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A racionalidade instrumental na perspectiva do Toyotismo

No documento 2008FernandoBencke (páginas 52-56)

CAPÍTULO II DIMENSÕES DA RACIONALIDADE PRESENTE NAS PROPOSTAS DE

2.1 Racionalidade instrumental: influências de modelos de produção

2.1.5 A racionalidade instrumental na perspectiva do Toyotismo

O modelo do Toyotismo caracteriza-se pela superação racional instrumental dos modelos taylorista/fordista de produção, baseado na tentativa de recuperação do clico

27 A transformação dos camponeses em operários, o rigor da supervisão sobre o trabalho, a adaptação do produto

com foco à necessidade do cliente (muitas vezes produzida pelo próprio sistema capitalista), a reaplicação das fortunas produzidas nas próprias empresas, o incentivo ao consumo, ao ganho são umas características que marcam o espírito do capitalismo.

produtivo e resgate do processo de dominação, objetivando novas formas de acumulação de capital. Na década de noventa, o toyotismo tornou-se uma ideologia universal da produção sistêmica do capital, baseado principalmente em princípios ideológicos, organizacionais legitimados sob os modelos de administração.

Seus idealizados, o engenheiro Eiji Toyoda e o especialista em produção Taichi Ohno investiram em estudos e em tecnologias para criar máquinas flexíveis a mudanças, que se adaptassem à produção de vários produtos – essência do modelo japonês. As mercadorias deveriam ter giro rápido, pouco espaço para armazenagem, eliminando assim os custos com estoque.

Toyoda, conforme Peres (2004), passou a analisar na década de 50 os modelos de industrialização da linha fordista de produção, cuja proposta era de produzir primeiro para depois vender (grandes estoques), ficando impressionado com as gigantescas fábricas, quantidades de estoque, espaço físico disponível e número de funcionários. Concluiu que o modelo fordista/taylorista necessitava de uma reestruturação, sem, no entanto, desprender-se do propósito capitalista. Tratava-se de reorganizar os ciclos produtivos, preservando seus fundamentos essenciais – o capital. Uma nova forma de organização do trabalho, flexível, exigindo menor concentração de estoque, simplificando o sistema fordista de produção.

Sob uma crise do capital, motivada principalmente pelo fordismo, o operário meramente executor não era mais lucrativamente interessante, ensejando a um novo perfil de operário polivalente e participativo, capaz de além de executar, identificar e corrigir possíveis erros.

O capital não somente transformou as relações de produção na esfera econômica, mas também os conceitos de qualificação do trabalhador na esfera sócio-cultural. Com o intuito de convencer os operários de que o ambiente e as relações de trabalho são as melhores possíveis, estratégias como automatização, just-in-time, kanban, trabalho em equipe, flexibilização da mão-de-obra, gestão participativa e controle de qualidade total, são utilizados sob discurso do modelo toyotista de produção enfatizando melhorias no que diz respeito ao trabalho mais qualificado e habilitado. Todas elas incorporadas em empresas em todo mundo e também inseridas em forma de conteúdos no ensino da administração em disciplinas de conhecimento específico de formação profissional e ensinada até hoje nos currículos universitários. Esse processo de modernização passou a prevalecer nas sociedades industriais uma forma de racionalidade do tipo instrumental, que se define basicamente pela relação meios-fins, pela organização de meios adequados para atingir fins previamente determinados e calculados. Focaremos, no decorrer do presente trabalho, a relação entre as formas de desenvolvimento do

trabalho industrial na sociedade capitalista que expandiram os procedimentos e a racionalidade para setores do âmbito da vida social vinculando ao progresso da técnica e da ciência.28

Atentamos ao fato de que a institucionalização de novas tecnologias e de novas técnicas legitimadas pelo desenvolvimento do conhecimento cientifico e técnico, propiciando o aperfeiçoamento das forças produtivas, recebe do sistema capitalista um mecanismo regulador que assegura a sua própria manutenção.

No que se refere à automação, considerado como o primeiro elemento do modelo toyotista, possibilitou a manuseio de máquinas capazes de parar automaticamente em caso de problemas ou defeitos na produção, ou seja, o trabalhador até então treinado para desenvolver seu trabalho em uma única máquina passa a se responsabilizar por várias, diminuindo assim a necessidade de mais trabalhadores. O just-in-time, um dos elementos de maior destaque, foi inserido em meados da década de 70 com o objetivo de diminuir os espaços de armazenagem, sejam por matérias-primas, peças de reposição ou a mercadoria acabada; e também pela possibilidade de detectar a demanda de produção em função da necessidade, ou seja, antes de produzir, a venda já era realizada, garantindo assim todos os custos de produção (eliminação de desperdícios) e o estoque reduzido à zero.

O papel do líder, presente nas discussões motivadas pelo ensino da administração atualmente surgiu, de certo modo, pelo modelo Toyotista de produção. Nesse modelo, o líder é responsável por orientar e coordenar um trabalho de equipe em pleno processo de produção, possibilitando a substituição daqueles que viessem a desempenhar insatisfatoriamente a sua atividade, diminuindo assim o “tempo morto”, tempo desperdiçado causado pela troca de empregados.

O modelo Toytista de produção acaba por exigir um novo perfil de profissional, um profissional polivalente para assumir qualquer posto de trabalho, preparado para produzir sobre demandas (encomenda), flexível, capaz de adaptar-se imediatamente para a nova produção no decorrer do dia, inserida numa rotina de trabalho desgastante de muitas horas de trabalho para suprir a demanda exigida.

O exemplo da qualidade total, inserida pelo modelo toyotista de produção, conforme Antunes (1999), surgiu por reivindicações na década de 60 por melhores condições de

28 Neste particular, promovemos uma discussão no primeiro capitulo sobre administração, técnica e ciência, com

o aporte teórico com base de Jürgen Habermas. É importante frisar que as causas dos grandes problemas da sociedade industrial moderna, e aqui nos referimos às reflexões de Habermas, não reside no desenvolvimento cientifico e tecnológico como tal, mas sim a perspectiva do projeto da humanidade, que deixa de lado discussões sobre questões da sociedade, sua trajetória e seu futuro.

trabalho e o descontentamento público com a tendência decrescente do valor de uso das mercadorias. Os certificados de qualidade são criados no intuito de convencer a todos de que o ambiente e as relações de trabalho são as melhores possíveis e que as mercadorias são liberadas sobre critérios rígidos de qualidade. Aos profissionais ao serem contratados e analisados, prevalecem aqueles julgados qualificados o suficiente para ocupar os cargos propostos. A qualidade total voltava-se para a preocupação com o índice zero de desperdício para o sucesso da produção e a lucratividade, desenvolvendo um produto de alto padrão de qualidade, inserindo-se no competitivo mercado. Conforme Antunes (apud Peres 2004, p.7-8), “assim os lucros capitalistas dependem do mercado e do consumidor. Se o mercado exige qualidade é porque o público consumidor também exige. E o capital sabe muito bem disso e por isso instaura os programas e certificados de qualidade total”.

Sobre a gestão participativa, os operários, num processo ilusório, são levados a se sentirem como participantes da empresa, assumindo postos de liderança, tornando-se gerentes, passando a responder pela produção ao mesmo tempo em que executa o processo de controle de qualidade. Ou seja, ao mesmo tempo em que há uma sobrecarga de trabalho e responsabilidades, há uma busca pela competitividade ao cargo, estimulando a competitividade, a produtividade e o individualismo.

O toyotismo oculta a proposta ilusória da valorização do operário como participativo e integrado ao processo produtivo, um trabalhador polivalente e multifuncional, capaz de trabalhar com diversas máquinas simultaneamente. A exigência de um novo perfil de operário, conforme Peres, não mais como “apêndice da máquina, mas também como um ser pensante, consciente e integrado ao processo produtivo cria bases para o novo modelo de produção”. (2004, p.05), um empregado polivalente conhecedor de suas atribuições, capaz de compreender a essência do processo produtivo. Conforme Antunes (1999), através da flexibilização profissional, o trabalhador se torna polivalente, capaz de conhecer além de suas atribuições e compreender a essência do processo produtivo. Conhecendo outras operações pode-se reforçar a cooperação entre funcionários, aumentando a eficiência e a produtividade em prol do capitalismo.

Surge assim, o discurso voltado à valorização do trabalho em equipe, da qualidade de trabalho, da flexibilização e qualificação do trabalhador, ocultando, porém, a exploração, a intensificação e precarização do trabalho inerente a busca insaciada pelo lucro, possibilitando o toyotismo a degradação das condições de trabalho e dos direitos trabalhistas.

No documento 2008FernandoBencke (páginas 52-56)