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PARTICIPAÇÃO NOS CANAIS INSTITUCIONAIS

2.1 Participação e Poder Decisório

2.1.1 A Qualidade Política da Participação

Para entender a participação como um processo através do qual os indivíduos, ao identificar seus problemas, discutem, propõem e negociam soluções; é importante compreender de que maneira isto ocorre. Para tanto, necessário se faz penetrar no conteúdo e na forma da participação, analisando a qualidade política desta.

Ao tratar de qualidade política, Demo diz ser necessário aprender o seu caráter quanto ao conteúdo e a finalidade, além dos aspectos meramente formais como: reunir-se regularmente, possuir estatuto, sede própria, etc. Para ele, isto não basta. Alguns indicadores devem ser percebidos e analisados como, por exemplo: as lideranças são centralizadoras e isoladas; elas se renovam freqüentemente; os demais participantes apenas estão presentes, fazem número ou falam, contestam, reivindicam, propõem etc.

Para Teixeira (2001), no entendimento da participação como processo político é necessário entender a interação permanente entre os diversos sujeitos que são partes integrantes, como : o Estado, as instituições políticas e a sociedade civil. Essas relações, que são antagônicas e complexas, dizem respeito à estrutura e a cultura política, em articulação com os demais sujeitos envolvidos no processo e, a depender da forma como se estabelecem, podem facilitar ou atrapalhar a participação. Portanto não basta apenas a vontade e a disposição para que isso ocorra, porque se faz necessário levar em conta o contexto socioeconômico, o regime e a cultura política. Ressalta que, passada a crise do Estado de Bem-Estar Social, em que o Estado intervinha diretamente para garantir os direitos individuais e controlar o mercado, hoje, a participação política muda seu eixo para os partidos políticos e os grupos que exercem pressão, como, por exemplo os movimentos

sociais e populares, que lutam para penetrar no espaço público estatal e influir nas decisões governamentais.

Para analisar a qualidade política da participação, Demo estabelece quatro critérios (DEMO, 1999):

1) Representatividade – indica a qualidade política dos dirigentes e estes serão representativos, se eleitos por votação, num pleito democrático, de preferência com chapas concorrentes, pois essa forma inibe manobras e manipulações políticas. O dissenso deve ser visto como algo positivo, criativo, como uma forma de, através da oposição, exercer o controle sobre os mandatários. É natural que as pessoas tenham posições antagônicas porque pensam diferentemente. Portanto, todos ganham quando a disputa pela liderança ou representação é democrática e o dirigente é apenas aquele a quem foi delegado o poder de representação.

2) Legitimidade – é a qualidade política do processo de participação, quando isto está apoiado no reconhecimento de direitos e deveres. Não é suficiente que o processo participativo esteja embasado em normas, regras e leis porque é preciso que todos o aceitem e se comprometam com ele. Pela formalização legal, os indivíduos se tornam sócios, faz-se mister que se sintam membros pertencentes com igualdade de direitos e oportunidades.

3) Participação da Base – é a essência de qualquer processo participativo, principalmente porque a delegação representativa depende da base. Nesse caso, a qualidade não se expressa pela assertiva de que quanto maior o número de participantes, melhor é a qualidade da participação. Algumas vezes, o contrário é mais significativo porque o que está em jogo é a intensidade da participação, a

qual é reconhecida através do compromisso político, da coesão do grupo, da identidade de objetivos, etc. Quantidade na base, enfim, não significa qualidade. 4) Auto-sustentação – este critério é indispensável para uma efetiva emancipação do

grupo, no enfrentamento ao assistencialismo. Porém, isso exige suporte material, principalmente, na participação voltada para a auto-promoção, como forma de livrar-se da tutela e dependência do Estado. Esta postura de auto-sustentação é de difícil concretização, até porque, historicamente, acostumou-se a se viver às custas do Estado e, conseqüentemente, dos outros que lhe delegam poder e recursos. Demo entende este critério como educativo-participativo porque significa independência e compromisso dos indivíduos com aquilo que considerar ser a organização. Ele esclarece que isso não anula a assistência devida pelo Estado, como obrigação de prestar às pessoas que dele necessitam e que têm direitos como cidadãos. Logo, a questão não é abrir mão do que o Estado oferece, mas colocá-lo no devido lugar. Por exemplo, é dever do Estado a manutenção do sistema de educação, saúde, segurança, e não da comunidade. Saber utilizar o Estado é um direito popular. Submeter-se a ele, como massa de manobra, é outra coisa, o contrário de participação.

No que se refere ao Fórum do PREZEIS, cujo temática central é a elaboração, implementação e desenvolvimento de uma política de urbanização, a participação dos seus integrantes deve ter uma qualidade política, ou seja, quanto mais representativa, mais legítima, mais intensa e auto-sustentável, maior será o seu significado político. Na nossa ótica, caso isso ocorra, maiores serão as possibilidades da representação popular influir nas decisões e aproximar os grupos subalternos do poder, democratizando as ações.

Concordamos com De la Mora (1998) quando ele afirma que, representatividade é a capacidade de exercer tal representação, ou seja, não basta o indivíduo ser eleito legítimo representante de uma entidade, órgão, conselho, fórum etc., é preciso realmente representar os interesses de quem o elegeu. Sua atuação pode até ser considerada legítima, mas não é representativa dos interesses de uma coletividade. No que tange à legitimidade, esclarece que esta consiste no caráter democrático, transparente e ético da escolha dos representantes.

Segundo Bordenave (1992), a qualidade da participação alcança um nível elevado quando os sujeitos conhecem e refletem a realidade, superam as contradições, identificam premissas e o significado das palavras, distinguem efeitos de causas e antecipam conseqüências, passam a manejar conflitos, toleram as divergências, respeitam opiniões, tornam transparentes os sentimentos e comportamentos etc.

Nessa perspectiva, participar de forma qualitativa não é fácil, porém o aspecto positivo desse processo é que o aprendizado ocorre na práxis, ou seja, na relação teoria e prática, posta a serviço da luta pelo alcance dos objetivos e interesses populares, completa Bordenave.