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CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.3 PESQUISAS REALIZADAS EM OUTROS TERRITÓRIOS

A pesquisa realizada por Pessoa (1986) sobre o falar de Natal- RN, a qual integrou o Projeto “O português de Natal: variantes sociolinguísticas”, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, constitui uma amostra de quatro mulheres (duas com nível superior incompleto de classe média alta e duas com nível baixo de escolaridade de classe baixa), na qual a faixa etária das informantes varia de 20 a 25 anos. Nesse estudo, a realização da fricativa alveolar /s/ predominou no grupo dos informantes que possuem uma escolaridade mais elevada. Já o grupo dos informantes de escolaridade baixa favoreceu a ocorrência da fricativa palato-alveolar, segundo a autora, principalmente nos contextos em que a fricativa alveolar /s/ era produzida em posição medial seguida por consoantes coronais [t, d] e em posição final seguida por consoantes coronais [t, d, n, l].

Canovas (1991), em seu estudo sobre a realização do segmento alveolar /s/ pós-vocálico no falar de Salvador-BA analisa, levando em conta como variável dependente a fricativa palato-alveolar /, /, a fricativa alveolar /s, z/, a fricativa glotal /h, / e o zero fonético, 3.547 dados de fala (gravados em 17 fitas cassete) de 45 informantes soteropolitanos. As gravações foram feitas pela autora e tinham um caráter semi-informal. A amostra foi estratificada em três níveis de escolaridade (1º grau completo ou não, 2º grau completo e 3º grau completo) e em três faixas etárias (13 a 20 anos, 21 a 45 anos e 46 a 70 anos). Na etapa da fase assistemática, foram colhidos 99 casos de realização da variante glotal, extraídos de pronunciamentos de políticos e de pessoas influentes na sociedade, transmitidos pela televisão.

A análise dos dados, segundo a autora, mostrou a hegemonia da variante alveolar em todos os contextos, exceto diante das soantes /m/ e /l/, posição em que a variante glotal ocorreu com superioridade. No entanto, diante da vibrante /R/, a fricativa alveolar e a glotal ocorreram de forma semelhante. Em síntese, Canovas (1991) resume a análise dos seus resultados afirmando que as consoantes surdas e a pausa favorecem a realização da fricativa palato-alveolar; as consoantes sonoras favorecem a realização da variante glotal; as vogais, em juntura, favorecem a realização da fricativa alveolar. Quanto às variáveis sociais, a autora afirma que os falantes com maior nível de escolaridade (3o grau completo) e com faixa etária intermediária (21 a 45 anos) tendem ao uso da forma alveolar, sendo que a variação do /s/ pós-vocálico está caminhando na direção de variante alveolar  variante palato-alveolar  variante glotal  zero fonético.

Corrêa (1998) analisou, levando em conta como variável dependente a fricativa palato-alveolar /, /, a fricativa alveolar /s, z/, a fricativa glotal /h, / e o zero fonético, 1.200 dados sobre a realização da fricativa alveolar /s/ no falar brasiliense e obteve como resultado para a variante alveolar 97%, para a variante glotal 2% e para o zero fonético 1%. A autora concluiu que a variante alveolar é predominante em Brasília-DF e que algumas realizações da variante palato-alveolar foram idiossincrasias na fala de apenas alguns informantes. Para demonstrarmos melhor os resultados encontrados pela autora, visualizamos o Gráfico 11. Gráfico 11 - Realizações da fricativa /s/ em Brasília-DF

A pesquisa quantitativa deHora (2000) refere-se à realização da fricativa alveolar /s/ em João Pessoa-PB, sendo que a variante palato- alveolar é condicionada pelo contexto fonológico seguinte (consoantes coronais), pela categoria gramatical (verbo) e pelo número de sílabas (dissílabos), segundo o autor. Quanto às variáveis extralinguísticas, foram analisadas três faixas etárias, sendo que os informantes da segunda faixa etária, ou seja, da faixa etária intermediária (26 a 49 anos) favoreceram a produção da variante palato-alveolar. Com relação ao nível de escolaridade, o autor observou que quanto menos escolaridade o informante tem, mais realizações da fricativa palato-alveolar ele produz. Em estudo sobre a avaliação subjetiva, Hora (2000) constatou que o informante pessoense com maior escolaridade discrimina a variante palato-alveolar, preferindo a produção da fricativa alveolar. Em síntese, o autor verificou em sua análise que a variante palato-alveolar e a variante alveolar são realizadas de forma semelhante no falar pessoense.

Mota (2002) analisa, quantitativamente, a realização da fricativa alveolar /s/ em Salvador-BA em uma amostra de 15.000 ocorrências resultantes de 50 informantes (32 da década de 70, corpus Projeto NURC; e 18 da década de 90, do Projeto de Estudo da Variação em Tempo Real – PROVAR). A autora relata que a ocorrência da fricativa palato-alveolar é favorecida pela posição da fricativa na palavra (posição medial) e pelo contexto fonológico seguinte (consoantes coronais). Quanto às variáveis extralinguísticas, a autora afirma que a 1ª faixa etária da década de 70 favoreceu mais a realização da variante palato-alveolar do que as outras faixas etárias que foram selecionadas para o estudo em questão.

Mota (2012) analisa a realização da fricativa alveolar em coda silábica em 199 inquéritos linguísticos, oito em cada uma das 25 capitais que constituem a rede de pontos do ALiB. Os dados foram obtidos, segundo a autora, por meio do levantamento de ocorrências como estrada, caspa, mesma, desvio, três, dois, arco-íris, registradas no questionário fonético-fonológico (QFF) e no questionário semântico-lexical (QSL) do ALiB.

A autora investiga como variável linguística a posição da fricativa na palavra (posição medial e posição final) e como variáveis extralinguísticas a dimensão diassexual (feminino e masculino), a dimensão diastrática (escolaridade baixa – até a 7ª série e escolaridade alta – nível universitário), a dimensão diageracional (faixa etária 1 – mais jovens – 18 a 30 anos e faixa etária 2 – mais velhos – 50 a 65 anos) e a dimensão diatópica (localidades).

Mota (2012) obteve como resultados para o seu estudo, levando em conta a variável dependente (fricativa palato-alveolar /, / e fricativa alveolar /s, z/), um percentual maior de realização da variante palato- alveolar no falar dos informantes cariocas, belenenses e florianopolitanos. Além disso, dentre a variável linguística analisada (posição da fricativa na palavra) a autora revela como variante mais influente na realização da fricativa palato-alveolar a posição medial.

Já quanto às variáveis extralinguísticas, Mota (2012) observa que no Rio de Janeiro-RJ, as variantes palato-alveolares em coda silábica constituem a norma, não se verificando diferenças quanto à faixa etária, sexo ou nível de escolaridade dos informantes. Em Belém-PA, conforme a autora, registram-se diferenças diageracionais (com predominância das variantes palato-alveolares na faixa etária dos informantes mais jovens) e diasexuais (índices mais elevados no sexo feminino). Quanto à Florianópolis-SC, a autora afirma que são bem próximos os índices referentes aos dois sexos e aos dois níveis de escolaridade, observando- se diferença significativa quanto às faixas etárias, com predomínio da variante palato-alveolar em informantes mais velhos. Podemos observar os resultados gerais alcançados por Mota (2012) no Gráfico 12.

Gráfico 12 - Realizações da fricativa palato-alveolar na posição medial nas capitais brasileiras que palatalizam

Fonte: Elaboração própria com base em Mota (2012).

Podemos concluir, então, com base nesses estudos realizados no Brasil sobre a produção da fricativa alveolar /s/ em coda silábica que, nas regiões Sul e Sudeste, não há predomínio absoluto de nenhuma das

formas, pois há localidades que tendem a realizar a variante alveolar, como é o caso de São Paulo-SP e Porto Alegre-RS, e outras localidades que preferem a variante palato-alveolar, como ocorre em Florianópolis- SC e Rio de Janeiro-RJ. Quanto à região Centro-Oeste, não há muito do que se falar, pois poucos estudos foram feitos nessas localidades. No entanto, em Brasília-DF, como mencionamos anteriormente, a pesquisa de Corrêa (1998) constatou que existe uma realização alveolar quase absoluta. Já, em Cuiabá-MT, há um equilíbrio na ocorrência da variante alveolar e palato-alveolar.

Na região Nordeste, há o predomínio tanto da fricativa alveolar quanto da fricativa palato-alveolar. Vale ressaltar que algumas pesquisas apontam para a mesma localidade, a variante palato-alveolar como a predominante e, em outros estudos, a variante alveolar prevalece, revelando com isto um equilíbrio nas realizações dessas variantes na região Nordeste. Contudo, para a localidade do Recife-PE, a maioria dos estudos apontam uma ocorrência maior da variante palato-alveolar do que da variante alveolar.

Para a região Norte, as pesquisas parecem apontar uma predominância maior de realização da variante palato-alveolar, visto que essa variante ocorre, nos estudos aqui resenhados, com maiores frequências nas localidades de Belém-PA, Macapá-AP e Manaus-AM. Podemos observar e comparar no Quadro 1, os resultados dos estudos resenhados nessa pesquisa sobre a realização da fricativa alveolar /s/ em coda silábica.

Quadro 1 - Difusão da fricativa alveolar e palato-alveolar em coda silábica no território brasileiro

Região Sul

Localidades Variante mais frequente

Porto Alegre-RS alveolar

Florianópolis-SC palato-alveolar

Região Sudeste

Localidades Variante mais frequente

Rio de Janeiro-RJ palato-alveolar

São Paulo-SP alveolar

Região Centro-Oeste

Localidade Variante mais frequente

Cuiabá-MT alveolar/palato-alveolar Região Nordeste

Localidades Variante mais frequente

Salvador-BA alveolar/ palato-alveolar

Recife-PE palato-alveolar

João Pessoa-PB alveolar/ palato-alveolar

Natal-RN alveolar/ palato-alveolar

Região Norte

Localidades Variante mais frequente

Belém-PA palato-alveolar

Macapá-AP palato-alveolar

Manaus-AM palato-alveolar

Fonte: Elaboração própria com base nos estudos apresentados.

Para uma visualização mais ampla da realização da fricativa alveolar /s/ em coda silábica no Brasil, podemos observar a Figura 5, que traz uma distribuição diatópica nas capitais, com base em dados do Projeto ALiB – Atlas Linguístico do Brasil – sobre as realizações das fricativas palato-alveolares [, ] em posição medial e final de sílaba.

Figura 5 - Realizações das fricativas palato-alveolares em posição medial e final

Fonte: Elaboração de Mota (2010)45 com base nos dados do Atlas Linguístico do

Brasil (ALiB).

Com relação às fricativas palato-alveolares, Furlan (1989) afirma que a pronúncia palato-alveolar de /s/ em coda silábica no Brasil parece estar relacionada às áreas portuárias de influência portuguesa dos séculos XVIII e XIX, a saber: Santa Catarina, Santos, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém, Manaus e Rio de Janeiro, o que demonstra a importância marítima para a difusão do fenômeno.

Desse modo, observamos, na Figura 5, com base em Mota (2010), que há uma realização categórica das fricativas palato-alveolares [, ] em posição medial e final de sílaba no Rio de Janeiro-RJ e em Belém-PA. Já, em Florianópolis-SC, há uma realização categórica das fricativas palato-alveolares em posição medial e uma realização semicategórica em posição final de sílaba.

Assim sendo, o resultado demonstrado na Figura 5, elaborada por Mota (2010), vai ao encontro do que afirma Furlan (1989), no que diz

respeito à realização das variantes palato-alveolares [, ] em posição de coda silábica em Florianópolis-SC, no Rio de Janeiro-RJ e em Belém-PA.

2.4 PESQUISAS REALIZADAS NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS