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O comprometimento da atividade policial cearense e os desvios de conduta

3. AS DEFICIÊNCIAS NA CAPACITAÇÃO ADEQUADA AOS AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA NO CEARÁ

3.2 O comprometimento da atividade policial cearense e os desvios de conduta

Muitas são as conseqüências da má formação policial elencadas diariamente pela mídia, resultantes da ausência de qualificação desses profissionais manifestadas nas ações desastrosas e na prática de crimes e desvios de conduta, alguns internalizados produzidos e reproduzidos em comportamentos externalizados nas ações diárias de policiamento. Por esses e outros fatores, muitos policiais enveredam pelo caminho da criminalidade resultantes dos constantes assédios de criminosos, devido à fragilidade a que são expostos no campo das questões financeiras, sociais, moradia, educação e a própria falta de segurança a que também estão expostos, por residirem em comunidades carentes, onde predomina a violência e a criminalidade, das quais também são vitimas de violação dos direitos humanos dentro da própria Corporação. A mudança do foco implantado atualmente no policiamento Ronda do Quarteirão de combater bandidos e criminosos para a proteção ao cidadão, adotando uma filosofia de assistencialismo geral às comunidades, tem encontrado obstáculos para o cumprimento desses objetivos, decorrentes da ausência de uma profissionalização desses policiais, bem como da necessidade de mudança de mentalidade e de uma formação que atenda os preceitos de cidadania, tanto na execução de sua atividade como no atendimento de seus direitos, também como cidadão.

Produzindo ações de violência arbitrária, os profissionais de segurança pública comprometem seriamente as instituições policiais e põem em dúvida a eficácia da qualidade do serviço patrocinado pelo Estado. Assim, podemos elencar vários fatores que identificam falhas na formação policial, passando desde o abuso de autoridade e outros descritos pela tipologia da violência policial, bem como os desvios de conduta contida no regulamento disciplinar dessas instituições. O descrédito da população na polícia como conseqüência do despreparo profissional, da precariedade e da ineficácia do aparato de segurança pública, colocado a disposição desses profissionais, que não conseguem planejar ações de cunho proativo e assim impedir o aumento da criminalidade violenta, faz com que muitos policiais lancem mão de ações e atitudes individuais e impensadas na busca de solução imediatas em situações de crises, das quais são cobrados pela sociedade, para agir e tomar decisões que dêem respostas às práticas criminosas.

Somando-se ao descrédito depositado pela sociedade no serviço de segurança pública do estado, resultado da ineficiência dos órgãos responsáveis em manter a ordem e a tranqüilidade pública, ainda estão os abusos e os crimes praticados pelos integrantes desses órgãos, dos quais podemos elencar os mais perpetrados e divulgados diariamente pela mídia: A Corrupção Policial: embora estejam presentes, em variados graus, nos mais diversos tipos de instituições, a corrupção constitui marca registrada das nossas policias. Isso se deve em parte aos salários aviltantes que os policiais recebem, na maioria dos estados brasileiros, em nosso Estado não é diferente, e que eles muitas vezes complementam prestando serviços (ilegais) de segurança privada, ou por meio de práticas irregulares durante o próprio trabalho. Grupos de Extermínio e Justiceiros: a formação militar induz a resolução imediata de problemas diários enfrentados no cumprimento da missão e conseqüentemente corroborados pela pressão social em extirpar pessoas inconvenientes daquele local. Procurados por comerciantes e outras pessoas, os integrantes dessas instituições são convocados a eliminar criminosos, delinqüentes e ladrões contumazes, como forma de lixeiros sociais, numa assepsia desses locais, suscitando esses grupos. Surgimento de Milícias: grupos de policiais que reunidos, suprem traficantes e criminosos, passam a realizar atividades delituosas, prestando serviços públicos ilegais, cobrando pedágio a moradores como forma de proteção. Substituem, após expulsarem criminosos que atuavam em comunidades carentes, em conseqüência da ausência do poder público. Ocorrências Desastrosas: muitas são as ocorrências mal atendidas por policiais em conseqüência de uma formação deficiente e desqualificadas que resultam muitas vezes em morte ou lesão corporal em pessoas inocentes, como é o conhecido caso da Hilux:

Cerca de 25 marcas de balas de pistolas e metralhadora. Manchas de sangue espalhadas pelo interior de uma Hilux preta. As imagens retratam o terror que dois casais viveram na noite de ontem, na Avenida Raul Barbosa, no bairro Dionísio Torres, quando o veículo em que eles trafegavam foi confundido pela Polícia com a camionete de um grupo de assaltantes. Três dos quatro ocupantes do carro saíram feridos. O espanhol Marcelino Ruiz Pompeu, 38 anos, foi baleado e pode ficar paraplégico. O italiano Inocenzo Brancatio, 39, que conduzia a Hilux, teve o antebraço fraturado por um dos disparos. (JORNAL O POVO, 01/09/07).

A constatação do descrédito nas instituições policiais, amplamente divulgadas pela mídia, aliada a violência protagonizada pelos seus integrantes, reflexo da carência de qualificação individual, tem conduzido parte da sociedade com maior poder aquisitivo a contratar segurança particular fazendo com que essa atividade tenha crescido bastante nos últimos anos. O número de agentes de segurança privada supera o de policiais civis e militares no Brasil.

O grande salto no número dessas empresas ocorreu nas décadas de 1980 e 1990. De acordo com dados da Polícia Federal de 2004, o número de agentes da segurança privada é de 1,148 milhão, mas deve chegar a 2 milhões se forem contados os trabalhadores sem registro legal, embora não existam dados sobre isso. Esse crescimento não se deve apenas ao aumento da criminalidade. Um de seus motivos foi à percepção, por parte das empresas, de que a insegurança poderia ser uma boa oportunidade para vender serviços. Em todo o mundo, os serviços de segurança estão presentes e em grande número, mesmo em países onde a criminalidade não subiu. A segurança privada teria crescido mesmo sem um aumento da criminalidade.

Aumento do roubo de cargas também motiva busca de segurança privada, diz Fenavist. O aumento das ocorrências de roubo de cargas no país nos últimos cinco anos é um dos motivos recentes para o crescimento da procura de vigilância privada. A afirmação é do presidente da Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist), Jerfferson Simões. Segundo ele, a ocorrência desse tipo de crime fez com que a Polícia Federal permitisse uma flexibilização maior nos serviços de escolta armada, o que acabou refletindo no segmento de segurança privada como um todo. A escolta é um dos quatro tipos de segurança privada, em que os vigilantes acompanham cargas ou transportes de valores para evitar o roubo. (REVISTA FENAVIST SÃO PAULO)