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Capítulo II – O Estágio Pedagógico na Formação Inicial dos Professores

4. O estágio como vínculo no processo de aprendizagem

4.5. A reflexão como tomada de consciência da prática educativa

Na reta final da “viagem” que fizemos pelos pressupostos teóricos que assistiram às diferentes componentes da nossa prática educativa é chegada a altura de nos debruçarmos, também, naquelas que foram as questões da Reflexão.

Segundo Zeichner (1993) “uma maneira de pensar na prática reflexiva é encará- la como a vinda à superfície das teorias práticas do professor, para análise crítica e discussão. Expondo e examinando as suas teorias práticas, para si próprio e para os seus colegas, o professor tem mais hipóteses de se aperceber das suas falhas” (p. 21). Decerto que o processo de reflexão encontra-se subentendido a todo o processo de formação docente. Ao recorrer a ela, o educador/professor tem a oportunidade de refletir sobre as suas ações, sobre aquilo que faz corretamente ou não, etc.

Ao longo dos estágios, o processo de reflexão esteve sempre presente, desde as observações, das planificações, das intervenções pedagógicas, até à avaliação. Relativamente à observação, a reflexão serviu para a estagiária ponderar aquilo que pretendia mesmo observar, para posteriormente refletir no que deveria ter em conta para as suas ações. Quanto à planificação, pode-se dizer que o “refletir” foi a base da sua construção, na qual estagiária teve de considerar sobre todas as informações que recolheu, com o propósito de proporcionar uma prática educativa estável, segundo o meio em que se encontrava. Neste sentido, importa referir a importância que é dada ao sujeito reflexivo. Segundo Dias (2009), “o sujeito reflexivo será aquele que, confrontado com a resolução de uma tarefa, examina com cuidado a informação, planifica, ponderando várias alternativas” (p. 32). Na perspetiva de Morais e Medeiros (2007), “quando os professores reflectem sobre as suas experiências de ensino, são capazes de atribuir o seu sucesso ou falhanço a factores externos a eles próprios, ou podem, igualmente, avaliar os factores pessoais que envolveram nas tarefas de ensinar, incluindo disponibilidade ou responsabilidade” (p. 47). Já para Nóvoa (1992) é “através da reflexão-na-acção, que um professor poderá entender a compreensão figurativa que um aluno traz para a escola, compreensão que está muitas vezes subjacente às suas confusões e mal-entendidos em relação ao saber escolar” (p. 85).

Ao longo dos estágios contou-se com vários momentos dedicados à reflexão. Sabendo o papel importante que esta reflete na prática do educador/professor, a estagiária recorreu a ela ao longo de todo o seu processo de estágio, ou seja, desde que

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entrou no contexto sala de aula até à sua ação. Estas reflexões não foram decerto apenas realizadas somente pela estagiária, mas também com os colegas do núcleo, com as professoras cooperantes e com os seus orientadores de estágio. Portanto, ao refletir após ter recolhido os dados, a estagiária pôde planificar as suas sequências didáticas, ponderando sempre as possíveis estratégias, atividades e materiais a utilizar. Estas reflexões foram sempre realizadas em conjunto, pois como sabemos a “a reflexão é também encarada como um momento benéfico para a análise de situações educativas, para a identificação de actuações menos adequadas e sua reformulação posterior e para a exploração da articulação entre a teoria e a prática, clarificando-se a utilidade de determinados conhecimentos teóricos” (Serpa et al., 1999, p. 58).

No decorrer das ações pedagógicas, a estagiária também fez as suas reflexões no sentido de reajustar e melhorar algumas das situações que tinha previsto. Na realidade “o objecto da reflexão é tudo o que se relaciona com a actuação do professor durante o acto educativo: conteúdos, contextos, métodos, finalidades do ensino, conhecimentos e capacidades que os alunos estão a desenvolver, factores que inibem a aprendizagem, o envolvimento no processo da avaliação, a razão de ser professor e os papéis que se assumem” (Amaral et al, 1996, p. 98, citado por Leal, 2004). Nesta linha de ideias, Dias (2009) realça que “reflectir significa meditar, cogitar, ponderar, considerar, absorver-se, pensar; o voltar da consciência sobre si própria para analisar o seu próprio conteúdo. A reflexão implica a consciencialização do vivido, do aprendido, do sentido, do experienciado” (p. 32).

No decorrer das ações educativas por parte da estagiária houve sempre o cuidado em questionar-se sobre as situações que pretendia implementar, pois defendemos com Dias (2009) que refletir “pressupõe questionar o quê, porquê e como uma aprendizagem se efectuou, implicando uma auto-avaliação na qual o indivíduo observa o que realizará da próxima vez para melhorar, estabelecendo objectivos para o futuro” (p. 32).

As reflexões não só ocorreram nos momentos já referidos, como também nas reuniões plenárias, onde se juntaram todos os estagiários, orientadores e professores cooperantes, para se fazer um balanço e reflexão sobre a prestação de cada um, no decorrer das suas práticas pedagógicas. Pode-se mencionar que estes momentos foram imprescindíveis para a estagiária, uma vez que lhe permitiram obter informações acerca das suas ações, sobre as suas fragilidades e, os seus sucessos. Também serviram para todos poderem partilhar ideias e experiências.

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Em jeito de síntese, concluímos enfatizando a visão do processo de reflexão que, nas palavras de Flores e Simão (2009):

a) É benéfica se os professores forem estimulados a reflectir sobre as suas próprias experiências da sala de aula com base nas suas preocupações pessoais;

b) É benéfica se a reflexão sobre as fontes não racionais do comportamento estiver incluída;

c) É benéfica se essa reflexão seguir uma estrutura sistemática e se essa estrutura for explícita;

d) É benéfica se essa estrutura for introduzida de forma gradual; e) É benéfica se se promover a meta-reflexão;

f) É benéfica se se promover a aprendizagem reflexiva assistida por pares (pp. 50-51).

Em conclusão, constata-se então que todo o processo do estágio passa por observar, planificar, avaliar e refletir. Portanto, estes conceitos têm de ser vistos como um só e são cruciais para o processo ensino-aprendizagem, que se desenvolve de forma articulada, numa constante tentativa de adequação aos contextos em que se desenvolve. É destes contextos que nos ocuparemos na parte final deste capítulo.