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1.1. A origem da Educação Pública

1.1.1. A Reforma Protestante e a Revolução Francesa

A educação pública não é algo recente na história da humanidade. Temos

muitas vezes essa sensação quando nos referimos à história da educação brasileira, onde se verifica um processo de democratização da escola pública bem mais recente que o de muitos países da Europa.

A educação pública remonta, porém, a tempos muito mais longínquos como o dos gregos no período helenístico e dos romanos na Antigüidade. No entanto, o marco mais significativo de publicização da educação encontra-se nos países atingidos pelo movimento da Reforma Protestante. Segundo Lopes (1981)

A reforma tinha suas raízes intelectuais no movimento humanista, movimento de libertação do homem e da razão humana, que acompanhava o florescimento do comércio e a ascensão da burguesia. O protestantismo, ao dar ao homem a responsabilidade da sua fé e ao colocar a fonte desta fé nas “Sagradas Escrituras”, assumiu, ao mesmo tempo, a obrigação de colocar todos os fiéis em condições de salvar suas almas mediante a leitura da Bíblia. (Lopes, 1981, p. 14)

Percebemos aqui que a principal função da publicização do ensino nesse primeiro momento foi a de propiciar o aprendizado da leitura da Bíblia, objetivo específico que coloca a religião como o centro da educação pública. Embora pública, a educação já possuía diferenciações: deveria ser direcionada às classes populares e à burguesia, sendo que às classes populares, porém, oferecia-se apenas uma educação elementar e reduzida à doutrina cristã reformada. Segundo Lopes (1981)

Lutero apela diretamente para as autoridades públicas, evocando a necessidade da criação de escolas. Em 1527, escreve uma “Carta aos regedores de todas as cidades da nação alemã para que estabeleçam e mantenham escolas cristãs”. A educação do povo deveria ser muito simples e elementar. A religião seria sua base, acrescentada do canto e do estudo da língua. Em seu “Sermão para que se enviem as crianças às escolas”, de 1530, pede que a freqüência se torne obrigatória. (Lopes, 1981, p. 14)

Posterior ao movimento da Reforma e já no século XVIII, a Revolução Francesa15 veio consolidar e redefinir a idéia de educação pública, fazendo surgir os princípios de universalidade, gratuidade, laicidade e obrigatoriedade, e como afirma Lopes (1981), “tal como concebemos ainda hoje”.

Vários projetos de lei, decretos e relatórios são elaborados durante a Revolução Francesa defendendo a publicização da educação (ou da instrução, termo mais comum usado então). O período de 1789 a 1795 é o mais significativo quanto à legislação em defesa da educação pública. Como exemplo, temos o projeto de lei de Lepelletier16. Considerado um dos mais revolucionários e radicais,

possuía princípios de universalidade, igualdade, gratuidade e obrigatoriedade, além de conter a idéia de educação integral mantida pelo Estado. Segundo Larroyo (1974),

Lepelletier tornou-se o pedagogo jacobino da revolução. Pretendeu que a infância não recebesse influência alguma contrária aos ideais revolucionários. A isso responde seu sistema de internatos obrigatórios. “Decretamos, dizia, que todas as crianças, de ambos os sexos, as meninas de cinco a onze anos, os meninos de cinco a doze anos, sejam

15 A Revolução francesa (1789 / 1799) trazia uma nova concepção de mundo em que os interesses

econômicos da burguesia permeavam todo o movimento revolucionário e se caracterizou pela oposição existente entre as estruturas e instituições do Antigo Regime (o Feudalismo) e o movimento econômico e social dirigido pela burguesia. A Burguesia, porém, não era composta por uma classe homogênea e, justamente por isso, Lopes (1981) define a Revolução francesa como “a eclosão de uma longa e complexa luta de classes e o resultado de alianças de classe, envolvendo todo o povo francês”.

16 O Projeto de Lei de Lepelletier, considerado o mais radical e revolucionário, foi apresentado e

defendido por Robespierre na Convenção, pouco tempo após a morte de seu autor. Embora aprovado pela Assembléia, não foi posto em prática, porque a própria Assembléia chegou a compreender o irrealizável de seus preceitos (Larroyo, 1974, p. 566)

educados em comum, a expensas do Estado, e que recebam durante seis ou sete anos a mesma educação (Larroyo, 1974, p. 566).

É interessante observar que os revolucionários do século XVIII defendiam

uma educação pública baseada em princípios ainda hoje defendidos e aprovados em grande parte da legislação educacional brasileira e, possivelmente, de muitos outros países. A nossa LDBEN 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), por exemplo, institui o ensino fundamental obrigatório e gratuito, com duração mínima de oito anos na escola pública, tendo por objetivo a formação básica do cidadão, estando presentes os princípios de gratuidade e obrigatoriedade da educação pública defendidos no Projeto de Lei de Lepelletier. O princípio de universalidade da educação pública, já defendido também por Lepelletier no período da Revolução Francesa, está presente na nossa legislação garantindo o acesso de todos tão somente, porém, ao Ensino Fundamental o que contempla apenas uma etapa da Educação Básica, excluindo-se a universalidade do acesso à Educação Infantil e ao Ensino Médio.

Fazendo um paralelo destas e de outras semelhanças que possivelmente encontraríamos entre o período da Revolução Francesa e os dias atuais, fica claro que o anseio pela educação pública e pela democratização da instrução tem permeado as lutas da humanidade através dos séculos e das civilizações como item que compõem a busca de melhores condições de vida para todos.

Importa compreender, porém, que esse movimento que a humanidade realiza é composto de contradições, apresenta um movimento dialético de luta entre as classes dominadas e aquelas detentoras do poder, com avanços e

retrocessos, mas que tem presente a idéia de que a educação pública é um dos instrumentos de equalização social, embora não o único.

1.1.2 – A Democratização da Educação no Brasil: a Primeira República, a

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