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Quando apontamos a necessidade da construção de uma escola de qualidade para todos e, conseqüentemente, a mudança das práticas escolares para atender a nova realidade da escola e da sociedade contemporânea, não temos como deixar de discutir o contexto do profissional que diretamente realiza o trabalho educativo voltado ao processo de ensino-aprendizagem dos alunos. É fato que a escola pública brasileira não tem conseguido realizar com competência a tarefa de oferecer uma escola de qualidade para todos e, em geral, deparamo-nos com o descrédito que pesa sobre a figura do professor como o profissional responsável direto pelo processo de ensino-aprendizagem. Surge aqui a questão do trabalho docente, seus problemas, deficiências e desafios frente à nova realidade que afronta os professores no seu cotidiano. Segundo Almeida (1999),

Ao mesmo tempo que os problemas escolares deixaram de ser eminentemente educacionais, os problemas sociais converteram-se em problemas escolares e os professores não estão preparados para enfrentar essa nova realidade. A formação inicial permanece assentada sobre as mesmas referências de 20 ou 30 anos atrás, quando os professores eram preparados para trabalharem com crianças e jovens com características muito mais homogêneas. Por isso eles têm vivido momentos difíceis em todo o mundo e particularmente no Brasil. (Almeida, 1999, p. 12)

Atender essa nova realidade tem se revelado tarefa difícil e desafiante a todos os envolvidos no processo educativo, sejam eles professores, gestores escolares ou membros de equipes dos sistemas de ensino. Diante do exposto, a implementação de um programa de formação continuada em serviço para professores e especialistas que atenda as necessidades da clientela atual constitui-se em nosso principal desafio.

Como forma de dar uma resposta a essa nova realidade da escola pública

e às dificuldades enfrentadas pelos professores na realização de sua tarefa de “ensinar e garantir o aprendizado” aos seus alunos, especialistas vêm introduzindo o debate sobre o desenvolvimento de novas competências23 para lidar com a atual situação. Sem dúvida, o trabalho do professor deve acompanhar o movimento dialético que realiza a sociedade na qual está inserido, devendo assim acompanhar o desenvolvimento da sociedade, da ciência, do ser humano.

A discussão sobre as "novas competências" introduzida por autores como Perrenoud e Göergen e os estudos de Morin sobre os "saberes necessários à educação do futuro" sugerem propostas para as mudanças necessárias visando à prática pedagógica ideal do professor e, ao mesmo tempo, a solução para os problemas enfrentados por ele frente ao insucesso dos alunos no processo de ensino-aprendizagem.

Göergen (2000), elenca as competências tradicionais do professor fazendo um paralelo com as novas competências. Segundo ele, as competências tradicionais do professor são: “domínio dos conteúdos, domínio dos recursos didáticos, capacidade de conduzir uma classe, saber trabalhar conflitos, saber avaliar o desempenho, relacionar-se como os outros setores da escola.”

As novas competências apresentadas pelo autor24 (2002) são sete: competência de lidar com o provisório, o erro, a ilusão; competência de reconhecer o sentido, a relevância; competência comunicativa; competência de

23 Segundo Perrenoud (1999), “competência é a capacidade de agir eficazmente em um

determinado tipo de situação, apoiada em conhecimento, temas sem limitar-se a eles”.

24 O texto de Pedro Göergen intitulado; “Competências docentes na educação do futuro: anotações

educar a sensibilidade; competência ecológica; competência de uma nova alfabetização; competência ética.

Também Perrenoud25 apresenta seu elenco de novas competências profissionais: organizar e dirigir situações de aprendizagem; administrar a progressão das aprendizagens; conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; trabalhar em equipe; participar da administração da escola; informar e envolver os pais; utilizar novas tecnologias; enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; administrar sua própria formação contínua. Todas elas abordam a nova realidade social e cultural que vivemos no mundo contemporâneo e, conseqüentemente, com reflexo na realidade da escola.

Como dissemos anteriormente, as novas competências surgem como antídoto que deve ser incorporado à prática dos professores, como a solução para que os alunos atinjam o sucesso no processo de ensino-aprendizagem. É a idealização do trabalho docente frente às novas exigências impostas pela realidade da escola e da sociedade atual para enfrentar os desafios e as dificuldades vividos no cotidiano escolar.

Não negamos que o educador precisa desenvolver novas competências para atender a clientela que hoje freqüenta a escola pública. Sem dúvida, consideramos que mudanças na prática dos professores são necessárias para enfrentar a situação atual. Acreditamos, porém, que essa mudança só se dará a partir de um processo de formação continuada voltado à realidade da escola, à

25 Estas competências encontram-se no livro de Philippe Perrenoud, "10 novas competências para

gestão escolar e à construção do Projeto Político-Pedagógico. Queremos ressaltar que mudanças não acontecem de uma hora para outra, requerem tempo e investimento e é necessário que a reflexão sobre a ação se realize num processo contínuo e coletivo envolvendo gestores e professores para que possam realmente construir práticas escolares que respondam aos desafios atuais.

Quando defendo a importância da formação continuada tendo como base a reflexão sobre o cotidiano do trabalho docente, de forma alguma refuto a necessidade de uma formação voltada ao conhecimento de novas tendências e teorias educacionais, também necessário à formação do professor e adquirido em outras instâncias e espaços de formação. Quero com isso enfatizar que é preciso ter clareza que a escola é o centro do sistema de ensino, e que é a partir da sala de aula e das necessidades de aprendizagem dos alunos que devem ser pensadas as políticas de formação de professores, sejam elas realizadas no âmbito da escola ou em outros espaços de formação inicial e continuada.

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