• Nenhum resultado encontrado

A qualidade do espaço e a exploração dos materiais têm uma enorme influência no desenvolvimento da criança ou seja, as condições de envolvimento favorecem todo o processo de desenvolvimento e formação da personalidade da criança. “Uma vez que o corpo e o espaço se encontram em permanente interação, estes proporcionam ao indivíduo o equilíbrio do seu próprio corpo, nas suas relações com os objetos e com outros indivíduos” (Neto, 1995, p. 99).

Segundo Neto (1995) “As atividades corporais das crianças estão diretamente ligadas às qualidades de espaço e materiais que utiliza (ou tem oportunidade de conquistar) ” (p. 107). Isto é, tal como referi anteriormente o corpo e o espaço estão em permanente interação o que faz com que as crianças se movam, explorem, transportem e se construam a si próprias, com os outros e utilizando objetos.

É importante frisar que não basta o espaço e os materiais, “é necessário que se garantam as possibilidades de expressão das necessidades de movimento num clima afetivo conveniente. Acontece que o espaço físico e afetivo está a comprometer a evolução da criança dos nossos dias” (Neto, 1995, p. 102). Deste modo, torna-se essencial dar importância à vida infantil no sentido de que os espaços e os materiais apoiem o desenvolvimento psicoafectivo e psicomotor das crianças.

2.1. A influência do espaço para a atividade física da criança

Nesta fase de desenvolvimento das crianças, a necessidade de atividade física e de jogo espontâneo é fundamental no que toca aos hábitos saudáveis para uma vida ativa. No entanto, “a qualidade do espaço e dos equipamentos é pobre e pouco considerada no seu impacto nas atividades de jogo livre” (Neto, 2003, p. 15). Assim posso clarificar que o espaço é importante para a atividade física da criança pois é através do movimento e das atividades físicas que a criança exprime as suas possibilidades e potencialidades motoras vividas corporalmente.

É de salientar que não só é importante o espaço escolar mas também o espaço de rua ou seja, tanto um como outro contribuem para o desenvolvimento motor da criança. Estes deverão ser criados e organizados com condições saudáveis para as

19

crianças, isto é deverão permitir a exploração, imitação, criação, invenção e por último a construção. É a partir das necessidades das crianças que os espaços deverão ser utilizados em articulação com os materiais, equipamentos e com as atividades possíveis de desenvolver.

Deste modo, no contexto escolar cabe ao/à educador/a observar e refletir para posteriormente diversificar os espaços e materiais. É necessário imaginação e criatividade para organizar os espaços e os equipamentos, de modo a apoiar a evolução do desenvolvimento motor da criança. Segundo as OCEPE (2016):

“A Educação Física é também um espaço privilegiado de brincar em que o/a educador/a cria condições de exploração livre do espaço e do movimento, permitindo que a criança invente os seus movimentos, tire partido de materiais, coloque os seus próprios desafios e corra riscos controlados, que lhe permitam tornar-se mais autónoma e responsável pela sua segurança” (p. 44).

Ou seja, o espaço é uma grande influência para o desenvolvimento motor da criança, no sentido de que esta tem possibilidade de desenvolver as suas capacidades motoras e de expressão, tirando partido da diversidade do espaço e da exploração das caraterísticas dos materiais e equipamentos lúdico-motores.

2.2. Os materiais e os equipamentos de exploração que possibilitam o desenvolvimento da criança

Nas instituições existe uma grande diversidade de materiais e equipamentos de exploração que possibilitam o desenvolvimento da criança. No entanto, “é sempre muito difícil sugerir brinquedos, porque eles dependem da criança, da fase em que está nas suas competências do desenvolvimento, interesse particular por certas áreas, agrado dos pais e tantos outros fatores” (Cordeiro, 2007, p. 338). É de frisar que, sendo os brinquedos instrumentos fundamentais no desenvolvimento e criatividade das crianças, estes devem ser “engraçados e proporcionar momentos de prazer” (Cordeiro, 2007, p. 340).

Uma vez que estamos a abordar o desenvolvimento motor da criança, é de frisar que os materiais e equipamentos utilizados nas sessões de Educação motora

20

devem também ser adequados aos níveis de desenvolvimento motor das crianças, possibilitando-lhes realizar as atividades com prazer mas também com níveis de desempenho desafiantes, isto é, atividades onde as crianças obtenham sucesso elevado mas que possuam um nível de exigência motora que permita a evolução e a superação.

Segundo Spodek & Saracho (1994) “As experiências com movimentos devem incluir atividades com e sem equipamentos, assim como atividades de locomoção, atividades manipulativas e rítmicas, e jogos” (p. 374). Ou seja, é importante que haja um espaço interno e externo, com e sem materiais, e equipamentos que possibilitam o desenvolvimento das crianças. Estamos a falar de materiais e equipamentos como: cordas, bolas, argolas, traves de equilíbrio, bicicletas, carrinhos, túneis, triciclos, entre outros. Todos estes equipamentos referidos anteriormente contribuem para a evolução nas capacidades motoras das crianças, sendo importante trabalhá-las diariamente. Pancrazi & Dauer (1981) sugerem “que os programas de movimento de pré-escola se centrem em: (1) experiências de motricidade ampla, que permitam às crianças manejarem seus corpos com eficiência; (2) ensinar habilidades manipulativas, pelo manuseio de objetos como bolas e sacos de areia e (3) usar aparelhos de chão, como caixas, tábuas, escadas e pranchas que permitam às crianças escorregarem, saltarem, atravessarem aberturas e pularem” (p. 376).

É de frisar que, por vezes, as instituições não têm possibilidades de obter tais materiais e equipamentos. No entanto, alguns são possíveis de ser construídos pelas crianças, com o apoio do adulto, nomeadamente aqueles que poderão ser construídos a partir de material reciclável, por exemplo, em que através de caixas de papel poderão ser feitos túneis, de folhas de jornal poderão ser feitas argolas, entre outras ideias que possam surgir para, neste caso, enriquecer o espaço de movimento.

21

2º Parte – Dimensão Investigativa da Prática