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3. AS DEFICIÊNCIAS NA CAPACITAÇÃO ADEQUADA AOS AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA NO CEARÁ

3.5 A questão da bala perdida e o policial cearense

A crescente onda de violência criminal globalizada, diariamente divulgada pela mídia, que de uma forma geral atinge a sociedade em seus diversos níveis sociais, está provocando uma sensação de medo e pavor nas pessoas que impotentes ante a percepção de crueldade da delinqüência criminal, vive um cotidiano aterrorizado. Nesse sentimento, o cidadão cearense busca proteção nos órgãos de segurança pública para conter a disseminação de crimes de morte e de lesão corporal, esbarrando noutro problema de violência, desta vez protagonizada por aqueles que os devia proteger, a bala perdida.

A ocorrência de bala perdida que está vitimando inocentes transeuntes que nada têm a ver com a violência de nosso dia-a-dia, está se soma a estatística criminal quer por lesão corporal, quer por homicídio. Resultante do confronto de policiais com criminosos, da disputa de traficantes por ponto de droga ou em briga de jovens de gangues, o disparo por arma de fogo vem ceifando vidas e que às vezes são disparadas pelos próprios integrantes da segurança pública cearense colaborando cada vez mais com atos de violência policial.

Os recentes fatos e a incidência recorrente de registros de violência policial, dente eles a ocorrência de bala perdida, originada por disparo de arma de fogo, vem há muito no país se configurando em uma nova modalidade de violência policial, notadamente nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo e mais recentemente no Estado do Ceará e em especial na cidade de Fortaleza.

Indicativos e pesquisas divulgados pela mídia apontam para a má formação e a carência de cursos de capacitação continuada na atividade policial como um dos principais fatores dos disparos sem necessidade por policiais, tidos como bala perdida. Da forma como é divulgada diariamente, entende-se que o crime por bala perdida passou a fazer parte do cotidiano não só das comunidades carentes, mas de todos os setores da sociedade que são alvo de crimes de toda natureza, e que geralmente como resultado dos confrontos entre as forças policiais e bandidas, na maioria das vezes quem sai prejudicada é a população mais pobre e desprotegida.

Estudo realizado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Estado do Rio de Janeiro indicou através de relatório os números da violência naquele Estado no primeiro semestre de 2008. O Relatório Temático lembrou que 135 pessoas foram feridas por bala perdida, o que representou 21,1%, traduzindo uma redução com relação ao ano de 2007. Noutra recente pesquisa, o ISP, divulgou que somente no primeiro semestre de 2009, foram registrados casos de bala perdida no Rio de Janeiro, sendo lesão e homicídios O Relatório trimestral sobre o tema “bala perdida” divulgado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) tem como objetivo apresentar o número de vítimas de bala perdida no período de janeiro a setembro de 2009. De acordo com o levantamento, 143 (cento e quarenta e três) pessoas foram vítimas de bala perdida, sendo 6 (seis) fatais e 137 (cento e trinta e sete) não fatais, no período de janeiro a setembro deste ano. Em relação ao mesmo período do ano passado, observou-se uma redução de 21,0% (38 trinta e oito pessoas). Os números de 2008 foram os seguintes: 181 (cento e oitenta e um) pessoas vítimas de bala perdida entre os meses de janeiro a setembro, sendo 14 (quatorze) fatais e 167 (cento e sessenta e sete) não fatais.

Inicialmente, esse termo “Bala Perdida” teve sua origem no Estado do Rio de Janeiro, que no ano de 1992, período da ECO 92, Cúpula ou Cimeira da Terra são nomes pelos quais é mais conhecida a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), realizada entre 3 e 14 de junho de 1992 no Rio de Janeiro tinha como delitos mais comuns e mais graves os “ARRASTÕES”, praticados nas ruas e praias daquele Estado que após medidas de segurança adotadas, migraram e desenvolveram novas práticas e modalidades de crimes. Daí, “A Bala Perdida”, em virtude de sua incidência, ganhou expressividade em todo Brasil e no mundo em si. Dessa forma, estudos recentes indicam que são consideradas vítimas de bala perdida as pessoas que não tinham participação ou influência no fato que originou o disparo.

Da forma como chega ao senso comum, a expressão serve para definir a situação em que o atirador erra o alvo proposto, a bala perde-se a esmo até alvejar outra pessoa alheia a situação. Configurando-se assim na aplicação do termo “bala perdida”, por ter esse projétil se perdido do alvo inicial e encontrado outro alvo alheio ao intento do autor do disparo. “A Bala Perdida resulta de confronto entre traficantes rivais ou traficantes e policiais”. “Com o surgimento e crescimento diário de novas vítimas, lesionadas por uma nova modalidade e práticas delituosas, as vítimas passaram a serem encaminhados pelos hospitais para as delegacias para o devido Registro de Ocorrência.”

Nessa ocasião surgia e crescia as vitimas de PROJETIL DE ARMA DE FOGO. “Era assim chamado o acidente que ocorria, quase sempre, por imperícia ou negligência provocada por PROJÉTIL ALEATÓRIO DE DISPARO DE ARMA DE FOGO”, disparado a esmo, por policial como tiro de advertência: por torcedores comemorando vitória ou em confronto com rivais, traficantes em confronto entre si ou com policiais e disparo para o alto por apenas disparar, que se perdem de seus alvos e encontram e atingem pessoas alheias a esses fatos.

As pesquisas realizadas e as publicações divulgadas sobre as estatísticas de balas perdidas nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, indicam que esses Estados são campeões em registro de ocorrências de homicídios e lesões corporais, resultados de disparo de arma de fogo que atingem pessoas alheias aos fatos criminais em andamento.

A verdade é que a ocorrência de bala perdida, que ainda não é tipificada como crime é protagonizada por diversas pessoas, dentre elas policiais, se avolumam diariamente e a opinião pública, muitas vezes depende somente da mídia ou de registros nos hospitais onde são conduzidas as vítimas, para tomar conhecimento desse tipo de delito, sobretudo de familiares e amigos dos mortos e feridos.

Para detectarmos esse tipo de ocorrência policial no Estado do Ceará e podermos assim realizar a pesquisa sobre a bala perdida, utilizamos as fichas de ocorrências da CIOPS e reportagens jornalísticas, em virtude da inexistência de tipificação para esse ato, além de não haver estatística oficial dos órgãos de segurança pública que pudessem mensurar e informar essa prática ilegal protagonizada por policiais militares e civis.