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As fontes jornalísticas: Do habitual à obtenção de informações pela LAI

4. A LAI NO PARANÁ E NA GAZETA DO POVO

4.6 As fontes jornalísticas: Do habitual à obtenção de informações pela LAI

Pesquisas iniciais sobre a LAI detectaram a predominância do poder executivo federal enquanto fonte nas reportagens, em parte pelo fato destes órgãos terem sido os primeiros a se adequarem à Lei. De acordo com Nascimento (2015), das 96 reportagens analisadas nos dois primeiros anos da Lei em jornais de circulação nacional, 87% foram fornecidas pelo poder Executivo, 9% correspondiam às informações do poder Legislativo e 4% do poder Judiciário. “Essa terceira colocação mostra que a LAI, pelo menos até agora, não conseguiu atender uma de suas expectativas: a de jogar luz sobre o poder Judiciário, considerado o mais avesso à transparência” (NASCIMENTO, 2015, p.237).

Com a ampliação do recorte temporal para os seis anos da LAI, o ranking de fornecimento de informações dos poderes públicos, para os jornalistas da Gazeta do Povo, não teve o mesmo impacto que dos jornais das grandes capitais. Das 46 notícias, seis (13,04%) tiveram a presença de fontes de transparência passiva, das quais o Executivo, o Legislativo e o Judiciário aparecem uma única vez enquanto fonte de informação satisfatoriamente, conforme mostra o quadro 4.

Quadro 4– Transparência passiva como fonte de informação

Informações não fornecidas Ministério da Educação Ministério Público Estadual Tribunal de Contas do Estado

Prefeitura de Curitiba, Maringá e Ponta Grossa Casa Civil do Governo do Paraná

Ministério da Saúde

Câmara de Deputados e Senado Informações fornecidas Supremo Tribunal Federal

Prefeitura de Londrina Câmara Municipal de Curitiba Informações fornecidas em partes ou não

satisfatoriamente

Legislativo

Prefeitura de Curitiba Fonte: A autora

Ao que compete à transparência ativa enquanto fonte, os portais dos órgãos públicos apareceram em quatro notícias, proporção menor que as requisições de informações feitas pelos jornalistas. O uso deste tipo de fonte de informação requer a criticidade dos jornalistas nos portais do governo e de instituições públicas, conforme constatado entre os anos de 2012 e 2013, quando o jornal fez uma análise comparativa dos avanços e retrocessos da transparência ativa dos poderes públicos. Já a notícia sobre a indisponibilidade de vários formatos de dados nos portais de governo não teve o mesmo desdobramento nos anos subsequentes, no sentido do jornal acompanhar o (des)cumprimento das instâncias políticas sobre o direito à informação, conforme os dados sistematizados no quadro 5 a seguir.

Quadro 5– Transparência ativa como fonte de informação (Continua)

LAI não cumprida

2012 2013 2014

Disponibilização de informações nos portais Formato de dados Câmara Municipal e Assembleia Legislativa. Câmara de Curitiba, Ministério Público, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa e Governo Estadual.

Quadro 6– Transparência ativa como fonte de informação (Conclusão)

2012 2013 2014

LAI parcialmente cumprida

Disponibilização de informações nos portais Formato de dados

Prefeitura de Curitiba, Ministério Público, Governo do Estado. Câmara Municipal, Assembleia Legislativa, Prefeitura de Curitiba, Ministério Público, Governo do Estado, Tribunal de Justiça, LAI cumprida Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa e Tribunal de Contas Tribunal de Justiça e Tribunal de Contas. Prefeitura de Curitiba e Tribunal de Contas. Fonte: A autora

É em 2016 que os dados extraídos do portal da transparência do Tribunal de Justiça e do Ministério Público transformaram-se em valor notícia, com os escândalos políticos dos supersalários acima do máximo legal para juízes, desembargadores, procuradores e promotores do Estado do Paraná.

Comparado com os primeiros estudos da LAI nos jornais brasileiros, os resultados da Gazeta do Povo apontam que o uso da Lei enquanto fonte jornalística ainda está restrita a um grupo especializado de jornalistas, no caso os repórteres das agências de notícias do Livre.Jor (13), pois todas as matérias continham a Lei como fonte. Conclui-se que a LAI não está incorporada na rotina de produção da Gazeta do Povo (17,39%), e nem mesmo há utilização recorrente da legislação pelos correspondentes locais (4,35%).

Apesar da pequena presença da LAI enquanto fonte, considerou-se pertinente analisar nos textos a presença ou ausência dos poderes públicos, definidos pela Lei. Conforme a mensuração de dados, os órgãos públicos mais citados respectivamente nas notícias foram: o poder Executivo, Legislativo e Judiciário, conforme apresentado na tabela 16.

A LAI no capítulo I “Das Disposições Gerais” o Art 1o estabelece a subordinação dos procedimentos do acesso à informação pública aos órgãos da administração direta dos Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, Judiciário e do Ministério Público. Os dados desta variável reforçam a perspectiva de Kraemer, Nacimento e Rodrigues (2015) dito anteriormente, sobre os órgãos da administração direta terem sido o primeiro poder a se adequar à Lei. Portanto, acredita-se na existência de uma cultura que tende interpretar a Lei de Acesso à Informação enquanto atividades da presidência, das prefeituras, assembleias e câmaras.

Tabela 16 –Menção dos poderes públicos nas matérias

Poder Público Nº %

Executivo 32 39,02

Legislativo 21 25,66

Judiciário 15 18,29

Informação genérica ou não mencionado na notícia 7 8,53

Autarquia 2 2,43

ONG 3 3,65

Empresa de Economia mista 1 1,21 Empresa Privada 1 1,21 82 100 Fonte: A autora

Contudo, a legislação abrange neste parágrafo único as: fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista e demais entidades controlada direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. As ONG(s), por exemplo, que recebem recursos públicos têm o dever de prestar contas à sociedade sobre estes valores orçamentários. Já na amostra, a presença destas instituições nas notícias não foi significativa, um dado relevante para a imprensa atentar-se na responsabilidade de fiscalizar todos os órgãos públicos. Informações genéricas sobre as esferas de poder ou não mencionadas nas notícias, também não contribuem para o esclarecimento sobre a coisa pública.