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CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.4 PESQUISAS REALIZADAS NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS

2.4.3 A realização da fricativa alveolar /s/ no PE abordagem

Segura e Saramago (2001) apresentam, em seu estudo, documentos representativos de variação fonética e lexical do PE. Os autores demonstram excertos de textos gravados, com informantes de várias localidades, nos quais se podem observar as diferenças de pronúncia de diversas regiões, além de um exemplo da enorme diversidade lexical que determinados conceitos podem apresentar. A amostra que os autores utilizam é retirada do Arquivo Sonoro do Grupo de Variação do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa53, que trata de textos gravados aquando da aplicação de inquéritos dialetais para o Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (ALEPG), em curso de realização naquele centro de investigação. O perfil dos informantes é sempre o mesmo, portanto, são adultos, de idade superior a 55 anos, analfabetos ou de instrução que não ultrapasse os primeiros graus de escolaridade e, de uma maneira geral, naturais de comunidades rurais ou piscatórias pouco populosas.

Tendo como base a classificação de Lindley Cintra (1983b), na qual um dos traços diferenciadores para a divisão do espaço dialetal português é a realização das sibilantes ápico-alveolares [s, z] para os fonemas /s, z/54, os autores distinguem no interior da fronteira política portuguesa, dois principais grupos de dialetos, os setentrionais e os centro-meridionais55.

O traço fonético selecionado para distinguir o grupo de dialetos setentrionais do grupo de dialetos centro-meridionais é o que estabelece o limite entre realizações ápico-alveolares [s, z], próprias do norte, e realizações pré-dorso-dentais [s, z], próprias do sul. No grupo dos dialetos setentrionais, distinguem-se, ainda, outros dois grupos: o dos dialetos transmontanos e alto-minhotos e o dos dialetos baixo-minhotos, durienses

53 Ver Capítulo 5, seção 5.6.3.3. 54 Conforme anexo A.

e beirões. O que individualiza o primeiro grupo, dialetos transmontanos e alto-minhotos, é a existência de um sistema de quatro sibilantes, duas consoantes com articulação ápico-alveolar /s, z/ e duas consoantes com articulação pré-dorso-dental /s, z/. Já, o que caracteriza o segundo grupo, dialetos baixo-minhotos, durienses e beirões, é a simplificação em apenas duas sibilantes, ambas com articulação ápico-alveolar /s, z/ (SEGURA; SARAMAGO, 2001).

O grupo dos dialetos centro-meridionais, de acordo com os autores, distingue-se do grupo dos dialetos setentrionais pela simplificação do sistema de quatro sibilantes em apenas duas, em benefício das realizações pré-dorso-dentais [s, z] que constituem a norma linguística portuguesa. Embora a área ocupada pelo português centro- meridional apresente, do ponto de vista dialetal, uma maior homogeneidade do que a área correspondente ao português setentrional, é todavia possível distinguir dentro dessa área dois grupos de dialetos, o grupo de dialetos do Centro-Litoral (estremenho-beirões) e o grupo de dialetos do Centro-Interior e Sul (ribatejano-baixo-beirão-alentejano- algarvio). Ambos os grupos de dialetos são delimitados pela isófona que corresponde à monotongação do ditongo [ej] em [e] que lhe serve de fronteira. É importante salientar, relativamente a esse traço, que Lisboa constitui uma ilhota de conservação do ditongo no interior de uma área de monotongação.

Conforme Segura e Saramago (2001), há, ainda, dentro dos dois principais grupos de dialetos portugueses, os setentrionais e os centro- meridionais, outras variedades dialetais, como a variedade do Baixo Minho e Douro Litoral, dentro dos dialetos setentrionais, que é delimitada pelas isófonas correspondentes à ditongação das vogais médias acentuadas [e] e [o] respectivamente em [je] e [wo] ou mesmo em [wa]. Já, dentre os dialetos centro-meridionais, mais especificadamente dentro da extensa área ocupada pelos dialetos do Centro-Interior e Sul, destacam-se, segundo os autores, duas variedades localizadas em extremidades opostas e que apresentam alteração de timbre do sistema vocálico acentuado, a variedade da Beira Baixa e Alto Alentejo e a variedade do Barlavento e Algarve. Na primeira variedade, a variedade da Beira Baixa e Alto Alentejo, os traços mais salientes são: palatalização do [u] em [y], palatalização de [a] em [], palatalização do [o] proveniente da monotongação do antigo ditongo [ow] em [], labialização da vogal [a] em [] e desaparecimento da vogal final não acentuada [u].

Na segunda variedade, de acordo com Segura e Saramago (2001), do Barlavento e do Algarve, menos extensa do que a anterior, constata-se uma deslocação em cadeia das vogais acentuadas: abertura e abaixamento das vogais anteriores – [i] em certos contextos (nasais e vibrantes) é pronunciado quase como [e], [e] é realizado como [], fazendo surgir uma vogal extremamente aberta, [], a corresponder a []; velarização da vogal central [a] que é pronunciada muito próxima de []; o timbre do [] aproxima-se do [o]; palatalização de [u] em [y]; redução do ditongo acentuado em posição final, [ew] a []; ditongação da vogal final acentuada [a] que é realizada como [aw]; e desaparecimento de [u] e de [] final não acentuados, grafados respectivamente -o e -e.

Com relação aos dialetos insulares, conforme os autores, os dialetos que mais se destacam, pela especificidade e regularidade de alguns dos seus traços, são os da Madeira (Porto Santo incluído), de São Miguel e da Terceira. Dentre os dialetos madeirenses, pode-se afirmar que os traços individualizadores desses dialetos são: ditongação da vogal [i] acentuada em [j] ou [j]; ditongação da vogal [u] acentuada em [w]; palatalização de /l/ em posição inicial ou medial de sílaba, quando é precedido de [i] ou [j]; e semivocalização ou vocalização de -s final em [j] ou [i] quando seguido de consoante sonora ou de fricativa surda.

Quanto aos dialetos açorianos, de acordo com Segura e Saramago (2001), em São Miguel constata-se, relativamente ao sistema vocálico acentuado, uma evolução em cadeia, assim: [i] é realizado com maior abertura e abaixamento [i], ou seja, quase como [e]; [e] labializa em []; [] é realizado como []; [a] velariza em []; [] é realizado com maior fechamento, ou seja, como [o]; [o] é pronunciado como [u]; [u] palataliza, sendo realizado como [y]; [ej] monotonga em [e]; e [ow] palataliza em []. Na Terceira, o traço mais individualizador é a modificação da estrutura da sílaba acentuada sempre que, na sílaba anterior ou na sílaba final do vocábulo anterior, existe um [i] ou [j] ou, então, [u] ou [w]. Essa modificação traduz-se no aparecimento das semivogais [j] ou [w], respectivamente, antes da vogal acentuada com a qual forma um ditongo crescente. Trata-se, portanto, de um fenômeno de harmonização vocálica devido à qualidade da vogal ou da semivogal pretónica.

O estudo de Andrade e Slifka (2006), sobre a realização fonética das sibiliantes produzidas no dialeto de Travanca de São Tomé-Beira Alta, foi constituído a partir de um corpus, no qual foi solicitado aos informantes que gravassem um discurso livre, interpretassem algumas

imagens e que fizessem uma leitura de frases e de palavras (par mínimo). Conforme as autoras, o estímulo dado para o primeiro informante fazia com que ocorressem confusões entre /s/ e // e entre /s/ e /s/ para o segundo informante; entretanto, confusõesentre/s/e // não ocorriam. No geral, Andrade e Slifka (2006) afirmam que a identificação de estímulos para o primeiro informante era mais confusa do que para o segundo informante.

Dentro da teoria da geometria dos traços, dois traços dependentes do traço [coronal], ou seja, o traço [anterior] e o traço [distribuído] definem as três classes em questão de uma forma que é mais ou menos equivalente a classificação tradicional. Diante dessa equivalência, conforme Andrade e Slifka (2006), a definição de /s, z/ como [+anterior] e [+distribuído], /s, z/como [+anterior] e [-distribuído], e /, / como [- anterior] e [+distribuído] é (ou pelo menos parece) consensual entre fonólogos com essa abordagem teórica.

A busca por um fator fonéticocomum em relação à distinção

apical/laminal

leva as autoras a considerar o possível papel de outra propriedade acústico-articulatória: a ocorrência/ausência deuma cavidadesublingual. Andrade e Slifka (2006) observaram que as sibilantes em

Travanca de São Tomé

são produzidasna regiãodento-alveolares e que podemserclassificadas

como [+anterior]. Os resultados do primeiro informante mostram quea

posição da constrição correspondente às chamadas sibilantes ápico-

alveolares podem, de fato, não seralveolar, mas mais frontais, entre os falantes desse dialeto. Desse modo, segundo as autoras, levando em consideração os resultados da análise acústica, o atributo acústico- articulatório relevante, comum aos dois informantes, para a distinção entre /s/, por um lado, e/s/por outro lado, éa contribuição dacavidade sublingual. Isso mostra, também, conforme as autoras, que o traço [distribuído] desempenha um papel menor do que a cavidade sublingual na definição e/ou descrição desses dois segmentos.

A pesquisa de Candeias (2007) tem como objetivo principal identificar e descrever o sistema fonológico da Beira Interior, em especial da área geograficamente delimitada como concelho do Fundão, e fazer algumas considerações sintático-semânticas. Assim, na área fonológica, que é a que nos interessa resenhar para esse estudo, a autora descreve as unidades mínimas e distintivas e as latitudes de variação de como são articuladas, de campos de dispersão ou de fronteiras entre campos ou estádios limiares. Teoricamente, a autora faz as aproximações de relação

necessárias para se notar que um fonema é distinto de todos os outros fonemas do mesmo sistema linguístico; sendo que, praticamente, a autora dá provas da pertinência dos fonemas que (en)formam o sistema da variedade linguística que a autora descreve.

A autora relata que recorreu, primeiramente, a segmentos transcritos de conversação espontânea, captados no cotidiano, e a materiais recolhidos em entrevistas e inquéritos linguísticos. Não se restringindo à análise de dados recolhidos nas conversas dirigidas, a autora empregou um questionário pré-estabelecido de modo a auxiliar metodologicamente a descrição de determinados grupos de designações. Esse questionário abrange diálogos entre informante e inquiridor, além de diálogos entre mais de um informante e inquiridor.

Candeias (2007) afirma, ainda, que a seleção final do corpus gravado foi feita levando em conta o equilíbrio entre contextos, de modo a não ocasionar na descrição do sistema uma disparidade entre o número de segmentos analisados em cada subsistema e em cada modelo funcional de frase. A amostra do estudo de Candeias (2007) consiste em entrevistas realizadas pela autora em 28 localidades da Beira Interior, concelho do Fundão, com informantes nativos de ambos os sexos (no mínimo um homem e uma mulher), com mais de 45 anos de idade e com escolaridade baixa (ou analfabetos).

Não é nosso propósito descrever todos os resultados obtidos por Candeias (2007) e nem analisar todo o sistema fonológico da Beira Interior, com isso descrevemos apenas os resultados alcançados pela autora no que tange os segmentos fricativos alveolares. Candeias (2007) obteve como resultados para a fricativa alveolar surda /s/ em contexto inicial de sílaba, 48% de realizações em posição inicial, 38% de ocorrências em posição intervocálica [gras e 15% em posição pós- consonantal; para a fricativa alveolar sonora /z/, 5% de realizações em posição inicial, 83% de ocorrências em posição intervocálica e 12% em posição pós-consonantal; para a fricativa palato-alveolar surda //, 28%

de realizações em posição inicial, 58% de ocorrências em posição

intervocálica [kao], 13% em posição pós-consonantal e 0,7% em posição pré-consonantal. Salientamos que a fricativa palato-alveolar sonora // não foi significante nos resultados alcançados pela autora e que a realização das ápico-alveolares /s, z/ não foi contemplada na análise dos dados de Candeias (2007).

González (2008) faz um estudo fonético e fonológico no qual analisa o conjunto de rimas VC em posição medial, com o fim de observar

o seu funcionamento em um sistema linguístico galego (dialeto ocidental galego) e em um sistema linguístico do PE (dialeto de Lisboa). A escolha foi devida, segundo o autor, a diversos pressupostos que indicam que o conhecimento dos dois sistemas em questão pode ajudar na compreensão da evolução de certas propriedades fonológicas e a verificar se as mudanças se dão apenas no plano fonético ou se afetam, e em que medida, a estrutura da própria língua. Para isso, González (2008) procura analisar algumas das propriedades fonéticas das consoantes no limite direito de sílabas mediais nos dois sistemas linguísticos selecionados, a depender do contexto fonético e fonológico em que se encontram. Além disso, procura investigar por meio da Teoria da Otimidade as restrições das quais dependem esses contextos e a sua hierarquia na análise fonológica de cada um dos sistemas.

O corpus do estudo de González (2008), que consiste nos dados do dialeto lisboeta, comtempla a gravação de 101 estímulos lexicais inseridos na frase-veículo “Diga _____, por favor”. Já o corpus referente ao dialeto ocidental galego consiste na gravação de 98 estímulos lexicais inseridos nessa mesma frase-veículo. Além disso, o autor salienta, em relação às estruturas VC, que no caso de /S/ foi controlada também a variável vozeamento a fim de observar as propriedades do segmento dependendo do vozeamento do ataque da sílaba seguinte. São três informantes lisboetas e três informantes galegos que fazem parte dos corpora do autor, todos do sexo masculino, com faixa etária de 25 a 29 anos e nível de escolaridade alta (nível universitário).

O autor realizou duas análises em sua pesquisa: uma que contempla as propriedades acústicas dos segmentos //, /S/, /l/, /N/ e outra que trata das restrições, à luz da Teoria da Otimidade, para a realização desses segmentos em análise. Como resultados da análise acústica, considerando apenas os resultados que englobam as realizações de /S/, González (2008) ressalta que o segmento fricativo em coda /S/ apresenta diferenças de duração e de frequência motivadas pelo vozeamento do ataque da sílaba seguinte. O autor afirma, ainda, que a principal diferença entre as realizações de /S/ nos dois sistemas remete para o ponto de articulação, ápico-alveolar nos informantes galegos e palato-alveolar nos informantes portugueses. Quanto aos resultados da análise à luz da Teoria da Otimidade, González (2008) relata que, nas produções de /S/, a preservação do valor do traço [soante] entre o input e o output é assegurada pela restrição IDENT-IO[SON]; assim mesmo, AGREE[VOICE] dá conta das assimilações de vozeamento entre os alofones de /S/ e o ataque da sílaba seguinte. A diferença articulatória entre os dois sistemas

deve-se à ação da restrição NOCODA[+ant] no sistema português, que permite a emergência de segmentos coronais [-anterior].

O estudo de Brissos (2011) investiga a linguagem do Sueste da Beira nos planos diacrônico e sincrônico. O autor apresenta as principais questões e os principais traços definidores da referida linguagem, além de um estudo descritivo de um corpus diacrônico de documentos produzidos na região nos séculos XIII e XIV56, de um corpus sincrônico de dados do Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (ALEPG)57 e de dados de recolha própria. Salientamos, entretanto, que vamos resenhar somente os apontamentos referentes ao sistema de sibilantes produzidas nas localidades que foram investigadas pelo autor.

56 Fazem parte do corpus diacrônico, 99 documentos tabeliônicos produzidos no

atual distrito de Castelo Branco nos séculos XIII e XIV. Com referência a esse corpus, Martins (2001, p. 13) relata que “Os documentos [publicados na obra] […] formam uma colecção organizada de modo a constituir uma base de trabalho para estudos de linguística histórica, possibilitando enfoques comparativos de pendores diversos. Juntamente com os documentos da mesma natureza publicados por Clarinda de Azevedo Maia (1986) - 136 documentos da Galiza e 32 do noroeste de Portugal - são um contributo para o preenchimento de um espaço deficitário no domínio da Filologia Portuguesa, o da edição de textos não literários de proveniência regional diversa”.

57 O projeto ALEPG foi iniciado em 1970 por uma equipe dirigida por Luís F.

Lindley Cintra que se encarregou, nos quatro primeiros anos, da elaboração do questionário linguístico cuja aplicação guiaria a recolha de dados. Trata-se de um questionário essencialmente lexical, de base onomasiológica. O questionário inicialmente aplicado contém cerca de 3.500 perguntas, mas veio a ser reduzido para cerca de 2.000, a fim de acelerar a sua aplicação e viabilizar a finalização do projeto. O atual questionário reduzido incide principalmente sobre o léxico ligado às tecnologias tradicionais, à agricultura e à agropecuária. A rede de inquéritos desse atlas é constituída por um total de 212 pontos distribuídos da seguinte forma: 176 em território continental, 17 no arquipélago dos Açores, 07 no arquipélago da Madeira e 12 em território espanhol (zonas fronteiriças). Os inquéritos foram realizados a partir de 1974, tendo o questionário integral sido aplicado em 70 localidades e o reduzido em 138 pontos. O perfil do informante alvo do ALEPG é o clássico, ou seja, plenamente conservador e ligado à terra. Segundo Saramago (2006, p. 283) “procurou-se, sempre que possível, que os informantes pertencessem a uma camada etária acima dos 50 anos; no máximo, com a escolaridade primária; com o mínimo de ausências da localidade e por curtos espaços de tempo; com pais e cônjuge oriundos da localidade ou, então, de localidades próximas. Deviam igualmente possuir boa capacidade de resposta, para além de boas características articulatórias”.

Quanto aos dados de recolha própria, Brissos (2011) relata que esses dados serão incluídos aos dados do ALEPG, visto que esse último corpus será o principal a ser estudado. O autor menciona, ainda, com relação aos dados de recolha própria, que a coleta desse corpus foi realizada no mês de novembro de 2008 no concelho de Penamacor58, nas localidades de Águas, Aranhas, Benquerença e Meimão. Concelho esse, Penamacor, que não está contemplado nas entrevistas realizadas no ALEPG. Brissos (2011) afirma que os dados de recolha própria foram coletados por meio de inquéritos que foram coordenados pelo investigador responsável do ALEPG, João Saramago.

Conforme o autor, o perfil do informante é o mesmo do ALEPG. Desse modo, na localidade de Águas, o inquérito foi realizado com um informante masculino, de 75 anos, analfabeto; na localidade de Aranhas, a entrevista foi realizada com seis informantes, cinco mulheres e um homem, de 65 a 82 anos e com escolaridade baixa (estudos nulos ou mínimos); na localidade de Benquerença, o inquérito foi realizado com um informante masculino, de 80 anos, com o 4o ano de escolaridade; e na localidade de Meimão, a entrevista foi realizada com um informante masculino principal (de 77 anos e analfabeto) e com um informante feminino secundário (mais de 70 anos e analfabeto).

Brissos (2011) afirma, quanto ao sistema de sibilantes, que tal como tem sido assinalado na literatura, passa no Sueste Beirão a fronteira entre a área portuguesa de sibilantes exclusivamente ápico-alveolares /s, z/ e a área de sibilantes exclusivamente pré-dorso-dentais /s, z/. Vale ressaltar, segundo o autor, que esses segmentos realizam-se em coda silábica como ápico-alveolares e palato-alveolares /, /, respectivamente.

Com base nos dados do ALEPG, o autor relata que Salvaterra do Extremo, Monsanto e Alcongosta são as localidades que realizam exclusivamente as sibilantes ápico-alveolares /s, z/; Idanha-a-Nova, Rosmaninhal, Malpica do Tejo, Foz do Cobrão, Isna e Cardosa são as localidades que realizam exclusivamente as sibilantes pré-dorso-dentais /s, z/. Nos dados de recolha própria, Brissos (2011) aponta que a localidade de Penamacor apresenta realizações ápico-alevolares.

De acordo com o autor, os informantes mais jovens que se inserem em segmentos sociais menos conservadores abdicam as sibilantes ápico-alveolares em detrimento do sistema normativo, as sibilantes pré-dorso-dentais. Esse processo origina normalmente, pelo menos nos primeiros estádios de evolução, um sistema misto: um sistema

que procura as pré-dorso-dentais, mas tem fortes vestígios do sistema adquirido na infância e ainda em vigor nas gerações mais velhas (o sistema das ápico-alveolares /s, z/).

A pesquisa de Henriques (2012) tem como objetivo principal determinar o estatuto prosódico da fricativa coronal /S/ no PE quando seguida de obstruintes em posição inicial de palavra, admitindo-se ou não a existência eventual de um núcleo vazio antes desse segmento. Essa particularidade, segundo a autora, reside no fato de, com base no Princípio de Sonoridade e na Condição de Dissemelhança, não ser possível um ataque complexo fricatica+obstruinte porque esses ataques não respeitariam o valor mínimo de distanciamento de sonoridade estabelecido para as diversas línguas (Condição de Dissemelhança). Por conseguinte, conforme a autora, a fricativa coronal é encarada como ‘especial’, em diversas línguas (italiano, grego, holandês, inglês), devido às aparentes violações das restrições fonotáticas dessas línguas, caso integre um ataque ramificado com a consoante seguinte (/#()SC.).

Henriques (2012) opta, em seu estudo, por uma metodologia descritiva e reflexiva da literatura sobre o tópico em análise. Assim, segundo a autora, foram recolhidas pistas em nível da investigação fonética e fonológica, na área da aquisição fonológica e posteriormente as hipóteses explicativas foram comparadas com o intuito de construir e apresentar uma proposta. A autora ressalta, ainda, que não aborda uma única teoria fonológica, visto que várias teorias fornecem dados e perspectivas importantes para a análise do estatuto prosódico das fricativas coronais em início de sílaba e de palavra. Quer a fonologia não linear quer a fonologia articulatória ou a Teoria da Otimidade (TO) podem contribuir com informações importantes e profícuas para a compreensão do fenômeno, por isso a autora justifica a não escolha por uma única teoria.

Os resultados do estudo de Henriques (2012) apontam a supressão das vogais átonas iniciais, em PE; a comprovação do prefixo IN- na existência de uma vogal inicial, pois a marca da nasalidade não é atribuída à consoante; que a fricativa coronal assume a sonoridade da consoante seguinte; que a produção do artigo determinante de plural conduz, por vezes, à assimilação com a palavra seguinte e os falantes produzem [z], como quando a palavra seguinte começa por vogal; que em algumas sequências era admitida a existência de uma vogal fonológica. Com isso, a autora defende que a fricativa coronal se encontra em coda da primeira sílaba e que essa posição refere-se ao fato da fricativa não