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Agronegócio

2.2 A Reforma Agrária Incompleta

A região do Distrito Federal e Entorno tem ocupado o noticiário nacional nos últimos anos, principalmente pelo baixo IDH de parte destes municípios e pelos elevados índices de violência. Antagonicamente aos dados da Capital Federal, que estão entre os melhores do país, o entorno concentra um cinturão de pobreza. Uma região que concentra as fronteiras do Distrito Federal, de Goiás e de Minas Gerais onde a maioria da população é órfã do Estado.

Não diferente é a reforma agrária na região. Qualquer pessoa que ande pelos assentamentos ficaria impressionada com a condição em que se encontram tais áreas: falta de infraestrutura básica como acesso a água, energia e moradia, fora o acesso às políticas públicas as quais todo assentamento necessita para se consolidar, como a liberação de crédito, programas de agroindustrialização, que é praticamente nulo. Na maioria das situações as famílias resistem dada a sua teimosia e, infelizmente, em muitos casos por pura falta de opção. São poucos assentamentos que conseguiram se desenvolver através de sua própria organização, normalmente os processos produtivos são alavancados por meio do estabelecimento de parcerias com universidades e ONGs.

Para quem não puder conhecer de perto esta realidade basta acessar os dados oficiais do Incra que demonstram a ineficiência do Estado em promover a reforma agrária na região. Nos 39 municípios – além do Distrito Federal – que compreendem a abrangência da Superintendência Regional SR2818 do Incra

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A Superintendência Regional do INCRA (SR 28) criada formalmente em 1997 em função da “(...) a inconteste exigência, decorrente falta de estrutura e os conflitos agrários existentes que em muito vem prejudicando os processos de Reforma Agrária na Região do Distrito Federal e entorno” (INCRA, 1997). Ela abrange os municípios de (no estado de Goiás): Água Fria, Águas Lindas, Alexânia, Alvorada do Norte, Alto Paraíso, Buritinópolis, Cabeceiras, Campos Belos, Cavalcante, Cidade Ocidental, Cocalzinho, Colinas do Sul, Corumbá de Goiás, Cristalina, Damianópolis, Divinópolis de Goiás, Flores de Goiás, Formosa, Guarani de Goiás, Iaciára, Luziânia, Mambaí, Monte Alegre de

70 existem cerca de 187 assentamentos, onde estão assentadas mais de 13 mil famílias.

Gráfico 2.1 Índice de crescimento dos assentamentos na região de abrangência da SR 28

Fonte: Cadastro geral de Assentamentos do Incra SR 28 2011. Organizado pelo autor

Gráfico 2.2 Índice comparativo do crescimento dos assentamentos na região de abrangência da SR 28

Fonte: Cadastro geral de Assentamentos do Incra SR 28 2011. Organizado pelo autor

Os gráficos 2.1 e 2.2 acima nos mostram a evolução histórica da criação de assentamentos na região do Distrito Federal e Entorno. Evidenciamos que entre 1995 a 2000 – mesmo antes da criação da Superintendência Regional do Incra – se intensifica a criação de assentamentos, representando mais de 50% do total de assentamentos criados até hoje. Observa-se que o crescimento exponencial nos referidos anos é fator evidente de que desde a criação de Brasília (fato que dinamiza completamente a economia da região) a Reforma Agrária nunca fora posta como uma possibilidade de desenvolvimento sócioeconômico do meio rural e do entorno da capital.

Goiás, Mimoso de Goiás, Nova Roma, Padre Bernardo, Planaltina de Goiás, Posse, São Domingos, São João d'Aliança, Santo Antonio do Descoberto, Simolândia, Sitio d'Abadia, Teresina de Goiás, Vila Boa, Valparaíso; (no estado de Minas Gerais) Arinos, Buritis, Formoso, Unaí, além do território do Distrito Federal.

71 O ano de 1995 é simbólico pois apresenta um crescimento de mais de 160% na realização de assentamentos, período este que como vimos coincide com a inserção do MST na região. Obviamente não podemos atribuir este processo somente ao MST, certamente a superintendência recém-criada teve bastante trabalho, além de diversos outros fatores que devem ser considerados para um aprofundamento de uma análise deste tipo. Podemos observar também que existem períodos que representam picos na criação de assentamentos, mas que se mantém uma constância tímida pela demanda histórica.

Gráfico 2.3 – Número de assentamentos por Estado – SR 28, DF e Entorno

Fonte: Cadastro geral de Assentamentos do Incra SR 28 2011. Organizado pelo autor

Gráfico 2.4 – Número de famílias assentadas por estado – SR 28, DF e Entorno

Fonte: Cadastro geral de Assentamentos do Incra SR 28 2011. Organizado pelo autor

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Fonte: Cadastro geral de Assentamentos do Incra SR 28 2011. Organizado pelo autor

Ambos os gráficos contribuem para uma melhor visualização da territorialização da reforma agrária na região do DF e Entorno. Observando os territórios estaduais, separadamente, os municípios do Estado de Goiás concentram o maior número de assentamentos, famílias e área destinada à reforma agrária. Ressaltamos que o território de abrangência de atuação da Superintendência do Incra é maior neste estado pois envolve mais municípios. Conclui-se ainda com base nos gráficos acima que em Minas Gerais os assentamentos têm uma área maior proporcionalmente por família assentada, em oposição ao Distrito Federal, onde os lotes são menores.

Apesar de o número de assentamentos criados parecer grande, conforme afirmado anteriormente, fica evidente que esta quantidade não se reverte em qualidade, tampouco na desejada autonomia das famílias. Outro exemplo desta ineficácia da política de reforma agrária na região está ligado diretamente ao desenvolvimento dos assentamentos do ponto de vista produtivo, pois são poucos os assentamentos que se tem conhecimento que conseguiram organizar agroindústrias para o beneficiamento de sua produção; onde se tem tais experiências elas se originaram a partir de investimentos próprios dos assentados com baixíssimo investimento tecnológico, o que dificulta a agregação de valor aos alimentos produzidos.

73 Segundo as informações obtidas19, e conforme demonstram os critérios do próprio Incra, 49,3% dos assentamentos encontram-se na fase 3, considerado “assentamento criado”; 14,28% na fase 4, “assentamento em estruturação”; e 32,3% na fase 5, “assentamento em estruturação”; somente 3,2% encontram-se nas fases 6 e 7 – considerados “em consolidação e/ou consolidados”. Como não se tem conhecimento dos critérios que a autarquia utiliza para chegar a tais conclusões, não é possível aprofundarmos a análise20, porém fica evidente que a ação do Estado está distante da reforma agrária e muito mais próxima de uma mera distribuição de terras.

Consideramos que os assentamentos constituem territórios onde a população assentada passou pelos processos de luta e de um mínimo de organização para a reivindicação de seus direitos e deveriam ser locais onde as políticas públicas pudessem ser potencializadas – guardados os limites internos – dado este grau de organização social de tais comunidades. Contudo, além dos limites já apresentados há de se considerar limites das próprias organizações locais e dos movimentos sociais e sindicais que atuam em tais espaços, o que de certa forma contribui para esta “inconcretude” de uma reforma agrária mais ampla na região.

Diante de tais informações fica evidente esta não realização da reforma agrária no território do DF e Entorno, seguindo a tendência que vem acontecendo no país conforme apontado no capítulo anterior. Além de uma ação inicial que pode ser considerada tímida em dados quantitativos expressa na criação dos assentamentos, a morosidade do Estado nos demais aspectos que competem ao desenvolvimento dos assentamentos e na efetivação de uma reforma agrária que atenda às necessidades dos assentados e às expectativas da população como um todo.

Enquanto um programa de reforma agrária para a região não criar corpo, os assentamentos estarão abandonados a sua própria sorte. Para tanto, é fundamental

19 Para se ter uma dimensão mais precisa de tais informações consultar o anexo II.

20Por exemplo o Assentamento Eldorado dos Carajás encontra-se segundo estas informações na fase 3 e poderíamos inclusive afirmar que esta na fase 4, comparando-o com o Assentamento Oziel Alves II (Pipiripau) que a informação oficial diz que se encontra na fase 4, conforme as informações reais que acessamos este assentamento ainda não foi concretamente criado pois permanece um litígio sob a dominialidade da área desde a sua “criação” em 2001. Diante de tais informações fica evidente que os dados que o Incra dispõe não condizem completamente com a realidade do desenvolvimento dos assentamentos.

74 a ação governamental na execução de uma política de reforma agrária ampla que considere os aspectos sociais e econômicos sob as bases da soberania alimentar, agroecologia e o desenvolvimento sustentável, possibilitando a devida autonomia aos camponeses assentados.