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CAPÍTULO III – DIMENSÕES DA BRANQUITUDE NA POLÍTICA DE OFERTA DE

4.1 A reserva de vagas e as categorias de classificação racial no IFMT

O IFMT, no período de 2012 a 2016, implementou nos editais de seleção para ingresso nos cursos de ensino médio integrado à formação profissional um sistema de reserva de vagas misto com reserva do percentual de 50% das vagas em todos os cursos e turnos, e no que concerne às categorias de classificação racial, além da utilização das categorias de classificação racial preta, parda e indígena, fez uso da categoria informal/local denominada de “outras etnias” (Figura 8), para referir-se às vagas ofertadas aos demais candidatos optantes pela reserva de

Vagas por curso e turno - 100%

Mínimo para alunos escola pública - 50%

Renda ≤ 1.5 salário mínimo per capita - 25%

No mínimo a % do IBGE para pretos, pardos e

indígenas Demais vagas

Renda ≥1.5 salário mínimo per capita - 25%

No mínimo a % do IBGE para pretos, pardos e

indígenas Demais vagas

vagas e, também de um questionário eletrônico que vigorou até 2017, para conhecer o perfil dos candidatos.

Nesse questionário fez-se o uso de categorias de classificação racial diferentes daquelas utilizadas pelo IBGE, visto que as opções de cor/raça inseridas no questionário eram: branca, preta, negra, mestiça/morena, asiático oriental e outra. Vale salientar que a coleta e preenchimento do quesito cor/raça deve respeitar o critério da autodeclaração, dentro dos padrões utilizados pelo IBGE (branca, preta, amarela, parda ou indígena), em conformidade com a Portaria Normativa nº. 21/2013. Além disso, esse mecanismo possibilita o monitoramento e avaliação da lei em âmbito nacional (OSÓRIO, 2003; 2009; SENKEVICS, 2017, PETRUCELLI, 2000).

Figura 7 - Reserva de vagas implementada pelo IFMT para ingresso nos cursos de ensino médio integrado à formação profissional no período de 2012 a 2016

Fonte: Portal do IFMT.

Ademais, em 2017, no edital de seleção 059/2017, o percentual de 50% das vagas reservadas é mantido, mas o termo “outras etnias” foi substituído pela opção “não autodeclaração de cor/raça”. No edital 072/2018 ocorrem novas alterações, a saber: mudança no percentual destinado à reserva de vagas (de 50% para 60%), extinção dos termos “outras etnias” “não autodeclaração de cor/raça” e a inclusão de percentual de vagas destinadas às pessoas com deficiência, respeitando o percentual do IBGE na localidade, introduzidas pelo Decreto 9.034 e pela Portaria Normativa 09, ambos publicados em 2017.

Na sequência, será feita uma análise da política de reserva de vagas implementada pelo IFMT a partir de 2012 através da reserva de vagas em seus processos seletivos para acesso ao ensino médio integrado à formação profissional, sobretudo, das categorias de classificação racial utilizadas, articuladas à discussão da branquitude. Essa proposta dar-se-á a partir da percepção de servidoras efetivas do IFMT, lotadas no Departamento de Políticas de Ingresso, situado na Reitoria e na Secretaria de Documentação Escolar e coordenações dos cursos de

Vagas por curso e turno - 100%

Mínimo para alunos escola pública - 50%

Renda ≤ 1.5 salário mínimo per capita - 25%

62% para pretos,

pardos e indígenas 38% para candidatos de Outras Etnias

Renda ≥1.5 salário mínimo per capita - 25%

62% para pretos, pardos

e indígenas 38% para canidatos de Outras Etnias Demais vagas

Informática e Agrimensura do Campus Cuiabá, bem como de estudantes dos últimos anos desses cursos. A compreensão do processo de reserva de vagas do IFMT permite avaliar a implantação do sistema de reserva de vagas nos termos dos objetivos da política pública de ação afirmativa prevista na lei.

As servidoras entrevistadas têm de 41 a 68 anos, possuem formação superior, estão há mais de dez anos no IFMT, com o tempo variando de 10 a 45 anos de efetivo exercício, se autoclassificam como brancas (2), pretas (2) e pardas (2), fazendo referência à cor da pele e à origem. De acordo com Piza e Rosemberg (2014), o padrão contemporâneo de classificação racial no Brasil tem sido preferencialmente fenotípico, o qual se baseia em um sistema combinado de cor da pele, traços corporais (tipo e cor de cabelo, forma do nariz, lábios) e origem regional.

Quando indagadas sobre a política de reserva de vagas/cotas implementada pelo IFMT, as servidoras apresentaram posições diferentes e, em sua maioria, são favoráveis às cotas. As quatro servidoras autodeclaradas negras (pretas e pardas), afirmaram ser favoráveis às cotas devido à sua importância na garantia do acesso à educação profissional de qualidade por grupos sociais discriminados (negros) e vulneráveis economicamente.

Nota-se que entre as servidoras entrevistadas ser ou não favorável às cotas sofre influência da cor da pele, pois somente as duas servidoras autodeclaradas brancas mostraram- se desfavoráveis às cotas no que concerne às cotas raciais. O discurso das entrevistadas brancas remete a aspectos importantes da branquitude, como: o silêncio em torno da raça e da desigualdade racial e a tentativa de subsumir a raça na classe aliada à ideia de igualdade e mérito individual, ou seja, as cotas raciais contrariam o princípio do mérito (SCHUCMAN, 2012; BENTO, 2014; PIZA, 2014; LIMA et al., 2014; FERES JÚNIOR; CAMPOS, 2016; BERNARDINO, 2002.).

É pertinente destacar que vários estudos sobre a ação afirmativa e a lei de reserva de vagas mostram que o discurso contrário às cotas é estratégico diante da ameaça à posição de grupos dominantes (LIMA et al., 2014) e “ocorre somente em momentos de conceder eventuais benefícios àqueles que são identificados como membros do grupo de menor status” (BERNARDINO, 2002, p. 255). Em outras palavras, é a continuidade do medo branco já apontado por Azevedo (1987), aqui exposto pelo “fato de as cotas poderem retirar os brancos de um lugar privilegiado e, desta forma, o silêncio sobre a questão racial no Brasil sofra uma interrupção reveladora” (SCHUCMAN, 2012, p. 79). Esta autora afirma, ainda, que diante do medo e da ameaça à manutenção de poder e privilégios materiais e simbólicos, agir

contrariamente às cotas configura-se como uma das formas em que os sujeitos colocam a branquitude em ação.