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A regulamentação da Assistência Estudantil nos Institutos Federais

4.1. Assistência Estudantil na Educação Profissional de acordo com os parâmetros do PNAES

4.1.1. A regulamentação da Assistência Estudantil nos Institutos Federais

Em pesquisa, Taufick (2013) identificou a regulamentação da assistência estudantil, realizada por 30 (trinta) Institutos Federais em um universo de 38 (trinta e oito). Daqueles, 26 (vinte e seis) regulamentaram a assistência estudantil por meio de resolução do Conselho Superior - CONSUP que, na organização dos Institutos Federais, exerce a função de administrá-

los conjuntamente com o Colégio de Dirigentes - órgão consultivo formado pelo Reitor, pró- reitores e diretores gerais dos campi.

O Conselho Superior, por sua vez, é um órgão consultivo e deliberativo, que tem em sua composição, representantes dos diferentes segmentos da comunidade escolar, quais sejam: docentes; estudantes, inclusive os egressos; servidores técnico-administrativos; sociedade civil, representantes do MEC e do Colégio de Dirigentes, em uma representação de caráter paritário entre estes segmentos.

Em vista disso, considera-se que uma das formas de legitimar uma concepção de Assistência Estudantil na Rede de Educação Profissional, a partir da regulamentação das respectivas políticas pelos diferentes Institutos, é fazer com que estas sejam aprovadas nos respectivos Conselhos Superiores; isso porque, estes constituem a instância maior de deliberação e representação da comunidade interna, conferindo legitimidade, não só a cada política no seu respectivo Instituto, mas também à totalidade da organização. Afinal, o Conselho Superior representa um espaço no qual há uma diversidade de interesses, a partir das demandas e reivindicações de cada segmento, demonstrando que a política de assistência estudantil existe para atender reivindicações estudantis; e que estes devem ter assento, voz e voto neste órgão, por ser ele um lócus de reconhecimento de seus direitos.

Com base nesse entendimento torna-se imperioso, para esta dissertação, que os Institutos cujos regulamentos não foram aprovados pelo CONSUP, mas por outras instâncias, revisem suas políticas e as submetam a este órgão deliberativo superior. Taufilk informa que, no ano de sua pesquisa (2013), quatro Institutos regulamentaram a assistência estudantil por outras instâncias administrativas, cujos dados a pesquisa para esta dissertação recuperou e os confrontou com a realidade de 2016-2017, para verificar possíveis alterações. A análise efetuada mostrou que houve revisão de conteúdo por parte de alguns e que, dos quatro Institutos verificados, em três persiste a mesma forma de regulamentação, a saber: um Instituto aprovou seu regulamento via Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão - CEPE; o segundo, por Instrução Normativa aprovada por pró-reitores de administração, ensino, extensão, pesquisa, inovação e pós-graduação e planejamento e orçamento; o terceiro pela Portaria da Pró-reitoria de Extensão; e o quarto, que à época, estava em processo de consolidação, cujas ações eram aprovadas por Portaria Normativa da Reitoria, teve seu programa aprovado, também, pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão - CEPE, em 2015.

Esta realidade suscita outra questão que se faz central em busca da construção de uma concepção de Assistência Estudantil: a constatação de que a Rede de Educação Profissional não

se faz unívoca na sua compreensão a respeito do que seja política social, de caráter público. Utilizando-se do recurso de dar “voz” à assistência estudantil como política, ela argumenta em sua própria defesa como viabilizadora de direitos sociais, assim dizendo:

As instituições educacionais públicas, principalmente pelo fato de serem mantidas com recursos arrecadados de todos os cidadãos, devem ir além do seu papel tradicional de disseminar conhecimentos que envolvam o processo de ensino e aprendizagem em sala de aula. A responsabilidade social de uma instituição pública federal voltada para a educação deve estar associada aos processos sociais, buscando o atendimento a demandas evidenciadas pelo contexto societário ao qual ela está inserida na perspectiva da institucionalização de direitos sociais (POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL/IFES, 2011, p. 05) (Grifo nosso).

Defende-se, desse modo, a assistência estudantil como política que integra o campo das políticas sociais, por se compreender que, sob este domínio, ela está inscrita em uma concepção de política pública.

Enquanto isso, Pereira-Pereira (2008), afirma que, na visão corrente, inspirada na ideologia neoliberal, a política social é compreendida como aquela que primeiro avalia os recursos a serem distribuídos, e não, contrário, as “posições desiguais dos cidadãos na estrutura de classes da sociedade”; por isto, é preciso que se tenha conhecimento dos determinantes das desigualdades sociais e de como elas se manifestam em necessidades, para melhor intervir e modificá-las.

Para tanto, há de se identificar as forças e os agentes que disputam recursos e oportunidades para implementar as políticas sociais. Na realidade da assistência estudantil como política, diante de um cenário de não reconhecimento equânime e universal das desigualdades, os Institutos que não adotaram esse posicionamento, estão em um sentido diferente do projeto societário ancorado no direito incondicional; pois, à assistência estudantil como Programa, a coloca em uma condição instrumental a objetivos maiores de uma política pública que é superior a ela. E, se assim o for, questiona-se: qual seria esta política pública maior, a educação? Em adição, levanta-se uma segunda: a política de educação, por si só, daria conta de responder as demandas que são destinadas às ações do PNAES?

Para esta dissertação a resposta é não, considerando, principalmente, a afirmação de Algebaile (2009), de que, ao longo da formação social brasileira, a educação esteve direcionada para uma série de demandas que eram da alçada de outras políticas; e que isso dificultava o processo de desenvolvimento das próprias políticas sociais, bem como a utilização da escola como espaço de contenção de demandas que deveriam ser de responsabilidade do Estado. Por

isto, em defesa de uma educação que cumpra com a missão de educar, e da assistência social como política que tem por propriedade potencializar direitos na educação e em qualquer outra política com a qual realize interface - ao contrário de discursos que propagam a ideia de que ela é estigmatizadora - defende-se, a Assistência Estudantil como política que se dá na interface entre educação e assistência social. E o é, principalmente, por seu conteúdo público que requer participação ativa do Estado, sob o controle da sociedade, em espaços democráticos de participação, planejamento, avaliação e execução de metas referenciadas nas necessidades sociais do público estudantil. A defesa da assistência estudantil como política social pública, vai contra a sua apropriação como política de governo, submetida ao bel-prazer de governantes que implementam o que querem, como querem, ou mesmo anulam seu potencial de viabilizar direitos.

É o seu caráter público, e não estatal ou governamental, que confere a universalidade desta política. Pois, como explica Pereira-Pereira (2008):

Toda política pública compromete sim o Estado, na garantida de direitos; mas compromete também a sociedade na defesa da institucionalidade legal e integridade dessa política ante os seguintes eventos: assédio de interesses particulares e partidários; clientelismo; cálculos contábeis utilitaristas e azares da economia de mercado (Idem, p. 174)

Em acordo com esse entendimento, sugere-se aos Institutos que tratam a assistência estudantil como programa ou somente como regulamento de ações, que realizem a revisão para Política, conferindo a esta o sentido de política social, pública, norteada por princípios, objetivos, diretrizes, que visam a implementação de programas e projetos em favor da equidade e da justiça social, com vista ao acesso e permanência dos sujeitos no espaço escolar, em especial da classe trabalhadora.

Nessa direção, um fato alvissareiro ocorreu: conforme levantamento realizado por esta pesquisa na Rede de Educação Profissional, no ano de 2016, verificou-se que, 07 (sete) políticas de assistência estudantil foram aprovadas entre os anos de 2013 e 2016, referentes ao Instituto Federal do Pará - IFPA; Instituto Federal do Maranhão - IFAM; Instituto Federal do Piauí - IFPI; Instituto Federal do Goiás - IFG; Instituto Federal do Rio Grande do Sul - IFRS; Instituto Federal do Sul de Minas - IF Sul de Minas e Instituto Federal do Mato Grosso do Sul - IFMS, todos via CONSUP.

Totalizando 37 (trinta e sete) políticas regulamentadas, em um universo de 38 (trinta e oito) Institutos. Somente o Instituto Federal do Amapá - IFAP, não tinha, até a data de

elaboração desta dissertação, sua política aprovada, mas desenvolve suas ações de permanência por meio de editais, com base no PNAES.

Diante deste número de políticas de assistência estudantil, elegeu-se, nesta pesquisa, como unidade empírica de análise, o estudo de cinco regulamentos delimitados no universo de 37 Institutos, conforme a divisão do território brasileiro em regiões: o Instituto Federal do Pará - região norte; o Instituto Federal do Rio Grande do Norte - região nordeste; o Instituto Federal de Brasília - região centro-oeste; Instituto Federal de São Paulo - região sudeste e Instituto Federal do Paraná - região sul.

Ao longo da pesquisa verificou-se, por meio da análise do conteúdo das políticas, que havia processos de construção da assistência estudantil que conferiam-lhe um sentido e exprimiam uma relação entre assistência social e educação que ultrapassavam a delimitação realizada pelas regiões. Deste modo, ampliou-se a análise, para capturar e destacar os aspectos essenciais na elaboração de uma concepção de assistência estudantil que evidenciem a definição ou indefinição das interfaces entre assistência social e educação.

Na análise das políticas eleitas, como no seu conjunto, verificou-se que aqueles Institutos que adotaram a particularização das ações por programas universais, de permanência e acadêmico, apresentaram uma caracterização dos programas e benefícios pelo público a quem se destinavam, assim elencados:

Programas universais: destinam-se a todos os estudantes regularmente matriculados, independente do recorte de renda, sendo desenvolvidos nas áreas de saúde, cultura, esporte, lazer, inclusão digital e acompanhamento biopsicossocial;

Programas acadêmicos: destinam-se a todos os estudantes, desenvolvidos nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, de natureza técnico-científica, regido por critérios de seleção e manutenção, por destinar bolsas de caráter acadêmico;

Programas assistenciais: destinam-se aos estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, envolvendo critério de renda, sendo desenvolvidos nas áreas de alimentação, transporte, creche, moradia e auxílio financeiro.

O Instituto Federal de Brasília adotou esta classificação; os Institutos Federais do Pará e Rio Grande do Norte optaram por dispor seus programas nas modalidades de ações previstas no PNAES; o Instituto Federal de São Paulo realizou a separação entre programas de ações universais e programas de permanência, de acordo com a qual, programas de caráter acadêmico

são organizados em separado por Portaria, não constantes na Política de Assistência Estudantil. O Instituto Federal do Paraná, também dispôs os programas por modalidades de ações, detalhando os programas por instruções normativas em separado, sendo que, os programas acadêmicos são dispostos por Portaria própria.

Cabe destacar que a autonomia conferida pelo PNAES permitiu aos Institutos a ampliação de programas para além das ações previstas, de modo a atender outras demandas que comportam a realidade específica de cada Instituto; porém, estes programas não envolvem recursos financeiros, devido à necessária aplicabilidade para as áreas pré-determinadas.