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2. SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA E PLANTIO DIRETO

2.3. A região do cerrado

O cerrado brasileiro ocupa uma área superior a 200 milhões de hectares e apresenta alto potencial para a produção agropecuária. Dos 204 milhões de hectares, que abrangem os Estados brasileiros de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Rondônia, Tocantins, Roraima,

Amazonas, Para e Piauí, cerca de 176 milhões, ou seja, 2/3 da área total são considerados aptos para a agricultura. Graças a alguns atributos climáticos favoráveis, é possível o uso intensivo do solo durante todo o ano, na maioria das sub-regiões, desde que se proceda a irrigação durante o período de inverno. Os solos desta região, no entanto, apresentam limitações naturais, de origem química e, dependendo do manejo, também de natureza física e biológica (KLUTHCOUSKI, 1998).

A dominância de sistemas convencionais de manejo nestes solos, baseados no intensivo revolvimento, modifica a sua estrutura, alterando a qualidade de seus parâmetros físicos. O uso intensivo dos arados e grades de disco fraciona os agregados do solo. Por outro lado, a ação do clima quente e úmido, durante a maior parte do ano, acelera a decomposição da matéria orgânica. Estes fatores, aliados à inadequação da seqüência de culturas têm resultado na redução da capacidade produtiva da grande parte dos solos tropicais ao longo do tempo. Os principais indicadores desta falta de sustentabilidade são a compactação, a erosão hídrica e eólica, a redução na atividade biológica do solo e o aumento dos fatores bióticos nocivos às culturas.

Estas distorções tornam obrigatório o uso cada vez mais freqüente e crescente de fertilizantes minerais e defensivos, aumentando os gastos energéticos. Devido a algumas características mineralógicas indesejáveis, os solos dominantes no cerrado – Latossolos e Areia Quartzozas – são altamente dependentes da matéria orgânica para a manutenção e, ou, ampliação de sua capacidade produtiva (KLUTHCOUSKI, 1998).

Neste contexto, tanto no cerrado brasileiro, quanto em áreas semelhantes no mundo, a atividade agrícola vem sofrendo profundas alterações nas práticas que envolvem os sistemas de produção. Tais alterações não são decorrentes unicamente da evolução tecnológica, mas também de pressões ambientalistas, concorrência de mercado resultante da globalização da economia, redução na relação benefício/custo, necessidade de redução dos gastos energéticos, manutenção da capacidade produtiva do meio e extinção de fontes de recursos fáceis e baratas.

Nas regiões tropicais, devido às adversidades climáticas, as maneiras viáveis de se elevar a capacidade produtiva dos solos, além do seu manejo correto, da fertilização adequada e balanceada e da apropriação nas sucessões ou rotações de culturas, parecem ser a utilização de sistemas agropastoris e o plantio direto, mantendo-se os resíduos vegetais na superfície do solo. Devido a esse fator, houve uma rápida evolução tecnológica no cerrado que permitiu a solução parcial ou total dos problemas relacionados à implantação do sistema de plantio direto, destacando-se a formação de cobertura morta, correção das propriedades químicas e físicas no perfil do solo, controle de plantas daninhas, rotação/sucessão de culturas e a mecanização do plantio.

Apesar de ainda existirem alguns problemas a resolver, a adoção do SPD pelos agricultores no cerrado tem sido substancial, principalmente nos últimos anos. Os principais propulsores desta adoção são a redução na erosão, manutenção e aumento da fertilidade quimica e biológica do solo, facilidade e oportunidade de plantio, economia de combustível e maquinário agrícola e a redução na necessidade de mão-de-obra.

Existem diferenças consideráveis de clima na região do cerrado brasileiro devido à grande extensão territorial e variação de altitude, no entanto a exploração agrícola ocorre em todas as sub-regiões, pois a temperatura e a radiação solar, durante praticamente o ano inteiro, são favoráveis a esta atividade.

O cerrado é uma região que associa uma rica biodiversidade a uma aparência árida, esta decorrente, em parte, dos solos ácidos e da ocorrência de apenas duas estações climáticas: uma seca e outra chuvosa. O relevo plano, em quase toda a sua extensão, facilita o avanço das máquinas agrícolas que rapidamente desmatam grandes áreas verdes. Além de abrigar grande diversidade de espécies, é o berço de importantes bacias hidrográficas, motivo pelo qual a sua rápida devastação se torna preocupante e com impactos potenciais irreversíveis.

O processo de abertura da região do cerrado se deu pela expansão da soja, que promoveu a criação e o desenvolvimento de cidades na região. A reboque da soja, a pecuária do cerrado avançou de forma significativa sobre as áreas nativas, promovendo grande devastação e gerando ameaça ao ecossistema,

o que provocou a formulação de políticas de conservação via identificação de áreas prioritárias para conservação ou via incentivo ao desenvolvimento sustentável.

Destacam-se entre as culturas de melhor adaptação e viabilidade econômica na região dos cerrados, a soja, o milho, o arroz e o algodão, além da pecuária, sendo que hoje, o Estado de Mato Grosso é detentor do índice de maior produtividade nacional da soja, utilizando mais de 90% o SPD.

A dimensão das propriedades rurais no cerrado difere da encontrada em outras regiões brasileiras, já que mais de 62% da área são representados por propriedades com área superior a 1000ha, enquanto menos de 0,5% é ocupada por propriedades entre 0,1 e 100 hectares (KLUTHCOUSKI, 1998).

Em conseqüência dos aspectos favoráveis à prática da agricultura e pecuária, o cerrado tem apresentado um desenvolvimento agrícola acelerado nos últimos anos, aumentando significativamente sua participação na produção nacional de alimentos e matéria prima. Com a expansão do Sistema de Plantio Direto esta participação cresceu ainda mais, devido à economicidade proporcionada em termos de melhor manejo de solo, uso de máquinas e equipamentos, combustível e mão-de-obra, sendo que o consumos de combustíveis, os investimentos em maquinário e a força de tração em HP/ha no plantio direto, em relação ao sistema convencional, nessa região, em propriedades acima de 1000ha, são reduzidos em 47%, 54% e 59%, respectivamente (KLUTHCOUSKI, 1998).

O cerrado brasileiro foi, a partir dos anos de 1970 e, continua sendo, a grande fronteira agrícola nacional. É o espaço em que mais cresce a produção de grãos, com ganhos de produtividade acima da média nacional, e é visto como o grande potencial agropecuário do país.

Atualmente, o SPD no mostra sensíveis vantagens em custos diretos sobre o SPC, tendo evoluído de uma posição perto do empate, no início da década de 1990, para um índice superior a 80% em quase toda a região, sendo que Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Triângulo Mineiro utilizam o SPD em cerca de 90% de suas atividades agrícolas.