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Em 3 de outubro ocorre a vitória de Getúlio Vargas na revolução de 1930. Nesse interim surgem os interventores estaduais como peças chave para a garantia da consecução do novo projeto político, cuja tarefa era de arregimentação e unificação das forças políticas estaduais, bem como a sua integração a nível federal (CHAUL, 1997). Em Goiás, Pedro Ludovico Teixeira58 é nomeado interventor no dia 21 de novembro de 1930 e já no dia 23 assume o cargo.

58 A primeira eleição para governador de Goiás só aconteceu em 1935, sendo Pedro Ludovico Teixeira o primeiro governador eleito de Goyaz.

A partir de 1930, os governos federais e estaduais se uniram e adotaram uma série de medidas que atingiram praticamente todas as dimensões da vida social. Criaram conselhos, departamentos, promulgaram leis e decretos, além de discussões sobre os problemas financeiros, econômicos, administrativos, educacionais, entre outros (NEPOMUCENO, 1994). No Quadro 7 apresentamos as legislações pertinentes ao nosso objeto de estudo, promulgadas após 1930, as quais serão posteriormente analisadas.

QUADRO 7 – Legislações promulgadas no período de janeiro de 1931 a agosto de 1937

Legislação Regulamentação

Decreto de nº 659, de 28 de janeiro de 1931 Regulamento do Ensino Normal Decreto nº 800, de 6 de março de 1931 Cria o Conselho de Educação

Decreto nº 1.281, de 25 de julho de 1931 Regula o funcionamento do Conselho de Educação e dá outras providencias Decreto nº 1.180, de 13 de junho de 1931 Regulamento de Saúde Pública

Decreto nº 1.505, de 9 de outubro de 1931

Proibe a escolha de professores pelos inspetores e diretores dos Grupos Escolares, até sair novo Regulamento

Decreto nº 1.607, de 9 de novembro de 1931 Instituiu o Prêmio Felix de Bulhões

Decreto nº 1.656 de 25 de novembro de 1931 Cria os cargos de 1ª e 2ª professoras suplementares

Decreto nº 21.335, de 29 de abril de 1932

Institue a taxa de educação e saúde, de duzentos réis sobre todos os documentos sujeitos a selo federal, estadual ou municipal, creando o fundo especial respectivo

Decreto nº 2.760, de 26 de dezembro de 1932 Regulamento dos Grupos Escolares

Decreto nº 2.764, de 28 de dezembro de 1932 Ficam suprimidos os cargos de serventes nos grupos escolares do interior do Estado Decreto nº 2.781, de 31 de dezembro de 1932 Regulamento da Diretoria Geral do Interior Decreto nº 2.828, de 16 de janeiro de 1933 Regulamento do Jardim de Infância

Decreto nº 2.832, de 17 de janeiro de 1933

Permite as prefeituras montar escolas complementares junto às quais passarão a funcionar Grupos Escolares, onde não exista Escola Normal

Decreto nº 3.261, de 25 de abril de 1933 Regulamento do Ensino Primário

Decreto nº 3.482, de 12 de junho de 1933 Cria a Revista Oficial de Instrução: Revista Goiana de Educação e História

Decreto nº 3.572, de 10 de julho de 1933 Inspetores passam a ser nomeados pelo Governo do Estado

Decreto nº 3.606, de 14 de julho de 1933

Agrega a estatística escolar ao Departamento de Estatística e Divulgação do Estado e cria o serviço permanente de inspeção escolar

Decreto nº 3.771, de 12 de setembro de 1933 Oficializa o cinema educativo no Estado e aprova seu regulamento

Legislação Regulamentação

Decreto nº 3.836, de 25 de setembro de 1933 Institui o Congresso Anual de Ensino Primário

Decreto nº 4.707, de 12 de junho de 1934

Torna obrigatório a certidão de idade para matrícula nos estabelecimentos de ensino do Estado e para os alunos já matriculados estipula prazo

Decreto nº 4.779, de 14 de julho de 1934 Derroga a disposição contida na letra b do Decreto n. 4.707, de 12 de junho de 1934

Decreto nº 5.536, de 9 de abril de 1935

Prorroga para o próximo ano letivo a vigência da alínea a do Decreto n. 4.707, de 12 de junho de 1934 combinado com o art. 1º do de n. 4.795, de 14 de julho de 1934

Lei nº 26, de 20 de novembro de 1935

Determina que as matrículas nos estabelecimentos de ensino primário existentes no Estado se façam independentemente da apresentação de certidões de idade

Lei nº 64, de 17 de setembro de 1936 Institui o ensino religioso nas escolas

Decreto nº 112, de 9 de junho de 1937

Isenção da taxa escolar as viúvas indigentes, os inválidos, as pessoas pobres e desamparadas, os proprietários de pequena área rural ou de simples casa residencial urbana, em que tenham domicílio

Lei nº 264, de 7 de agosto de 1937 Regulamento de Ensino Primário do Estado Fonte: Quadro elaborado pela autora com dados extraídos do Correio oficial de Goiás (1931-1937).

Já no dia 28 de janeiro de 1931, Pedro Ludovico Teixeira começa a promulgação da primeira de uma série de legislações referente ao ensino no estado de Goiás. Dessa vez foi o Decreto de nº 659 que baixou o Regulamento do Ensino Normal. Porém, comparado ao anterior (1930), poucas alterações foram realizadas, o curso complementar passa a ter a duração de dois anos e o normal de quatro anos, disposição essa que permanecerá inalterada até a promulgação da Lei Orgânica do Ensino Normal, de âmbito federal, em 1946. O texto do regulamento adquire uma linguagem mais moderna e condensada, acrescentando a figura do vice-diretor no corpo administrativo, quanto ao conteúdo não apresenta nenhuma mudança significativa59.

Por meio do Decreto nº 800, de 6 de março de 1931, é criado o Conselho de Educação, antes mesmo do surgimento do Conselho Nacional de Ensino, composto pelo diretor do Lyceu; diretor da Escola Normal; de um representante da Congregação do Lyceu, eleito de dois em dois anos; diretores dos estabelecimentos anexos à Escola Normal, um representante do Colégio Santana, nomeado pela diretora; diretores dos grupos escolares estadual e municipal da capital

e um médico do serviço sanitário do estado (art. 1°). A presidência do Conselho era do secretário do interior, membro nato, cujo voto só era utilizado em caso de desempate. Cabia ao Conselho as funções consultivas – estudo dos projetos de reforma e regulamentos de ensino; assuntos que o secretário do interior requisitar a opinião, reconhecimento das escolas normais livres; e as funções deliberativas – aprovar os programas do ensino primário, os livros didáticos e os materiais escolares; julgar os processos disciplinares dos membros do magistério, examinar relatórios apresentados pelos fiscais junto às escolas normais e nas questões relativas ao ensino que o secretário do interior julgasse necessária a intervenção do Conselho.

A criação do Conselho de Educação de Goiás proporcionou a centralização das questões relativas ao ensino estadual, seu funcionamento foi regulado pelo Decreto nº 1.281, de 25 de julho de 193160, o qual acrescentou as suas funções às administrativas. O art. 14 se encarregou de traçar todas as funções administrativas e deliberativas a cargo do Conselho:

I Processar e julgar os professores e demais funcionários do ensino, quando incursos em penas disciplinares, sempre que ao Governo parecer conveniente. II Emitir parecer sobre qualquer assunto relativo á organização do ensino como sobre a interpretação de leis e regulamentos respeitantes á instrução primaria, normal, secundaria e superior.

III Estudar e propor medidas tendentes ao aperfeiçoamento do ensino primário, secundário e normal.

IV Exercer imediata e direta fiscalização sobre todos os estabelecimentos de ensino, podendo para isso solicitar do Governo a designação de inspetores especiais para este ou aquele estabelecimento.

V Representar ao Governo sobre a necessidade de se cassar ou suspender a equiparação de estabelecimentos á Escola Normal do estado.

VI Propor a adoção de metodos de ensino nos diversos estabelecimentos de instrução primaria, normal e secundaria.

VII Rever os Regulamentos de Ensino, propondo as modificações que se fizerem necessarias nos mesmos.

VIII Organizar programas de ensino e obrigar a sua adoção em todos os estabelecimentos do Estado.

IX Promover a reunião de congressos de instrução.

X Organizar programas para festas escolares, conferencias pedagógicas e cursos de aperfeiçoamentos.

XI Dar parecer sobre obras didáticas, que se tiverem de adotar para o ensino. XII Organizar concursos de obras didáticas, afim de se selecionarem as que devem ser adotadas.

60 Esse decreto foi posteriormente alterado pelo de nº 2.265, de 1º de junho de 1932, mas as modificações foram apenas com relação à composição dos membros do conselho, que acrescentou seis pessoas de notável saber, sendo três eleitas pelo conselho e outras três escolhidas e nomeadas pelo governo do estado. Em 1939, o Decreto-Lei nº 2.190, de 6 de julho estipulou para um dos membros um consultor jurídico, substituto do presidente e outro o diretor de estatística geral. Em 1940, o Decreto-Lei nº 3.530, de 29 de agosto, aumentou para nove o número de membros incluindo o diretor geral de saúde. E em 1942 o número de membros se elevou para dez, por meio do Decreto-lei nº 6.589, de 19 de outubro, incorporando o procurador fiscal da fazenda no cargo de vice-presidente e o diretor do Departamento Estadual de Estatística.

XIII Emitir parecer sobre o mobiliário a ser adotado nas escolas e sobre as

condições de higiene que devem satisfazer os prédios escolares.

XIV Representar ao Governo sobre a necessidade de creação de novas escolas e sobre a elevação de categoria das mesmas, assim como sobre o aumento ou supressão de cadeiras dos grupos escolares.

XV Sugerir ao Governo todas as medidas que julgar convenientes á maior eficiencia da instrução.

XVI Do julgamento do Conselho, em matéria disciplinar, haverá recurso voluntario para o Governo do estado (GOYAZ, 1931, grifo nosso).

O conselho passa a centralizar todas as atividades político-pedagógicas concernentes à educação no estado. Para facilitar o trabalho e garantir a sua eficiência, o estado seria dividido em zonas de acordo com a densidade populacional escolar, e cada uma delas estaria a cargo de uma seção do conselho. Cabia ao presidente a distribuição dos afazeres em cada uma das sessões, que após concluídos seriam encaminhados para aprovação em plenária e anualmente, eram encarregados de apresentar ao Governo um relatório das atividades, bem como de sugestões apropriadas à eficiência do ensino (NEPOMUCENO, 1994).

Com relação à higiene escolar, foi baixado o regulamento de saúde pública, pelo Decreto nº 1.180, de 13 de junho de 1931, com 1.203 artigos, o qual dedicou a secção oitava para tratar “Da hygiene escolar”. Do art. 595 ao art. 649 há, de forma minuciosa, as ações e os procedimentos a serem adotados com relação ao atendimento médico na escola, a inspeção médica dos alunos, as doenças e as medidas adotadas em cada uma, a profilaxia das doenças contagiosas entre os escolares, a inspeção e assistência dentária, a inspeção do pessoal docente e administrativo e dos candidatos ao magistério, e os procedimentos relativos ao prédio escolar.

No que tange à escolha de professores, o interventor federal promulgou o Decreto nº 1.505, de 9 de outubro de 1931 que proibia a escolha de professores pelos inspetores e diretores do Grupo Escolar, até sair novo regulamento. Para ele, a complexa incumbência de “alfabetizar as gerações surgentes deve ser cometida a professores capazes. O primeiro óbice que nos dificultou a ação no setor do ensino publico foi, precisamente, a falta de professores idôneos em numero suficiente para atender ás possibilidades educacionais do Estado” (RELATÓRIO INTERVENTOR FEDERAL PEDRO LUDOVICO TEIXEIRA, 1930-1933).

Posteriormente, os professores eram designados pelo governador do estado, respeitando as seguintes regras:

a) recrutar os professores para as vagas, que se abrirem, e os cargos novos, que se crearem, de preferencia entre os portadores de diploma válido de normalista; b) nomear em primeiro lugar os ou as normalistas que se tiverem distinguido, pela dedicação e pelo aproveitamento, durante o curso; c) dificultar, em consequencia, o ingresso de leigos e impedir o de

imcompetentes no magistério público estadual (RELATÓRIO INTERVENTOR FEDERAL PEDRO LUDOVICO TEIXEIRA, 1930-1933). Porém, havia uma forma peculiar de ingresso na carreira docente. Sob o pretexto de prêmios e estímulos, que despertassem os jovens estudantes para a carreira docente, o governo baixou o Decreto nº 1.607, de 9 de novembro de 1931 que instituiu o Prêmio Felix de Bulhões que concedia à aluna que concluísse o Curso da Escola Normal do estado com as melhores notas, sem ter sido reprovada em qualquer matéria e sem ter repetido nenhum ano, uma vaga no magistério estadual. Ao primeiro lugar cabia a vaga de professora adjunta, ao segundo de professora suplementar, devendo substituir a primeira em todas as suas faltas e impedimentos (GOIAZ, 1931). O Decreto nº 1.656 de 25 de novembro de 1931 tinha o mesmo teor, premiar as melhores alunas, somente se referia aos estabelecimentos equiparados à Escola Normal Oficial e ocupariam os cargos de 1ª e 2ª professoras suplementares (GOIAZ, 1931)61.

Outra medida empreendida pelo governo foi o Decreto nº 21.335, de 29 de abril de 1932, que “Institue a taxa de educação e saúde, de duzentos réis sobre todos os documentos sujeitos a selo federal, estadual ou municipal, creando o fundo especial respectivo” (CORREIO OFICIAL, 14 de maio de 1932, n. 2.197). Embora sua criação tenha sido de âmbito federal, incidia sobre o estado e sobre os municípios, todavia, como não era passível de reajuste, tornou- se logo pouco significativo62.

Em 1932 estabeleceu-se o novo Regulamento dos Grupos Escolares, que também seria utilizado pelas escolas isoladas quando a elas coubessem, instituído pelo Decreto nº 2.760, de 26 de dezembro. O regulamento anterior (1925) possuía 149 artigos, o novo, apesar de contar com 261 artigos, não apresentou nenhuma mudança significativa em prol do ensino, apenas tratou em pormenores várias questões apresentadas no regulamento anterior, mas a essência continuou a mesma.

O Decreto nº 2.764, de 28 de dezembro de 1932 foi responsável pela supressão dos cargos de serventes nos grupos escolares do interior do estado. A justificativa ancorava-se em “vultosa economia” com a eliminação do referido cargo, para ser revestida em benefício do ensino, pois as funções de servente dos grupos escolares do interior poderiam ser desempenhadas, sem prejuízo de serviço, pelo respectivo porteiro.

O Decreto nº 2.781, de 31 de dezembro de 1932 baixou o Regulamento da Diretoria Geral do Interior, dividindo-a em três seções, sendo a 1ª a incumbência dos serviços relativos à

61 Em 1932 oito normalistas foram agraciadas com essas premiações.

62 A taxa, de 200 réis (CR$ 0,20) para cada documento só foi legalmente reajustada em 1944 (CR$ 0,40) e em 1946 (CR$ 0,80), sendo então extinta em 1958.

instrução em geral e particularmente do controle e da fiscalização do ensino; a 2ª pelos serviços relativos à organização e à administração da justiça, da polícia, da força pública, da extradição, do perdão e da comutação de penas, do registro civil e de casamentos, da naturalização, da

divisão civil e judiciária, da liquidação de sentenças etc; e a 3ª responsável pelos serviços pertinentes à imprensa oficial, à prefeitura, à impressão de leis, ao serviços eleitoral, ao limites estaduais e municipais, às relações interestaduais com poderes do estado e do município, à saúde pública, à higiene, ao hospital, às instituições de caridade, à assistência pública etc. A Diretoria Geral do Interior possuía um diretor geral e cada seção possuía um chefe, que deveria cumprir e fazer cumprir todas as determinações do Diretor, sendo assim todas as questões relativas à educação estavam concentradas nessa diretoria.

O Regulamento do Jardim de Infância, aprovado pelo Decreto nº 2.828, de 16 de janeiro de 1933, traz os mesmos fins para o ensino proposto no regulamento anterior (1928). No programa também não há mudanças significativas com relação aos conteúdos e às atividades a serem ministradas, apenas mudanças na redação dos artigos.

Para remediar a ausência das escolas normais em vários municípios goianos, que eram responsáveis pela formação dos professores primários, o Decreto nº 2.832, de 17 de janeiro de 1933 permitiu às prefeituras montar escolas complementares junto às quais passariam a funcionar os Grupos Escolares, mas somente onde não existisse a Escola Normal.

Com o Regulamento do Ensino Primário aprovado pelo Decreto nº 3.261, de 25 de abril de 1933 aconteceu o mesmo fato ocorrido com o regulamento do Jardim de Infância, permaneceu sem alterações substanciais, apenas mudanças na redação. A justificativa apresentava foi a de que os documentos precisavam de uma linguagem mais clara e moderna.

Ainda referente à formação dos professores, o Decreto nº 3.482, de 12 de junho de 1933 cria a Revista Oficial de Instrução: Revista goiana de Educação e História, a qual teve o seu lançamento apenas em 1937. O Correio oficial de Goiás, de 24 de julho de 1937, anunciou sua criação com a seguinte manchete: “Desfralda em Goiaz a bandeira de uma inspirada reforma pedagógica”.

A figura dos inspetores escolares permanece viva, os quais passaram a ser nomeados diretamente pelo governo do estado, por meio do Decreto nº 3.572, de 10 de julho de 1933 e continuaram responsáveis pela fiscalização do ensino. Com o Decreto nº 3.606, de 14 de julho de 1933, além de agregar a estatística escolar ao Departamento de Estatística e Divulgação do estado, criou também o serviço permanente de inspeção escolar, fortalecendo o papel dos inspetores na educação. Havia uma hierarquia centralizadora que regulava as relações administrativas no interior das escolas, e diga-se por vezes tensa, comandada pelo diretor de

escola e pelo inspetor de ensino. Souza (1998, p. 80) esclarece que “os diretores tinham clareza do poder que o cargo lhes conferia e, sobre essa autoridade, exerciam suas atividades de coordenação e de fiscalização de ensino”, e estavam sujeitos aos inspetores escolares.

O cinema educativo, presente no regulamento do ensino primário (1930) só foi oficializado pelo Decreto nº 3.771, de 12 de setembro de 1933, que passa também a ter regulamento próprio. Nesse período, a linguagem cinematográfica adquire o status de recurso didático e instrumento de ação sobre o social, acastelado e discutido por intelectuais como Manuel Bergström Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Edgar Roquete Pinto e Jonathas Serrano, que tinham como pressupostos a introdução dos princípios escolanovistas nos currículos das instituições escolares (MORETTIN, 1995).

O Decreto nº 3.836, de 25 de setembro de 1933 (GOYAZ, 1933) instituiu o Congresso Anual de Ensino Primário63, de caráter obrigatório e sem ônus para o Estado, que aconteceria no dia 15 de dezembro na capital. As prerrogativas para sua instituição foram:

Considerando que, para melhor aparelhamento e maior eficiência dos estabelecimentos de ensino, mister se faz que o professorado acompanhe de perto a evolução da pedagogia;

considerando que as novas teses pedagogicas estão a provocar sérios debates e estudos atentos para sua melhor compreensão e mais perfeita adaptação; considerando que a reforma do ensino no Brasil, instituindo mui sabiamente, os concursos periódicos, teve por fim evitar que, pela vitaliciedade, o professorado descurasse da atualização de seus conhecimentos e do aperfeiçoamento de sua cultura;

considerando que o governo goiano está vivamente empenhado em ilustrar selecionando e aperfeiçoando o seu professorado [...] (GOIAZ, 1933).

O Congresso era regido por um regulamento próprio. A Diretoria Geral do Interior, responsável por ele, tinha a missão de distribuir para todos os grupos escolares, escolas normais, escolas complementares e jardins de infância do estado, as teses pedagógicas que seriam desenvolvidas, defendidas e discutidas durante 20 dias, período de duração do congresso. Os diretores eram obrigados a participar e quando retornassem aos seus respectivos municípios, também eram obrigados a transmitir para os colegas o resultado do congresso. Os professores dos grupos escolares, das escolas complementares e dos jardins de infância poderiam apresentar e defender teses, desde que não gerasse ônus para o município ou para o estado, ou seja, deveriam ir com seus próprios proventos. As teses eram avaliadas e classificadas, sendo que a que ficasse em primeiro lugar receberia um valioso prêmio, e até o quinto lugar receberiam

63 O I Congresso de Educação do Estado de Goiás aconteceu na cidade de Goiânia, no dia 20 de outubro de 1937, dedicou-se integralmente a apresentar os pressupostos da nova pedagogia.Será apresentado na Seção 2.

menção honrosa. Só eram admissíveis as teses que versassem sobre estudos analíticos ou descritivos sobre a difusão da instrução primária no estado de Goiás e os métodos de ensino (GOIAZ, 1933).

No relatório apresentado por Pedro Ludovico Teixeira estava expresso seu apoio aos métodos apresentados pela Escola Nova, mas que ainda não era conhecido por todo o professorado goiano e requeria uma formação cuidadosa de professores novos, que já concluíssem o curso normal em condições mentais de romper com os velhos métodos.

Como é sabido, a adesão de qualquer classe profissional a novos métodos de trabalho depende mais da propagação intensa da idéia que os preconiza do que a adoção de qualquer medida de caráter oficial. Obrigado a tolerar as situações de fato já consolidadas pelo tempo e a respeitar os chamados “direitos patrimoniais adquiridos”, o Governo se encontrou e ainda se encontra a braços com a impossibilidade de introduzir no sistema escolar do Estado, por meio de uma reforma teórica prematura, métodos novos, que não seriam executados e diretrizes modernas, que não conseguiriam impôr-se, porque a mentalidade do professorado goiano ainda não atingiu aquele grau de saturação intelectual, que facilmente se transforma em “caldo de cultura” das idéias novas (RELATÓRIO INTERVENTOR FEDERAL PEDRO LUDOVICO TEIXEIRA, 1930-1933, p. 13).

A matrícula dos alunos no ensino primário era realizada sem a necessidade de comprovação de idade. Em 12 de junho de 1934 o governo fez a primeira tentativa de reverter essa situação e por meio do Decreto nº 4.707, definiu: “a) tornar obrigatória a apresentação de

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