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2. PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA

3.3 O bairro Monte Cristo e uma aproximação dos seus sujeitos

O município de Florianópolis localiza-se no litoral sul do estado de Santa Catarina, sendo composto geograficamente por duas partes: a parte continental com 12.1 Km2 e a ilha com 438 Km2, totalizando uma área geográfica de 451 km2 com uma população de aproximadamente 369.781 mil habitantes. Florianópolis tem sua economia alicerçada nas atividades do comércio, prestação de serviços públicos, indústria de transformação e turismo. Recentemente a indústria do vestuário e a informática vem se tornando também setores de grande desenvolvimento24.

Com o desenvolvimento econômico da região e estatísticas que consideram o município com a melhor qualidade de vida do país, somadas as belezas naturais (magníficas praias, dunas, vegetação, pontos turísticos, etc.), Florianópolis acabou, atraindo pessoas de todas as partes do Brasil, fazendo do município um receptor de migrantes.

Parte desta população migrante fixou residência nas regiões periféricas do município, geralmente em áreas de ocupação ilegal, construindo suas residências de formas precárias sem infra-estrutura adequada, constituindo, assim, o processo de favelização25. O

bairro Monte Cristo, localizado às margens da BR 282 (Via Expressa), entre o Bairro da Coloninha e o Bairro Jardim Atlântico, com uma população estimada em 25.000 (vinte e cinco mil) famílias, é um destes espaços26.

Até o início dos anos Oitenta, o Bairro Monte Cristo, era conhecido pelo nome de “Pasto do Gado”, devido o pasto que havia neste local, onde algumas famílias da região traziam seus gados para pastar.

No início dos anos oitenta, o Governo do Estado, em parceria com empresários do ramo da construção civil, queria construir um Estádio de Futebol (CATARINÃO), naquele espaço, todavia, a Assembléia Legislativa de Santa Catarina não aprovou o projeto, pois já havia tramitado um projeto para serem construídas casas populares no mesmo local onde planejava-se a construção do estádio. O projeto para a construção das casas populares foi aprovado e em 1984 deu-se início às construções. As casas foram entregues para a COHAB e posteriormente entregues para a comunidade, através de sorteio. A maioria das famílias beneficiadas com as casas morava em favelas. Muitas famílias, posteriormente, venderam suas casas e retornaram para a favela.

Em 1986, na mesma comunidade, foi construído o Conjunto Habitacional Panorama, composto por oitocentos apartamentos, que buscava beneficiar as famílias que possuíam baixa renda per capta.

25 Segundo Wagner (2004) apud GREGIANIN: a favela é um local que abriga casas, que geralmente são construídas pelos futuros moradores com ajuda gratuita de parentes e vizinhos. São espaços, via de regra, sem muito conforto, com poucos e pequenos cômodos, com precária ventilação, salubridade e iluminação.

26 Em seqüência, estaremos descrevendo um pouco da história do bairro, aqui relatadas em parte pelo morador e policial militar Waldomiro Zimmermann, e também pela acadêmica, que durante seu processo de estágio no PETI e em contatos realizados durante as visitas domiciliares e institucionais pode observar um pouco sobre a dinâmica desta comunidade.

A partir do ano de 1987, várias famílias provenientes de diversas cidades do Estado, mais precisamente de Lajes, São Miguel do Oeste, Curitibanos, e Chapecó, ocuparam uma área que era destinada a mais um conjunto habitacional (apartamentos), construindo ali suas residências. A área apropriada por essas famílias passou a se chamar CHICO MENDES.

No ano de 1996, um grupo de moradores fundou a Associação Comunitária Promorar. Através do trabalho realizado pelos integrantes da Associação e do convênio realizado com a Prefeitura Municipal de Florianópolis, o bairro passou a conquistar benfeitorias, dentre elas destacam-se: a construção de uma Creche, introdução de algumas linhas de ônibus para o bairro - Circular Continente, Monte Cristo e Promorar, bem como vários outros programas educacionais e culturais.

Devido ao seu crescimento acelerado, atualmente o bairro Monte Cristo, encontra-se subdividido em três bairros: Monte Cristo, Panorama e Chico Mendes.

Ainda referente ao espaço físico, o bairro além de extenso oferece pouca infra- estrutura. Embora a maioria das ruas tenham calçamento, nem todas as casas possuem saneamento básico, água encanada ou energia elétrica. O bairro possui coleta de lixo bem como diversidade em linhas de transporte urbano.

Com relação às instituições de ensino, o bairro possui apenas uma escola, que devido a demanda não consegue atender toda a população. Logo, uma parcela significativa da população em idade escolar estuda em escolas situadas nos bairros vizinhos, dentre eles, o bairro Jardim Atlântico, bairro Vila São João e bairro Capoeiras. Além disso, há uma precariedade em instituições como creches e programas destinados ao atendimento de crianças e adolescentes em horário oposto ao período escolar.

Outro ponto importante está relacionado ao sistema de saúde. O bairro possui somente um centro de saúde para o atendimento de toda a população. Embora o centro de saúde tenha sofrido reformas e ampliações para um melhor atendimento, este não consegue suprir toda a demanda.

O bairro possui um comércio diversificado, apresentando um número significativo de mercados, mercearias, farmácias, padarias, bem como prestadores de serviço.

Um aspecto que merece ser destacado é a violência como parte do cotidiano dos moradores. A partir dos anos 90, houve um crescimento considerável no número de

homicídios entre outros crimes27, decorrentes do envolvimento do tráfico de entorpecentes. Vários homicídios vêm ocorrendo nos últimos anos nestas comunidades, e a maioria as vítimas são adolescentes que estão envolvidos em delitos acima relatados.

Vale destacar, que entre o ano de 2002 e 2005, houve 197 (cento e noventa e sete) homicídios só nesta comunidade, tendo 87% das vítimas a faixa de idade entre 12 (doze) a 17 (dezessete) anos.

O bairro Monte Cristo é controlado por facções criminosas opostas, que impuseram limites territoriais entre as ruas. Coagidas pelos atos de violência, muitas famílias matriculam seus filhos em escolas longe de casa por medo de que seus filhos sofram algum tipo de violência aos limites pré-estabelecida dentro do bairro.

Além desse tipo de violência, a população do bairro Monte Cristo enfrenta o que alguns autores denominam de violência estrutural, que tem como uma das determinantes o crescimento das desigualdades sociais, representada pela pobreza, pelo trabalho de crianças e adolescentes, pelo desemprego crescente, os baixos salários da maioria da população e a perda do poder aquisitivo. No entanto, segundo Santos (2003, p.39), essa violência “não é denunciada, sequer anunciada. Diz respeito à violência cometida pelo Estado, através da implementação de Planos Econômicos que cada vez mais privilegiam o capital em detrimento das pessoas”.

Como conseqüência dessa violência cometida pelo Estado de forma mascarada, temos as medidas que anulam direitos conquistados pela classe trabalhadora, políticas sociais ineficientes que acabam não contemplando os cidadãos em seus direitos constituídos como saúde, educação, alimentação e habitação. Em virtude dessas dificuldades vivenciadas pela população, em especial pelos moradores desse bairro, decorre, muitas vezes como forma de auxiliar na subsistência familiar, a necessidade da inserção precoce das crianças e adolescentes no mercado de trabalho.

27 Segundo o Sr. Waldomiro Zimmermann - Policial Militar e morador do bairro - de cada dez ocorrência atendidas pela Policia Militar ou Civil, nove são “menores” envolvidos, as ocorrências mais atendidas são: tráfico de drogas, assalto em estabelecimentos comerciais, assalto a mão armada, furtos em residências, assaltos contra pessoas.