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1. O TRABALHO PRECOCE

1.5 A renda familiar e a influência sobre o trabalho precoce

Não restam dúvidas, que em nossa sociedade capitalista existe uma grande desigualdade social, que acaba colaborando para que a mão-de-obra precoce seja explorada; de outro lado, não podemos esquecer que existe a necessidade das famílias pobres e excluídas, que para sobreviverem, contam com o trabalho realizado pelos seus filhos para aumentar a renda familiar.

Em algumas famílias, os filhos são considerados mais uma fonte de renda já que o salário dos pais é insuficiente para o sustento da família. No Brasil mais da metade da população não possui uma renda fixa mensal, o que torna o trabalho dos filhos uma necessidade de sobrevivência, conforme explica Santos (2000, p.48):

Isso nos revela que há na família um crescimento considerável dos filhos como fonte de renda, já que o salário dos pais torna-se insuficiente para o sustento familiar. Assim o fenômeno do trabalho infantil se atualiza historicamente como resultado da degradação dos níveis de vida das famílias que necessitam do trabalho dos filhos como forma de sustento e sobrevivência.

Vale destacar, que famílias pobres e de tamanho grande (numerosas), tem uma maior introdução de seus filhos no trabalho precoce, provavelmente como forma de ter um pouco mais de renda para a sobrevivência de seus membros. O trabalho precoce não se justifica, mas não podemos deixar de levar em consideração que a maioria das famílias são pobres, e que qualquer complemento no orçamento familiar pode fazer a diferença.

Existe uma relação estreita entre o trabalho precoce e a renda familiar. Podemos afirmar que a inserção precoce de crianças e adolescentes no mercado de trabalho, está intimamente relacionada com a baixa renda familiar, ou seja, a pobreza. Segundo Cervini e Burger (1996, p. 20), a pobreza pode ser “entendida como dificuldade ou impossibilidade de acesso aos bens de serviços considerados como básicos por uma sociedade em um determinado tempo”. A falta de opção, o crescimento descontrolado do mercado econômico, a grande desigualdade de renda gerada pelo sistema capitalista vigente e a omissão do Estado, vêm aumentando a vulnerabilidade das famílias pobres.

Uma das explicações para esta dura realidade está relacionada às políticas públicas de cunho economicista que subordinam a sociedade civil ao mercado, relegando seus direitos básicos de cidadão. Tais políticas têm levado ao empobrecimento das famílias brasileiras, que é um dos fatores determinantes do trabalho precoce, uma vez que o

ingresso das crianças e adolescentes no mercado de trabalho é um produto da decisão familiar, sendo esta influenciada pela posição que ocupam na estrutura social e por suas condições de acesso aos serviços públicos.

De acordo com Veronense (1999), “a família e sua condição socioeconômica têm um papel importante na definição do momento de entrada dos filhos no mercado de trabalho. A carência econômica é o fundamento principal para incorporar os filhos em atividades produtivas”.

Dessa forma, crianças e adolescentes são impulsionadas ao trabalho como forma de aliviar o estado de miserabilidade de sua família. Cervini e Burger (1996, p. 19) afirmam que:

É bastante aceita a idéia de que as dimensões, as condições e o conteúdo do trabalho infantil dependem de duas ordens de macrofatores [...]: a pobreza, que obriga as famílias a adotar formas de comportamento que incluem a oferta da mão-de-obra de seus filhos menores de idade; e a estrutura do mercado de trabalho, que oferece espaços apropriados à incorporação desse contingente específico de mão-de-obra.

Como conseqüência destes fatores, as crianças e adolescentes incorporados no mercado de trabalho carregam uma grande responsabilidade, a de contribuir no orçamento familiar.

Outro fator que contribui com a baixa renda familiar são os baixos níveis de educação. Os baixos níveis de educação tendem a reproduzir o ciclo vicioso da pobreza, pois constituem fatores da maior relevância na determinação da inserção das crianças e adolescentes no processo de produção capitalista. Conforme Kassouf (p.05):

[...]indivíduos que começaram a trabalhar mais cedo recebem rendimentos inferiores na idade adulta. Uma explicação poderia ser a de que aqueles que começaram a trabalhar muito cedo são pobres e não aptos a trabalhos especializados por falta de acesso à escolaridade e, consequentemente, se engajariam e trabalhos ruins sem perspectiva de crescimento e de melhora na vida adulta.

Muitas das crianças e adolescentes inseridas no mercado do trabalho precoce sentem dificuldades em aprender e acabam repetindo por vários anos a mesma série escolar. (SANTOS, 2000) O que elas não percebem é que o problema em não compreender as matérias escolares não são delas, mas sim do seu cotidiano de trabalhador, que causa fadiga e cansaço. De acordo com Kassouf (p.01)

Sabe-se que crianças trabalhadoras têm menor oportunidade de freqüentar escola regularmente. Mesmo quando são capazes de freqüentar a escola, para muitas não sobra tempo para estudar, aumentando a repetência e a desistência.

Logo, o trabalho precoce, aliado a baixa escolaridade, gera um adulto com baixa qualificação e que na competição futura do mercado de trabalho terá dificuldades de se inserir. Segundo Santos (2001, p.07);

[...] a criança que trabalha quase sempre o faz em detrimento a escola, o que gera um adulto com baixa qualificação e que encontrará maiores dificuldades de competir no mercado de trabalho. Com isso, o indivíduo adulto vê escassas suas chances de ascensão social, passa a viver sob a sombra do desemprego e, muitas vezes, termina por introduzir seus próprios filhos precocemente no trabalho com finalidade de ajudar a garantir o sustento da família.

Então, pode-se levantar a partir da discussão feita que, de um lado, existe uma sociedade capitalista que gera a exclusão social, colaborando de certa forma para que a mão-de-obra precoce seja explorada, e de outro lado, existe a necessidade das famílias de sobreviver e contam muitas vezes com o trabalho dos filhos para ajudar na renda da família.

Outro fator relevante para a inserção das crianças e adolescentes precocemente no mercado de trabalho está ligada a formação familiar, como veremos a seguir.