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3. DOIS DOMÍNIOS DA SEMÂNTICA

3.3.1. A relação lexical da sinonímia

De maneira geral, segundo Tamba-Mecz (2006), sinônimos são palavras que ao mesmo tempo são diferentes, mas próximas ou semelhantes por partilharem aspectos referentes aos seus sentidos. Para a autora, “a noção comum de sinonímia repousa sobre uma experiência falada das mais comuns: a que consiste em trocar um vocábulo por outro, por meio de uma expressão que estabelece sua equivalência semântica” (TAMBA-MECZ, 2006, p. 106).

A existência de processos lexicais em atuação nas línguas é um estado comum e natural, porém o que justificaria tal afirmação? Para Ferrarezi Jr. (2010, p. 218), “as línguas naturais procuram ser, na medida do possível, sistemas econômicos, embora não sejam sistemas que determinem uma única forma possível de expressão”. Com isso, podemos imaginar o quanto seria difícil e inviável a qualquer falante de qualquer idioma ter que contar com um vocabulário no qual cada forma tenha um sentido diferente e vice-versa, isto é, para cada novo sentido haveria uma nova forma (palavra).

O que ocorre é que não é unívoca a relação forma-sentido. As línguas contam com uma característica polissêmica, ou seja, a mesma forma pode apontar para sentidos diferentes. Estes sentidos, em um dado contexto comunicacional de uso da língua, adéquam-se melhor, sendo permitido ao falante fazer substituições, aproximando sentidos, opondo sentidos etc. O fenômeno que permite “[...] o uso de uma palavra em lugar de outra sem interferir muito no sentido final da frase é chamado de sinonímia, e as palavras que se permitem à permuta são chamadas de expressões sinônimas” (FERRAREZI JR., 2010, p. 218) [grifos do autor].

Quando pensamos em sinonímia, podemos ficar tentados a considerá-la um movimento em direção contrária à antonímia. No entanto, resumidamente, a sinonímia trata

49 de mais de uma forma para sentidos equivalentes. A polissemia, por sua vez, trata da mesma forma para mais de um sentido. Logo, linguisticamente, a sinônima é a contraparte da polissemia e não da antonímia como, tradicionalmente, pode-se presumir.

De acordo com Ilari e Geraldi (2006), nesse tipo de relação de sentido entre as palavras percebemos, de maneira intuitiva, que os enunciados para serem sinônimos precisam ser “[...] equivalentes quanto ao seu significado” (p. 42) e em determinados contextos de uso. Logo, segundo os autores, podemos entender a sinonímia “[...] como um dos fatores possíveis pelos quais duas frases se revelam como paráfrases” (ILARI; GERALDI, 2006, p. 43).

Mais especificamente sobre os sinônimos, Ilari (2011, p. 169) afirma que: “[...] são palavras de sentido próximo, que se prestam, ocasionalmente, para descrever as mesmas coisas e as mesmas situações”. Peso importante na argumentação do autor é assumido pela palavra “ocasionalmente”, justamente pelo fato de a sinonímia ser um procedimento de aproximação semântica contextual, relativizável e não definitivo. O autor faz ainda a seguinte ressalva: “[...] é sabido que não existem sinônimos perfeitos: assim, a escolha entre dois sinônimos acaba dependendo de vários fatores a serem explorados” (ILARI, 2011, p. 169).

Essa questão referente à não existência de “sinônimos perfeitos”, muitas vezes, revela- se como um problema para o ensino de língua portuguesa, porque numa abordagem tradicional (em que pesa a metalinguagem) têm-se definido sinônimos como palavras de mesmo sentido, ao invés de se explorar a noção de equivalência de sentido.

Segundo Ferrarezi Jr. (2010), adotar a noção de equivalência de sentido ajuda na resolução do problema relativo ao ensino desse fenômeno, pois tratar as palavras como equivalentes, cujos sentidos são temporariamente, circunstancialmente, contextualmente semelhantes, ao invés de tratar as palavras pela ideia de igualdade, cujo sentido é sempre o mesmo, permanentemente e independente de aspectos contextuais, é entender que “[...] uma palavra [é] semanticamente equivalente a outra [quando há] [...] a possibilidade de que seu sentido seja especializado de tal forma que seja permitido utilizá-la em lugar de outra sem grande modificação no sentido geral da sentença” (FERRAREZI JR., 2010, p. 219). Dessa forma, promove-se a reflexão sobre os fenômenos da língua.

Parafraseando Cruse (1986, p. 270), sinônimos podem ser definidos, então, como sendo um par de itens lexicais, os quais devem ter propriedades semânticas comuns. Logo, ao abordar a sinonímia, deveremos elencar mais as semelhanças entre os sentidos de palavras, do que as suas diferenças.

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[...] é perfeitamente verdade que a absoluta sinonímia vem contra o nosso modo habitual de considerar a linguagem. Quando vemos palavras diferentes, supomos que deve haver também alguma diferença de significado, e, na vasta maioria dos casos, há de facto distinção, muito embora ela possa ser difícil de formular. Muito poucas palavras são completamente sinónimas no sentido de serem permutáveis em qualquer contexto, sem a mais leve alteração do significado objetivo, do tom sentimental ou do valor evocativo (ULLMANN, 1970, P. 294).

A tese apresentada por Ullmann discorre de modo a revogar a hipótese de que haja a sinonímia absoluta até mesmo do ponto de vista contextual. O que se deve observar, no entanto, é, ao menos, a não existência de prejuízo semântico na substituição de um item lexical por outro.

De acordo com Hoffmann e Cambrussi (2015, p. 40), é preciso considerar, ainda, que “[...] dois itens lexicais poderão ser considerados sinônimos quando possuírem dois níveis de equivalência, a de sentido (apresentado conceitos que partilham propriedades semânticas) e a de referência (apontando para o(s) mesmo(s) objeto(s) no mundo)”.

Assumimos, nesta tese, a perspectiva de que a sinonímia não é a absoluta semelhança de sentido partilhada por duas palavras, haja vista ser ponto pacífico entre os autores justamente o fato de essa aproximação ser temporária e promovida contextualmente. Além disso, comungamos da tese de que, no ensino, revela-se como procedimento didático importante tratar a sinonímia a partir do viés da equivalência de sentido, visto que o sentido de “equivalência” pode denotar, exatamente, a ideia de circunstancial.

Na próxima seção, trataremos da relação lexical da antonímia.