao agendar o poder público cabe ao jornalismo fiscalizar, denunciar, questionar e promover o debate com a sociedade sobre os problemas políticos. Silva (2004) caminha em direção tanto das notícias institucionais dos órgãos públicos, quanto do jornalismo ao demarcar as fronteiras de atuação e identificá-las como gênero da comunicação pública.

Em relação à visibilidade das informações públicas, o autor considera que quanto mais as organizações de Estado produzem fatos espontaneamente, menor é o grau de valor-notícia.

Já, esta mesma lógica é inversa para os assuntos opacos, ou seja, quanto menos transparência tiver uma organização, maiores são os valores-notícia.

Estabelece-se, consequentemente, um jogo estratégico de oferta e demanda. De um lado, a oferta de fatos que, exatamente por serem oferecidos de forma gratuita e benevolente, não encontram simetria em termos de reconhecimento de validade, mas, ao contrário, uma assimetria provocada pela resistência dos selecionadores autorizados dos fatos (gatekeepers). Já no percurso oposto, os reconhecedores oficiais da validade dos fatos enquanto notícia procuram romper obstáculos rumo ao desvelamento dos ‘fatos’ acerca dos quais sobressaem indícios de noticiabilidade, mas carecem de apuração (SILVA, 2004, p.3).

Neste sentido, destaca-se o trabalho das assessorias de comunicação, que facilitam a rotina dos jornalistas ao apresentar conteúdos de acordo com os processos jornalísticos. Para Duarte (2010), às assessorias disponibilizam informações prontas para o uso nas redações, pois já conhecem atuação dos jornalistas e passam a ter mais chances de interferir no processo, com à matéria pronta. Caso o release seja divulgado na íntegra, dificilmente o público terá conhecimento sobre a origem da informação como a identificação do autor do texto, por exemplo. Portanto, a imprensa assume a informação como material editorial e valida as informações provenientes das organizações. Desse modo, o público pode interpretar a notícia como pauta do jornal, por desconhecer as relações estabelecidas entre os assessores de comunicação e os jornalistas (DUARTE, 2010).

Esta mescla de gênero informativo no noticiário tende a reduzir a criticidade jornalística sobre a coisa pública, pois a predominância de notícias oficias sem apuração dos fatos não colabora para o reavivamento do debate público. Segundo Habermas (1984), o jornal é por excelência instituição da esfera pública, mas a sua vitalidade está comprometida pelos interesses privados do jornalismo publicitário.

Acrescenta-se a isso a multiplicidade de informações e de instruções que são agregadas pelas agências de public-relations numa forma séria como “subsídios”, como press-releases, para as mais importantes “instâncias de divulgação”, então parecem simplesmente antiquadas certas assertivas presas à ideologia profissional e que repetem a velha distinção entre notícia e anuncio /35/. Public relations misturam, pelo contrário, um com o outro: a propaganda já nem deve mais sequer ser negociável como auto-representação de um interesse privado. Ela empresta a seu objeto a autoridade de um objeto de interesse público, a respeito do qual, como se pretende que isso pareça, o público das pessoas privadas cultas forme livremente a sua opinião (HABERMAS, 1984, p. 228).

Neste sentido, a função política da esfera pública está norteada por dois tipos de publicidade na imprensa: a publicidade crítica, na perspectiva de construir uma opinião pública e fortalecer nos cidadãos a reflexão do Estado de Direito Democrático. E a publicidade manipulativa, a qual os assuntos estão voltados para o comercialização de produtos e

consequentemente no desaparecimento debate público.

Apesar da publicidade estar em consonância com os interesses privados da indústria da informação e consequentemente declinar a esfera pública, ainda assim é possível reconstituí-la através da publicidade crítica. A partir dos preceitos habermasianos, entende-se que a imprensa exerce a publicidade crítica quando o jornalismo cumpre com a função de pautar assuntos de interesse público, no sentido de “buscar elementos ocultos ou omissos em torno de fatos que, apesar de afetarem o coletivo, por algum motivo ou interesse não vêm à tona” (SILVA, 2006, p. 53).

Nesta lógica, a produção jornalística nem sempre segue os parâmetros dos tradicionais critérios de notícia baseado na informação factual, geralmente compartilhados pelas assessorias de imprensa, pois são notícias com teor de apuração e enfoque de questões controversas acerca da coisa pública. Neste sentido, Silva (2006) acredita que o jornalismo pode deixar de ressaltar estes aspectos mais tradicionais da notícia e cita como exemplo os fatos científicos, que mesmo sendo de interesse geral não se tornam automaticamente fato jornalístico. Antes disto, o profissional deve ter conhecimentos específicos, para polemizar o assunto e também esclarecê- lo para o público. “A mídia cumpre, então, mais este papel “traduzir” os temas para que as pessoas possam, conscientemente, formar um juízo e deliberar [...]” (SILVA, 2006, p.53). Semelhante a isto estão as notícias produzidas com base na Lei de Acesso à Informação, pois para o público conhecer determinada realidade é preciso que os fatos sejam contextualizados e melhores detalhados.

Em relação à visibilidade da coisa pública há duas situações distintas: de um lado as informações que se tornam conhecidas pelo jornalismo, e de outro as informações divulgadas pelo governo, as quais nem sempre são de interesse jornalístico (SILVA, 2006). Desta maneira, pressupõe-se que as notícias originadas pela Lei de Acesso à Informação têm maior possibilidade de trazer à luz assuntos obscuros e consequentemente agregar maior valor- notícia.

Em termos de interesse público, talvez o pressuposto básico seja o seguinte: onde há dinheiro público, há interesse público e deve haver transparência em torno de: a) informação sobre a alocação do dinheiro público; b) como o dinheiro público foi gasto; c) quais os resultados obtidos com o dinheiro público. Nem só de dinheiro, porém, vive a vida pública; mas, sobretudo, da publicidade em torno das ações que afeta, a vida pública (SILVA, 2006, p.50).

Neste aspecto, cabe questionar os assuntos agendados pelos jornais via Lei de Acesso à Informação. Há presença de assuntos referente ao direito de privacidade e até mesmo do sigilo de informações públicas previstas pela Lei? A produção jornalística tende a reproduzir as

notícias institucionais ou exerce a publicidade crítica inerente à profissão de jornalista. Para responder estas questões serão necessários analisar a agenda da mídia e retomar as teorias construcionistas para fundamentar os resultados de análise da pesquisa.