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Em novembro de 1937 Getúlio Vargas, que se encontrava à frente do governo federal desde 1930, instaurou o “Golpe do Estado Novo”, na construção de um regime autoritário e se manteve no poder até 1945, quando foi deposto pelos militares.

O golpe de 1937 determinou finalmente o caminho histórico do Brasil, numa conjuntura crítica. Os objetivos de bem-estar social e nacionalismo econômico, muito debatidos no começo daquela década, iriam ser agora perseguidos sob tutela autoritária. O resultado foi um aprofundamento da dicotomia entre um constitucionalismo estreito que havia negligenciado as questões econômicas e sociais e uma preocupação com o bem-estar social de fundo nacionalista inequivocamente antidemocrática (SKIDMORE, 1975, p. 52).

A notícia do golpe chegou em Goiás e “Pedro Ludovico logo se solidariza com o novo chefe de Estado e, a 24 do mesmo mês [novembro], é confirmado interventor federal em Goiás. [...] No novo regime, fechados o Congresso, as Assembléias e os partidos políticos, proscrevem- se as atividades políticas” (CAMPOS, 2009, p. 18).

A partir daí, a política educacional promovida por Pedro Ludovico Teixeira, “norteou- se para e pelo trabalho, isto é, para as atividades em que se assentava a economia estadual e para formação de uma mentalidade rural da ‘vocação agrícola’ da população goiana [...]” (NEPOMUCENO, 1994, p. 114). O foco passa a ser então a educação do homem do campo, a fim de conter o êxodo rural e também porque, “mais importante do que ensinar a ler, escrever e contar, era inserir o trabalhador goiano no mercado nacional de trabalho, convertendo-o de ‘jeca’, conforme o adjetivou o Interventor, em trabalhador produtivo e ‘bem comportado’” (NEPOMUCENO, 1994, p. 108).

A ideia da mudança da capital do estado e a construção de Goiânia acabou por monopolizar grande parte das atenções dos dirigentes estaduais, o que resultou também na utilização da maior parte das rendas estaduais 66. Mas, por outro lado:

Com a instalação da Capital em Goiânia, colocada no centro mais desenvolvido do Estado, todo esse movimento progressista se intensifica, transmitindo às massas uma euforia contagiante nunca dantes sentida pelos goianos. Enfim, todos os setores da vida goiana se agitam, à procura da prosperidade (BRETAS, 1991, p. 577).

O maior empenho de Pedro Ludovico Teixeira se referia à mudança da capital do estado para Goiânia. Dessa forma, no período de 1937 a 1944, não foi publicada legislação realizando alterações na parte estrutural ou pedagógica da instrução primária67 ou normal, apenas poucos Decretos como mostra o Quadro 8, os quais estavam direcionados à parte administrativa da educação. As legislações se encarregaram de questões administrativas como nomeação e

66 A maior parte das rendas estaduais foram utilizadas no período entre 1933 até o batismo cultural de Goiânia em 5 de julho de 1942. Apesar do governo afirmar que Goiás investia em instrução pública mais do que o determinado pelo Código dos Interventores, que seria de no mínimo 10% das suas despesas globais, os dados apresentados referiam-se a receita orçada e não a despesa realizada. Pedro Ludovico Teixeira (1930-1933) afirmou que Goiaz, que já antes da vigência do C.I., observava aquela regra, adicionou, entretanto, como os algarismos estão patenteando, um acréscimo de 10,25% aos 14,7% que já dispendia com os referidos serviços, perfazendo um total de 24,32%, ou seja, quase ¼ da sua despesa geral. Com essa providência Goiaz passou a ser, no seio da Federação, a unidade que consigna ao ensino maior dotação orçamentaria em proporção à despesa (RELATÓRIO INTERVENTOR FEDERAL PEDRO LUDOVICO TEIXEIRA, 1930-1933). Todavia, o ensino não produziu a qualidade desejada, fato que pode ser comprovado pelo índice de analfabetismo no estado. No relatório de 1939, o governo admitiu que o declínio no investimento da instrução pública se justificava por causa das despesas com a transferência da capital (RELATÓRIO DO GOVERNADOR PEDRO LUDOVICO TEIXEIRA, 1939).

67 O próximo regulamento do ensino primário do estado de Goiás só foi baixado no dia 28 de janeiro de 1949, por meio do Decreto nº 805.

exoneração de funcionários, criação de escolas, despachos, portarias, ofícios, requerimentos, entre outros.

QUADRO 8 – Legislações promulgadas no período de novembro de 1937 a 1944

Legislação Regulamentação

Decreto nº 3.428, de 25 de julho de 1940ª Aprova o Regimento Interno do Conselho Estadual de Educação

Decreto-Lei nº 3.530, de 29 de agosto de 1940b Aumenta de mais um o número de membros do Conselho Estadual de Educação

Decreto nº 3.557, de 5 de setembro de 1940c Aprova o Regimento Interno do Conselho Estadual de Educação

Decreto-Lei nº 4.237, de 29 de março de 1941 Reorganizando o quadro de Diretoria Geral de Educação e dá outras providências

Decreto-Lei nº 7.892, de 16 de setembro de 1943

Institue, no Estado, o ensino normal rural e profissional agrícola

Fonte: Quadro elaborado pela autora com dados extraídos do Correio oficial de Goiás (1937-1944). As mudanças dispostas em quatro decretos foram relativas ao Conselho Estadual de Educação, responsável por todo o ensino no estado. O Decreto nº 3.428, de 25 de julho de 1940 aprovou o regimento interno do Conselho Estadual de Educação, mas não o publicou e informou que ele passaria a vigorar após esse ato (GOIAZ, 1940a).

Por meio do Decreto-Lei nº 3.530, de 29 de agosto de 1940, o governo aumentou para nove o número de membros do Conselho Estadual de Educação, cuja vaga deveria ser ocupada pelo Dr. Diretor Geral de Saúde. Suas justificativas ancoravam no fato de que os problemas educacionais estavam intimamente ligados aos problemas sanitários, que a cooperação dos técnicos de assuntos médicos-higiênicos era imprescindível para a resolução das questões escolares e que havia uma estreita harmonia entre os departamentos da pública administração estadual (GOIAZ, 1940b).

Com o Decreto nº 3.557, de 5 de setembro de 1940, o Regimento Interno do Conselho Estadual de Educação é publicado. Passa a funcionar com nove membros, a saber: diretor geral de educação, que seria o presidente do conselho; consultor jurídico, substituto do presidente; diretor do Departamento Estadual de Estatística; diretor geral de saúde; diretor da Faculdade de Direito; Diretor do Liceu de Goiaz; Diretor da Escola Normal Oficial; Diretora do Grupo Escolar Modelo; um funcionário do ensino nomeado pelo governo (GOIAZ, 1940c).

De acordo com o art. 12 do Decreto nº 3.557, de 5 de setembro de 1940, as funções do Conselho Estadual de Educação eram:

a) propor as medidas necessárias ao aperfeiçoamento do ensino primário e normal;

b) auxiliar o Diretor Geral de Educação em matéria de educação quando for solicitado;

c) interpretar o regulamento e leis do ensino, nos casos de duvida, e resolver as omissões, quando o Diretor Geral de Educação julgar conveniente, não lhe sendo permitido, entretanto, criar matéria nova;

d) dar parecer sobre os livros didaticos a serem adotados nos estabelecimentos de ensino, aprovando ou não aqueles que forem submetidos á sua apreciação; e) examinar, justificando os motivos de preferencia, os tipos de mobiliário que se destinarem aos estabelecimentos de ensino;

f) incentivar a organização de bibliotecas, caixas escolares e museus dos institutos de ensino;

g) processar e julgar os professores, quando incursos em penas disciplinares, sempre que ao Governo parecer conveniente;

h) propor a adoção de métodos de ensino nos diversos institutos de ensino; i) emitir parecer sobre os pedidos de reconhecimento oficial dos estabelecimentos de ensino, podendo nega-lo, caso não preencha as formalidades da lei;

j) opinar sobre o registro de escolas na Repartição competente, caso seja necessária sua audiência;

k) rever e opinar sobre modificações a serem introduzidas nos programas de ensino;

l) dar instruções aos Conselhos Municipais de Educação;

m) sugerir ao Governo todas as medidas que forem necessarias para a melhor e completa eficiencia do ensino, por intermedio da Diretoria Geral de Educação;

n) dar parecer sobre todos os assuntos que lhe forem submetidos pela Diretoria Geral de Educação (GOIAZ, 1940c).

A escolha dos livros didáticos, dos métodos de ensino, das alterações nos regulamentos e nos programas de ensino, o reconhecimento de escolas, entre outros, ficaram todos subordinados à análise do Conselho Estadual de Educação, depois de passar pela Diretoria Geral de Educação.

Com o Decreto-Lei nº 4.237, de 29 de março de 1941 o quadro de Diretoria Geral de Educação passou a ter a seguinte organização, conforme art. 1: Diretoria Geral de Educação; Gabinete; Conselho Administrativo; Seção Administrativa (abrangia os serviços de expediente, material e arquivo; serviços de pessoal, estatística e contabilidade; serviços de portaria e protocolo); Conselho Estadual de Educação; Assistência técnica (abrangia o Ensino Primário, Profissional, Normal, Secundário e Superior); Serviços de fiscalização do exercício dos funcionários do ensino e orientação dos mesmos; Inspetoria de Ensino (GOIAZ, 1941).

O Conselho Estadual de Educação e o Conselho Administrativo eram órgãos consultivos, por isso caberia a eles emitirem pareceres, respectivamente, sobre assuntos da Seção Administrativa e da Assistência Técnica. Todo esse controle sobre o ensino foi uma marca bem característica do governo no Estado Novo.

Para disseminar os ideais desenvolvimentistas defendido por Vargas e para promover seu governo, Pedro Ludovico Teixeira forneceu subsídio, com base no de nº 2, para a publicação da revista Oeste, que foi editada mensalmente até dezembro de 1944.

A primeira edição da revista foi em 5 de julho de 1942, data em que também ocorreu o batismo cultural de Goiânia. Foi criada com o propósito de retratar a vida intelectual, artística e cultural de Goiânia, a nova capital de Goiás, para ser o “veículo oficial do pensamento moço de Goiás. [...] Grava, em depoimentos sãos de brasilidade sã, uma obra e um autor. A obra é Goiânia; Pedro Ludovico, o autor” (OESTE, n. 1, 1942, p. 2). Mas já no seu segundo número passou a ser controlada pelo Estado Novo e teve seu corpo editorial reorganizado.

Élis (1983, p. 20) esclarece que a revista apresentou três fases, sendo que:

- na primeira, materializada apenas no fascículo 1, “Oeste” esteve sob a direção de Zecchi Abrahão. Nesta, pretendeu ser fundamentalmente um veículo literário incentivador e apresentador do intelectual jovem goiano; - na fase seguinte, materializada nos fascículos que vão do número 2 ao 13, “Oeste” tentou conciliar o papel de veiculadora da literatura, com o papel de instrumento divulgador dos princípios político-ideológicos do Estado Novo. Nesta fase, transformou-se, também, em veículo de propaganda de Goiânia e do Interventor Pedro Ludovico. Neste período, que vai de março de 1942 a março de 1943, a Revista foi dirigida por Gerson de Castro Costa;

- na última fase, que corresponde à dos fascículos 14 a 23, “Oeste” passou à responsabilidade de Vasco dos Reis Gonçalves. Aí, a Revista se definiu como instrumento exclusivamente político-ideológico do Estado Novo e órgão de propaganda do Interventor Pedro Ludovico.

A capa da revista Oeste, de n. 2, comprova a parceria dos ideais de Getúlio Vargas e Pedro Ludovico, na qual registrou que o Golpe de 1937 foi a decisão mais acertada do Chefe da Nação, como mostra a Figura 13.

FIGURA 13 – Capa da revista Oeste, n. 268

Fonte: Oeste, n. 2, março de 1943 (Capa) 68 OESTE

REVISTA MENSAL

Ano XX Goiânia, Março de 1943 Núm. 2

“O regime de 10 de novembro, que corresponde plenamente às aspirações gerais do país e é profundamente brasileiro, porque vem reavivar fatos históricos da nacionalidade, foge às mistificações do regime anterior, sendo, contudo, mais democrático na sua essência, integrado, como está, no sentido do concreto das nossas realidades. O Estado Novo, verdadeiramente democrático, deve possuir a condição e a característica de um Govêrno forte, que não admita a sobrevivência do espírito de desagregação e as expressões particularistas ora subjugadas, que viviam à sombra das concessões e das transigências do Poder Central”.

GETÚLIO VARGAS “Os ideais reformadores foram pouco-a-pouco se concretizando, fazendo prevalecer os princípios por que, de longa data, ansiava o Brasil.

Mas, para que o nosso país não voltasse de-novo ao que era dantes, ou, melhor, para que se implantasse um regime mais consentâneo com as nossas necessidades e mais apto a defender as conquistas conseguidas a-custo-de ingentes lutas, quer nos embates armados, foi preciso que o Chefe da Nação desse o golpe de 10 de novembro de 1937. Êsse ato foi a resolução mais acertada de seu governo”.

PEDRO LUDOVICO - Cr$ 4,00 em todo o Brasil

IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO DE GOIAZ SECÇÃO INDUSTRIAL

A preocupação com a alfabetização das populações rurais resultou na publicação do Decreto-Lei nº 7.892, de 16 de setembro de 1943, que instituiu o ensino normal rural destinado ao preparo de normalistas rurais, e o profissional agrícola destinado a preparação de capatazes e administradores agrícolas. Os municípios deveriam adotar o programa de matérias instituído pela Escola Profissional Rural de Rio Verde, publicado no Correio oficial de nº 4.607, de 13 de agosto de 1943. Porém deveriam atentar para um programa compatível com a situação, as condições e as necessidades das populações rurais nas diversas zonas do estado (GOIÁZ, 1943).

O Estado Novo reclamava providências na organização do ensino rural que “passou a ser amplamente defendido e difundido, associado à necessidade de orientar os alunos para o trabalho e como antídoto no combate ao êxodo rural” (CANEZIN; LOUREIRO, 1994, p. 83). Para as autoras essa modalidade de educação era defendida como forma de fazer do homem unidade produtiva e romper com o atraso tecnológico da produção agrícola. Afinal, Goiás era um estado agrícola, e como tal deveria ser inserido na lógica da expansão capitalista e ser, por excelência, o lócus de implantação do ensino rural.

Com a análise das legislações estaduais, foi possível desvelar como ocorreu parte do processo de renovação pedagógica na instrução pública primária no estado de Goiás, no período de 1918 a 1944, questão norteadora desta pesquisa. As legislações mostraram quais as pretensões requeridas pelos governantes para renovarem a instrução pública.

No que tange ao objetivo proposto para esta seção que era o de examinar as legislações promulgadas no período de 1918 a 1944 verificando se trouxeram inovações para a instrução pública primária goiana e para a formação dos professores e em que diretrizes se apoiavam, consideramos que, mesmo o estado sendo comandado por diferentes governos, foi possível verificar que no âmbito das legislações estaduais, foram promulgadas uma série de leis e de decretos que continham, em seu bojo, tentativas de renovação pedagógica para a instrução pública primária. Essas prescrições estiveram alicerçadas nos pressupostos da Escola Nova e pretendiam introduzir um novo método pedagógico para o ensino, novos materiais e práticas pedagógicas, além da preocupação em formar o professor para que este fosse capaz de colocar em prática esse novo arcabouço de ideias. Os governantes também se empenharam para o aumento do número de escolas públicas primárias em todo o estado.

Dessa forma, consideramos que as legislações estaduais, trouxeram inovações para a instrução pública primária, ratificando nossa hipótese inicial que consiste em afirmar que os diferentes governos que estiveram à frente do estado de Goiás, no período de 1918 a 1944, realizaram diversos atos em prol da renovação da instrução pública primária goiana.

2 A ESCOLA NOVA: BASE DA RENOVAÇÃO PEDAGÓGICA NA INSTRUÇÃO

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