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2 MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO

2.5 A REPRESENTAÇÃO SOCIAL E A QUESTÃO DA SUSTENTABILIDADE

Como o princípio da sustentabilidade surge a partir do contexto da globalização, a crise ambiental vem questionar a racionalidade e os paradigmas teóricos que impulsionam o crescimento da Economia em detrimento a natureza.

Nessa situação pode-se questionar como o conceito de sustentabilidade pode ser visto como um processo evolutivo. Há uma crise ambiental, há um problema que foi gerado pela racionalidade civilizatória, que a humanidade não está dando conta de resolver, que o crescimento econômico não fez a natureza crescer também. Que são realidades opostas. Assim citando Leff mais uma vez,

A problemática ambiental surge nas últimas décadas do século XX como o sinal mais eloquente da crise da racionalidade econômica que conduziu o processo de modernização. Diante da impossibilidade de assimilar as propostas de mudança que surgem de uma nova racionalidade (ambiental) para reconstruir as bases éticas e produtivas de um desenvolvimento alternativo, às políticas do desenvolvimento sustentável vão desativando, diluindo e deturpando o conceito de ambiente. (2001, p.22)

Mas a sustentabilidade não é uma nova denominação para a questão ambiental. Ultrapassa e a inclui comportando a adoção de perspectivas sistêmicas como tem sido mostrada acima, há uma correlação e interdependências claras entre todas as dimensões do meio ambiente e os comportamentos individuais e sociais, com os valores culturais e comunitários, com as formas de produção, tecnologias, gestão política e estrutura de cidade.

E ainda tem a dimensão simbólica complexa que vai se articulando com a identidade de cada nação e povo, relacionadas e excludentes, identidades individuais, grupos e coletivos, com suas influências sociais, religiosas, tradicionais e globais. Esses sistemas simbólicos inseridos na questão étnica de cada povo, as práticas produtivas, através dos quais são valorizados os recursos potenciais da natureza, com suas normas sociais estabelecidas pelos direitos de acesso e apropriação, e pelas formas de exploração dos recursos naturais além dos padrões tecnológicos que permitem a regeneração ecológica e a reciclagem do lixo.

Todos esses elementos têm relação direta com a identidade da comunidade, com o sentimento de pertença e apropriação do espaço. Nesta relação, à paisagem

e seu universo simbólico, partilhado entre as pessoas resulta em coesão social, já que os indivíduos, partilham as mesmas normas de qualidade de vida. A paisagem é a expressão concreta da atividade destas pessoas e se configura como herança e memória, fazendo parte da construção da identidade desta comunidade.

A questão da sustentabilidade tem a ver com a responsabilidade desta comunidade com sua geração e as que estão por vir. É uma relação estreita com estas normas de qualidade de vida e a segurança na apropriação cultural com a comunidade em que pertença.

Assim, os conceitos da base estruturadora do desenvolvimento sustentável citados acima estão diretamente ligados aos aspectos da sociedade que resultam no centro da psicologia socioambiental. Há uma pluralidade de relações que não se pode fechar um parâmetro fixo para o desenvolvimento sustentável sem falar nas questões relativas às pessoas.

Por isso, a educação e o conhecimento como fonte de motivação para as mudanças de atitude solicitada visam uma nova forma paradigmática e utópica que construiria parâmetros para o desenvolvimento sustentável a partir de políticas públicas.

Leff (2001) neste momento faz uma crítica à racionalidade econômica. Para ele, o desenvolvimento sustentável simula uma realidade de crescimento econômico sem natureza participe deste crescimento. Para Leff, são situações opostas e não compartilhadas. Para ele não há possibilidade de crescimento com o pensamento da racionalidade econômica sem pensar numa racionalidade ambiental.

A retórica do desenvolvimento sustentável converteu o sentido crítico de ambiente numa proclamação de políticas neoliberais que nos levariam aos objetivos do equilíbrio ecológico e da justiça social por uma via mais eficaz: o crescimento econômico orientado pelo livre mercado. Este discurso promete alcançar seu propósito sem uma fundamentação sobre a capacidade do mercado de dar o justo valor a natureza e a cultura; de internalizar as externalidades ambientais e dissolver as desigualdades sociais; de reverter às leis da entropia e atualizar as preferências das futuras gerações. (2001, p. 24).

Esse trecho é uma crítica ao discurso sustentável das empresas e governos que montaram uma lógica para se desenvolver dentro do sistema capitalista, mas

que ainda sim precisam interferir no ambiente. Para isso, para simular o politicamente correto para a opinião pública traduzem o que fazem como desenvolvimento sustentável. A pergunta que fica é: como estão fazendo os processos? Que tipo de interferência está tendo na natureza seu desenvolvimento? Que tipo de leitura se faz desse meio ambiente do entorno? Que tipo de responsabilidades?

O discurso do desenvolvimento sustentável inscreve-se assim numa ‘política da representação’ (Escobar, 1995), que simplifica a complexidade dos processos naturais e destrói as identidades culturais para assimilá-las a uma lógica, a uma razão, a uma estratégia de poder para a apropriação da natureza como meio de produção e fonte de riquezas. Neste sentido, as estratégias de sedução e simulação do discurso da sustentabilidade constituem o mecanismo extra-econômico por excelência da pós- modernidade para a reintegração do ser humano e da natureza à racionalidade do capital. (O’Connor, 1993 apud Leff, 2001, p. 25)

Leff (2001) levanta uma crítica ao desenvolvimento sustentável inclusive se utilizando da voz de outros autores para assegurar sua postura em relação a pós- modernidade atrelada ao capital que faz com que as leis de políticas ambientais sigam a cartilha do desenvolvimento ambiental nem sempre com respeito às leis ambientais e nem sempre em relação ao desenvolvimento que não atrapalhe a natureza. Leff vai além quando fala da representação. A representação seria uma simulação do real como já afirmou Jean Baudrillard (1981) em seu livro Simulacro e Simulações. A representação dessa realidade de desenvolvimento sustentável está mais para uma saída para o desenvolvimento do capital.

Por sua vez, a tecnologia se encarregaria de reverter os efeitos da degradação ambiental nos processos de produção, distribuição e consumo de mercadorias. A tecnologia, que contribuiu para o esgotamento dos recursos, resolveria o problema da escassez global, fazendo descansar a produção num manejo indiferenciado de matéria e energia; (...) O desenvolvimento sustentável converte-se na nova pedra filosofal que asseguraria o perpertuum mobile do crescimento econômico. (BAUDRILLARD, 2001, p.27)

Leff aponta agora sua crítica em relação à tecnologia. A tecnologia que é usada para resolver o problema da degradação ambiental à mesma que a degradou. E finaliza seu raciocínio com a afirmação de que a solução desta representação de desenvolvimento do sistema capitalista com sua indústria e seu comércio seria o discurso do desenvolvimento sustentável baseado na tecnologia.

A problemática ambiental converteu-se numa questão eminentemente política. Os conflitos socioambientais emergem de princípios éticos, direitos culturais e lutas pela apropriação da natureza que vão além da internalização dos custos ecológicos para assegurar um crescimento sustentado. As identidades culturais e os valores da natureza não podem ser contabilizados e regulados pelo sistema econômico. (Kapp, 1983 apud Leff, 2001, p.45)

Segundo Leff, a economia precisa ser refeita, ser reestruturada, ser pensada de outra forma. A forma das pessoas complexas, dos valores da vida e da natureza. O que tem valor não são as coisas, mas sim, as pessoas e os seres vivos, as práticas produtivas que não destruam o habitat, um retorno ao tradicional. Para Leff, o paradigma precisa ser mudado e as políticas ambientais também.

Leff indica uma palavra que é uma quebra em todas as perspectivas de algo concreto e real para a política ambiental e o desenvolvimento sustentável: utopia. Para ele o neoliberalismo impede com todas suas amarras tangíveis e intangíveis que a utopia ambiental exista de fato. Com uma sociedade mobilizada a partir de outros parâmetros que não seja a individualidade capitalista.

A pobreza é vista para Leff e para o Zermeno como uma produção do sistema capitalista real. A pobreza para eles vem de um processo de “cadeia causal de um círculo vicioso de desenvolvimento perverso-degradação ambiental-pobreza, induzido pelo caráter ecodestrutivo e excludente do sistema econômico dominante” (2001, p.58)

Não havendo um instrumento dentro da ciência da Economia, da Ecologia e da Tecnologia para medir de fato o valor real da natureza e suas consequências para a economia de cada região, assim a internalização da produção implica na necessidade de caracterização dos processos sociais que determinam o valor da natureza.

Como a natureza não tem “valor real”, como saber o valor do prejuízo que é dado a uma degradação ambiental? Como, dentro da lógica do capitalismo, posso fazer um cálculo de como manter economicamente viável uma floresta ou mesmo uma cidade com seus rios saudáveis? Essas perguntas são muito difíceis de responder tendo a racionalidade técnica do capitalismo como fonte teórica do raciocínio.

Precisaríamos assim, não apenas termos políticas públicas, respeitar a qualidade de vida de cada povo, mas a partir da impossibilidade de medição de valor real para a natureza também repensar o valor monetário das coisas. Ecologicamente correto seria um preço ecologicamente corrigido para normas e regras ecológicas. As influências culturais, sociais e institucionais estariam a favor da valorização das externalidades, não coincidindo com nenhum balanço contábil de custo-benefício, nem sendo possível atribuir taxas de desconto para atualizar preferências e valorização futuras.

Daí a dificuldade de se organizar de forma racional e técnica o quanto custa o ecologicamente correto ou corrigido. Essa dificuldade faz com que o desgaste ambiental não seja contabilizado ou mesmo não seja restituído para a sociedade. Há um ônus muito complexo a ser pago.

Categorizar a distribuição ecológica é inapropriada para entender os conflitos ambientais e ecológicos produzidos pelo impacto da economia sobre o ambiente e a qualidade de vida das pessoas. A partir disso dentro desse conflito socioambiental as relações entre o discurso de defesa da ecologia e sua constante aliança com a autonomia cultural e democracia como sistema de governo. Sendo assim, movimentos sociais surgem integrando uma resistência cultural em prol do estilo de vida tradicional, meio ambiente se reapropriando do seu espaço, patrimônio e recursos naturais.

Para Leff, ainda, precisamos organizar o pensamento e as atitudes em relação à questão ambiental, pois as questões ecológicas precisam ser ampliadas para as questões ambientais que incluam o ser humano e a economia de cada localidade. A questão ambiental precisa ser encarada como uma nova forma de vida, um novo valor, uma nova cultura, um novo pertencimento.

A produção a partir das ações do desenvolvimento sustentável não se reduz a uma medida de massa e energia nem a cálculos quantitativos medindo o valor do trabalho. O desenvolvimento sustentável se apoia nas raízes das condições de diversidade ecológica e cultural, gerando um paradigma de produtividade ecotecnológica sustentável, com o objetivo de equilibrar a “formação neguentrópica de biomassa através da fotossíntese e a produção de entropia gerada pela transformação de matéria e energia nos processos tecnológicos e metabólicos.” (LEFF, 2001, p.76).

A crítica de Leff em relação ao desenvolvimento sustentável está presente na base do pensamento sustentável. No que se refere às condições de diversidade ecológica de cada localidade, da capacidade de extrair as matérias-primas para gerar um paradigma de produtividade.

Diante disso, se percebe a importância de aliarmos conhecimento de gestão em meio ambiente, representações sociais e design com o intuito de pensar racionalmente no futuro das próximas gerações e no futuro da sociedade de consumo. Para isso, é preciso entender as relações possíveis entre o que dizer e o como dizer, para estes consumidores de informação.

Acredita-se que sem uma apropriação do espaço físico por parte da coletividade, sem que este entorno esteja imbuído deste simbolismo compartilhado, não tem como propor a construção para uma identidade social, relacionada com a coesão social e identidade. E essas são ferramentas para ancoragem dos valores e dos comportamentos vinculados ao desenvolvimento sustentável a partir de ações de educação ambiental.